Destaque

Apocalypse Now

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Apocalypse Now (Apocalypse Now, 1979, EUA). Diretor: Francis Ford Coppola. Elenco: Martin Sheen, Marlon Brando, Robert Duvall, Dennis Hopper. Vencedor da Palma de Ouro em Cannes e dos Globos de Ouro de melhor diretor, melhor ator coadjuvante (Duvall) e trilha sonora. 153 min. (versão original)/ 202 min (Redux). Por que ver: Antes de ouvirmos as primeiras palavras ditas em voz alta pelo protagonista, assistimos à mistura de imagens, sons e idéias que, em pouco mais de um minuto, sintoniza nossa consciência ao trauma da guerra dos Estados Unidos no Vietnã: uma floresta de palmeiras, rasantes de helicópteros, uma névoa amarela que cresce junto com o instrumental dos Doors – Jim Morrison saúda as bombas sobre as árvores com seu “This is the end” clássico, enquanto vemos o enorme rosto de Martin Sheen de cabeça para baixo. “Saigon. Merda…”, diz o Capitão Willard, ao olhar a cidade pela veneziana, “ainda estou em Saigon”. Coppola adapta o Coração das Trevas de Joseph Conrad para o cinema transpondo a África e seus entrepostos comerciais do século dezenove para um contemporâneo Sudeste Asiático em guerra, mas preserva sua essência: a viagem a um inferno verde que também é uma viagem ao centro da sanidade mental. A missão de Willard é encontrar um certo Coronel Kurtz, um dos melhores militares do exército americano, que, após ser transferido para o meio da selva do Vietnã, aparentemente pirou e criou sua própria base militar autônoma. Na jornada, Willard é acompanhado de um time de jovens soldados que são uma boa amostra do tipo de jovens americanos que morreram nesta guerra (um moleque do Bronx nova-iorquino – Laurence Fishburne, então com 17 anos – , um ex-campeão de surfe, um chef de cozinha…) e passam por situações tão surreais quanto tétricas. O horror da guerra é transformado em uma ópera de cenas inacreditáveis, com toda a teatralidade do sangue italiano do diretor surgindo em imagens grotescas e hilárias, às vezes, ao mesmo tempo. E com um elenco impecável – a melhor atuação de Sheen, Hopper interpretando a si mesmo, Brando improvisando, Duvall épico –, Coppola supera a saga da família Corleone em um único filme, fazendo sua obra-prima. Mas Apocalypse Now é um filme maior do que sua duração: foi bancado todo com a grana que Coppola faturou com os dois primeiros filmes da série O Poderoso Chefão, levou três anos para ser concluído, teve o set destruído por um furacão, mudou de protagonista duas vezes (Roy Scheider e Harvey Keitel abandonaram o papel), teve problemas com Brando (que se negava a seguir o roteiro), enfartou o ator principal (durante as filmagens da primeira cena) e levou sexo, drogas e rock’n’roll para as Filipinas, onde foi filmado, em escala hollywoodiana. Tanto foi filmado que o diretor lançou sua versão autoral, chamada “Redux”, em 2001, acrescentando 49 minutos de cenas inéditas. Fique atento: Outro show de cenas fantásticas e texto preciso, é difícil sublinhar um só momento ou aspecto: da respiração tensa de Willard ao batalhão de caubóis em helicópteros liderados pelo personagem de Duvall, passando pelo tribalismo psicótico das cenas finais e a atuação plena de Brando – que só aparece no finzinho, mas com menos de vinte minutos de filme já toma o inconsciente de assalto, apenas com a voz, tudo é uma aula de cinema.

Brazil – O Filme

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Brazil – O Filme (Brazil, 1985. Inglaterra). Dir: Terry Gilliam. Elenco: Jonathan Pryce, Kim Greist, Michael Palin, Robert De Niro, Bob Hoskins, Ian Holm. 142 min. Por que ver: Também conhecido como 1984 1/2, numa referência tanto ao livro profético de George Orwell quanto ao work-in-progress 8 e 1/2 de Fellini, Brazil é uma fábula distópica sobre o espírito humano aprisionado em um sistema opressor. Gilliam, que desde o tempo em que fazia seus desenhos animados no Monty Python, já mostrava sua tendência para a alegoria, chocando uma caricatura da fleuma inglesa com cenas e situações nada sutis – mas incrivelmente belas. Aqui a burocracia é um organismo mecânico e vivo, que se comunica por telas e aparelhos dos anos 50. A direção de arte cria um futuro com cara de passado e é fácil se identificar com os delírios do personagem principal, à procura de uma musa que, mal sabe, é uma agente terrorista. Fique atento: Ao uso de “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, como a alma do filme. A canção é o motivo do filme levar este nome e foi a inspiração original para esta utopia às avessas de Gilliam.

Falando sozinho

Mais uma utilidade para o YouTube, possibilitar listas terem uma louvável muleta audiovisual, linkada direto do site. Tem várias de clipes e de cinema por aí (linkem, eu sempre curto), mas essa sobre monólogos ou discursos históricos de grandes filmes é bem foda. Pessoalmente sou fã da crise de stress do âncora de Rede de Intrigas e do cheiro matinal de Napalm do Apocalypse Now (mas, porra, ainda tem a citação bíblica de Pulp Fiction e a contagem de tiros do velho Harry, só pra ficarmos em outros duas jóias). Mas a minha citação favorita não tava na lista, mas não demorei muito pra encontrar.

(Tiraram a íntegra do ar, só sobrou:

)

Ferris Bueller, Curtindo a Vida Adoidado (1986): How can I possibly be expected to handle school on a day like this? The key to faking out the parents is the clammy hands. It’s a good non-specific symptom. A lot of people will tell you that a phony fever is a dead lock, but if you get a nervous mother, you could land in the doctor’s office. That’s worse than school. What you do is, you fake a stomach cramp, and when you’re bent over, moaning and wailing, you lick your palms. It’s a little childish and stupid, but then, so is high school. Life moves pretty fast. You don’t stop and look around once in a while, you could miss it. I did have a test today. That wasn’t bullshit. It’s on European socialism. I mean, really, what’s the point? I’m not European, I don’t plan on being European, so who gives a crap if they’re socialist? They could be fascist anarchists – that still wouldn’t change the fact that I don’t own a car. Not that I condone fascism, or any ism for that matter. Isms in my opinion are not good. A person should not believe in an ism – he should believe in himself. I quote John Lennon: “I don’t believe in Beatles – I just believe in me”. A good point there. Of course, he was the Walrus. I could be the Walrus – I’d still have to bum rides off of people“.

Ieah, rait… Vida Fodona, indeed (Ah é, falando em filme, o Maron pediu pra avisar que o 300 Filmesvendendo no Submarino).

300 Filmes

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Chegou nas bancas no finde passado (primeiro Rio e SP, depois o resto do Brasil) o guia 300 Filmes para Ver Antes de Morrer, mais um frila com a chancela de qualidade Trabalho Sujo. E não só a minha: o livro foi editado ao lado do Maron e tem textinhos de bambas como Fred Leal, Vladimir Cunha, Dafne Sampaio e Arnaldo Branco. Aqui tem uma pagininha não-oficial com alguns exemplos de páginas e dando uma geral no livrinho que, custando 20 pilas, é, fácil, o melhor guia de filmes publicado em bancas de jornal no Brasil.