Se Distrito 9 fosse um videogame dos anos 80

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Mais um filme que vira joguinho antigo pelas mãos dos caras do Cinefix.

Distrito 9 e a vida fora da Terra

Neill Blomkamp, diretor do melhor filme do ano passado, Distrito 9, fala sobre a vida extraterrestre num vídeo feito para o TED. Vi lá no Terron.

Apartheid ET

E Distrito 9 é tudo isso que andam falando mesmo. Do mesmo jeito que Blade Runner mudou completamente a ficção científica ao trazer o futuro distante e utópico das sociedades espaciais para o futuro próximo de um planeta Terra em franca decadência, o filme de estréia do diretor Neill Blomkamp aproxima ainda mais o hoje do amanhã. Ao estacionar uma nave espacial à deriva sobre Johannesburgo, o diretor empilha metáforas sobre metáforas para tornar explícitos cada um de nossos preconceitos – e mistura racismo, tortura, canibalismo, xenofobia, miséria, feitiçaria, zoofilia, drogas e armas pesadas com a estética favela movie – tom documental, câmera na mão, chão de terra batida, barracos, crianças e galinhas – que Fernando Meirelles consagrou em Cidade de Deus. O protagonista Wikus van de Merwe é um Michael (do Office) posto em uma situação tão extrema quanto a da tenente Ripley em Alien ou o policial Alex Murphy em Robocop – a diferença é o simples fato de, embora os dois últimos também sejam funcionários de corporações, Wikus não tem experiência militar nenhuma, como a maioria dos telespectadores. Assim, o filme puxa para uma primeira pessoa verité que o torna tão descendente da ficção científica distópica dos anos 80 quanto do documentarismo fictício dos últimos dez anos (Bruxa de Blair, Cloverfield, [REC], Atividade Paranormal). E nos mostra aliens asquerosos que, em última instância, são apenas versões deformadas de nós mesmos. No fim, Distrito 9 chega às mesmas conclusões da ficção científica recente – a de quanto mais nos tornamos soldados, menos somos humanos. Mas até chegarmos neste ponto, atravessamos uma viagem excepcional, de interfaces que flutuam, pessoas que explodem, armas impossíveis e até uma criança ET, com muito som e fúria, neste que é tranquilo um dos melhores filmes de 2009.

Antes de District 9

Vejam as coisas como são: o diretor sul-africano Neill Blomkamp dirigiu aquele comercial da Citröen do carro que vira um robô e começa a dançar o hit do Les Rhytmes Digitales e resolveu usar a técnica de efeitos especiais daquele filme no curta Alive in Joburg (vídeo acima, dica do Terron), de 2006, em que conta a história de uma Johannesburgo nos anos 90 que tinha de lidar com alienígenas refugiados em suas ruas e naves gigantes sobrevoando em seus céus. Os efeitos e o tom documental do curta foram decisivos para que Peter Jackson chamasse Blomkamp para ser o diretor da adaptação para o cinema da série de games Halo. Mas o filme patinou, não saiu do lugar e os direitos do filme voltaram para a Microsoft que, pelo que Jackson diz na entrevista abaixo, está disposta a fazer o filme fora do sistema de Hollywood.

Halo at IGN.com

Para aproveitar o esforço gasto na pré-produção de um filme que não aconteceu, Blomkamp e Jackson resolveram retomar o tema inicial do curta Alive in Joburg e expandi-lo para um longa, District 9. E não duvide se o recente e, de certa forma, inesperado sucesso deste nos cinemas dos EUA faça com que a dupla de diretor e produtor volte a se aproximar do filme de Master Chief…

Apartheid alienígena

E por falar em paranóia, o novo filme produzido por Peter Jackson, District 9, foi bem recebido pela Variety.