Entrevista

mombojo-2018

Com dois de seus integrantes morando em São Paulo, dois no Recife e um no sul da Bahia, o grupo Mombojó inevitavelmente entrou num estágio de hibernação. Foi o período em que lançaram a colaboração com a vocalista do Stereolab Laetitia Sadier e que o vocalista Felipe S. lançou seu primeiro disco solo, mas também foi o tempo para arquitetarem uma volta que os tornasse viáveis como integrantes de uma banda mesmo com as distâncias geográficas no meio. Pioneiro no uso da internet para publicar seu trabalho, o grupo agora vem usando a rede para encurtar estas conexões e anuncia o sexto disco da banda, MMBJ12, que será lançado uma canção por vez até completar doze faixas no ano que vem. O primeiro single é a faixa “Ontem Quis”, que antecipa uma pequena turnê que o grupo faz entre setembro e outubro, passando pelo Rio de Janeiro (dia 11), Belo Horizonte (dia 12), São Paulo (dia 20) e Recife (dia 5).

Bati um papo com o Felipe sobre esta nova fase do grupo, que aproveitou para fazer um balanço destes anos no Mombojó.

Como aconteceu esta volta do Mombojó? Há quanto tempo vocês estavam parados?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mombojo-2018-como-aconteceu-esta-volta-do-mombojo-ha-quanto-tempo-voces-estavam-parados

Como vocês farão nesta nova fase, ainda mais morando em estados diferentes?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mombojo-2018-como-voces-fazer-nesta-nova-fase-ainda-mais-morando-em-estados-diferentes

O ciclo com Laetitia Sadier foi concluído?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mombojo-2018-o-ciclo-com-laetitia-sadier-foi-concluido

O quanto o sucesso do Del Rey atrapalhou a boa fase do Mombojó?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mombojo-2018-o-quanto-o-sucesso-do-del-rey-atrapalhou-a-boa-fase-do-mombojo

Vocês são digitais desde que surgiram. Ainda faz sentido prensar um disco?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mombojo-2018-voces-sao-digitais-desde-que-surgiram-ainda-faz-sentido-prensar-um-disco

Você continua fazendo seu trabalho solo?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mombojo-2018-voce-continua-com-seu-trabalho-solo

Como você vê as mudanças no mercado independente desde que vocês começaram?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mombojo-2018-como-voce-ve-as-mudancas-no-mercado-independente-desde-que-comecaram

E os shows?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mombojo-2018-ha-previsao-de-shows

mombojo2018

metameta-centrodaterra

As segundas de setembro no Centro da Terra ficam na mão do grupo Metá Metá, que volta à sua formação inicial – o trio composto por Kiko Dinucci, Juçara Marçal e Thiago França – para começar a pensar no quarto álbum. O grupo lançou o ótimo MM3 há dois anos e não parou quieto, tanto fazendo shows pelo Brasil ou turnês pelo exterior, quanto tocando trabalhos paralelos que seus três integrantes agitam paralelamente. Agora é hora de parar e, na frente do público, começar a rascunhar o que pode se tornar o próximo disco na temporada Ojo Aje, concebida para a sessão Segundamente desde seu título (“segunda-feira”, em iorubá). Há algumas intenções pré-determinadas, mas tudo pode acontecer no decorrer deste intenso setembro de 2018 que começa a se descortinar em frente aos nossos olhos. Conversei com os três sobre esta nova temporada e o que podemos esperar deste novo momento do grupo.

O que você fez após o lançamento do disco MM3?
Juçara:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-o-que-voce-fez-apos-o-lancamento-do-disco-mm3
Kiko:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-o-que-voce-fez-apos-o-lancamento-do-disco-mm3-1
Thiago:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-o-que-voce-fez-apos-o-lancamento-do-disco-mm3-2

Como vocês começaram a pensar que era a hora de fazer um quarto disco da banda?
Thiago:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-como-voces-comecaram-a-pensar-que-era-a-hora-de-fazer-um-quarto-disco-da-banda
Juçara:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-como-voces-comecaram-a-pensar-que-era-a-hora-de-fazer-um-quarto-disco-da-banda-1
Kiko:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-como-voces-comecaram-a-pensar-que-era-a-hora-de-fazer-um-quarto-disco-da-banda-2

A temporada é só vocês três. Qual a importância de se trabalhar a três?
Kiko:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-a-temporada-e-so-voces-tres-qual-a-importancia-de-se-trabalhar-a-tres

A temporada pretende reproduzir a dinâmica entre vocês três? É um ensaio aberto?
Thiago:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-a-temporada-pretende-reproduzir-a-dinamica-entre-voces-tres-e-um-ensaio-aberto

Como é fazer o Metá Metá voltar a ser um trio, depois da consolidação do formato banda?
Juçara:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-como-e-fazer-o-meta-meta-voltar-a-ser-um-trio-depois-da-consolidacao-do-formato-banda

A temporada deve refletir as tensões políticas pelas quais o país vem passado?
Kiko:
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-a-temporada-deve-refletir-as-tensoes-politicas-pelas-quais-o-pais-vem-passado

Qual a diferença entre realizar este tipo de experimento diante do público e não em uma sala de ensaio?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-qual-a-diferenca-entre-realizar-isto-diante-do-publico-e-nao-em-uma-sala-de-ensaio

O que o público pode esperar desta temporada?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-o-que-o-publico-pode-esperar-da-temporada

Você vai tocar só violão ou vai usar guitarra nos shows da temporada?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-voce-vai-tocar-so-violao-ou-vai-usar-guitarra-nos-shows-da-temporada

Que instrumentos você vai tocar nesta temporada?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/meta-meta-que-instrumentos-voce-vai-tocar-nesta-temporada

gluetrip2018

“Morar numa cidade como João Pessoa traz muitas reflexões em frente ao mar e a cidade de uma certa maneira é minha maior inspiração”, me explica o paraibano Lucas Moura, voz e guitarra do Glue Trip, quando o pergunto sobre inspirações sobre o novo disco, Sea at Night. “Quando eu estava à procura de um nome para o disco saí com meus amigos para uma festa e terminamos a noite tomando um banho de mar, assistindo a lua. Foi uma noite incrível e eu comecei a perceber um padrão: as melhores noites terminavam no mar. Depois disso decidi chamar o disco de Sea at Night, acredito que essas experiências me levaram para perto do disco e do que eu queria levar para a minha música”, conclui, antes de falar que estava ouvindo muito Daft Punk, Solange, Gilberto Gil, Bill Withers, Unknown Mortal Orchestra e o disco Lá Vem a Morte do Boogarins.

Todos encontram eco nesta nova sonoridade noturna do antigo duo que agora é um quinteto, que deixou o violão solar em segundo plano para dar espaço para teclados de sonoridade oitentista, como pode ser percebido nas duas músicas que o grupo já liberou: “Time Lapses” e “Between Jupiter and Mars” – esta última lançada em primeira mão no Trabalho Sujo.

“O disco possui músicas que foram criadas no violão e tem músicas que eu trabalhei na frente do computador, brincando com beats e linhas de sintetizador”, continua Lucas. “Pra mim a composição com o violão é mais natural e eu queria me desafiar como produtor, tentar criar músicas eletrônicas que não carregassem os clichês que vemos hoje em dia no eletrônico. Nesse sentido o disco é dividido ao meio, metade das composições são voltadas para essa estética anos 80 e não foram criadas no violão, e a outra metade carrega o DNA do primeiro disco, com algumas mudanças, mas ainda assim com a essência da Glue Trip. Muitas músicas que ficaram de fora do disco foram criadas no violão, mas eu não possuo uma metodologia para criar. Gosto de estar a vontade e deixar as coisas fluírem.”

“Eu encarei esse disco como uma continuação. Enquanto o primeiro disco vai ao encontro com violão, beira-mar e dias de sol, o novo disco chega junto da noite, sintetizadores e experimentalismo. A ideia inicial era fazer a trilha sonora para uma noite, criar algo que se aproximasse de um público que está afim de sair e se divertir, a continuação desse belo dia de sol na praia. Essa estética anos 80 foi o que mais se aproximou para mim. As músicas também foram surgindo num período muito conturbado, onde me questionei bastante sobre a sonoridade que eu queria que a Glue Trip seguisse e nesse sentido comecei a usar mais sintetizadores e menos o violão”, ele prossegue. Esta sonoridade também é percebida na capa do disco, que a banda também antecipa primeiro no Trabalho Sujo.

seaatnight

“A capa é fantástica. Foi criada por Bruno Borges, que é um artista natural de Campo de Goycatazes, que mora em Nova York e também é o autor da capa do nosso primeiro álbum. Eu queria dar essa ideia de continuidade ao segundo disco, por isso decidi convidar Bruno novamente para fazer a capa. Eu passei as músicas para ele escutar, algumas referências e conversamos bastante sobre a ideia da noite presente no disco. Um belo dia eu abro meu e-mail e BAM tomo a capa na cara. Ele acertou em cheio. Eu gostei muito. Ela representa essa ideia e tem tudo a ver com as noitadas que terminaram com banhos de mar noturnos pelas praias do Bessa.”

Lucas continua falando sobre as transformações da banda desde o início, que a levaram ao novo álbum. “Muita coisa mudou desde o lançamento do primeiro disco da Glue Trip em 2015. A banda foi se moldando, deixou de ser um duo, para ter cinco músicos no palco, além de eu estar na produção e composição das músicas. O show também foi se transformando, antes nós tínhamos um pensamento de não focar tanto no ao vivo e pensar mais na produção das músicas, o que nos distanciava um pouco do público, mas de 2016 pra cá fomos mudando essa mentalidade, tocando mais e tentando fazer um show mais enérgico. Isso estabeleceu uma conexão massa com o público e uma resposta direta a nossa música em todos os lugares que fomos. Com as novas composições sentimos na necessidade de trazer um tecladista para a banda. Hoje somos cinco músicos no palco: Gabriel Araújo, no baixo e voz, CH Malves na bateria, Felipe Lins, na guitarra, Rodolfo Salgueiro no sintetizador e voz, e eu, na guitarra e voz. Para a turnê do novo disco começamos a montar um novo show que vai representar essa caminhada presente nos 2 discos: do dia para a noite.”

Pergunto sobre a demora para lançar um novo disco, já que o primeiro é de 2015. “A ideia de fazer um disco novo esteve na minha mente desde 2016, quando comecei a produção do Sea at Night. As músicas do disco novo foram surgindo em lapsos de tempo, comecei a compor num período de transição bem louco na minha vida. Larguei meu trabalho para me dedicar 100% a banda e ao disco e durante esse tempo voltamos aos palcos e lançamos um EP ao vivo. Isso interferiu um pouco no processo de produção do disco, mas esse tempo de amadurecimento foi necessário para mim e para as músicas. Eu precisava viver essa transição toda de emprego, relacionamento, luas etc, para chegar no resultado que eu queria para o disco novo. O fato de fazer tudo de maneira independente: produção, mixagem, composição; também atrasou um pouco a ideia de lançar material novo se tornando um desafio.”

Ele aproveita para comentar as transformações na cena independente: “O público ficou mais próximo do artista e isso mudou a forma como as bandas se comunicam e se organizam. Antes não tínhamos noção de quem era o nosso público e por onde ele estava. Com a ascensão de algumas plataformas, como o Spotify, conseguimos conversar com produtores e organizar uma turnê só com os dados de ouvintes que a plataforma nos entrega. O fã também virou protagonista nessa história, ele quer fazer parte do projeto, seja comprando uma camiseta ou até mesmo subindo no palco para cantar uma música junto da banda. Acredito que deveria existir uma união maior por parte de financiadores com a cena independente.”

A banda também prepara-se para mostrar o disco no exterior, onde sempre tiveram boa repercussão. “Surgiram alguns contatos para lança-lo através de selos internacionais, mas ainda não podemos falar em nada concreto fora do Brasil”, continua Lucas. “Como passamos muito tempo sem lançar nada, minha maior necessidade é tirar esse disco de mim e lança-lo ao mundo de maneira independente. Nós temos um grande público fora do Brasil, sempre que postamos algo nas nossas redes surgem comentários pedindo para tocar em diversos locais do mundo, do México ao Japão. Temos muita vontade de levar o nosso som para fora do Brasil e ver como as pessoas reagem ao show. Mas o comentário mais comum é: ‘como assim Glue Trip é brasileira? Ainda mais de João Pessoa’.”

Aproveito para perguntar sobre a eterna questão sobre cantar em inglês. “O inglês veio naturalmente nas primeiras composições do projeto, mas hoje em dia eu me vejo muito nesse dilema”, explica o guitarrista e vocalista. “Sempre que me perguntam isso eu fico com uma pulga atrás de orelha, porque eu amo música brasileira e gosto de compor em português também. Não tenho esse apego ao inglês, mas å estética do projeto eu tenho. Quando eu estava produzindo esse disco novo surgiram algumas músicas em português que decidi guardar para o futuro. Não existe essa regra de que precisamos cantar em inglês, acredito que um dia ainda vão sair músicas da Glue Trip em português, mas isso é papo para o futuro.”

Mangue 8-bit

moogbeat

“O Moogbeat começou como um desafio musical, de recriar em um único sintetizador monofônico de toda aquela mágica sonora da Nação”, me explica Carlos Trilha, por email, sobre o recém-lançado Moogbeat – Nação Zumbi para Minimoog, em que o ex-colaborador da Legião Urbana, Carlos Trilha, reinventa clássicos da banda pernambucano no formato analógico retrô que parece voltar no tempo dos primeiros videogames. “Foi um estudo, uma forma de entender a sonoridade e de se apropriar de alguma maneira daquela força, um presente pra eles, queria impressioná-los”, continua o músico, conhecido pela parceria nos dois únicos discos solo de Renato Russo.

“No começo não tinha a intenção de fazer um álbum, pois não sabia como soaria, mas quando a primeira música ficou pronta e mostrei pro Pupillo, que me chamou de louco por conta da quantidade de detalhes que sintetizei no Moog, que e sugeriu que eu fizesse um álbum inteiro, é que percebi a riqueza sonora e artística do que estava nascendo”, continua Trilha, referindo-se à versão que fez para “Meu Maracatu Pesa uma Tonelada”. Depois partiu para “Prato de Flores” e aos poucos foi mostrando para o grupo. “A banda curtiu de cara a ideia do álbum e cada música nova que eu fazia era um festival de comentários e mensagens que foram me dando muita satisfação durante o processo. Quando eles sabiam que eu havia começado alguma música nova, ficavam cheios de curiosidade e me cobravam que terminasse logo para eles ouvirem.”

O projeto começou como uma brincadeira mas já começa a render frutos além do disco – e Trilha já está fazendo shows deste novo formato. “Muitas ideias surgiram, não sabia se montaria uma orquestra de Moogs ou se simplesmente colocaria tudo em uma MPC e deixaria algumas linhas para tocar ao vivo”, lembra. “Até que cheguei na forma do Concerto para Sintetizadores, onde toco clássicos da Synthesizer Music, composições próprias e músicas do Moogbeat. Nestes, os sons gerados originalmente no Moog foram substituídos por outros doze sintetizadores clássicos que ficam no meu ‘cockpit’ de máquinas sonoras.” Trilha não descarta fazer projetos do tipo com outros artistas, mas por enquanto quer focar neste novo formato ao vivo, o Concerto para Sintetizadores, que terá parte de seu repertório extraído do Moogbeat.

discobiografia-mutante

“Já tinha escutado músicas dos Mutantes na infância e adolescência, mas conheci mesmo a banda em 1999, através da coletânea do David Byrne The Best of Os Mutantes, que tinha como subtítulo Everything Is Possible!”, lembra Chris Fuscaldo, que sofreu o impacto do grupo paulistano ao mesmo tempo em que este ganhava ares de lenda muito maiores do que os que poderia imaginar em seu tempo. Ela logo completou a coleção de discos e escreveu sua monografia de conclusão de curso sobre o grupo, entrevistando integrantes originais da banda no início do século para fazer seu TCC. O grupo é alvo do segundo livro sobre música da jornalista, Discografia Mutante, que será lançado neste sábado na Baratos Afins, em São Paulo (mais informações aqui), e na próxima sexta no Sebo Baratos, no Rio (mais informações aqui). O livro usa o formato de dissecção da discografia do grupo, utilizando-a como fio condutor para contar a história do passar dos anos da banda e já havia sido testado no primeiro livro sobre música de Chris, Discobiografia Legionária, sobre o Legião Urbana.

Os dois projetos nem eram as principais iniciativas de Chris – imersa há dez anos no trabalho de uma biografia de Zé Ramalho e que já iniciou uma segunda, sobre Belchior – e surgiram de possibilidades de trabalho que apareceram em sua vida. Começou a falar sobre Legião a convite da gravadora EMI e teve o insight de falar sobre os Mutantes pelo cinquentenário de sua discografia neste ano. As duas discobiografias se diferem também pelo formato: a primeira saiu pela editora LeYa e a segunda pela própria editora de Chris, que financiou o projeto via crowdfunding. Bati um papo com ela sobre a realização deste novo livro, que pode ser comprado em seu site.

ChrisFuscaldo

Como foi a realização do seu primeiro Discobiografias?
Minha primeira “discobiografia” foi a Discobiografia Legionária, em que conto as histórias dos álbuns da Legião Urbana. Em 2008, eu fui convidada pela gravadora EMI Music para preparar textos que seriam encartados na reedição em vinil dos 8 discos de carreira da Legião Urbana que seriam lançados em 2010. Para mim, o projeto pararia por aí, até porque, em 2010 meu projeto era mergulhar nas pesquisas para a biografia de Zé Ramalho. Mas, com as entrevistas que fiz, percebi a riqueza do material e, ao receber diversos e-mails de fãs, vários reclamando do difícil acesso aos discos, que saíram com um preço muito alto, achei que a história que estava contando nos encartes renderiam um livro. Em 2016, após assinar com a editora LeYa, fiz nova pesquisa e muitas outras entrevistas para falar também dos discos ao vivo, das coletâneas e dos projetos solo de Renato Russo. Minha ideia era colocar no livro a biografia de toda a obra da Legião Urbana enquanto os três estavam vivos e juntos, tudo isso como se estivesse dentro do estúdio com a banda.

Os Mutantes foram uma escolha óbvia para continuar o projeto?
Em fevereiro deste ano eu tive um insight durante uma viagem pela Califórnia, onde estava respirando paz, amor e psicodelia: “Em 2018 o primeiro disco dos Mutantes completa 50 anos!”, pensei ao acordar no meio de uma madrugada. Aí, lembrei que minha monografia da faculdade, sobre as capas dos discos da banda, estava guardada desde 2002 e que eu tinha ótimas entrevistas com eles da época e feitas depois, durante meus anos trabalhando como jornalista de música para diversos jornais, revistas e sites. Achei que seria impossível lançar ainda este ano se tivesse que começar a buscar uma editora e lembrei do quão bem sucedido foi o projeto do Bento Araujo, que lançou o livro Lindo Sonho Delirante através de financiamento coletivo. Pedi umas dicas a ele e joguei a campanha no ar em março, assim que voltei para o Rio. Para mim, Mutantes é sempre uma escolha óbvia, mas fiquei impressionada como ninguém tinha tido essa ideia justamente no ano em que a banda – que tem outra formação, mas ainda é liderada por Sérgio Dias – veio ao Brasil para shows e foi super celebrada pelos fãs.

O que você descobriu pesquisando o livro que mais te impressionou?
Eu tinha medo de não descobrir nada pelo fato de já existir uma biografia dos Mutantes que considero super boa, a do Carlos Calado, A Divina Comédia dos Mutantes. No entanto, ele lançou aquele livro em 1995, então, muita água rolou depois disso. Por exemplo, a história do álbum Tecnicolor é contada pela primeira vez neste meu Discobiografia Mutante. Também resolvi incluir os álbuns lançados após o retorno da banda, em 2006, para um show no Barbican Theatre, em Londres. E, claro, descobri coisas de dentro do estúdio que não estavam no livro do Calado porque assumi esse viés que detalha melhor o que aconteceu durante as gravações do que na vida pessoal de cada um. Óbvio que é impossível deixar as relações entre eles de lado, mas eu tive muito interesse em abordar equipamentos, sonoridades, trajetória nos palcos etc.

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Que registro inesperado que você encontrou?
Eu adorei saber, por exemplo, que já em 1969, nos palcos, os Mutantes tinham uma potência mais de 10 vezes maior do que a de Roberto Carlos devido ao equipamento em que tocavam, produzido por Cláudio César, o irmão mais velho de Arnaldo e Sérgio. E que, na época do disco Tudo Foi Feito pelo Sol, o PA da banda pesava mais de 200 quilos, o que inclusive tornava alguns shows inviáveis.

Você lançou um livro por uma editora e outro via crowdfunding. Qual sua experiência neste processo? Pretende repetir o crowdfunding?
Gostei da experiência de fazer o crowdfunding. Fui a responsável por todas as etapas do processo e isso me ensinou muito. Acabei lançando minha própria editora, a Garota FM Books, pois na hora de fechar o livro, descobri que eu mesma teria que gerar o código ISBN. Também já estudei como farei a conversão do livro para E-book. E editei a mim mesma, pois escrevi, coordenei as revisões e traduções e ainda administrei a diagramação junto ao Leonardo Miranda, que fez um trabalho lindo, mas sempre muito atento ao que eu queria. Eu repetiria o processo, mas agora preciso me dedicar aos dois livros que já estavam prometidos a uma editora antes de eu dar esse mergulho no mundo dos Mutantes entre março e agora.

Qual o próximo livro?
Estou escrevendo uma biografia de Zé Ramalho há anos, mas parei de prometer que ele está “prestes a sair” desde que percebi que este é um trabalho bem mais difícil do que os outros que fiz até agora. Já faz mais de 10 anos tudo começou. É uma pesquisa mais difícil, mais cara, com distâncias mais longas para percorrer, com entrevistas com personagens mais complexos. É um dos projetos que mais me deu prazer na vida, pois amo o universo nordestino no qual a história se inicia e acho extremamente necessário falarmos sobre ele. Por causa dele, fiz um mestrado e engatei em um doutorado, que está em curso. Por causa dele, iniciei também uma pesquisa para um livro sobre Belchior, que é este segundo que está em andamento, mas sobre o qual ainda não consigo falar muito. E, bom, tenho uma tese para escrever até o fim de 2019. Então, acho que tô cheia de coisa para fazer, né?

O livro é bilíngue e o formato é parecido com o Lindo Sonho Delirante do Bento Araújo. Foi uma referência para este livro?
O Lindo Sonho Delirante foi uma super inspiração! Fiquei encantada quando conheci o livro do Bento e ele me deu várias dicas para que minha campanha fosse bem-sucedida. Interessante que nos conhecemos justamente porque ele estava de olho no meu Discobiografia Legionária e eu, no LSD dele. Nos encontramos para trocar livros sobre discos. Acho que a diferença entre o trabalho dele e o meu é que ele faz resenhas e eu emendo narrações.

Como anda o jornalismo cultural e especificamente de música no Brasil hoje? Como você se informa?
Todos os dias, eu fico de olho no Facebook para ver o que meus amigos, parceiros ou pessoas que eu sigo do mundo da música compartilharam. E sigo as páginas dos blogs, jornais e revistas via esta rede social. Fora isso, leio revistas, sendo que a Rolling Stone acabou de me privar da única leitura de música que eu fazia nesse formato; agora só me restaram as revistas femininas, que sempre gostei de acompanhar. E tenho uma assinatura de um jornal somente aos domingos; durante a semana, fico de olho no caderno cultural dele e no de um outro de São Paulo que acho que tem mais meu perfil. A verdade é que minha vida tem me levado a viver mais do passado do que do presente. Ando lendo muito mais livros.

Chagas chegando

chagas

Pai de Tulipa e Gustavo Ruiz e guitarrista do Isca de Polícia, a mítica banda de Itamar Assumpção, o mestre Luiz Chagas finalmente começa a revelar seu faceta solo a partir das 20h desta quinta-feira, no Itaú Cultural, quando mostra músicas que vinha guardando na gaveta num show chamado Música de Apartamento acompanhado de uma banda que conta com Fábio Sá no baixo, Biel Basile na bateria, o filho Gustavo no violão e Chicão Montofarno nos teclados, além da presença de Ná Ozzetti, Suzana Salles, Gustavo Galo, Juliana Perdigão, Tulipa Ruiz, Felipe Cordeiro e Manoel Cordeiro (mais informações aqui). Conversei com o seu Luiz sobre esta nova fase de sua carreira.

Como surgiu a ideia de começar um novo trabalho a partir de um show?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/luiz-chagas-2018-como-surgiu-a-ideia-de-comecar-um-novo-trabalho-a-partir-de-um-show

O que é “Música de Apartamento”?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/luiz-chagas-2018-o-que-e-musica-de-apartamento

Quem é a banda que tocará contigo neste show?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/luiz-chagas-2018-quem-e-a-banda-que-tocara-contigo-neste-show

Você já irá gravar o disco ou é um processo que está sendo maturado ao vivo?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/luiz-chagas-2018-voce-ja-ira-gravar-o-disco-ou-e-um-processo-que-esta-sendo-maturado-ao-vivo

A volta do Isca de Polícia foi determinante para este novo trabalho?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/luiz-chagas-2018-a-volta-do-isca-de-policia-foi-determinante-para-este-novo-trabalho

Como este trabalho conversa com o seu trabalho com a Tulipa e o Isca de Polícia?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/luiz-chagas-2018-como-este-trabalho-conversa-com-o-seu-trabalho-com-a-tulipa-e-o-isca-de-policia

Quais os próximos passos a partir deste show de quinta-feira?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/luiz-chagas-2018-quais-os-proximos-passos-a-partir-deste-show-de-quinta-feira

SpaceCharanga_2018

Thiago França reuniu mais uma vez sua Space Charanga – desta vez em forma de quarteto – para uma nova viagem pelo espaço sideral do som. Ao lado de seus broders de Metá Metá Sergio Machado (bateria) e Marcelo Cabral (baixo acústico) e do trompete de Amilcar Rodrigues, o músico paulistano parte em mais uma jornada rumo ao desconhecido em seu recém-lançado Suíte Intergaláctica (já nas plataformas digitais mas que pode ser baixado aqui), que ele considera o disco mais de jazz que já fez. Aproveitei o lançamento para conversar com ele sobre a história da Space Charanga (“um spin-off da Charanga do França”, conta às gargalhadas), da influência de Sun Ra e do espaço sideral em sua criação – que vai muito além da ficção científica.

Como surgiu o conceito da Space Charanga e da influência do Sun Ra nessa versão da Charanga?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/space-charanga-2018-como-surgiu-o-conceito-da-space-charanga-e-qual-a-influencia-do-sun-ra-no-grupo

Como a Space Charanga conversa com o Charanga do França?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/space-charanga-2018-como-a-space-charanga-conversa-com-o-charanga-do-franca

Fale sobre a Suíte Intergaláctica.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/space-charanga-2018-fale-sobre-a-suite-intergalactica

Fale de sua relação com a música e o conceito do espaço sideral.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/space-charanga-2018-fale-de-sua-relacao-com-a-musica-e-o-conceito-do-espaco-sideral

mawaca-centro-da-terra-

Agosto está com as mulheres no Centro da Terra, começando pelo grupo Mawaca, tradicional núcleo de pesquisas de músicas do mundo que destaca seu grupo de cantoras e percussionistas – Angélica Leutwiller, Cris Miguel, Magda Pucci, Rita Braga, Zuzu Leiva e Valéria Zeidan – para uma apresentação sobre vozes femininas espalhadas pelo planeta que cantam sobre vozes femininas durante as terças-feiras do mês. O espetáculo As Muitas Vozes da Voz conta com a presença de diferentes convidados a cada terça-feira, mostrando a pluralidade e a vastidão do canto feminino na história da humanidade sobre pontos de vistas completamente distintos, sempre convergindo para voz e percussão. A primeira terça-feira, dia 7, traz o grupo sozinho, apresentando a temporada, seguido de terças com diferentes convidados: o violeiro João Arruda no dia 14, o rabequeiro Felipe Gomes no dia 21 e a percussionista Silvanny Sivuca no dia 14 (mais informações aqui). Conversei com a Magda Pucci, fundadora do grupo, sobre a temporada que elas pensaram para apresentar neste mês de agosto.

Qual será o show que o Mawaca apresentará no Centro da Terra?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-qual-sera-o-show-que-o-mawaca-apresentara-no-centro-da-terra

Qual é o conceito desta temporada As Muitas Vozes da Voz?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-qual-e-o-conceito-desta-temporada-as-muitas-vozes-da-voz

Como será a primeira terça-feira?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-como-sera-a-primeira-terca-feira

Quem é o convidado da segunda terça-feira da temporada?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-quem-e-o-convidado-da-segunda-terca-feira-da-temporada

E quem será o convidado da terceira noite?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-e-quem-sera-o-convidado-da-terceira-noite

Para concluir, fale sobre a convidada da última noite.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-para-concluir-fale-sobre-a-convidada-da-ultima-noite

Como esse espetáculo se diferencia por ser apresentado em um teatro?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-como-esse-espetaculo-se-diferencia-por-ser-apresentado-em-um-teatro

Há mudança de repertório entre as apresentações?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-ha-mudanca-de-repertorio-entre-as-apresentacoes

A temporada terá algum tipo de continuidade?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/mawaca-a-temporada-tera-algum-tipo-de-continuidade

cartaz vitor araujo 290618

Quem é você? Quem é o Rakta? A dupla paulistana formada por Carla Boregas e Paula Rebellato domina as segundas-feiras do Centro da Terra espalhando esta dúvida durante todo o mês de agosto ao apresentarem a temporada O Duplo Ambulante. Inspiradas no mito do doppelgänger – que diz que, em algum lugar, há uma cópia astral sua e que você pode encontrá-la nesta nossa dimensão -, as duas reinventam sua obra e seus shows em quatro datas em que confundem expectativas e embaralham nossos sentidos sobre o que é real e o que não é, o que é palpável e o que não é, misturando conceitos carnais e etéreos numa série de apresentações que funcionarão em conjunto (mais informações aqui). Conversei com as duas sobre para onde essa história de duplo pode nos levar.

Como surgiu a ideia de Duplo Ambulante?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rakta-como-surgiu-a-ideia-de-duplo-ambulante

Como vocês conheceram o conceito de doppelgänger?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rakta-como-voces-conheceram-o-conceito-de-doppelganger

A ideia da temporada é criar um ritual ao redor deste conceito?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rakta-a-ideia-da-temporada-e-criar-um-ritual-ao-redor-deste-conceito

Como esse espetáculo se encaixa nesta fase atual da carreira de vocês?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rakta-como-esse-espetaculo-se-encaixa-nesta-fase-atual-da-carreira-de-voces

Quem são os convidados desta temporada?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rakta-quem-sao-os-convidados-desta-temporada

Tocar num teatro muda o tipo de apresentação que vocês vão fazer?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/rakta-tocar-num-teatro-muda-o-tipo-de-apresentacao-que-voces-vao-fazer

Foto: Karin Santa Rosa (Divulgação)

Foto: Karin Santa Rosa (Divulgação)

Herói do indie carioca, Lê Almeida transmutou sua musicalidade do shoegaze pro kraut ao parir o conjunto Oruã, em que reveza sua barulhenta guitarra com teclados elétricos. O grupo, formado por Lê (guitarra, teclados e vocais), João Luiz (baixo) e Phill Fernandes (bateria), envereda por trincheiras mais experimentais que as que Lê caminhava anteriormente e sai em busca de ouvintes em turnês de carro pelo Brasil, desbravando os interiores do Brasil com uma sonoridade densa e hermética, mas ao mesmo tempo hipnótica e psicodélica. Ele falou em lançar o single de “Malquerências” (que deverá estar no próximo disco do grupo, Romã) no Trabalho Sujo e eu aproveitei pra conversar com ele sobre sua nova banda.

Conte como o Oruã começou.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-conte-como-o-orua-comecou

Era uma banda instrumental que começou a ganhar letras. Fale sobre esse processo.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-era-uma-banda-instrumental-que-comecou-a-ganhar-letras-fale-sobre-esse-processo

Você está excursionando bastante com a banda. Como está sendo a repercussão?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-voce-esta-excursionando-bastante-com-a-banda-como-esta-sendo-a-repercussao

De onde vem o nome da banda?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-de-onde-vem-o-nome-da-banda

É seu único trabalho atualmente? Você parou seus outros projetos?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-e-seu-unico-trabalho-atualmente-voce-parou-seus-outros-projetos

Há previsão de lançamento de discos?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/le-almeida-2018-ha-previsao-de-lancamento-de-discos