Uma teoria para o futuro de Fringe, por Delfin

Como eu, o velho Delfin tá ansioso demais com o final da terceira emporada do melhor seriado de hoje em dia – a ponto de me cogitar uma teoria sobre o episódio dessa sexta-feira. Vamos a ela:

Unidade – Uma teoria para o futuro de Fringe

Não tem jeito. A cada episódio de Fringe, a melhor série de ficção científica desta temporada, mais as coisas se tornam irremediavelmente simples. Inevitáveis. Fique certo de que este texto pode conter spoilers para você que, ao contrário de mim, não está aguardando o último episódio da terceira temporada nesta sexta-feira. Se você consegue se conter em relação a isso, por favor, não leia. Se você, no entanto, gosta de uma boa teoria, esta é uma delas.

É preciso dizer que a morte de Osama bin Laden vem em boa hora, em todos os sentidos. No discurso feito na madrugada do último domingo para segunda-feira, anunciando oficialmente o feito da tropa de elite dos seus Navy Seals, Barack Obama disse em alto e bom tom: “E hoje, vamos pensar de volta no sentido de unidade que prevaleceu em 11 de setembro”. Pois, no final, a unidade é tudo o que realmente importa. Também é assim em Fringe.

Na série, desde o início, vemos exemplos claros disso. Logo no episódio-piloto, temos a reunificação de filho e pai, Peter e Walter Bishop, após anos de separação. Temos também o nascimento de um novo tipo de unidade entre Olívia e seu noivo, o recém-falecido agente John Scott. Ao passar dos episódios, vemos que a maior parte deles, em algum nível, sempre trata do tema da unidade, seja para sua realização ou para seu rompimento. Pode não ter sido proposital, mas é um dado que se torna fundamental no final desta temporada, e que certamente dará a tônica da próxima.

Mas há outro tipo de unidade envolvida: a numérica. O elemento único, no sentido mais puro do termo. Se você insistiu em ler até aqui, mesmo não gostando de spoilers, é sua última chance de voltar atrás, aviso dado. Pois somos colocados e confrontados, também desde a primeira temporada, com o fato de que Peter Bishop está morto e vivo no mesmo universo. O que leva à irrefutável conclusão de que existe outro universo, que quase tudo o que conhecemos existe em duplicidade, que Peter é uma peça-chave em tudo isso. E que, para consertar um erro do passado, os Observadores conduziram os dois universos, que deveriam coexistir pacificamente, para ativar um plano de contingência milenar, que estaria pronto caso algo desse errado: a ativação de uma máquina construída e planejada pelos ainda misteriosos Primeiros Homens. Uma máquina que, como todas as máquinas, pode ser utilizadas para fins pacíficos ou malignos, que não difere em nada, nesse sentido, dos mecanismos de energia nuclear, ou mesmo de simples meios de transporte, como os aviões utilizados para a destruição das Torres Gêmeas.

Vocês são fãs de quadrinhos? Não são? Nessa hora, deveriam ser. Especificamente, da DC Comics. O leitor dos heróis da casa de Super-Homem, Batman e Mulher Maravilha já passaram pela mesma angústia que o fã de Fringe passará nesta sexta-feira, mas há 25 anos.

Naquela época, aconteceu o evento cataclísmico que mudou não apenas a história da editora, mas dos paradigmas dos quadrinhos heróicos mundiais: a Crise nas Infinitas Terras. Pois, na DC, isso era uma verdade (que cientistas muito sérios começam a reconhecer e estudar há algum tempo): existem infinitas versões do planeta Terra e do próprio universo. E elas estavam sendo, uma a uma, destruídas.

As forças que moviam esta destruição estavam além da capacidade humana de compreensão, mas também havia uma força contrária, lutando para preservar, de algum modo, a vida como a conhecemos. Num lance ousado, quando restavam apenas cinco universos a serem dizimados, esta força decide colocar um plano em prática e faz o impensável: UNIFICA os cinco universos, com suas cinco vias lácteas, cinco sóis e cinco planetas Terra. E aquilo que um dia foi um multiverso se tornou, pragmaticamente, um universo unificado, com o que havia de melhor de cada mundo. E que, com uma união incrível de seres superpoderosos, suplantou o mal e fez com que este universo simples, mas completamente desconhecido e com uma história totalmente alterada, se tornasse o lar de todos, dali para a frente.

No caso da DC Comics, foi uma decisão comercial: a editora havia comprado tantas editoras e tantos heróis que não se encaixavam em seu universo heróico que, no fim, tiveram que desatar o seu nó górdio de um jeito inesperado. E que funcionou, afinal de contas.

No caso de Fringe, e você já entendeu o que eu estou sugerindo, a união dos universos é inevitável. É sintomático que a escolha da unificação recaia sobre Peter Bishop, porque ele é único em mais de um sentido: ele não apenas existe vivo em apenas um universo, mas também é o primeiro ser único a ultrapassar e viver nos dois universos mostrados na série. Universos que, por causa de uma falha do observador Setembro, foram imersos em um processo de contato, contaminação e subsequente destruição mútua. Desde então, é sugerido pelo próprio observador que há uma chance de corrigir essa falha. O que todos pensamos, na época, é que essa correção era deixar o Peter que conhecemos, vindo de outro universo, ser salvo por um Walter Bishop que não era o seu pai de verdade.

Uma mudança que, afinal, nos trouxe até o momento em que Peter Bishop, que era o único que poderia acionar a máquina dos Primeiros Homens por motivos ainda não completamente esclarecidos, entra no mecanismo e, então…

Unidade.

Mas no que esta unidade implica? Primeiramente, que existia uma unidade primordial e ela está restabelecida agora – e estes seriam os motivos de existirem máquinas idênticas e que se acionam em todos os universos quando uma delas é acionada, implicando também que os Primeiros Homens viveram em uma Terra unificada, pré-poliverso. Mas, principalmente, que nada será como antes. Pois, numa unificação universal, não podem existir dois de cada – como Peter claramente percebeu no penúltimo episódio da temporada, ainda que estivesse confuso quanto a isso. Mas se Peter Bishop (e todos aqueles que não possuem duplos em outro universo) está com um futuro garantido, qual versão dos outros seres vivos sobreviverá à unificação universal? Seria um processo aleatório ou, como na teoria da evolução, sobrevive o ser que melhor se adaptaria ao processo – ou, para sermos simplistas, o mais forte?

Se for assim, estaremos preparados para ver uma unificação universal na qual a Olívia que conhecemos bem sobrevivesse, mas tendo um filho único, que não é verdadeiramente dela (mas agora é), além de uma família novamente unificada, com mãe, irmã e sobrinha, todas vivas? Mas o pior de tudo, estaremos prontos para encarar o fato indiscutível de que, nesses termos, o Walternate seria o Walter sobrevivente? Sendo assim, num universo unificado, em que ambos os universos anteriores fossem destruídos, Walternate culparia Peter, seu próprio filho, pela destruição de seu mundo, prometendo destruir o dele – e, deste modo, não teríamos mais o doce e velho Walter, mas o maior vilão de todos, a mente mais brilhante do planeta e que é dono da maior empresa de tecnologia do mundo, a Massive Dynamics?

Ainda assim, resta uma questão preocupante: porque, em um universo unificado, como vimos no final do último episódio, o mundo ainda precisaria de uma divisão Fringe?

Será uma 4ª temporada, seja como for, de grandes surpresas e que promete ser, mais do que a atual temporada, uma sequência de episódios inquietantes, como uma ciência de borda ainda mais instigante e fora do comum, porque baseada em uma unificação de tecnologia de dois universos distintos e, portanto, inesperada.

Fringe nos aproxima, a cada dia, de um futuro inevitável, que pode até não ser tão próximo, mas que não está tão distante quanto muitos querem nos fazer crer. Pois, perceba, a série é muito mais conectada com o nosso tempo do que podemos imaginar. Basta lembrar do 11 de setembro de 2001. Hoje, quase dez anos depois, temos o aparente fecho de um círculo de eventos, com a morte de Osama bin Laden. Mas a placa que Peter Bishop vê no futuro indica que não é bem assim, que talvez os círculos não se fechem realmente.

Pois você deve ser informado: na DC Comics, vinte anos depois de sua unificação, nem tudo foram flores e um vilão, que era a mente mais brilhante e manipuladora de sua época, fez surgir novamente os múltiplos universos. O que não faria uma mente perturbada como a de Walternate, que certamente não aceitará a destruição de seu mundo, para ter sua realidade de volta?

O dia em que todos, como nos conhecemos, vamos morrer é esta sexta-feira. Depois disso, nos veremos em outra vida, brother.

Lost por Delfin

Nada me tira da cabeça que, se os produtores de Lost fizessem Hurley voltar ao penhasco em que quase se suicidou na 2ª temporada da série, os fãs seriam muito mais surpreendidos do que com o final que virá no domingo. Resta pouca coisa a acontecer. Há poucas teorias a serem exploradas agora. Tenho algumas na cabeça – fora essa do Hurley, que fica de brinde.

Uma delas é a mais fácil de acontecer e, nela, haverá um embate final entre Jack e Flocke, o bem vencerá o mal, o Man in Black continuará preso na ilha e Jack, coitado, ficará por lá protegendo a ilha para sempre. O problema desta teoria é que ela não explica os sidebacks, tornando a linha alternativa de tempo em que todos caminham para um final feliz meio inútil.

Entra em campo outra teoria: como em Donnie Darko, o que se acredita ser a linha real de tempo desde o início da série é, na verdade, a linha alternativa, que deve ser destruída para preservar o tempo original — que são os sidebacks. Explico: quando a ilha foi movida e Daniel Faraday percebeu que a destruição da ilha era a solução, ele certamente vislumbrou a cisão do tempo em duas frentes em 1977. Então, a partir daí, TUDO o que ocorreu a partir da explosão da bomba naquele ano, e isso inclui CINCO temporadas, é um universo tangente. Apenas na sexta somos apresentados, no tempo certo, ao que chamamos de sidebacks, a vida real. Na qual apenas Desmond tem o poder, como a constante que é, de tornar todos os losties conscientes do que houve. O fim parece óbvio: deter John Locke. Para quê? Nesta linha de pensamento, boa pergunta.

Há uma terceira teoria, que combina um pouco as duas, mas com outra premissa. Mantém-se o esquema Donnie Darko, a bomba, o esquema das realidades invertidas. Mas, no processo da destruição, Flock é quem vence Jack. Nesse sentido, explica-se porque Desmond quer detonar Locke: porque este, nos sidebacks, é na verdade Flock. E ele, Des, precisa despertar todos os losties para, talvez com a ajuda de Eloise Hawinkg, que aparentemente também está consciente de tudo, destruir definitivamente o Man in Black e, então, todos viverem felizes para sempre.

Há outras coisas a se considerar. Por exemplo, Christian Sheppard. Lost tem uma relação muito intrínseca com nomes. Basta ver a relação agora estabelecida entre Jack e Jacob. Não parece estranho que todas as aparições do pai de Jack sejam bem diferentes das aparições do monstro de fumaça? Ainda acho que isso ainda vai surpreender a todos e deve ter a ver com a luta de Jack e Flock. Afinal, não se esqueçam que Jacob estava fora da ilha quando se encontrou com os losties. Será que Jacob não saiu da ilha e, para retornar, utilizou Christian Sheppard?

Outra: por que o Miles está vivo? Lapidus está mesmo morto? E Claire, por que Flock não a matou? Mas principalmente Miles: se ele consegue ouvir os mortos, e os sussurros são os mortos, então ele pode descobrir a chave para resolver a luta contra o Flock. É bem a cara do J. J. Abrams tirar o foco dos personagens secundários e dar a eles uma inesperada, mas lógica, importância ao final. Não se esqueçam que, como Fábio Yabu percebeu, Miles foi o único a não conversar ainda com o MiB e, portanto, apenas ele estaria apto a matá-lo.

Mas e Walt? E Vincent (que já sabemos que ainda está por lá)? E Aaron? E as cinzas da Ilana?
À parte de teorias, há coisas que não saberemos jamais, porque se perderam completamente na história. Por exemplo, se você esperava saber algo sobre Henry Gale, o balonista negro, esqueça. Equação Valenzetti, campeã dos ARGs de Lost? Sequer citada na série. Qualquer relação de Gary Troup com a realidade (qualquer delas)? Nada. Quem construiu a estátua de Tawaret? Dois mil anos de realidade, em algum momento aconteceu, mas não vão explicar.

De algum modo, me parece claro que há uma relação intrínseca entre o episódio piloto e o final. Tanto que, no domingo, a maratona de conclusão de Lost começará com a reexibição do piloto.

Lembro da reação que tive quando assisti àquele episódio inicial pela primeira vez. Foi na primeira exibição brasileira, no AXN. Era 2005 e eu tinha ido para um lançamento literário na Mercearia São Pedro na noite anterior e, por causa do adiantado da hora, parei para dormir, na volta à Campinas, na casa dos meus pais. Quando acordei, fui direto para a sala, porque lá, ao contrário da minha casa, tinha tevê a cabo. Liguei o aparelho bem na hora em que Jack, que até aquele momento era só o irmão certinho e mais velho de Party of Five para mim, abre os olhos na ilha. Estava na cara que era algo especial acontecendo ali. Eu já tinha ouvido algumas coisas sobre a nova série do criador de Alias, mas não me toquei na hora. Só sei que o mistério e a tensão daquelas duas horas me fizeram querer ver mais daquilo. E aí perdido estava eu, junto com milhões de pessoas no mundo.

Todo mundo já comentou sobre o fenômeno transmídia da série, sobre a revolução que Lost representa para a experiência de ser espectador finalmente ativo. Eu quero destacar outro aspecto, no entanto, que é a renovação narrativa que Abrams, Cuse e Lindelof trouxeram para a tevê. Conseguiram emplacar, para o mundo todo ver, um programa televisivo que não era representante legítimo de apenas um nicho em nenhum momento. Lost começou como um thriller, passou a série investigativa, depois uma série de suspense, passou por momentos de fantasia e realismo fantástico, depois nitidamente era uma série de ficção científica. Mas em nenhum momento ela deixou de ser todos estes estilos, somando-se a eles pitadas dos bons e velhos romance romântico, drama e comédia. Mas isso só funcionou por conta da qualidade dos textos apresentados ao público, ainda que muitas vezes interpretados por atores que não passariam nem nos testes das novelas de mutantes da Record. A força desses roteiros, em minha opinião potencializados no período em que Brian K. Vaughan, exímio roteirista de quadrinhos americano, esteve envolvido com Lost, é que fizeram com que a série conquistasse os fãs de cara e, com isso, tornassem naturalmente possíveis os planos do trio criador.

Foi assim comigo. E, acredite, mesmo que você não se dê conta, foi assim contigo também.
Assunto puxa assunto quando a gente fala de Lost e, como eu disse numa DM ao Matias, é foda escrever apenas um texto sobre isso. Este mesmo já foi reescrito umas quatro vezes, porque não podia ficar comprido demais (mais gente quer dar o seu pitaco por aqui). Dá vontade de falar de tudo e de coisas que muita gente nem se toca: a importância da Lostpedia no cenário wiki mundial; a música de Michael Giacchino e sua vital relevância; as homenagens a diversos escritores durante toda a série e as influências de cada um nos roteiros e na trama; as conexões de Lost com o Universo J. J.; a quantidade de gente que sistematicamente aposta os números malditos nas loterias em volta do globo (quem aí nunca fez isso?); a conexão misteriosa entre os campeonatos italianos ganhos pela Inter de Milão e o tempo de exibição da série; etc.

Seja como for, tudo se acaba no domingo. Ou, como estou propenso a acreditar, tudo apenas se encaminha para uma resolução que, ao contrário do que o título do episódio spoileia, ainda não será realmente o final. Para você ficar pensando aí, mando miniteorias que são incongruentes entre si:

– Tudo é mesmo uma piração do Hurley e ainda assim ele será feliz com a Libby no hospital;

– Desmond é o Donnie Darko da vez;

– Sawyer, o grande desajustado, será o herói do dia;

– O curso da história em que eu e você vivemos é o errado e é um erro estarmos aqui;

– Cada um de nós é o Man in Black.

See you in another life!

* Delfin está lançando a Machado.

Battlestar Galactica: The Disquiet Follows My Soul

Episódio fraco, provavelmente por ter sido a estréia de Ron D. Moore na direção, The Disquiet Follows My Soul fez Battlestar Galactica voltar àqueles momentos de muita falação, política e movimentação interna – seria um episódio normal caso acontecesse em temporadas anteriores, mas com apenas nove episódios para a série terminar de vez, pode ser classificado como uma senhora encheção de lingüiça. Continuamos acompanhando a decadência das autoridades de Roslin e Adama ao mesmo tempo em que descobrimos que o filho de Tyrroll não é um cylon e que o bebê de Saul e Six pode ser o primeiro de “nação cylon” (ecoando referências à nação ariana que o nazismo aspirava). Nada sobre o quinto cylon (uma bola fora do jovem Adama, mas dita sem contexto – quando ele soube que Ellen era o cylon final? – e sem desdobramento no próprio episódio), nada sobre a mitologia, sobre o cataclisma nuclear na Terra ou sobre pra onde a frota está indo. Fora isso, o segundo episódio da safra final do seriado pode ser resumido em algumas poucas cenas e em um único fato: vem um motim aí. Mas não precisava gastar tanta película para contar isso. E agora faltam só oito episódios pra tudo acabar.

Falando nisso, o Delfin que veio com uma boa teoria sobre o final de Battlestar (mas não postou… Tsc): que a série é sobre o fim da humanidade e que o tal “The Plan” dos cylons alardeado desde o primeiro episódio é simplesmente matar todo mundo. Faz sentido e é algo tão ousado quanto os movimentos já propostos pela série. Mas pode dar uma impressão de deus ex-machina (tipo “era tudo um sonho”) pro final da série que eu acho que pegaria malzaço – incluindo para a audiência dos subprodutos já agendados (o longa The Plan e a série Caprica).

So say we all.