Vida Fodona #644: Festa-Solo (25.5.2020)

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Toda segunda, às 21h, no twitch.tv/trabalhosujo

Velvet Underground – “Cool It Down”
Astrud Gilberto – “Beginnings”
Yo La Tengo – “Moby Octopad”
Gilberto Gil – “Indigo Blue”
Anelis Assumpção – “Chá de Jasmim”
Otto – “Soprei”
Metronomy – “She Wants”
Beatles – “Lovely Rita”
Rapture – “Miss You”
John Cale + Terry Riley – “The Protege”
Cocteau Twins – “Cherry-Coloured Funk”
Walter Franco – “Cena Maravilhosa”
Jim James – “We Aint Getting Any Younger Pt. 2”
Memory Tapes – “Green Knight”
Washed Out – “Feel It All Around”
Garotas Suecas – “Bucolismo”
Unknown Mortal Orchestra – “Swim And Sleep (Like A Shark)”
Doors – “My Wild Love”
Syd Barrett – “Baby Lemonade”
Siba – “O Inimigo Dorme”
Bill Withers – “Everybody’s Talkin'”
Van Morrison – “Astral Weeks”
Jupiter Apple – “Welcome to the Shade”
João Gilberto – “Undiú”
Letuce – “Animadinha”
Isaac Hayes – “Never Can Say Goodbye”
Bruno Schiavo – “Orégano”
Pelados – “O Fim”
Thiago França – “Dentro da Pedra”
Miles Davis – “So What”
Lambchop – “The Old Gold Shoe”
Nina Becker – “Toc Toc”
David Bowie – “Life on Mars?”
Fagner – “Traduzir-se”
Angel Olsen – “Sister”

 

Vida Fodona #595: Esse frio não dá

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Mesmo assim sigo firme.

Talking Heads – “The Overload”
Doors – “Cars Hiss By My Window”
Nina Becker – “Toc Toc”
Garotas Suecas – “Bucolismo”
Letuce – “Quero Trabalhar com Vidro”
Giancarlo Ruffato – “Alfredo”
Boogarins – “Despreocupar”
Cornelius – “Smoke”
Nicolas Jaar – “Keep Me There”
Music Go Music – “Warm in the Shadows”
Paulinho da Viola – “Roendo As Unhas (Victor Hugo Mafra Redit)
Cesar Camargo Mariano + Nelson Ayres – “Os Breakers”
TLC – “Waterfalls”

Máquina do Tempo: 1° a 31 de maio

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1° de maio de 1969 – Bob Dylan é o convidado na estreia do programa de Johnny Cash

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2 de maio de 1989 – Os Stone Roses lançam seu primeiro disco

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3 de maio de 1958 – Rock causa tumulto em Boston


4 de maio de 2000 – Metallica processa os próprios fãs

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5 de maio de 1946 – Nasce Beth Carvalho

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6 de maio de 1965 – Keith Richards compõe “Satisfaction” num sonho

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7 de maio de 1992 – John Frusciante sai dos Red Hot Chili Peppers

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8 de maio de 1911 – Nasce Robert Johnson

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9 de maio de 1942 – Nasce Nei Lopes

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10 de maio de 1994 – O Weezer lança seu primeiro álbum

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11 de maio de 1981 – Morre Bob Marley

Jimi Hendrix Experience - Are you experienced
12 de maio de 1967 – Jimi Hendrix lança Are You Experienced?


13 de maio de 1938 – Louis Armstrong imortaliza “When the Saints Go Marching In”

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14 de maio de 2016 – Beyoncé emplaca todos os singles de seu Lemonade entre os mais vendidos

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15 de maio de 1986 – O Run DMC lança o primeiro grande álbum de rap

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16 de maio de 1966 – Bob Dylan lança Blonde on Blonde e os Beach Boys lançam Pet Sounds

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17 de maio de 1887 – Nasce João da Baiana

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18 de maio de 1980 – Ian Curtis comete suicídio

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19 de maio de 1945 – Nasce Pete Townshend

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20 de maio de 1954 – Bill Haley & His Comets lançam o hino “Rock Around the Clock”

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21 de maio de 1970 – Marvin Gaye lança What’s Going On

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22 de maio de 1967 – Os Monkees lançam o primeiro disco em que compõem e tocam tudo

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23 de maio de 1966 – Os Doors estreiam no Whiskey a Go Go


24 de maio de 1941 – Nasce Bob Dylan


25 de maio de 1996 – Brad Nowell, do Sublime, é encontrado morto

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26 de maio de 1926 – Nasce Miles Davis

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27 de maio de 1957 – Buddy Holly lança seu primeiro hit, “That’ll Be The Day”

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28 de maio de 1957 – Nasce John Fogerty, do Creedence Clearwater Revival

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29 de maio de 1984 – Tina Turner dá a volta por cima com Private Dancer

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30 de maio de 1990 – Midnight Oil protesta no coração financeiro de Nova York


31 de maio de 1938 – Nasce Miele

Vida Fodona #583: O fim de um ciclo

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Adeus a um espaço físico

BaianaSystem + Curumin + Edgar – “Sonar”
Specials – “A Message to You Rudy”
Lucas Santtana + Seleção Natural – “Tijolo a Tijolo, Dinheiro a Dinheiro”
Warpaint – “Above Control”
Olivia Tremor Control – “Jumping Fences”
Boogarins – “Sombra ou Dúvida”
Bonifrate – “Refúgios”
Kiko Dinucci – “Seus Olhos”
Maria Beraldo – “Sussussussu”
Jards Macalé – “Pacto de Sangue”
Gilberto Gil – “Na Real”
Doors – “Soft Parade”
Stereolab – “Metronomic Underground”
Can – “Vitamin C”
Dr. Dre – “Nuthin’ but a ‘G’ thang”
Sexy Fi – “Looking Asa Sul, Feeling Asa Norte”

Máquina do Tempo: 1° a 31 de dezembro

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1° de dezembro – Os Sex Pistols falam “fuck” pela primeira vez na TV, Neil Young é processado pela gravadora por mudar seu som e Kenny G segura uma nota por 45 minutos

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2 de dezembro – Rod Stewart chega ao topo plagiando Jorge Ben, Bowie lança seu primeiro single e o porco inflável do Pink Floyd escapa

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3 de dezembro – Os Beatles conhecem Brian Epstein, é exibido o 1968 Comeback Special de Elvis e Bono recupera seu laptop perdido – com o disco novo do U2

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4 de dezembro – Um incêndio inspira a faixa-símbolo do Deep Purple, o Led Zepellin anuncia seu fim e morre Frank Zappa

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5 de dezembro – Bob Marley faz show dois dias depois de ser vítima de um atentado, Black Flag lança o primeiro disco e Adele ultrapassa Amy Winehouse

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6 de dezembro – O festival de Altamont encerra os anos 60 de forma trágica, morre Leadbelly e Elvis Costello se casa com Diana Krall

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7 de dezembro – Otis Redding finaliza sua faixa-símbolo, os Beatles fecham sua Apple Store e Bowie aparece em público pela última vez

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8 de dezembro – Nasce Sargentelli, morre John Lennon e o Metallica toca na Antártida

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9 de dezembro – Vince Guaraldi põe jazz na trilha de Charlie Brown, o Chic chega ao topo das paradas e Ozzy sofre um acidente

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10 de dezembro – A fundação do CBGB’s, a morte de Otis Redding e a queda que quase matou Frank Zappa

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11 de dezembro – O primeiro show do Velvet Underground, Jerry Lee Lewis casa-se com prima de 13 anos e Mariah Carey leva o ringtone de ouro

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12 de dezembro – O último show dos Doors, Ace Frehley quase morre eletrocutado num show e Mick Jagger vira Sir

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13 de dezembro – Patti Smith lança Horses, o semanário inglês Melody Maker acaba e Beyoncé lança um disco-surpresa

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14 de dezembro</strong> – O Clash lança London Calling, Os Embalos de Sábado à Noite estreia no cinema e morre Ahmet Ertegun


15 de dezembro – Dr. Dre lança The Chronic, morre Glenn Miller e Taylor Swift chega ao topo com seu 1989


16 de dezembro – O fim do The Who, o hit de Billy Paul e o seguro na língua de Miley Cyrus


17 de dezembro – Elvis Costello é banido do Saturday Night Live, Dylan chega à Inglaterra pela primeira vez e morre Captain Beefheart

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18 de dezembro – Nasce Keith Richards, os Beatles iniciam sua última temporada em Hamburgo e Rod Stewart toca para 35 milhões de pessoas

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19 de dezembro – Madonna ultrapassa Coldplay, Lady Gaga, Jay-Z e Kanye West, o roadie de Henry Rollins morre assassinado e Elton John emplaca seu primeiro hit nos EUA

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20 de dezembro – Adele chega ao topo de 2012, Joan Baez é presa por protestar contra a guerra e morre Reginaldo Rossi

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21 de dezembro – “Gangnam Style” é o primeiro clipe a bater um bilhão de views no YouTube, Elvis se encontra com Nixon e morre Júpiter Maçã

almirante
22 de dezembro – Morre o sambista e pesquisador Almirante, o pensamento vivo de Ronald Reagan em disco e a quase morte de um Motley Crue


23 de dezembro – É inaugurada a rádio pirata mais conhecida da história, Brian Wilson sofre um colapso nervoso e Ice Cube é expulso do N.W.A.


24 de dezembro – O último show dos Sex Pistols na Inglaterra, o primeiro show dos New York Dolls e o Nirvana começa a gravar seu primeiro disco

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25 de dezembro – “White Christmas”, o single mais vendido de todos os tempos volta ao topo das paradas e morrem Dean Martin, James Brown e George Michael


26 de dezembro – Paul McCartney “morre” em um acidente de carro e os Beatles o trocam por um sósia, The Wall chega ao topo das paradas de discos e morre Curtis Mayfield

showboat
27 de dezembro – Show Boat inaugura o musical moderno, Leonard Cohen lança seu primeiro álbum e o Led Zeppelin, seu segundo


28 de dezembro – Dennis Wilson, dos Beach Boys, morre afogado no mar, Elvis Presley toma LSD e um câncer violento mata Lemmy

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29 de dezembro – Morre Cássia Eller, o casal do Jefferson Airplane se separa e Aimee Mann casa-se com Michael Penn

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30 de dezembro – Sinatra torna-se o primeiro ícone adolescente do mundo, o fim do Emerson Lake & Palmer e George Harrison é esfaqueado

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31 de dezembro – Rod Stewart faz o maior show ao ar livre do mundo, o fim do Max’s Kansas City e Paul McCartney torna-se Sir

Máquina do Tempo: 28 a 31 de outubro

28 de outubro – Lorde chegava ao topo da parada britânica, Stevie Wonder lança Talking Book e Afroman emplaca “Because I Get High”.

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29 de outubro – Bob Dylan aceita o Nobel de literatura, o Who lança “My Generation” e Enya chega ao topo das paradas.

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30 de outubro – George Michael lança o disco Faith, Jim Morrison é multado por por o pau pra fora e vem aí Beatles Rock Band

unplugged
31 de outubro O início do Acústico da MTV, a batalha judicial pelo nome Pink Floyd e Flea assistindo à morte de River Phoenix

Concertos de Discos

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A partir deste mês retomamos no Centro Cultural São Paulo a série Concertos de Discos, idealizada pela diretora original da discoteca pública que hoje batiza a instituição, a pesquisadora Oneyda Alvarenga, em que pesquisadores e especialistas dissecam discos clássicos em audições comentadas. Como estamos nas comemorações dos 50 anos do ano de 1967 (dentro do projeto Invenção 67), iniciamos os trabalhos com oito aulas sobre oito discos essenciais lançados naquele ano – das estréias do Pink Floyd, Doors, Velvet Underground e Jimi Hendrix, a discos cruciais nas carreiras de Tom Jobim, Roberto Carlos, Aretha Franklin e dos Beatles. O time de especialistas reunidos é da pesada e as audições acontecem na própria Discoteca Oneyda Alvarenga, no CCSP, durante as terças e quintas de junho, gratuitamente, a partir das 18h30. Veja a programação completa deste primeiro mês abaixo (mais informações aqui):

Concertos de Discos
de 6 a 29/6 – terças e quintas – 18h30
O Invenção 67 ressuscita os célebres Concertos de Discos, que a primeira diretora da Discoteca do Centro Cultural São Paulo, Oneyda Alvarenga, ministrou entre 1938 e 1958. Os Concertos de Discos voltam focados em música popular e realizados na própria Discoteca Oneyda Alvarenga, convidando o público a uma audição comentada. Programe-se: as audições são limitadas a 30 pessoas. Todos os concertos começam pontualmente às 18h30.

60min – livre – Discoteca Oneyda Alvarenga
grátis – sem necessidade de retirada de ingressos

Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band
dia 6/6 – terça – 18h30
Pai e filho, Maurício Pereira (Os Mulheres Negras) e Tim Bernardes (O Terno) falam sobre o clássico dos Beatles: Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band.

The Piper at the Gates of Dawn
dia 8/6 – quinta – 18h30
O crítico e músico Alex Antunes (Akira S, Shiva Las Vegas) trata do disco de estreia do Pink Floyd, The Piper at the Gates of Dawn.

Wave e Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim
dia 13/6 – terça – 18h30
O músico e historiador Cacá Machado analisa os álbuns Wave, de Tom Jobim, e Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim, parceria com Sinatra e Jobim que marcou a inserção da bossa nova no contexto internacional.

The Doors
dia 15/6 – quinta – 18h30
O jornalista Jotabê Medeiros mergulha no álbum de estreia da banda The Doors, que juntou de modo dramático jazz, blues, lisergia e poesia.

I Never Loved a Man the Way I Love You
dia 20/6 – terça – 18h30
Especialista em hip hop, soul e funk, a jornalista Mayra Maldjian analisa I Never Loved a Man the Way I Love You, turning point na carreira de Aretha Franklin – e do rythmn’n’blues.

Are You Experienced?
dia 22/6 – quinta – 18h30
Músico e jornalista, Rodrigo Carneiro (Mickey Junkies) surfa em Are You Experienced?, disco em que estreou a banda Experience, de certo guitarrista canhoto chamado Jimi Hendrix.

Em Ritmo de Aventura
dia 27/6 – terça – 18h30
Guitarrista e vocalista da banda Autoramas, Gabriel Thomaz entra Em Ritmo de Aventura para falar do clássico de Roberto Carlos.

The Velvet Underground & Nico
dia 29/6 – quinta – 18h30
O jornalista e editor da revista Bravo!, Guilherme Werneck, trata de The Velvet Underground & Nico, o disco que lançou a banda de Lou Reed – e também as bases do punk.

50 anos do primeiro disco do Doors

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Abrindo o calendário de comemorações dos fantásticos discos de 1967 que completam meio século este ano está o fabuloso disco de estreia do Doors – escrevi sobre ele no meu blog no UOL.

No dia 4 de janeiro de 1967 um segredo bem guardado pela cena rock de Los Angeles tornou-se público. Gravado em apenas uma semana em agosto de 1966, o primeiro disco dos Doors abriu a sequência de álbuns que transformaria aquele ano num dos pilares centrais da cultura pop, mesmo cinquenta anos depois (Sgt. Pepper’s e Magical Mystery Tour dos Beatles, Between the Buttons e Their Satanic Majesties Request dos Rolling Stones, O Bidú: Silêncio no Brooklin de Jorge Ben, Younger than Yesterday dos Byrds, os dois primeiros do trio Jimi Hendrix Experience, o primeiro do Captain Beefheart, Something Else dos Kinks, o primeiro dos Mutantes, o Sell Out do Who). E por mais que os outros discos que compõem esta safra fizessem parte de uma lenta e perceptível evolução da música popular que começara dois anos antes, ninguém na época estava preparado para o choque que foi aquele disco gravado praticamente ao vivo. Só outros dois discos de estreia têm o peso deste primeiro registro da banda californiana – a impressionante estreia do Pink Floyd e o ousado primeiro disco do Velvet Underground. Contudo, a estreia dos Doors elevaria o rock a um outro nível, costurando um impensável cânone que incluía teatro grego, música de cabaré alemão, música erudita, bossa nova, blues elétrico, poesia, blasfêmias e jazz.

Os Doors eram um produto natural da evolução pela qual o rock’n’roll atravessou em seus primeiros anos de vida. Ele já havia abandonado suas tradições iniciais – a cruza de country com rhythm’n’blues forjada por jovens brancos e negros nos EUA – quando os Beatles conquistaram os Estados Unidos e depois o mundo transformando aquela novidade que Elvis Presley difundira nos anos 50 na trilha sonora de uma juventude consciente de seu próprio movimento (abandonando quase sem querer o sufixo “‘n’roll” da nomenclatura do gênero). À medida em que ganhava mais territórios vendendo uma nova abordagem musical para os anos 60, o rock passava a explorar novos territórios artísticos e musicais que o elevaram para sua terceira fase, a psicodelia. Iniciada por outra banda inglesa – o Pink Floyd – mas difundida mundialmente pelos Beatles, a exploração das fronteiras estéticas e linguísticas desta nova etapa funcionaria como uma carta branca de possibilidades para jovens músicos e compositores espalhados pelo planeta.

A Califórnia, que seria o polo norte-americano da psicodelia, buscava uma sociedade alternativa e cunhou o conceito do hippie como conhecemos hoje. A mítica esquina das ruas Haight e Ashbury, em São Francisco, logo tornaria-se a o centro de tração de hippies de todo o planeta, transformando a cidade que anos depois sediaria o Vale do Silício na meca do zen-hippismo nos EUA. Da fundação do clube The Matrix (inaugurado com o primeiro show do Jefferson Airplane) à transformação da banda Warlock no Grateful Dead, São Francisco viu nascer uma cena essencialmente hippie, que pariria nomes fundamentais para a psicodelia norte-americana como Santana, Big Brother & the Holding Company (liderado por uma jovem vocalista chamada Janis Joplin), Moby Grape, Flamin’ Groovies, Quicksilver Messenger Service, Country Joe and the Fish, entre outros.

Em Los Angeles, ao sul daquele estado, as coisas eram diferentes. A plasticidade da jovem metrópole concebida para simbolizar o tesouro no fim do arco-íris da busca pelo extremo oeste da época dos caubóis – em parte desenhada pelas nascentes indústrias do disco e do cinema, esta última mais forte que a primeira -, tornava sua cena cultural em busca de uma identidade própria, mesmo em seu próprio rock’n’roll, ainda visto como subgênero do entretenimento local, mesmo que tenha firmado-se nacionalmente ao lançar toda a cena surf que surgiu na esteira dos Beach Boys, como Jan and Dean, Bel-Airs e Surfaris, que pavimentaram o caminho para bandas de garagem como Seeds, Leaves e Music Machine. A cena local girava em torno de uma rua chamada Sunset Strip, uma das principais da cidade, lar para algumas das principais casas de shows de lá (especificamente o Whisky a Go Go, o Roxy, o Pandora’s Box e o London Fog). Porém, enquanto a cena de São Francisco poderia ser vagamente rotulada como “acid rock”, devido à influência do ácido lisérgico nas letras e na sonoridade das bandas, que aos poucos ficava cada vez mais parecida, em Los Angeles não havia uma tendência musical que prevalessesse, reunindo bandas tão diferentes quanto os Byrds, o Love, Buffalo Springfield, Strawberry Alarm Clock e os forasteiros Frank Zappa e Captain Beefheart – e cada uma delas soava completamente diferente das outras.

The Doors: John Densmore, Robbie Krieger, Jim Morrison e Ray Manzarek

The Doors: John Densmore, Robbie Krieger, Jim Morrison e Ray Manzarek

Como os Doors. Formado pelos dois irmãos do tecladista Ray Manzarek (que entrou depois), a banda Rick & the Ravens logo tornou-se o principal veículo do músico, que convidou dois amigos que conhecia de lugares diferentes para entrar para o grupo: Ray conhecia o baterista John Densmore, que tocava jazz, de aulas de meditação e o futuro vocalista Jim Morrison no curso de cinema da UCLA. Ainda com o antigo nome, a banda contava como Ray, Jim, John e os irmãos de Ray, Rick na guitarra e Jim na gaita, além da baixista Patty Sullivan. Como um sexteto, o grupo gravou uma demo, mas os irmãos de Ray não gostaram o resultado e saíram da banda, seguidos por Patty. Ray, pianista de formação erudita, não teve dificuldade de assumir o baixo da banda tocando-o com a mão esquerda em um teclado elétrico, enquanto convidou outro amigo, Rob Krieger, que estava começando a aprender a tocar violão flamenco para assumir a guitarra. A nova formação inspirou o vocalista a mudar o nome da banda para The Doors – nome tirado do título do livro As Portas da Percepção, de Aldous Huxley, sobre suas experiências com drogas psicodélicas, título que, por sua vez, havia saído de uma frase do poeta inglês William Blake que dizia que “quando as portas da percepção estiverem abertas, tudo parecerá como realmente é: infinito”.

Era uma outra banda. Por mais que ainda vagassem pelos standards de blues e garage rock em seu repertório (como “Louie, Louie”, “Money” e “Hoochie Coochie Man”), aos poucos eles começavam a compor suas próprias músicas e, ao contrário das bandas de São Francisco, iam para longe dos clichês do rock da época. Era um baterista de jazz, um guitarrista de flamenco, um tecladista de blues de formação erudita e um vocalista que, ainda tímido, cantava de costas para o público. Toda a psicodelia caía sobre as letras de Jim, que encarnava um trovador que improvisava versos surrealistas sobre as jam sessions cada vez mais extensas da banda, que chegavam a ultrapassar os dez minutos. Estas foram responsáveis por levar o grupo do London Fog, onde tocavam com mais frequência, para o palco do Whisky a Go Go, o principal da Sunset Strip. Foi ali que Jim finalmente conseguiu encarar o público e liberar seu lado performer, entregando-se às apresentações como um ator desesperado.

A banda assinou com a hoje mítica gravadora Elektra, que à época começava a apostar em música pop e abraçaria o rock do final dos anos 60 como sua principal bandeira (depois dos Doors, assinou com a Paul Butterfield Blues Band, o Love, os Stooges de Iggy Pop, o MC5, Tim Buckley e Bread, entre outros). O fundador da gravadora, Jac Holzman, chamou o produtor Paul A. Rothchild (que assumiria o papel de George Martin dos Doors, produzindo cinco de seus seis discos) para capturar a essência daqueles shows. E a gravação do disco de estreia da banda, que foi batizado apenas com seu nome, foi praticamente um show no estúdio Sunset Sound Recorders, com quase todas as músicas gravadas ao vivo em uma mesa de quatro canais (com apenas três usados). As duas primeiras canções gravadas (“Moonlight Drive” e “Indian Summer”) foram limadas da edição final e só foram aparecer nos discos seguintes da banda.

As que ficaram são a matéria que compõe a lenda. O grupo emplacou três hits logo de saída: “Break On Through (To the Other Side)”, “Light My Fire” e “The End”, sendo que as duas últimas eram das jam sessions intermináveis que deram fama à banda. “Break on Through” abre o disco misturando o teclado grave de “What I’d Say” de Ray Charles com a levada de bossa nova, apresentando formidavelmente a banda. “Light My Fire”, a primeira canção composta por Krieger, teve de ter sua letra mudada em apresentações ao vivo para evitar problemas com a moral e os bons costumes norte-americanos, que não aceitavam que se cantasse sobre ficar chapado àquela época. E a épica “The End”, em que Jim Morrison encarnava o Édipo Rei para maldizer seus próprios pais, teve o verso “fuck” soterrado nas gravações.

Além destas, o grupo mostrava-se hábil na composição de curtas músicas feitas para dançar – sem perder nem a poesia lisérgica, nem os devaneios lúdicos instrumentais. Faixas como “Soul Kitchen”, “Twentieth Century Fox”, “I Looked at You” e “Take It as It Comes” eram pérolas do rock de garagem norte-americano que fariam a fama de bandas de um hit só. As viajantes “The Crystal Ship” e “End of the Night” abriam as janelas para viagens mais transcendentais, enquanto as duas únicas versões do disco “Alabama Song (Whisky Bar)” (composta pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht e musicada por seu conterrâneo Kurt Weill na peça Mahagonny-Songspiel ,em 1927) e “Back Door Man” (composta pelo blueseiro Willie Dixon em 1960) esticavam as asas do grupo entre Chicago e Berlim, trazendo álcool e sexo anal para a mistura intensa de um surpreendente disco de estreia.

Depois disso, os Doors partiram para outras viagens, até que Jim encerrou a carreira da banda precocemente ao morrer em uma banheira em Paris no dia 3 de julho de 1971. O trio remanescente até que tentou continuar sem o vocalista original por dois discos, sem sucesso. Afinal, a essência da banda estava naquele disco mágico e improvável que inaugurou 1967 como um dos grandes anos da história da cultura pop, quando os quatro músicos conseguiram transformar o rock em parte de um mitologia ancestral.

Vida Fodona #541: Primavera fria

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Vamos esquentá-la.

Vida Fodona #540: Going to California…

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Pra embalar a viagem.