…uma de cada lado do Atlântico.
The World’s End, da imagem acima, é o novo filme de Simon Pegg e Nick Frost, que voltaram a trabalhar com Edgar Wright, para fechar a trilogia de paródias de filmes de gênero, que começou com Shaun of the Dead (Todo Mundo Quase Morto, no Brasil, de 2004) tirando sarro de zumbis e continuou com Hot Fuzz (no Brasil, Chumbo Grosso, em 2007), rindo de filmes policiais. O novo filme dos ingleses ainda não tem nem trailer (apenas algumas fotos), mas de alguma forma liga o consumo de cerveja em pubs ingleses aos motivos que fizeram o mundo acabar. O outro filme sobre o fim do mundo, a comédia norte-americana This is the End, no entanto, já tem trailer:
This is the End reúne o time de atores consagrados sob a reputação de Judd Apatow – Seth Rogan, James Franco, Jonah Hill, Emma Watson, Paul Rudd, Jason Segel, Jay Baruchel, Danny McBride, Craig Robinson e Michael Cera – no primeiro filme de Evan Goldberg (que escreveu Pineapple Express e Superbad, entre outros filmes da turma).
Eu acho que o filme inglês deve ser melhor que o americano.
Minha coluna no Caderno 2 neste domingo foi sobre o Scott Pilgrim.
Muito além da MTV
A geração déficit de atenção
Scott Pilgrim Contra o Mundo estreou na semana passada e segue em cartaz em poucas salas, mas vale o esforço para assisti-lo na telona. Baseado nos quadrinhos de mesmo nome, escrito e desenhado pelo canadense Bryan Lee O”Malley, o filme começa contando o cotidiano de uma banda de rock iniciante, com foco em um de seus integrantes, o Scott do título.
Parece que vamos apenas acompanhar o cotidiano trivial de uma turma de universitários largados, mas em pouco tempo a história dá um salto e mexe completamente no ritmo bucólico e entediante daquela rotina.
A história em si – Scott tem que enfrentar os sete ex-casos de uma nova paixão, uma menina de cabelo colorido chamada Ramona – não é grande coisa.
Mas a forma como ela é apresentada talvez faça do filme um dos mais influentes deste ano, principalmente no que diz respeito à estética.
Um tanto dessa culpa vem do próprio quadrinho original, que transforma a briga de Scott com seus rivais em um cenário de videogame em que cada ex de Ramona é o equivalente a um chefão de fase, como nos jogos eletrônicos.
Mas o filme vai além de simplesmente adaptar a linguagem dos games para o cinema, coisa que já foi tentada por vários diretores antes desse filme.
O trunfo do inglês Edgard Wright é usar o videogame como mais um dos elementos para compor uma narrativa moderna, de edição ágil e cortes rápidos, e que fuja do padrão MTV, quase sempre associado a esse tipo de recurso.
O problema é que o formato inventado pela MTV já tem mais de 30 anos – e ainda é associado a uma narrativa “jovem” e “descolada” (adjetivos entre aspas, pois são normalmente ditos por pessoas que não são jovens nem descoladas).
Em Scott Pilgrim, Wright leva esse conceito para linguagens que estão mais associadas à modernidade do que um canal de TV que exibe videoclipes.
É aí que ele injeta os games e a internet como referência. Os jogos são evidentes desde a primeira cena – o logo do estúdio Universal exibido como se fosse um game do Mega Drive – e a internet entra junto com a onipresença atual do texto escrito, em que palavras, termos, frases e listas surgem como links ou tags junto às cenas.
Assim, Scott Pilgrim Contra o Mundo pode parecer rápido demais até para quem é acostumado à linguagem MTV. Talvez porque tenha sido feito mirando em uma geração que, vista de fora, parece sofrer seriamente de déficit de atenção. Só isso já vale o filme.
Começou com essa foto do Michael Cera, tirada pelo próprio Edgar Wright que dirigiu seu novo filme. Em poucas horas (literalmente, duas), Prancing Michael Cera – o Michael Cera saltitante -, já era um meme online, com direito a tumblr Fuck Yeah e tudo.
Mas será sério? Ou será viral pra ver se o Scott Pilgrim consegue ir melhor nas bilheterias dos EUA?
A Gi Ruaro mandou, lá de Londres, sua opinião sobre esse tal Scott Pilgrim, que por aqui só estréia em novembro. Estou lendo o quadrinho agora, o máximo que conheço do filme são as carreiras dos dois principais envolvidos – Cera e Wright. Vamos às suas impressões:
“Fui ver Scott Pilgrim vs The World com um amigo meu que é fanático pelos quadrinhos. Eu não tinha lido nada e, assim como Kick-Ass, fui ver o filme sem saber muito sobre o que esperar – o que foi bom. Mas também, ruim, pois não posso dar opinião sobre a adaptação. Não curto quadrinhos, mas gosto de filmes baseados neles, além de gostar de games, cultura pop e… bem, cinema pipoca. Ou seja, adorei Scott Pilgrim bem massa.
Michael Cera faz papel de… Michael Cera. Vamos combinar: ele não consegue fugir da estigma Socially Akward Penguin ambulante. Calhou de Scott Pilgrim ser como o Michael Cera e, pronto, funciona – até mesmo quando ele está lutando.
Ramona é realmente a garota mais cool do planeta e os sete exs tem visuais e ‘poderes’ que os transformam em ícones instantâneos. Levando em conta que o filme é baseado num quadrinho com uma legião de seguidores, o filme é bem bom e funciona para fãs e não-iniciados.
O diretor, Edgar Wright, é conhecido pelos seus filmes anteriores Hot Fuzz e Shaun of The Dead. Mas aqui nas terras britânicas, o trabalho que o tirou do anonimato foi Spaced. A série de TV não teve muita repercussão na época pois foi lançada no mesmo período que The Office (de Ricky Gervais), mas tem roteiro brilhante de Simon Pegg (que também atua nos dois filmes de Wright) e sua direção ficou famosa pelas cenas surreais, edição rápida, referências pop jogadas na tela a cada ângulo – além do humor completamente nonsense. Ops, acabei de definir Scoot Pilgrim também!
Foi ótimo ter visto Spaced antes de ver Scott Pilgrim porque eu entendi que o visual e cadência do filme não eram gratuitos, mas fazem parte da bagagem de Wright. Aliás, li no Twitter que Scott Pilgrim é Spaced com Street Fighter. Concordo.
Mas como é que o filme fez tão feio nos Estados Unidos na semana de estréia se tem tantos elementos a seu favor? Na minha opinião é que Scott Pilgrim é um filme para quem tem menos de 25 anos. Não é tão nauseante quando Speed Racer, mas é colorido e veloz – talvez rápido demais para os que não fizeram parte da geração dos games. Há referências sonoras o tempo todo: Mario, Zelda, Sonic, Street Fighter, erro no Mac, start-up do Windows. E os vilões se transformam em moedas. E músicas que te fazem se sentir triste e pensar sobre a morte e tals. Meu pai não ia entender nada mesmo.
É um filme tão contemporâneo, tão impregnado pelo zeitgeist de agora, tão pop que infelizmente será considerado datado ano que vem. Juro. Sabe a cena em Kick-Ass, quando o vídeo faz sucesso no YouTube, quantos hits tinha? 3 milhões. Hoje em dia qualquer vídeo de gato andando em esteira rolante tem mais do que isso. O mundo avança rápido ao próximo meme e o tempo de finalização de um filme já é demorado demais para acompanhar as mudanças de uma geração que não pára.
E como disse Jason Schwartzman (que faz o papel do vilão Gideon Gordon Graves), Scott Pilgrim nunca poderia ter sido feito em 3D. Ainda bem, porque a quantidade de informação na tela ia furar os olhos protegidos pelos óculos de plástico.”
Tem mais cenas do seriado no YouTube (deve ter ele inteiro, mas sem legendas), só que não dá para embedar no blog.
A série Spaced, que a Gi se referiu há pouco, é o seriado que revelou Simon Pegg, Edgar Wright e Nick Frost como novos nomes do humor inglês. Escrita pelos protagonistas Pegg e Jessica Stevenson (que depois casou-se e virou Jessica Hynes), Spaced, como todo bom seriado inglês, durou apenas duas temporadas, e é o equivalente britânico de Freaks & Geeks – o seriado que lançou a turma do Judd Apatow – Seth Rogen, Paul Rudd, Jason Segel, James Franco, Jonah Hill – pronta para dominar a comédia dos anos 00 nos EUA.
Na Inglaterra, a turma de Spaced teve apenas o Office de Ricky Gervais pela frente, o que não impediu Wright, Frost e Pegg continuarem juntos nos ótimos Hot Fuzz (uma paródia sobre filmes policiais) e Shawn of the Dead (sobre zumbis). Em Spaced, Pegg e Jessica são Tim e Daisy, forçados a morar juntos por conveniência, têm de fingir que são um casal num sobrado habitado por malucos típicos inglês. Há um quê de Fawlty Towers no seriado (nunca acontece nada), mas as referências pop – características de todas as produções a seguir do mesmo time – não param de pular de todas as cenas.
Eis a importância de Scott Pilgrim – o filme: ele faz a conexão entre duas gerações de humor de lados diferentes do Atlântico. O diretor Wright como representante do time inglês e Michael Cera (que fez Superbad, da turma de Apatow) no time americano. Mas, pela repercussão, o primeiro contato não rendeu – ou será que Scott Pilgrim é um De Volta para o Futuro da era da Cauda Longa? A ver.