David Lynch (1946-2025)
A morte súbita de David Lynch de alguma forma já estava marcada depois que um dos principais autores do século 20 foi diagnosticado com complicações pulmonares, que lhe obrigaram a parar de fumar. O fim do hábito que cultivava desde os 8 anos de idade e era tão característico de sua personalidade no ano passado, de alguma forma acelerou o processo de despedida de Lynch, cujos pulmões também sofreram com a fumaça dos recentes incêndios californianos que assolaram o ar da cidade que escolheu para morar, Los Angeles. Um artista surrealista temporão, ele trouxe todo o credo daquela escola do começo do século para o cinema comercial e depois para a TV e convenceu indústria e público que não era preciso explicar-se para fazer sentido. Sua noção de significado e expressão artística passava necessariamente por sua régua lúdica, com a qual brincava com a dúvida, o desconhecido e o onírico em histórias que mexiam com arquétipos básicos da narrativa contemporânea: o detetive, a estrada, a garota perfeita, o anti-herói, o maluco, o executivo, a femme fatale e a garota ao lado, sempre equilibrando-os entre o delicado e o anormal, o nonsense e o sarcástico, o radiante e o sombrio. Mas sua principal obra vai além de clássicos únicos como Veludo Azul, Cidade dos Sonhos, Eraserhead, O Homem Elefante, Coração Selvagem, A Estrada Perdida, História Real, Império dos Sonhos e sua obra-prima, as três temporadas e o filme e os extras do universo Twin Peaks, que era sua versão da Bíblia. Sua maior contribuição é sua própria persona, um artista exigente e afável que misturava arte, trabalho e vida como se estas três partes fossem uma coisa só – e seus melhores alunos sabem que realmente são. Obrigado, mestre.
Tags: david lynch, quem morreu 2025