É com imensa satisfação que anuncio que o último show do Centro da Terra em 2018 é a primeira apresentação paulistana de um ousado projeto que finalmente é lançado. Depois de anos recriando em estúdio Coisas, disco clássico que o músico e arranjador pernambucano Moacir Santos lançou em 1965, o produtor conterrâneo Rodrigo Coelho, que apresenta-se sob a alcunha de Grassmass, por fim lança seu Coisas2018, em que revisita uma das mais importantes obras do jazz brasileiro à luz da música contemporânea, injetando elementos de música eletrônica e de pós-produção. Nesta primeira apresentação, que acontece nesta terça-feira, dia 4 (mais informações aqui), ele contará com as presenças de Bruno Bruni e Thomas Harres para transpor este monumento a um dos maiores – e infelizmente ainda pouco conhecido do grande público – nomes da música brasileira para o palco. Conversei com Coelho sobre este projeto e a primeira incursão ao vivo no ano de seu lançamento – e ele antecipa uma das faixas em primeira mão para o Trabalho Sujo.
https://soundcloud.com/uivorecords/grassmass-coisa-n-5/
Como você conheceu o Coisas?
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Como surgiu a ideia de fazer um tributo a este disco?
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Como foi o desafio de recriar o Coisas neste outro contexto?
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Como é o Coisas2018 ao vivo?
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Semana que vem encerramos os trabalhos de música em 2018 no Centro da Terra e a primeira atração desta semana de conclusão de ano é a estreia do projeto Redemunho, da baterista do Quartabê Mariá Portugal. Concebido originalmente para ser realizado na rua, o projeto abre conversas musicais de improviso livre com artistas convidados e para esta primeira edição, Redemunho Zero, ela convidou os músicos Maurício Takara, Marcelo Cabral, Joana Queiroz, Bella e Thomas Rohrer para um salto no abismo dos sons (mais informações aqui). Bati um papo com ela sobre o projeto, sua relação com os outros músicos e sobre o conceito de improviso livre no contexto de sua sessão.
O que é o Redemunho Zero?
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Fale sobre os músicos que participarão desta primeira edição.
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Improviso livre é vale tudo?
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Há algo pré-definido antes de vocês entrarem no palco?
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Depois de uma bem sucedida edição em 2018, o Coquetel Molotov finalmente chega a São Paulo. Depois de se espalhar por algumas cidades do país (como Salvador e BH) e namorar a vinda pra São Paulo há um tempão, o festival pernambucano realiza sua primeira edição paulistana com gosto e reúne Boogarins, Tuyo, Baco Exu do Blues, Maria Beraldo, Edgar, Coletividade Namíbia e um encontro incrível entre Alessandra Leão, Karina Buhr e Isaar nesta sexta-feira, dia 30, no espaço The Week, pertinho do Sesc Pompeia (mais informações aqui). Bati um papo com a criadora do festival, Ana Garcia, que também antecipou os horários dos shows em primeira mão para o Trabalho Sujo (veja abaixo), além de liberar um par de ingressos para sortear entre os leitores do site. Para concorrer, basta comentar abaixo qual a atração que você mais gostaria de assistir e por quê (e não se esqueça de incluir seu email para que eu possa entrar em contato).
O que é a edição paulistana do Coquetel Molotov?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ana-garcia-o-que-e-a-edicao-paulistana-do-coquetel-molotov
Desde quando você quer trazer o festival para São Paulo e quais foram as principais dificuldades?
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O que caracterizaria o Coquetel Molotov para o público paulistano?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ana-garcia-o-que-caracterizaria-o-coquetel-molotov-para-o-publico-paulistano
Fale um pouco de cada uma das atrações e o que esperar de cada show.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ana-garcia-fale-um-pouco-de-cada-uma-das-atracoes-e-o-que-esperar-de-cada-show
Em que outras cidades você está fazendo mais edições do festival este ano?
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A intenção é manter a edição paulistana anual?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ana-garcia-a-intencao-e-manter-a-edicao-paulistana-anual
Horários do Coquetel Molotov em São Paulo
19h: Boogarins (Palco Coquetel Molotov)
20h: Tuyo (Palco Monkeybuzz)
21h: Karina Buhr + Alessandra Leão + Isaar (Palco Coquetel Molotov)
22h: Maria Beraldo (Palco Monkeybuzz)
23h: Edgar (Palco Sonic)
0h: Baco Exu do Blues (Palco Monkeybuzz)
1h: Coletividade Namíbia (Palco Sonic)
O supercorda Pedro Bonifrate manda notícias ao anunciar um single inesperado no fim de ano: “Alfa Crucis” é o início de uma nova fase de composições e gravações que ele começou a desenvolver no meio do ano, depois do que ele chama de “inferno astral elétrico”. “Apliquei um método mega lo-fi nisso, parece mais primitivo que as últimas coisas”, ele me explica sobre a nova música, que define como um “single de consolação, pra ajudar a renovar as energias de forma sonhadora”. Ele aproveita para estrear o clipe em primeira mão no Trabalho Sujo – e explica o novo single logo abaixo:
“Em julho de 2018 aconteceram coisas que eu defini em parte como um inferno astral elétrico: minhas caixas queimaram, minha guitarra caiu e quebrou o nut, a captação do meu violão queimou, um amplificador também, e finalmente meu computador pifou. Eu faria um show solo na Biblioteca Maria Angélica Ribeiro, aqui em Paraty durante a Flip, e felizmente consegui dar um jeito no violão, porque descobri um muito improvável vizinho que trabalhou anos com luthieria e eletrônica. Então eu consegui ensaiar pro show, com o mínimo que eu tinha funcionando, e nesse esquema de trabalhar com loops que ando fazendo ao vivo.”
“Brincando com o velho tecladinho Casio e um delay analógico eu criei esse loop básico de ‘Alfa Crucis’, e a canção foi feita em poucos dias a partir daí, até cheguei a incluí-la nessas últimas apresentações que fiz aqui. Como eu tenho um gravador Fostex de 4 pistas em cassete e ele pareceu imune ao caos eletrônico, eu resolvi gravar tudo nele. Depois, com um computador novo, exportei os canais, fiz umas poucas edições e mixei digitalmente, mas sem interferir muito no som de fita original, então ficou muito low-fi, como há tempos eu não soava.”
“A vontade de lançar logo essa canção, como um single isolado, veio do fato de ela estar pronta e de eu acreditar que ela pode consolar e energizar alguns corações apreensivos e partidos pela nossa conjuntura política. É uma canção que procura contemplar um futuro em que possamos todos observar as estrelas do nosso céu do sul, apesar de toda a loucura das nossas vidas materiais, e nos entregar ao mistério que é estarmos vivos. Há uma relação temática com um álbum que estou começando a gravar, e provavelmente uma nova versão dela estará nessa coleção, mas não há previsão de que fique pronto tão cedo.”
Já não tem mais quem possa encontrar a medida das coisas
Só os lábios fônicos e vibrações das baleias dentadas
Já não tem mais quem vá suspeitar da folia
Só você e eu a lamentar a ausência de um disco hipotético
Preguiçosos vimos Alfa Cruz brilhar sobre a casa, nossa casa
Você regalou e pegou no sono a declamar asterismos
Polaris
Urodelos
Eridamus
Afa Al Farkadain
Monoceros
Almagesto
Já não tem mais quem possa encontrar a medida do planeta
Já não tem mais
Já não tem mais
Já não tem mais
O jovem mestre da guitarrada Felipe Cordeiro prepara-se para lançar seu terceiro álbum, Transpyra, produzido por Kassin, no início de 2019, e resolveu antecipar aqui no Trabalho Sujo, o primeiro alento deste trabalho: “Demais”. A faixa, cujo clipe foi filmado no Minhocão paulistano, flerta com a new wave (sem abandonar as raízes paraenses) e tem cores explicitamente políticas, mas olhando para o futuro com esperança. “Corpo é nosso núcleo de desejo, resistência e liberdade. Levo para a minha música o corpo, o movimento, a provocação, o pensamento”, explica o músico e compositor.
Sem aviso, a banda curitibana Ruído/mm anuncia que lançará seu novo disco nesta quinta-feira e antecipa a penúltima faixa, “Jacó”, em primeira mão para o Trabalho Sujo. Seguindo instrumental, como sempre, o novo disco segue uma linha bem diferente dos trabalhos anteriores, embora os fortes ataques em câmera lenta ainda predominem o cenário do álbum. Felizmente A é Côncavo, B é Convexo foge bastante da fórmula conhecida do pós-rock, gênero sem fronteiras em que a banda normalmente é encaixada. “O disco orbita se relacionando e fugindo do que já fizemos, ora se aproximando ora se aventurando”, tenta explicar Pill, enquanto Liblik tenta racionalizar a distância entre os dois álbuns: “Eu diria que são quatro anos-luz – cerca de 37.842.921.890.323 quilômetros. Pensemos em quanto o Brasil de 2014 se distancia do de 2018.” “Jacó” é uma boa amostra deste novo rumo – que não é um só.
A é Côncavo, B é Convexo é o trabalho mais recente do grupo desde o ótimo Rasura, de 2014, e o primeiro desde que um de seus guitarristas, André Ramiro, mudou-se para os Estados Unidos, mas a mudança não interferiu o processo de criação da banda. “Dois países é moleza”, me conta o tecladista Alexandre Liblik por email, “o problema é a distância dos seis mundos e as realidades diferentes que cada um de nós vive”. “Temos trabalhado remotamente via internet desde o Rasura, então é algo que já nos acostumamos”, completa o outro guitarrista, Ricardo Pill. “O papel fundamental do Ramiro nas composições só segue possível porque a sintonia dele com a banda é muito grande, de verdade. Felizmente, as agendas bateram e ele pôde estar presente para gravar conosco pessoalmente.”
As agendas não bateram, no entanto, para o lançamento do novo álbum – e o grupo mostra o disco ao vivo neste domingo, no Teatro da Reitoria da UFPR, em Curitiba (mais informações aqui). A resposta para como lidar com a ausência do guitarrista tem a ver com a proposta do grupo: “Emaranhamento quântico. Nós estamos em estado de sobreposição – é ritual. O Ramiro sempre chega junto quando tocamos, seja como espectro ou mesmo compartilhando alguns spins em comum”, completa Liblik. A banda ainda conta com Felipe Ayres na guitarra, Rafael Panke no baixo e Giovani Farina na bateria.
No entanto, esta comparação não é apenas política. “É uma da possíveis leituras, mas definitivamente não se resume a isso”, conta o baixista. “Estamos estarrecidos com os rumos que História tem tomado, mas o A/B que exploramos vai além, dizendo respeito às ambiguidades, aos paradoxos e às aparentes dualidades presentes nas categorias elementares do pensamento humano. A complexidade derivada das paralaxes de percepção é estonteante e melhor expressada sem o uso de palavras.”
Pill deschava melhor este conceito: “Entendo essa interpretação, mas acredito que o título, o nome das músicas e principalmente o som reflete muito mais o microcosmos da banda. Como se expressar de forma subjetiva através de um ser coletivo? Como lidar com prismas onde o apreço estético não tem valor de juízo? E no final caímos no abismo do ‘eu prefiro’. O disco é, mais uma vez, um exercício de diálogo, uma busca de um chão comum ou de uma divergência válida, interessante. É claro que não somos imunes ao que está acontecendo na política brasileira e isso em algum grau deve estar presente na música. O quanto, não sabemos.”
“O Agambem traduz Política no sentido de Aristóteles como o (co)partilhamento da existência”, amplia ainda mais a discussão o tecladista. “Não pode haver nós versus eles quando temos tão somente nós-que-compartilhamos-o-mundo. Em nosso processo específico para a criação deste disco, tivemos que lidar com toda a gama de dificuldades possíveis – já aqui, uma micropolítica da convivência foi essencial. Em primeiro lugar, cada um cuidando do seu jardim, buscando o Eu-Tu nas relações. Saindo dessa micropolítica da banda, podemos admitir que a música instrumental só pode acontecer num espaço coletivo, em que o emaranhamento de pessoas que estão concentradas e focadas nos epifenômenos, nas sutilezas, nas profundidade, é o que torna a experiência subjetivamente importante e “maior” – gestalt. É uma definição perfeita do que seria esse compartilhar da existência. Na macropolítica, somos entusiastas desse compartilhamento – acredito que haja mais política numa experiência xamânica do que em um ano de discursos e argumentação politica.”
O disco estará disponível em todas as plataformas digitais a partir desta quinta. Abaixo, a capa (feita por Jaime Silveira sobre uma gravura de Maikel da Maia) e o nome das músicas do disco, na ordem.
“Niilismo”
“Volca”
“Antílope”
“Ourobouros”
“Tesserato”
“Esporos”
“Jacó”
“MMC”
O jornalista Ricardo Alexandre lança neste sábado, às 18h, seus dois novos livros sobre crítica cultural em uma conversa gratuita com o público a partir das 18h, na Praça das Bibliotecas do CCSP (mais informações aqui). Tudo é Música e Nem Tudo é Música são lançamentos da editora Arquipélago e reúnem textos de opinião que Ricardo escreveu em sua trajetória profissional e que não são mais encontrados online. Conversei com ele sobre os dois livros e o estado do jornalismo cultural no Brasil neste início de século.
Por que lançar dois livros de opinião numa época em que todo mundo tem opinião sobre tudo?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ricardo-alexandre-por-que-lancar-livros-de-opiniao-numa-epoca-em-que-todos-tem-opiniao-sobre-tudo
Como você vê a crítica musical brasileira atualmente? O que você lê?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ricardo-alexandre-como-voce-ve-a-critica-musical-brasileira-atualmente-o-que-voce-le
E sobre a crítica cultural?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ricardo-alexandre-e-sobre-a-critica-cultural
Você encerra um dos livros falando sobre as eleições de 2018. A falta de pensamento crítico nos trouxe até aqui?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ricardo-alexandre-este-cenario-nas-eleicoes-de-2018-e-fruto-da-falta-de-pensamento-critico
Como anda o jornalismo musical brasileiro?
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ricardo-alexandre-como-anda-o-jornalismo-musical-brasileiro
Fale sobre seus próximos projetos.
https://soundcloud.com/trabalhosujo/ricardo-alexandre-fale-sobre-seus-proximos-projetos
Uma marcha fúnebre para estes tempos nefastos: assim é “Pássaro Azul”, música nova que o cearense Jonnata Doll lança em primeira mão no Trabalho Sujo e que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira. Gravada dentro do programa Dragão Sessions, do Centro Cultural Dragão do Mar, ela foi produzida por Yuri Kalil – o sexto integrante do Cidadão Instigado – e foi inspirada pelo poema homônimo de Charles Bukowski.
“Um dia estava andando na rua da Consolação em São Paulo, lembrado do poema mais famoso do velho Bukowski, Pássaro Azul – se não, vá ler agora”, explica Jonnata. “O passarim do velho safado para mim, parecia ser a fragilidade, sensibilidade e a tristeza que ele escondia do mundo por baixo de uma casca de durão. Mas aí pensei: E eu? O que eu guardo dentro de mim e não mostro para geral? Luto, pelos amores perdidos, amigos mortos e amigos que morrerão, luto pela morte da minha capacidade de entender totalmente meus vícios a fim de extingui-los. Luto e ansiedade pelo sério risco de uma política governamental que pensa a diferença morrer de forma precoce neste país.”
Composta a letra, ela foi musicada pelo guitarrista dos Garotos Solventes, Edson Van Gogh, e juntos encontraram o andamento da música entre a batida de “Pavão Mysteriozo”, do conterrâneo Ednardo, e do maracatu cearense, “que é mais lento que o pernambucano e que para nós evoca a algo parecido com uma marcha fúnebre.” A bateria, gravada pelo paulistano Clayton Martin, também do Cidadão Instigado, segurou o ritmo original: “Acabou que não ficou exatamente um maracatu e sim uma intenção de maracatu, pois muitas vezes uma ideia que te inspira é só um ponto de partida”
Jonnata já está na pré-produção de seu novo álbum, que, segundo me contou, refletirá ainda mais as tensões políticas destes nossos dias e será produzido pelo guitarrista Fernando Catatau no final deste ano, para ser lançado do início de 2019.
“Pabllo só por existir já é um pensamento político: uma drag queen que está na TV, que as avós das pessoas assistem, de quem as crianças são muito fãs… Só isso já é um tapa na cara, é um statement político” – conversei com o Rodrigo Gorky, mentor e empresário de Pabllo Vittar, que acaba de lançar seu segundo disco, para o site Reverb – e ele ainda falou sobre Charli XCX, Rihanna, K-Pop, Banda Raveli, ÀTTØØXXÁ, Kali Uchis, PC Music, Britney Spears, Linn da Quebrada, tecnobrega e Laraaji.
Mítico vocalista do grupo punk pernambucano Devotos, Cannibal ataca em duas frentes neste final de 2018: lançando o livro Música Para Quem Não Ouve, que reúne as letras de sua histórica banda, e o disco novo do grupo de dub Café Preto, batizado de Oferenda. “Café Preto é minha valvula de escape depois do futebol”, explica Cannibal por email. “Adoro música, sou criado no Alto José do Pinho, esse bairro é uma rádio ligada em varias estações onde tudo rola, você sai andando pela comunidade e escuta tudo: samba, brega, rock, reggae, música cubana, afoxé, maracatu, de tudo… Sendo assim não tem como você ser bitolado a um estilo. Fiz a Café Preto no pensamento de musicar as letras que não entraram na Devotos”. Ele antecipa o primeiro single do disco, “120 Km” que tem a participação de Spok da Spok Frevo Orquestra, em primeira mão para o Trabalho Sujo.
https://www.youtube.com/watch?v=7tnonblNV8E&feature=youtu.be
“Não queria fazer uma banda, a ideia era só mostrar um lado meu que as pessoas não conheciam, mostrando as músicas as pessoas ficavam perguntando quando ia ter show e eu falava que não ia rolar porque a ideia era só gravar um disco com influencia na música jamaicana”, ele continua. “Foi tanto incentivo que resolvi montar a banda mas resolvi que teria um conceito, a Café Preto não é só musica. Então convidei um amigo estilista chamado Eduardo Ferreira para fazer o figurino, gosto muito dos cantores que se vestem para cantar: Marvin Gaye, David Bowie, Gregory Isaacs, Grace Jones, todos uma elegância impecável. O novo figurino é feito por Chico Marinho, os sapatos por Jaison Marcos e as fotos de Renato Filho.” A banda fez parte da geração que revelei como curador do Prata da Casa do Sesc Pompéia em 2012.
“O primeiro disco foi lançando em 2012 e teve como carro-chefe a música ‘Dandara’, que virou clipe, e a mixagem ficou por conta do mestre Victor Rice. O novo disco se chama Oferenda, o disco tem a mixagem e masterizarão de Pierre Leite, que é tecladista e efeitos na Café Preto. Oferenda tem as participações de Lucas dos Prazeres, Maestro Spok, Céu, Claudio Negrão no contrabaixo, poeta Miró da muribeca e Maria Vitória e Marina, minha filha e a de Pierre. É um disco com sonoridade diferente, apesar de também tem reggae, não sei rotular, mas é um disco com muitas músicas para dançar. As letras ao contrário da Devotos, na sua maioria são temas fictícios relacionadas ao cotidiano afetivo, relacionamentos e etc, só a música ‘O Samba’ que tem uma temática social. A capa foi feita por Mabuse e Haidde e o desenho por Ganjja”, ele conta, explicando que apesar das referências a orixás do candomblé, não é frequentador. “Respeito todas as religiões, mas tenho grande admiração pela umbanda e pelo candomblé.” Ele conta que nos shows também canta “Preciso Me Encontrar” e “Gostoso Demais”, imortalizadas respectivamente por Cartola e Dominguinhos – e o show de lançamento do disco em São Paulo vai acontecer no Sesc Carmo, dia 29 deste mês, com participação de Alessandra Leão (mais informações aqui).
Sobre o livro, ele diz que a ideia surgiu porque muitos o abordavam na rua elogiam sua música mas dizendo que não entendiam as letras. “É engraçado, mas preocupante. Formamos a banda para mudar um quadro social através da música, conseguimos isso aqui na comunidade o Alto José do Pinho, que hoje é conhecida pela sua eferverscência cultural. Muitos problemas ainda precisam ser resolvidos, mas conseguimos resgatar a auto estima da comunidade.” A ideia do livro era ter a cara de fanzine dos anos 80, como se tivesse sido feito com máquina de escrever e fotos chapadas como se fossem xerox. “Os fanzines dos anos 80 eram nossa rede de informação, temos o maior respeito e consideração pelos fanzineiros, até hoje damos entrevista para fanzines”, continua. O livro também tem trabalhos de artistas plásticos convidados pelo grupo, como Darlon, Ganjah e Caio Cezar. “Todos maravilhosos. É bom trabalhar com pessoas que são fãs das banda, elas acompanham e sabem sua história, aí o trabalho flui positivamente.”
“A literatura faz você viajar e ter sua própria opinião em relação ao que está lendo, não tem uma massa sonora te influenciando a ter uma visão radical pelo fato do som ser punk rock”, ele continua explicando sobre o livro. “A sonoridade pode ser pesada, mas a letra pode ser romântica, a sonoridade pode ser uma balada mas a letra pode ser politizada. E aí que o legal do livro é que é só você e a letra, vpcê viajando no que se absorve das frases, dos refrões.”
Sobre o punk rock em si, ele segue ativista. “O movimento não tem a força dos anos 80, mas continua atuante, veja por exemplo os fanzines, que continuam sendo produzidos em varias categorias, as bandas que continuam suas produções e como tem surgido novas bandas”, ele continua. “A tecnologia separou bastante o movimento punk, apesar da facilidade de se conhecer através da internet, o lado humano de se encontrar, trocar ideia, fazer os eventos não é mais o mesmo, Hoje é como se tivesse vários movimentos punk dentro do próprio movimento, a ideologia de formar uma banda para protestar ou reivindicar ficou nos anos 80. Hoje a maioria que faz uma banda quer tocar em primeiro lugar ‘não importa onde’. Se a grande mídia não tivesse fudido o movimento punk hoje ele seria referência social como é o rap!”
O assunto inevitavelmente caminha para a atual situação política do país: “Não se muda um país com ódio, até para você reivindicar causas sociais você tem que fazer com ternura, mas nunca com ódio”, prossegue. “Eu sou a favor que não perdamos a liberdade de expressão que nossos pais conquistaram com muito suor, sangue e vidas ceifadas no período da ditadura. Demos passos muito positivos socialmente falando: as mulheres estão organizadas e se auto-afirmando cada vez mais, a classe LGBT e outros segmentos também estão se afirmando, mostrando que podem pertencer à sociedade sem ter que se esconder e que existe uma indústria de entretenimentos voltada para essas pessoas e essa industria tem um retorno financeiro muito, muito grande para o Brasil. Não há como ignorar essa classe e os tratar como enfermos como algumas igrejas propõe. O princípio da educação é o respeito. Não fecho os olhos para a corrupção, mas não acredito que uma politica de ideologia fascista vá resolver nossos problemas!” É isso aí.















