Erasmo numa boa

, por Alexandre Matias

Numa ótima entrevista pra Trip, Erasmo lembra dos anos 70:

Na madrugada, compondo, você deixa um copo de whisky do lado?
Não sou de beber em casa não. Só quando tem algum amigo, muito raro. Só bebo socialmente. Só quando saio e eu saio pouco. Antigamente eu bebia muito porque saía muito, entornava mesmo. Mas sempre socialmente. O problema é que tinha muitos eventos pra ir. [risos].

Você sempre foi controlado, consciente?
Não, só de uns tempos pra cá. A maturidade vai trazendo essas coisas. E tudo o que eu tinha direito de fazer eu fiz.

Sim, mas nunca precisou de ajuda profissional pra, de repente, parar de beber?
Não, não. Meu problema foi CTI direto! Mas não foi por causa da bebida, foi coração. Por causa da vida e muita bebida inclusive, mas foi pior porque eu já estava bom na CTI, terrível ficar aceso lá. Drogado tudo bem, fica lá três dias e não vê nada, mas ficar lá só pra normalizar a arritmia é terrível, é muito chato.

E a “Maria Joana” (nome de uma canção clássica de Erasmo que cita a marijuana), nunca mais?
Não, parei com tudo, bicho, há muito tempo.

Você usava mais pra relaxar ou pra fazer música?
Tudo igualzinho às outras pessoas, bicho. Pra fazer amor, pra compor, pra andar, pra olhar. Mas nunca fora da minha casa! Sempre na minha casa. Nunca dirigi assim, nunca fiz show assim, nunca gravei assim. Só na minha casa, eu e minha mulher, só.

Show, faz careta?
Tomo um golinho de whisky com gelo, um copo longo, cheio até a boca com gelo. Se eu encarar o show sem nada, se tiver alguém rindo na plateia, vou pensar que tá rindo de mim.

Qual a sua opinião sobre a descriminalização da Maria Joana?
Eu não sou ninguém para decidir isso. Apenas acho uma sacanagem uma pessoa ser presa por causa disso. Eu acho que outras áreas é que teriam que agir, pra não chegar a ele [o usuário]. Nisso também entra bebida, sabe, porque ela entra em uma série de contextos. É até uma irresponsabilidade eu dar uma opinião assim, porque envolve várias coisas. São papos assim que, se as cabeças não chegaram a uma conclusão até hoje, não sou eu que vou chegar.

Você teve grandes experiências psicodélicas?
Tive várias, ácido. Já experimentei tudo. Menos injeção, heroína, esses negócios aí. Cocaína, haxixe, maconha e ácido eu tomei. Mas minhas experiências eram caseiras. Eu e minha mulher, eu nunca fiz nada com amigo meu. Nem com o Roberto, nem com o Tim, com ninguém. Era eu e minha mulher e só. Era só pra fazer amor, pra tocar, entende? Pra ficar lá, olhando a Lua, escrevendo, ouvindo som.

E como você lidou com isso com seus filhos?
Eu nunca proibi. Dou informação pra eles, eles sabem o que é certo, o que é errado – se é que existe certo e errado, até hoje ninguém nunca soube dizer, uma coisa pode ser certa hoje e errada amanhã. A própria pessoa decide o seu certo e o seu errado, agindo com bom senso. E ela decide o seu bem. Jamais disse aos meus filhos: “Não faça isso”. Só falei: “Isso aqui leva a isso, isso aqui é bom pra caramba, mas depois é um terror, você vai voar, mas depois vai se foder todo”. Eles decidem a vida deles e eu nunca vi. Claro que eles bebem as biritas deles, mas eu nunca vi nenhum filho meu com fumo, e não foi porque eu dissesse não.

Você acha que só informar basta?
Eu acho irresponsabilidade qualquer pessoa dar opinião sobre qualquer assunto, você tem que estar muito forrado de informação. É aquele negócio, fulano matou sicrano. Porra, ninguém sabe o que levou o cara a matar. Tudo bem, ninguém deve matar ninguém. E você, faria isso? Eu não sei se faria, eu tenho que estar na situação do cara. A constituição física do cara é uma, a moral dele é uma, a fragilidade emocional dele é uma. E a minha é outra. É muito fácil você dizer: “Eu não faço isso”. Só na situação é que você sabe. Muitas vezes omito minhas opiniões não porque estou em cima do muro, mas é porque me acho um nada pra dar opinião sobre coisas tão amplas, que envolvem religião, política e tudo mais.

Em política você também prefere não dar opinião?
Eu prefiro dar a minha opinião política de ser humano normal, trabalhador. Porque isso ninguém sabe, só eles [os políticos]. É muito fácil descobrir isso, é só você ir na livraria e pegar um livro tipo “a verdade sobre o suicídio de Getúlio Vargas”. Porra, que verdade?

Parece que você pautou sua vida muito no bom senso.
Procuro ter muito bom senso. Não é que eu seja perfeito e não erre não. Mas se eu tiver que voltar atrás eu volto. Eu sou difícil, um pouquinho, mas eu procuro.

E pra nunca ouviu “Maria Joana”, recomendo todo o Carlos, Erasmo


Erasmo Carlos – “Maria Joana

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