E por falar em “tipo Cidade de Deus”…

, por Alexandre Matias

Vocês viram o 24: Redemption, esse filme que a Fox fez pra compensar a ausência da sétima fase da série em 2007? A edição do ano retrasado do seriado de Jack Bauer bailou devido à greve dos roteiristas em Hollywood e os produtores inventaram um longa pra explicar o que aconteceu com o personagem de Kiefer Sutherland após o fim da ridícula sexta temporada. Redemption foi ao ar nos EUA no fim do ano passado e vai sair em DVD no Brasil agora em janeiro, pra coincidir com a nova sétima temporada que estréia – lá fora – esse mês.

E é uma merda.

O trailer dava uma certa impressão que veríamos a transformação definitiva de Jack Bauer num Rambo neocon, o torturador clean cut em plena guerra civil africana, linkando a série com recentes produções hollywoodianas que estão fazendo um revival meio reality show do culto à degração da África – filmes como Hotel Ruanda, Falcão Negro em Perigo, O Jardineiro Fiel, O Último Rei da Escócia, O Senhor das Armas e Diamantes de Sangue, entre outros, relêem o continente africano com uma piedade agressiva e em vez de coletâneas e festivais que foram montados como nos anos 80, assistimos a retratos hiperrealistas que ampliam os conceitos de miséria, degradação humana e violência para limites deprimentes.

As cenas exibidas antes do filme ir ao ar, davam a entender que Jack Bauer seria um elemento novo – e completamente fictício – nesse cenário, o que podia até dar uma certa liga, mas que também exigiria a forçação de algumas barras. Mas o filme passa longe dessa nova visão sobre a África e, em vez disso, lê um continente inteiro como se fosse um país imaginário. Mais ou menos como Sarah Palin imaginava…

Porque o país fictício inventado pelos criadores da série é uma colcha de retalhos de referências de terceiro mundo que, sem querer, joga o Brasil na mistura. Não bastasse o espírito ONG que domina o filme – além de um personagem propriamente ONG, vivido pelo Robert Carlyle (o Begbie do Trainspotting) -, o filme ainda conta com uma cena em que, numa aldeia com chão de terra batida, moleques jogam futebol cercados por animais de fazenda, incluindo algumas galinhas… Câmera na mão e tal – só falta o molequinho brincando com a câmera no canto.

Mas se o problema do filme de 24 Horas fosse só chupinhar estética alheia, tudo bem. O problema é que, ao repetir a fórmula de um episódio da série em um filme de duas horas, ele limita a correria de Jack Bauer por apenas um cenário, na África, enquanto acompanha duas histórias nos EUA que, provavelmente, irão descambar em algo que detonará o início da próxima temporada: a posse da primeira presidente mulher do país e os problemas de um moleque que tem vínculo com pessoas poderosas no governo. O único porém: as histórias não se encontram! Em momento algum! Há até uma certa tentativa em vincular a história de Jack com a que se passa nos EUA, mas ela é superficial e não altera um fio de cabelo das três histórias principais do filme. A principal preocupação do filme parece ser saber se Jack Bauer irá voltar para os EUA, uma vez que ele está foragido. Às vésperas de uma nova temporada, será que ele não conseguirá sair da África? O problema não é a velha reclamação que filme baseado em série quase sempre são episódios longos e sim o fato de Redemption ser um episódio longo E ruim.

E Jack pagando de humanista querendo salvar crianças de um possível genocídio não dá pra engolir. Ele faz aquela cara de pânico com ódio que até convence quando um vilão está apontando uma arma pra cabeça de sua filha, mas não dá pra achar que, de uma hora pra outra, ele começou a se preocupar com as criancinhas. Peraê, né…

Se a próxima temporada continuar nesse mesmo tom, já era. E justo depois de ter atingido sua melhor forma em 2005.

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