Entrevista

A vocalista da banda mineira Varanda Amélia do Carmo lançou um curto disco de fininho em que colabora com seu conterrâneo, o produtor eletrônico Yo Mati. Apesar de baseada em Juiz de Fora, Amélia vem da pequena Caratinga (terra-natal do Ziraldo), onde conheceu Mati. Ele começa contando a história desse primeiro disco da dupla, que bate tanto num trip hop lo-fi quanto em melancólicas canções adolescentes com forte carga dramática: “Melondreams nasceu despretensioso em 2020 com algumas faixas instrumentais feitas no meu quarto”, explica o produtor. “Em 2021, juntei essas músicas num EP e chamei Amélia pra fazer a capa. Eu sempre gostei muito da estética das artes e pinturas dela. No meio desse processo, ela me disse que interessou por uma das músicas, gravou vozes por cima, e eu fiquei surpreso com o resultado – até então, o que eu fazia só circulava entre meus amigos.”

“Quando eu ouvi nesse EP, que faria só a capa, o instrumental de “Goodbye”, ouvi também uma voz ali, num dia só escrevi a letra, gravei sem permissão e sem click, mandei pra ele como um exercício mesmo”, lembra a cantora. “A gente pilhou tanto no som e nessa onda de sonhos febris que fizemos logo mais três nesse mesmo estilo, no caso de “Sim” e “Marble Eyes”, eu gravei a letra cantada e ele fez o instrumental em cima, desse mesmo jeito improvisado e online que inventamos”

Os dois citam as referências nestas primeiras canções. “Eu estava fissurado em Boards of Canada, Windows96 e outras drogas mais pesadas – apesar dos meus amigos sempre mencionarem a influência daquela live infinita ‘lofi hip hop radio beats to relax/study to’ em tudo que faço”, explica Mati. “Pra compor e performar eu mirei totalmente nas jovens criações de Lana del Rey e seu dreampop lo-fi, e é engraçado ouvir sabendo que faria tudo diferente hoje em dia, mas gosto que se mantenha assim, essa coisa meio outra personalidade”, completa a vocalista. Os dois continuaram colaborando sem se encontrar pessoalmente, pois Amélia já estava em Juiz de Fora.

“Em algum momento, entrei em um quadro depressivo e abandonei o projeto”, lembra o produtor. “Esse gap de tempo me ajudou a dar uma reciclada nas ideias daquela época e quatro anos depois, reabri as faixas, mandei um “we are very back!” pra Amélia e com uma semana de total hiperfoco, eu só pensei em finalizar o que faltava.” “Foi um bom exercício de desprendimento com uma criação do passado também, soltar esse EP finalmente foi legal também pelo exercício de fazer uma coisa e deixar ela existir sem tantas pretensões, sei lá, vai que alguém gosta”, completa Amélia, que fala que nem pensou sobre a possibilidade de fazer algo ao vivo com esse trabalho. “Não estávamos pensando nem se alguém iria querer ouvir… mas quem sabe né… Mistério”, se faz. “Enfim dropamos, sem aviso e sem expectativa, só porque precisava existir”, conclui Mati. Ouça abaixo: Continue

Minha conterrânea de cerrado e quase-parente Pérola Mathias foi uma das que esbaldou-se na festa em que comeemorei os 29 anos do Trabalho Sujo na Casinha e ela aproveitou a deixa para me entrevistar sobre as quase três décadas desta minha obra contínua. E foi assim que ela me apresentou na introdução do papo:

No último sábado, o jornalista Alexandre Matias comemorou os 29 anos do Trabalho Sujo — “jornalismo arte desde 1995”. O site e o trabalho do Matias na cobertura musical, curadoria, discotecagem e produção é referência para todo mundo que gosta de música, de música brasileira, de música brasileira independente. O Matias é muito mais do que o cara que você vê nos shows (para quem está em São Paulo) filmando o palco e que te apresenta bandas novas. Ele é pioneiro num modelo de fazer jornalismo cultural. Não é que ele estava aqui quando a internet ainda era mato, o Trabalho Sujo já existia antes mesmo dela adentrar nas casas brasileiras.

Por ocasião do aniversário do projeto e da grande comemoração que aconteceu no último Sábado (01) com uma festa que reuniu vários DJs amigos, aproveitei para entrevistar o jornalista no estilo: tudo que você sempre quis saber sobre o Trabalho Sujo e nunca teve coragem de perguntar. Já ouvi muitas pessoas perguntarem “como você dá conta de fazer tudo?”, “por que você foi escolher escrever logo sobre música?”, “vai ter um festival pra comemorar os 30 anos?”, “de onde você tirou esse nome?”.

Agradeço imensamente a deferência, os adjetivos e, mais do que tudo, a companhia nesses anos todos – e em breve eu e ela lançamos mais uma. Leia a íntegra da entrevista lá no site dela, o Poro Aberto.

Em mais um programa dissecando as maravilhas de se assistir música ao vivo, eu e Levino desta vez chamamos o compadre Camilo Rocha, que entre lembranças de raves, apresentações de DJs e de artistas de música eletrônica, que é seu métier, voltou-se para uma lembrança afetiva indie, quando assistiu ao show do The Cure no Brasil ainda nos anos 80.

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O podcast Um Dia Um Show Salvou Minha Vida começou durante a pandemia, quando conversávamos sobre shows clássicos que assistimos e compadre Rodrigo Levino lembrou que em 2021 dez dos principais shows que viu em sua vida completavam dez anos. Ele me chamou para ajudá-lo a materializar essa memória num podcast em que ele lembrava de apresentações ao vivo que assistiu em diferentes lugares do mundo, lembrando de artistas como Sade, Teenage Fanclub, Fleet Foxes, LCD Soundsystem, Vítor Ramil, Mercury Rev, Sonic Youth e Strokes, entre outros. Quando retomamos o assunto após o período pandêmico, sugeri chamar convidados para compartilhar histórias em comum e Levino me colocou na roda, como coapresentador do programa, que entra em sua nova fase com uma série de amigos em comum com os quais compartilhamos lembranças boas sobre músicas sendo mostradas ao público a partir do palco. E quem começa essa nova fase é a querida Lorena Calábria, que visita velhas lembranças, começando pelo show que mais marcou sua vida, quando assistiu ao grupo A Cor do Som.

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Nesta sexta-feira, nosso mestre Fabio Massari completa seis décadas de vida, cinco delas dedicadas, como ele mesmo gosta de falar, aos bons sons – e comemora a data em grande estilo, reunindo, no Fabrique, três bandas de polos estéticos distintos de sua contínua apreciação por músicas fora da curva: os papas do hardcore pernambucano Devotos, os pais do math rock Patife Band e o turbilhão de sentidos chamado Acid Mothers Temple, diretamente do Japão. O festival, apropriadamente chamado Massarifest – e ainda com ingressos à venda – acontece neste dia 20 de setembro e aproveitei a deixa para conversar com o ídolo e compadre sobre sua trajetória até aqui e sobre a possibilidade deste seu festival tornar-se anual. Assista abaixo. Continue

Agente e testemunha das transformações musicais que mexeram com a vida noturna de São Paulo entre os anos 80 e 90, Camilo Rocha fala de escrever um livro sobre este período desde que a gente se conheceu, no meio dos anos 90, quando ele, recém-chegado da Inglaterra, trouxe o conceito de raves para o Brasil e esteve envolvido na produção de algumas das primeiras festas desse tipo por aqui. Ele cobre música de pista desde essa época, quando enfrentava chiliques de leitores roqueiros raivosos da falecida Bizz que reclamavam que a revista dava espaço para esse tipo de música e foi um dos criadores do mitológico Rraul, site/fórum que deschavava a cena deste tipo de música em todo o Brasil. Depois de décadas de produção, ele finalmente lança Bate-Estaca – Como DJs, drag queens e clubbers salvaram a noite de São Paulo pela editora Veneta e o convidei para participar de mais uma edição da sessão Trabalho Sujo Apresenta, que tenho realizado no Cine Belas Artes, desta vez trazendo o autor para falar do livro antes de vê-lo discotecar no mezanino do cinema. A festa acontece no dia 12 de setembro e eu mesmo converso com Camilo a partir das 19h30 para, uma hora depois, entrarmos no modo discotecagem, quando teremos a DJ Linda Green como convidada da noite. Os ingressos já estão à venda neste link. O Belas Artes fica na rua da Consolação, 2423, do lado da Estação Paulista da Linha Amarela do metrô.

Driblando o ouvido


(Foto: Sebastina Scauvet/Divulgação)

“‘Canhoto de pé’, diz a mística do futebol, que são os jogadores mais habilidosos, de dribles desconcertantes, enigmáticos”, explica Thiago França sobre o título de seu quinto disco solo, que lança nessa próxima sexta-feira. Quase todo instrumental, o disco foi iniciado em plena pandemia e conta com participações de Juçara Marçal (que canta a única letra do disco, numa versão tocante para “Dor Elegante”, de Itamar Assumpção), dos comparsas que fecham seu trio (Marcelo Cabral e Welington “Pimpa” Moreira) e de dois integrantes do grupo Aguidavi do Jêje. Ele segue explicando o título do disco a partir das escalas que usou na gravação. “Daí a viagem: essa música usa uma escala próxima ao blues, que tem a terça maior e a menor e fica variando entre elas, driblando e enganado o ouvido. Acho que nesse disco eu tô tocando dum jeito mais ‘habilidoso’, diferente do Sambanzo e até do MetaL MetaL, onde tudo soa bem forte, explosivo. O fato de eu ser canhoto de pé não influencia nem ajuda em absolutamente nada meu jeito de tocar, e no meu caso, também não me ajudou nada com a bola”, brinca.

O disco, cujo show de lançamento acontece no dia 4 de setembro, no Sesc Pinheiros, surgiu durante o período pandêmico e, segundo o saxofonista mineiro “foi o disco menos planejado que já fiz”. “Ele foi acontecendo lentamente, ao contrário do que eu sempre faço, que é pegar uma idéia e desenvolvê-la ao redor de uma banda fechada que vai tocar tudo”, continua, fazendo referência aos processos tanto a seus projetos coletivos, como o Metá Metá, a Charanga do França, a Space Charanga, os Marginals e o Sambanzo, como a seus outros discos solo. “Eu tava fazendo backup dos arquivos do Logic ouvindo coisas que ficaram de fora do Bodiado (de 2021) e achei que tinha assunto ali pra continuar trabalhando”, contando que começou pelas faixas “Download de Paranóia” (cujo título surgiu num papo com André Abujamra), “Cabecinha no Ombro” (o clássico acalanto de Paulo Borges, gravada com quatro saxes, gravada no aniversário de seu avô) e “Ajuntó de Xangô”, que caíram fora de Bodiado por diferentes motivos e ressurgiram neste disco novo. “Eu não queria repetir a fórmula do disco anterior e elas ficaram guardadas, a vida foi seguindo, pandemia acabando, eleição de 22 que foi aquele caos…”

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O doutor Ricardo Tacioli, velho companheiro de aventuras do tempo em que fazíamos Ciências Sociais na Unicamp e tateávamos o mundo do jornalismo e da produção cultural, reativou seu célebre site de entrevistas sobre música brasileira e para inaugurar essa nova fase desenterrou um dos meus primeiros trabalhos profissionais, quando, há exatos 30 anos, entrevistava Renato Russo, um dos grandes nomes da música pop brasileira e uma das primeiras referências que tive no mundo da música. Nascido em Brasília, cresci numa cidade sem tradições que, a partir do surgimento do Legião Urbana, começou a desenvolver um orgulho candango inédito que persiste até hoje – e tive a oportunidade de viver essa transformação em primeira mão, indo a dois shows históricos da carreira da banda: o lançamento de seu segundo disco em 1986 (que foi o primeiro show que fui na vida) e o último que eles fizeram na cidade no ano seguinte (que terminou num quebra-quebra generalizado e com a banda amaldiçoada por seus fãs). Sete anos depois, comecei minha carreira entrevistando nomes conhecidos para um jornal que fizemos na faculdade que foi a minha porta de entrada para o jornalismo em si, quando comecei a sugerir pautas para o Diário do Povo, o jornal da cidade, e entre as primeiras entrevistas que fiz está essa que fiz com Renato logo depois do show que a banda fez na cidade vizinha de Valinhos. A entrevista seria publicada em uma revista impressa que idealizava com o doutor Tacioli, mas acabou tendo trechos publicados na matéria que fiz para o Diário sobre o primeiro disco solo de Renato, The Stonewall Celebration Concert, e depois em versão extendida para a Folha de São Paulo, cinco anos após a morte de Russo, que aconteceu em 1996. Ricardo trombou com a transcrição original da entrevista e me perguntou se gostaria de cedê-la para a nova fase de seu site, que volta à ativa depois de quase uma década no limbo digital, e a visita àquela madrugada de outono de 1994 também me proporcionou uma viagem no tempo que me conectou de volta aos meus primeiros dias de carreira. A íntegra do papo está lá no Gafieiras, confere lá.

Na edição mais recente do Tudo Tanto, meu programa sobre música brasileira no meu canal no YouTube, converso mais uma vez com a produtora e multiinstrumentista Larissa Conforto, com quem já havia conversado uma vez no longínquo 2020. Naquela época, ela havia acabado de fechar seu primeiro trabalho solo, lançando-se como Àiyé, e teve que mostrar sua nova personalidade musical num período em que não se podia ter qualquer tipo de encontro presencial (ela brinca que fez uma “turnê de lives”). E durante este processo, inspirada por um saci, ela começou a produzir seu segundo disco, Transes, lançado já em 2023, em que tenta aproximar cosmogonias latinas e afrodiaspórica em seu trabalho como cantora, compositora e produtora, ao mesmo tempo em que aproxima a ideia da encruzilhada moderna com esse momento pós-internet que estamos atravessando.

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No meu programa de entrevistas sobre música brasileira desta vez é hora de conversar com Fernanda Takai, do Pato Fu, que fala como tem equilibrado este 2023 comemorando os 30 anos do Pato Fu – sem fazer simplesmente uma celebração nostálgica -, a materialização do seriado do Música de Brinquedo (projeto da banda de 2010 que transformou-se numa vida paralela) e sua própria carreira solo, que ainda inclui a participação no show do grupo Terno Rei no festival The Town, que acontece no próximo mês de setembro. Também falamos sobre as dificuldades e o lado bom de ser artista independente há mais de três décadas.

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