Edy Star (1938-2025)
Ícone queer da música brasileira, Edy Star – que foi o primeiro artista do país a assumir-se publicamente como homossexual, em 1973 – morreu nesta quinta-feira, após complicações devidas a um acidente doméstico. Baiano de Juazeiro, Edivaldo Souza tornou-se Edy Souza quando começou a carreira artística, ao mudar-se para Salvador, primeiro para trabalhar como artista plástico e aos poucos envolvendo-se com a música. Frequentava núcleos distintos da cidade ainda nos anos 60, como a cena rock liderada por Raul Seixas – ainda chamado de Raulzito à época – e a cena do Teatro Vila Velha, influenciada pela bossa nova, que reunia os baianos mais conhecidos da música brasileira (Gil, Caetano, Gal, Bethânia, Tom Zé), mas não era próximo de nenhum destes grupos (embora seja coautor da primeira canção de Gil lançada em compacto, “Procissão”). Tornou-se apresentador de TV na capital baiana ainda naquela década, quando além de trazer todos estes para apresentações no estúdio, também trouxe futuras celebridades da década seguinte, como Pepeu Gomes e Moraes Moreira. Morou um tempo no Recife, quando conheceu e trabalhou com Geraldo Azevedo e Naná Vasconcellos, mas mudou-se para o Rio de Janeiro a convite de Raul, depois de ser demitido da emissora em que trabalhava. No Rio começou a trabalhar sua carreira musical, primeiro no disco conceitual imaginado por Raul Seixas que o reuniu a outros novatos como Sérgio Sampaio e Míriam Batucada. Sociedade da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10 foi lançado em 1971 e consagrou sua mudança de nome, quando assumiu-se Edy Star e passou a brincar com sua androginia em público. O disco foi recolhido pela gravadora e sua carreira musical só começou de verdade anos depois, quando começou a fazer shows em cabarés na decadente Praça Mauá, no centro do Rio. Suas apresentações fizeram tanto sucesso que ele passou a ser chamado para festas da alta sociedade carioca, quando veio o convite para gravar seu primeiro disco, Sweet Edy (1974), com canções compostas apenas para ele por nomes como Roberto e Erasmo Carlos, Caetano, Gil, Moraes e Luiz Galvão, Jorge Mautner, Getúlio Côrtes, Leno e Raul. Este sucesso o fez ser convidado para a edição brasileira do musical Rocky Horror Picture Show no ano seguinte, quando interpretou o cientista não-binário Frank-N-Furter, abrasileirando o musical com referências ao teatro de revista e chanchadas. Seguiu sua carreira erraticamente até o início dos anos 90, quando mudou-se para a Espanha. Voltou para o Brasil há pouco mais de dez anos, quando foi redescoberto e adotado por uma nova geração, voltando a fazer shows e a gravar discos (como
Cabaré Star, produzido por Zeca Baleiro, em 2017, com participações de Ney Matogrosso, Caetano Veloso, Ângela Maria, Felipe Catto e Emílio Santiago). Seu trabalho mais recente é Meu Amigo Sérgio Sampaio, um tributo ao capixaba kavernista lançado em 2023, um ano antes do lançamento do documentário Antes Que Me Esqueçam, Meu Nome é Edy Star, de Fernando Moraes. Edy havia acabado de gravar um disco em homenagem a outro compadre kavernista, Raul Seixas, que conta com a participação de Edson Cordeiro. Embora não haja nenhuma notícia sobre este disco após seu falecimento, é provável que seu primeiro disco póstumo seja lançado em breve.