Segura essa pedra: o Diiv, os heróis contemporâneos do shoegaze que acabaram de passar pelo Brasil, fizeram essa versão absurda para “Cream of Gold” do Pavement em sua recente ida aos estúdios da rádio SiriusXM, em Washington, nos EUA, e o resultado ficou foda demais. Muito bom ver que a banda de Stephen Malkmus está sendo finalmente reconhecida como uma das principais bandas de rock da história.
“São Paulo tem a melhor plateia da turnê”, disse Colin Caulfield, baixista do Diiv, que apresentou-se neste domingo no Cine Joia. Entre camadas pesadas e oníricas de microfonia e sussurros adocicados, a banda nova-iorquino apresentou-se pela segunda vez no país desfilando as músicas de seu disco mais recente, o excelente Frog in Boiling Water. Liderada pelo guitarrista e vocalista Zachary Cole Smith, a banda ainda conta com o segundo guitarrista Andrew Bailey e o baterista Ben Newman na formação, todos trabalhando nessa mistura de ruído com gosto de sonho que caracteriza o som do grupo, que localiza-se entre o noise, o shoegaze e o dream pop, com altas doses de guitarras pós-punk que ecoam do Cure ao Sonic Youth. Sem trocar muitas palavras com o público, a banda preferiu colocar imagens no telão, que misturavam infomerciais com sites com teoria da conspiração, trechos de telejornais e registros de redes sociais, marcas e logotipos, além de textos que explicavam, de forma irônica, o que a banda estava fazendo. O som do Joia, que normalmente pena quando recebe este tipo de artista, estava jogando bem a favor e, mesmo não estando muito alto (talvez exatamente por isso), deixava tanto a banda se ouvir quanto o público identificar cada instrumento e as contribuições de cada músico para o a carga sonora do grupo. Ao final da apresentação, pouco antes de anunciar a última música, o grupo engatou “Blankenship” e fez a plateia jogar-se numa imensa roda de pogo, a maior que já vi no Cine Joia – além de puxar um coro “olê olê olê Diivêêêêê Diivêêêêê”, o que encantou a banda a ponto do baixista fazer o comentário do início do texto. Noitaça!
Exausto depois do terceiro dia do Primavera Sound de Barcelona, nem filmei o Tyler the Creator porque assisti de longe, mas mesmo destruído, foram três dias mágicos que terminaram com uma missa pagã. Pulei o Gorillaz pra fritar numa improvável e soberba pista de drum’n’bass (tocada pelas DJs Crystallmess e Cõvco), pra sacar mais uma vez com o Diiv, meu primeiro show do Beach House e o vocalista do Idles botando o público todo pra sentar no chão. Mas a noite não teve outro dono: Nick Cave com seus Bad Seeds mais uma vez hipnotizou o público de Barcelona num ritual sagrado e profano, dando-se como se fosse a hóstia de sua própria missa. “Este é meu corpo, tomai e comei”, parecia dizer ao se jogar nos braços do público.