O terceiro disco da banda potiguar Luísa e os Alquimistas, batizado de Jaguatirica Print, será lançado nesta sexta-feira, mas a banda antecipa o disco em primeira mão para o Trabalho Sujo. Reforçando a conexão da tradição musical jamaicana com o nordeste brasileiro, ela costura subgêneros das duas regiões em um disco pesado, sexy e esfumaçado, com participações de várias mulheres da região norte do país, como Jessica Caitano, Catarina Dee Jah, Doralyce, Sinta A Liga Crew, Luê, entre outras. Bati um papo com a vocalista Luísa Nascim sobre o próximo lançamento.
A banda começa a lançar o disco com uma turnê que começa no mês que vem, com shows em João Pessoa (dia 4), Recife (dia 5, com Boogarins), São Paulo (dia 11, no MIS), São Carlos (dia 19, no Festival Sonora), Manaus (dia 26) e segue por novembro em Porto Alegre (dia 1°), no Rio de Janeiro (dia 2) e Natal (dia 23, no Festival DoSol).
O grupo mineiro Moons, formado por integrantes de importantes bandas da cena indie de Belo Horizonte, parece ter atingido a maturidade em seu novo disco, Dreaming Fully Awake, que será lançado nesta quinta-feira, mas pode ser ouvido em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. “É um disco que marca uma fase muito especial e a terceira e definitiva – assim espero – formação do Moons”, me explica André Travassos, idealizador do grupo. “O material humano e suas experiências são pra mim o fator mais determinante na concepção de um disco, portanto a chegada de dois novos integrantes traz inevitavelmente, elementos novos pro nosso som. Além do fato de ter sido um disco gravado depois de uma bateria maior de shows. Ou seja, a gente estava mais maduro e mais entrosados.”
Gravado em um sítio perto de Belo Horizonte, o disco começou com a ideia de pré-produção e de desenvolver canções que ainda eram rascunhos, quando o grupo levou um gravador Tascam – que nem sabia se estava funcionando – para registrar esse início de trabalho. “Fato é que na primeira madrugada, quando vimos que a máquina estava perfeita rolou o start que dali poderia sair um disco”, lembra André; “Mas por ser uma gravação ao vivo só mesmo a nossa performance poderia dizer. Como estávamos em um ambiente absolutamente favorável, na companhia dos amigos mais próximos, namoradas, esposas e cachorros, tudo conspirou a favor. Acabamos rearranjando algumas músicas como ‘Dreaming Fully Awake’ e ‘War’ e compusemos uma outra do zero, ‘No More Tears About It’. Foi certamente a gravação mais especial que fizemos na banda até hoje. Na nossa curta discografia é o nosso disco menos introspectivo, mas ainda sim bem íntimo.”
De sonoridade mais clara e acolhedora que os dois trabalhos anteriores, Dreaming Fully Awake, livra finalmente o grupo do rótulo folk, que ainda vinha sendo atrelado ao grupo, mas não tenho como não perguntar sobre as composições todas serem em inglês. “Desde que me lancei como artista independente, há doze anos, que canto e componho em inglês”, explica André, que antes do Moons pertencia ao grupo Câmera. “Acho que hoje em dia o público torce menos os olhos – ou ouvidos – pra isso. Mas é fato que não temos as mesmas oportunidades que artistas que cantam em português. Ainda que não seja explícito, notamos que alguns editais, jornalistas e produtores tem predileção por quem canta em português. Particularmente não é algo que nos tira o sono. Mas obviamente que lamentamos que em alguns casos as pessoas julguem nosso trabalho não pela qualidade mas pelo idioma. Mas seguimos fazendo nosso trabalho porque acreditamos muito nele e também por ser algo essencial na nossa existência.”
O idioma acaba favorecendo um contato com o mercado exterior, coisa que o grupo trabalha desde o início da carreira. O primeiro disco, Songs of Wood & Fire, foi lançado no Japão em CD em 2017 e agora o nosso segundo trabalho também vai sair em CD e vinil por lá, Europa e Estados Unidos através de uma colaboração entre os selos o japonês Disk Union e o francês 180g”, continua André. “Já fiz alguns shows em Portugal e na França de maneira solo e a ideia é que com essas parcerias a gente consiga enfim viabilizar uma ida da banda completa para algum desses paises. O Dreaming Fully Awake vai sair nos Estados Unidos pela mesmo selo que lançou o novo disco do Pin Ups, o Fleeting Media.”
“Quando a gente quer sair de um disco para o outro, mas sair mesmo – ir de uma visão e abordagem à outra bem diferente –, às vezes leva tempo”, me conta a cantora e compositora pernambucana Lulina sobre seu novo disco, Desfaz de Conta, que chega às plataformas digitais nesta sexta-feira. “Muita coisa que compus nos dois anos seguintes ao lançamento de Pantim, de 2013, tinha mais a ver com o Pantim do que com uma nova direção. Gosto de sair de um campo gravitacional musical e ficar perdida, flutuando, até ser puxada a outra situação que eu nem sabia que existia. E nesse trajeto, produzo e lanço meus discos caseiros, que são experimentos que desenham esse caminho de aprendizado e dão pistas de pra onde estou indo, mesmo que a rota mude repentinamente. Às vezes, esse caminho parece uma areia movediça, onde é preciso ter paciência com as frustrações. E de repente, a coisa vira uma pista de decolagem.”
Desfaz de Conta – que ela antecipa capa, feita pelo coletivo Bloco Gráfico, e nome das músicas em primeira mão para o Trabalho Sujo, abaixo – é, portanto, o primeiro disco de Lulina em seis anos, justo ela que é conhecida pela proficiência musical e que, anos antes de gravar seu primeiro álbum (Cristalina, que completa dez anos em 2019), lançava CD-Rs com versões caseiras de músicas que compunha de forma exponencial. O disco é um salto em relação aos trabalhos anteriores, principalmente pela agilidade que ela conseguiu no estúdio – onde mostrou as músicas pela primeira vez aos músicos que a acompanharam, também pela primeira vez.
O processo que culminou no novo disco – que já tem dois singles lançados, “Quem é Quem” e “O Que é o Que” – começou em 2014 mas passou a ganhar forma há dois anos, quando ela passou a dividir as composições com o amigo Ronaldo Evangelista e levou cerca de 40 canções para o produtor Maurício Tagliari começar o trabalho do zero. “Foi quando o Maurício sugeriu os músicos que deveriam dar forma a essas novas canções e colocou um desafio: não usar bateria em hipótese alguma, só percussão”, ela continua. Tivemos “um primeiro encontro com Thomas Harres e Gabriel Bubu pra ouvir juntos as gravações caseiras e dividir as primeiras impressões de arranjos possíveis. E o segundo encontro já foi em estúdio pra gravar, um mês depois, criando no improviso, sem nunca termos tocado juntos. Não fizemos mais do que dois ou três takes de cada canção, mas a maioria foi de primeira mesmo, um processo leve e divertido. Em quatro noites e um horário de almoço tínhamos o disco pronto”, ela lembra, falando das gravações que começaram no fim do ano passado. Além de Thomas e Bubu, o disco ainda conta com percussões de Igor Caracas, guitarras do próprio Maurício, synths e pianos de Dudu Tsuda, além de parceiros como Maurício Pereira, Guizado, Paulo Freire e Missionário José.
“Já admirava todos eles eu e há tempos queria inventar algo junto, mas foi o Maurício que coordenou essas combinações”, ela continua. “Para descobrir como seria essa formação ao vivo, fiz uma série de experimentos em shows chamados Onde é Onde, um na Casa Plana, outro no Centro da Terra e um último no CCSP. Em cada um, testei formatos inusitados, misturei músicos diferentes, improvisei arranjos novos. Comecei com três músicos me acompanhando, depois quatro, depois cinco. Espero fazer um show de lançamento com todos eles juntos, mas enquanto isso, experimento essas mutações, que são divertidas.”
Quando pergunto sobre o tema central do novo disco ela sai pela tangente. “Tem um tema central que costura diversos outros temas, mas explicar isso tira um pouco da graça, não? Acho que o nome do disco já dá uma pista. Além do mais, como diz a letra de uma das canções: ‘tudo o que se conta tem que dar um desconto, pois quem conta faz parte do conto'”, desconversa. “Tem só uma curiosidade que eu queria mencionar: boa parte das canções foram compostas durante ou após um banho quente – e isso é outra pista”, diverte-se.
E mesmo sem ter lançado o disco direito, ela já está com fome criativa: “Já tô com vontade de gravar um novo disco caseiro!”
“O Que é O Que”
“N”
“Cantor Pop dos Sonhos”
“Sina ou Sinal”
“Cansada de Alegria”
“Banheiros Produtivos”
“Tudo Se Desfaz de Conta”
“Vuco-Vuco”
“Carne Burro”
“Tem Coisa Aqui”
“Toda Solidão”
“Quem é Quem”
“Spoiler da Vida (Mayday)”
“Sorriso”
A carioca Ana Frango Elétrico, autora de um dos grandes discos do ano passado, Mormaço Queima, está prestes a lançar seu segundo álbum, Little Electric Chicken Heart (que ela chama pela sigla, LECH), nesta quinta-feira. O novo álbum é mais lapidado e arredondado que o seu pontiagudo e estridente disco de estreia, como dá para perceber a partir do primeiro single, “Tem Certeza?”, lançado na semana passada.
“É uma extensão do Mormaço, mas mais consciente dos sujeitos de fala e da narrativa sonora”, ela me explica na entrevista abaixo, “o Mormaço é o disco de uma anticantora e o Little Electric traz um pouco de mim como cantora e intérprete”. Ela mostra a capa do disco (acima) e o nome das músicas (abaixo) em primeira mão para o Trabalho Sujo e aproveitei para bater um papo sobre esta nova fase de sua carreira.
“Saudade”
“Promessas e Previsões”
“Se No Cinema”
“Tem Certeza?”
“Chocolate”
“Vinheta”
“Torturadores”
“Devia Ter Ficado Menos”
“Caspa”
“Quanta violência dá pra fingir que não há?”, nos questiona o jovem mestre Siba Veloso, que saca de sua capanga mais uma obra-prima: Coruja Muda, sucessor (e “disco irmão”, como ele me diz na entrevista abaixo) do forte De Baile Solto, até então seu disco mais contundente, que está sendo lançado nesta sexta-feira. Sua força permanece categórica, mas o disco soa mais macio e fluido que seu antecessor, principalmente pelo trançado cada vez mais firme entre sua guitarra de tons africanos e o andamento manhoso das tradições pernambucanas – e quando bate mais forte, musicalmente, requebra pro lado, dando um sorriso acanalhado que não surgia no disco anterior. “O Baile nasce da perplexidade”, me explica, enquanto “Coruja já nasce na consequência daquilo tudo”.
É um disco vivo e feito pra dançar, mas que pisca cúmplice para o ouvinte seus duplos sentidos, suas analogias animais e seus pés arrastando no chão. Comparando gente e bicho em quase toda sua extensão, recupera-se do susto antevisto com a ascensão do autoritarismo para comentá-lo de forma mais aguda, mas sem cara feia. “Só é gente quem se diz”, Coruja Muda parece resumir-se no título de uma de suas canções centrais, que de alguma forma conversa com uma cena que parece menor do recente fenômeno cinematográfico Bacurau, quando uma personagem ouve a resposta quando pergunta como se chamam os nascidos naquela cidade fictícia. Bati um papo com ele sobre o novo disco e não pude deixar de perguntar se ele havia visto o filme de seu conterrâneo Kleber Mendonça Filho: “Não vi e adorei”, respondeu com um sorriso no rosto. Logo depois ele comenta o disco faixa a faixa.
“Coruja Muda” – “Foi inspirada em um áudio de Fábio Trummer solicitando ao fotógrafo José de Holanda as condições meteorológicas perfeitas para uma foto a ser feita. Discorre sobre o que por ventura venha a ser uma parte de minha parte bicho nessa história toda. Quem canta no final a voz da Coruja é Chico César e o Pajé é Mestre Nico.”
“Só é Gente Quem Se Diz” – “A música se divide em duas partes. A primeira é uma embolada em décimas, a segunda um arremedo irreconhecível de axé. A bicharada deita e rola superando a humanidade, em coerência e dignidade, ao longo da letra.”
“Tamanqueiro” – “É uma carta real, escrita em ritmo de embolada, com o objetivo de encomendar um tamanco para uso diário. É verdade esse bilête. Na parte instrumental em que o tamanco é fabricado, escuta-se Arto Lindsay, Edgar, Rafael dos Santos e Dustan Gallas trabalhando com dedicação.”
“Daqui Pracolá” – “Fauna e flora de minhas vivências de infância no agreste pernambucano brincam de vida e lutam de morte. Tive essa sorte de ter família com lastro forte no interior, natureza fofinha não é muito a minha…”
“O Que Não Há” – “Dou um passo em direção ao verso não metrificado, embora não chegue longe. Tem muito mais influência das longas canções de Franco com a banda OK Jazz nos anos 70 do que seria capaz de esconder. Fala da violência muda da classe média brasileira.”
“Azda (Vem Batendo Asa)” – “É um atestado definitivo da cara de pau e falta de noção deste poeta em se meter a fazer uma versão de um clássico da música congolesa que sempre o assombrou pela beleza. Antes de desistir descobri que a música era na verdade um jingle de Franco para uma loja da Volkswagen em kinshasa. Nada é tão sério assim, afinal de contas. ”
“Barato Pesado” – “É um frevo abolerado ou o contrário. Panfleto místico de exortação à conversão imediata e absolutamente necessária a qualquer forma de culto à vida e à alegria do presente. Hino da festa como elemento básico de exaltação religiosa.”
“Tempo Bom Redondin” – “É correria inútil contra o tempo que a tudo atravessa. Hino à preguiça e atualização da cansada tese de que não vale a pena levar nada tão a sério. Quem toca synth nela é Dustan Gallas.”
“Carcará de Gaiola” – “Tem bicho que não foi feito pra gaiola. Quando está preso, carrega muitos pra dentro consigo. Não consegui evitar o Baque Solto, nem nesse disco. Na orquestra, Galego do Trombone, Roberto Manoel e Maestro Minuto, da Fuloresta.”
“Meu Time” – “É a segunda faixa extra do disco. Tá aí porque cresceu muito com as versões e os anos de estrada e pra provar que não sou oportunista. Fiquei calado na Copa e relancei a faixa fora de época mais uma vez.”
“Toda vez que eu dou um passo / O mundo sai do lugar (Slight Return)” – “É a versão atualizada desta música que sou obrigado a tocar mesmo quando não quero. Atravessou todas as mutações que meu trabalho sofreu desde que ela existe. É a música que fecha os shows também.”
Saskia está vindo. A produtora, cantora e compositora gaúcha está prestes a lançar seu disco de estreia, depois de circular por diferentes palcos do país com sua mistura de rap, trap, música eletrônica, funk, samba e soul. Mas gêneros musicais são redutores para definir sua presença musical, um enigma para dançar, música pop para se digerida mentalmente. Ela lança “Tô Duvidando”, seu clipe de estreia, com a presença de outra figura igualmente sem par na música brasileira, o MC Edgar, em primeira mão no Trabalho Sujo, além de antecipar o título do disco e os nomes das músicas (lá embaixo).
Mandei umas perguntas pra ela explicar o disco e ela preferiu responder tudo num texto só:
“A palavra pq no português tem 4 significados. O pq no começo, o pq no final, o pq no meio e o pq como substantivo, que eu diria estar em cima (shshs). Quando me veio o nome do álbum, eu ouvi na minha cabeça que ‘o nome do álbum é pq’ e ali eu não sabia dizer qual dos pqs ele era, pq pra mim todos faziam sentido com o que eu estava vivendo, com o que eu estava falando no álbum. Agrupar todos os pqs numa sigla, faz com que não só eu admita todas as versões dessa palavra, mas também que eu admita a minha linguagem como não formal, uma vez que foi por me comunicar virtualmente com o mundo que o mundo me convidou a seguir meu sonho, o meu pq.
É meu primeiro álbum, e é um convite do mundo para que eu siga perguntando e respondendo os motivos e consequências de eu fazer o que eu faço da vida. Eu demorei muito tempo pra assumir a minha vocação. Por achar que não merecia, ou que não deveria, eu neguei ser o que sou por muito tempo, tentando me transformar, aos moldes sociais, em algo que fosse palatável. Não teve um momento da minha história em que eu tenha decidido ser artista, é algo que eu sempre fui e sempre exerci sem pretensão de reconhecimento ou mudança. Mas houve um momento em que a demanda aumentou. Mais convites chegavam, na musica, no teatro, na arte em geral. Queriam que eu estivesse presente, queriam me levar, queriam me ver, queriam me ouvir.
Comecei a circular o país com meus beats estranhos, minhas letras indiretas, sempre achando que eu estava preenchendo alguma cota independente, alternativa, feminista ou racial. Muito eu vi nesses últimos três anos em que eu estava sendo convidada a participar da cena musical. Eu não decidi me colocar, não treinei a me portar nem esperava ter chegado aonde eu cheguei. Foi algo que aconteceu. E tudo que aconteceu comigo tanto explica quem eu sou, quanto me indaga quem eu quero ser.
Pq eu sou quem eu sou? Pq sim. Pq eu não sou quem eu achava que deveria ser? Pq não. Pq o mundo é como ele é? Não sei pq. Pq o mundo não é como eu achava que ele deveria ser? Sera que eu sei pq? O pq esta em tudo que eu faço e persegue a alma humana desde que ela existe. O Pq veio pra ser o meu ponto de partida, onde o tempo se virgulou pra achar os pontos finais, misturar com as reticências e interrogar a a minha arte até que o tempo não saiba mais prosodiar.”
Pq será lançado ainda em setembro.
“Pq”
“Pressssa”
“Tô Duvidando”
“Fuk U”
“Apagão”
“Na Cara”
“Graça”
“Foda”
“Mais Uma”
“Kafri”
“27 Sabias fala Brasilês”
“Água”
“Mas Nada”
O encontro da cantora e compositora paraense Luê com o produtor Mateo Piracés-Ugarte, da banda Francisco El Hombre, está começando a causar mudanças em sua carreira. Jogando o foco de suas composições para uma atmosfera jamaicana, ela começa a lançar uma série de singles para experimentar formatos e sonoridades a partir desta sexta-feira (dá pra deixar pré-salvo nas plataformas digitais neste link), quando mostra o primeiro destes frutos, o single “Virou o Zoínho (Viciei)”, que ela antecipa em primeira mão para o Trabalho Sujo.
“O single surgiu depois que a gente ouviu uma música do Wesley Safadão chamada ‘Só pra castigar’, onde ele dá a entender que virar os olhos é o momento do gozo”, lembra a cantora, sobre o começo de seu trabalho com Mateo, “rimos disso e começamos a fazer a nossa versão, que era só uma brincadeira, mas virou música mesmo.” A faixa ainda conta com a participação da cantora Luísa Nascim, vocalista do grupo potiguar Luisa e os Alquimistas: “Ela chegou com um poema lindo em espanhol, sobre corpos em conexão e aquela coisa toda, que ela tinha feito há séculos e não tinha onde usar, encaixou certinho!”
Assim, Luê começou a explorar um novo território temático. “Eu nunca tinha falado disso em música e tem sido bem interessante pra mim esse processo, porque enquanto a música ia nascendo, algumas fichas foram caindo, não só pra mim, mas também pro Mateo e Luisa, sobre a relação com o prazer, nossa relação com o nosso corpo e como nos relacionamos com outro corpo. Falando por mim, eu achava que era sexualmente super livre e coisa e tal, mas percebi que tava condicionada a um sexo raso, onde o prazer do homem é o objetivo, onde a maioria dos caras não sabem o que fazer com o corpo da mulher e são preguiçosos. Nem eu conhecia meu corpo e morria de vergonha de me expressar e hoje pra mim um orgasmo é uma revolução pessoal que me enche de poder.”
“Pessoas são sexuais, acho que é da nossa natureza, mas quando a gente fala de prazer mesmo, para as mulheres o buraco é mais em baixo”, ela continua, “50% das mulheres que têm relações sexuais heterossexuais não chegam ao orgasmo. Às vezes nunca na vida. Não é do interesse do plano de dominação patriarcal que a gente goze, porque uma mulher que goza e compreende seu corpo – e está em paz com ele – é extremamente poderosa. Acho que falar sobre isso é importante pra que uma sirva de espelho para a outra. E que homens também consigam se libertar de seus padrões cansativos que ninguém aguenta mais né?”
Ela também comenta sobre a nova fase. “A ideia é continuar lançando singles e tanto nesse novo quanto nos próximos sou eu dando a cara a tapa e experimentando em outras sonoridades. Cada single um passinho além, gosto dessa inquietação.”
Larissa Conforto agora é Àiyé. A ex-baterista do grupo Ventre assumiu o título que deu para sua temporada no Centro da Terra no final do ano passado como sua nova personalidade musical e agora prepara-se para o lançamento do EP Gratitrevas (capa abaixo), cuja primeira música, “Pulmão”, é mostrada em primeira mão no Trabalho Sujo. Ela define a faixa, que estará nesta sexta nas plataformas de streaming, como um “maculelê minimalista”, num trabalho que bebe tanto do trip hop quanto da eletrônica desta década.
Àiyé é apenas Larissa Conforto tocando bateria, cantando, declamando e disparando bases no palco (e chamando eventuais parceiros e comparsas), mas também fruto de uma pesquisa que mistura buscas por timbres e sonoridades específicas – digitais e acústicos. Ao mesmo tempo, traça as origens de um sobrenatural brasileiro que aponta para o futuro, trançando tradições indígenas, europeias e africanas em uma busca pessoal pela própria ancestralidade que confunde-se com a formação do país – um processo que aconteceu simultaneamente com a ida de Larissa para Portugal. Carioca que tinha mudado-se para São Paulo há pouco tempo – um processo que coincidiu com o fim de sua banda anterior, os heróis do indie brasileiro desta década do Ventre -, Larissa agora está em Lisboa, mas volta para o Brasil ainda este ano, quando mostra sua cara Àiyé no palco do próximo Balaclava Fest, que acontece dia 13 de outubro, em São Paulo. Conversei com ela sobre esta nova fase e suas inspirações.
O cantor e compositor Teago Oliveira, líder da banda baiana Maglore, prepara o lançamento de seu primeiro disco solo, chamado Boa Sorte (capa e ordem das músicas lá embaixo), quando começa a explorar novas sonoridades para além do formato reto e direto de seu conjunto – que continua firme e forte. Teago inaugura a nova fase de sua carreira lançando o single “Corações em Fúria (Meu Querido Belchior)” em primeira mão no Trabalho Sujo, antes de chegar às plataformas digitais nesta sexta-feira (o single pode ser pré-salvo aqui).
A referência explícita no título ao falecido cantor e compositor cearense ajuda a entender os caminhos que Teago procura neste novo passo: o foco maior na canção, no aspecto cronista de sua composição e em temas mais sérios que os das canções de sua banda original. O disco inteiro será lançado no dia 17 do mês que vem e já tem shows marcados para Salvador e São Paulo. Bati um papo com Teago sobre o disco, o single e os rumos para onde levará sua nova carreira.
“Bora”
“Oh, Meu Bem”
“Longe da Bahia”
“Azul, Amarelo”
“Superstição”
“Sombras no Verão”
“Corações em Fúria (Meu Querido Belchior)”
“Tudo Pode Ser”
“Movimento das Horas”
“Metafísica”
“Últimas Notícias”
Quando o baixista do grupo Do Amor, Ricardo Dias Gomes, convidou a fotógrafa Caroline Bittencourt para fazer um clipe de uma das faixas do disco que ele lançou no ano passado, Aa, ela parou em “Fogo Chama”, que tem a participação do guitarrista Arto Lindsay. “Quando ouvi, me veio uma uma imagem fotográfica”, lembra a fotógrafa. “A Islândia como cenário seria perfeito. A terra do gelo, sempre em ebulição, pronta a explodir”. O clipe foi feito a partir de imagens que Caroline fez na terra da Björk, tanto com seu celular quanto em 35 mm, dirigido por Alê Dorgan e que aparece agora pela primeira vez no Trabalho Sujo.
“Não conheço a Islândia. Carol foi quem teve a visão do clipe e executou com a Alessandra”, explica Ricardo, sobre o processo de criação do curta. “A música compus e gravei ainda no Rio, pensando no fogo e mergulhando nessa dualidade entre seu significado histórico e antropológico ou do desejo e da paixão”, explica avisando que esteve em Nova York há duas semanas gravando bases para um próximo trabalho.
Aproveito para perguntar sobre a vida em Portugal, já que o músico mudou-se para além mar há dois anos. “Portugal está num período de aumento da sua visibilidade no mundo. Muita gente se mudando para lá, o que trás uma efervescência cultural cada vez maior. Sempre me surpreende a quantidade de pequenos eventos (de todas as artes) pipocando nas associações culturais e até em apartamentos. Brasileiros estão vindo aos montes, muitos bolsominions infelizmente, mas não só. É muito bom que cheguem tantos músicos brasileiros. Agora, pra mim, é, mais do que nunca, tão claro que não há no mundo um país tão incrível musicalmente como o Brasil. No geral os portugueses reconhecem isso.”
E fala sobre a sobrevivência de sua banda à distância. “É impossível pra mim tirar os dois pés do Rio. É uma vida inteira construída e Do Amor é das coisas mais especiais que há. Temos para nós que a banda segue firme nesses novos tempos. Claro que não devo estar presente em todos os shows que vão surgir mas pretendo estar presente o máximo possível”, conclui.