Emicida 2018: “Só o sistema brincando de marionete”

, por Alexandre Matias

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“Qual capitão do mato vai caçar like com meu nome amanhã?”, pergunta-se Emicida na incisiva “Inácio da Catingueira”, lançada às vésperas da eleição mais tensa da história do Brasil e dando nome aos bois (sampleando o “tem que manter isso aí” do Temer e citando Lobão, MBL e outros testas de ferro do sistema).

O título da música é referência ao poeta e escravo paraibano Inácio da Catingueira, morto no final do século 19 e que usava a poesia como forma de denunciar o que acontecia com ele. Quase um século e meio depois de sua morte, ele inspira o rapper paulistano a deixar de usar meios termos e ir direto ao assunto, como explica em seu site:

Durante muito tempo, observei com respeito a voz de quem critica minha caminhada. A maturidade me fez, me obrigou a fazer outras análises dessas vozes. Retribuo o respeito das que me respeitam, afinal, respeito só existe se for mão dupla. Distorções canalhas, e essa é a palavra mais leve para descrever a atitude de grupos ligados ao que mais baixo existe na politica, produzidas com a intenção de confundir as audiências a respeito do discurso que proferimos e das ações que concretizamos, espalham-se como pragas. São o que se tem chamado de fake news, notícias falsas.

Grupos à direita e pseudo-militantes do campo progressista, esquerda, ou sei lá o quê, unem-se em seus discursos com a intenção de atingir uma caminhada que há 15 anos rompeu com as correntes da indústria fonográfica e hoje é copiada por essa mesma indústria, porém com personagens de pele mais clara e discurso mais brando. Os cães lacram, mas a caravana não para.

Inácio me inspirou por romper as correntes e trazer em si a dor e a delícia (se é que essa é a palavra certa) de transcender o senso comum. Muitos questionamentos vieram a mim, e eu, em meio a trabalhos, construções sérias e grandiosas para todos, problemas pessoais como qualquer ser humano e também envolto em meus sonhos, acabei deixando para responder em outro momento. Inácio parece uma resposta, mas é um convite à reflexão, sobre quem são os reais inimigos dos que dizem lutar por igualdade mas gastam seu tempo, munição e energia dando tiros em espelhos, que refletem a si mesmos. Em pouco tempo, nessa toada, seremos todos cacos e o triunfo será entregue de bandeja, a quem crê que o Brasil não precisa mudar urgentemente. Não derrape nas polêmicas.
Nossas vitórias iriam despertar muito ódio, sempre soubemos disso, estamos prontos para atravessar esse caos de pé, com elegância e cabeça erguida. Inteligência, respeito, afeto e compaixão, se fazem urgentes, o ubuntu é isso.

Assisti ao longo de minha trajetória, muitos artistas inspiradores serem atacados, desrespeitados por motivos sujos, intenções secundárias e argumentos rasos, com a intenção de se aproveitar da confusão de nosso panorama cultural e manter nossos irmãos e irmãs no lixo por mais 500 anos.

Esse tempo acabou. Acalme seus ânimos e volte pro front com uma mira melhor. De nada adianta ser uma metralhadora giratória se você estiver mirando em seu próprio pé.

O rapper apresenta-se neste fim de semana em São Paulo, na Casa Natura (mais informações aqui).

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