Máquina do Tempo: 1° a 30 de novembro

billboard
1° de novembro – O lançamento da revista Billboard, o dia que o mundo conheceu o disco Abbey Road, a morte de Yma Sumac e o aniversário de Pabllo Vittar

youresovain
2 de novembro – Carly Simon lança “You’re So Vain”, a primeira vez do termo “Beatlemania” é a prisão do pai de Marvin Gaye

Vanilla-Ice
3 de novembro – “Ice Ice Baby” levando o rap ao topo das paradas pela primeira vez, a volta dos Righteous Brothers e censura a shows de rock!

good-vibrations
4 de novembro – Os Beach Boys lançam “Good Vibrations”, My Bloody Valentine lança o Loveless e morre Fred “Sonic” Smith

d2
5 de novembro – Aniversário de D2, Thaíde e Mr. Catra, a estreia do programa de Nat King Cole e a morte de Link Wray


6 de dezembro – Taylor Swift lança 1989, os Sex Pistols estreiam ao vivo (por dez minutos!) e os Monkees lançam um filme lóki

ary-barroso
7 de novembro – O nascimento de Ary Barroso, o último show de Aretha Franklin e a morte de Leonard Cohen

led-zeppelin-iv
8 de novembro – O lançamento do quarto disco do Led Zeppelin, David Bowie no programa da Cher e o filme que deu um Oscar pro Eminem

rolling-stone
9 de novembro – É lançada a revista Rolling Stone, o disco 36 Chambers do Wu-Tang Clan, John conhece Yoko e Bowie toca ao vivo pela última vez

queen
10 de novembro – A gravação do clipe de “Bohemian Rhapsody”, o primeiro rap a entrar na lista dos mais vendidos e Chaka Khan com Prince, Stevie Wonder e Melle Mel

twovirgins
11 de novembro – John & Yoko lançam Two Virgins, Bill Haley chega ao topo das paradas e Dylan lança seu primeiro livro

likeavirgin
12 de novembro – Madonna lança o disco Like a Virgin, o estúdio Abbey Road é fundado e o Velvet Underground faz seu primeiro show

qotsa-bataclan
13 de novembro – Atentado terrorista no show do Eagles of Death Metal, “Feelings” ganha o disco de ouro e morre Ol’ Dirty Bastard

Black-or-White
14 de novembro – Michael Jackson lança o clipe de “Black Or White”, Ray Charles chega pela primeira vez ao topo e Pete Townshend assume que é bissexual

millivanilli
15 de novembro – Empresário do Milli Vanilli assume que dupla é uma fraude, Janis Joplin é presa por xingar um guarda e os Dire Straits dominam as paradas

candeia
16 de novembro – A morte de Candeia, a prisão do baterista do Clash e os Stones tocam na festa privê de um bilionário

Composer Heitor Villa-Lobos at the Piano
17 de novembro – Morre o maestro Heitor Villa-Lobos, o primeiro disco das Spice Girls e Patti Smith ganha o National Book Award

genesis-lamb-lies-down
18 de novembro – Genesis lança o clássico The Lamb Lies Down on Broadway, morre Danny Whitten da Crazy Horse de Neil Young e o Nirvana grava seu Acústico MTV

michael-varanda
19 de novembro – Michael Jackson pendura o filho bebê na varanda, Carl Perkins grava “Blue Suede Shoes” e Zappa conclui sua ópera Joe’s Garage

keithmoon
20 de novembro – Keith Moon passa mal e fã termina o show tocando bateria com o Who, Isaac Hayes chega ao topo e Bo Diddley é banido da TV

petergrant
21 de novembro – A morte de Peter Grant, o empresário que fez o Led Zeppelin acontecer, Olivia Newton John emplaca “Physical” e os Beatles lançam Anthology

MichaelHutchence
22 de novembro – A morte acidental do líder do INXS, Michael Hutchence, o início da carreira de Simon & Garfunkel e Pearl Jam apenas em vinil

Jerry-Lee-lewis-mugshot
23 de novembro – Jerry Lee Lewis é preso após baixar armado na casa de Elvis Presley, Pink Floyd nas paradas de sucesso e morre Adoniran Barbosa

Freddie-Mercury
24 de novembro – Morre Freddie Mercury, Howlin’ Wolf toca na Inglaterra e o Crowded House encerra suas atividades

bodyguard
25 de novembro – Estreia Guarda-Costas o filme que catapultou a carreira de Whitney Houston, surge a primeira gravadora online e morre Nick Drake

hacienda
26 de novembro – O clube Haçienda é leiloado, o Cream faz seu último show e Richey Edwards, dos Manic Street Preachers, é declarado morto

justifymylove
27 de novembro – O clipe de “Justify My Love” é banido da MTV, Hendrix comemora aniversário num show dos Stones e o Pavement termina ao vivo

elton-lennon
28 de novembro – John Lennon toca pela última vez ao vivo (ao lado de Elton John), Kurt Cobain zoa o Top of the Pops e Britney dá a volta por cima

susanboyle
29 de novembro – O fenômeno Susan Boyle cumpre a promessa em seu primeiro álbum, morre George Harrison e Taylor Swift substitui a si mesma no topo

cartola
30 de novembro – Morre Cartola, Michael Jackson lança Thriller, Madchester chega ao Top of the Pops e Joey Ramone vira um quarteirão em NY

Bowie na HBO

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Documentário produzido pela BBC sobre os últimos anos de David Bowie acaba de ser comprado pela emissora norte-americana – escrevi sobre isso no meu blog no UOL.

The Last Five Years foi um documentário produzido pela BBC inglesa nos últimos cinco anos da vida de um dos artistas mais criativos de nossos tempos, o inglês David Bowie, que morreu no início de 2016. Lançado na Inglaterra no início de 2017, o filme foi comprado pela emissora norte-americana HBO e será lançado no dia em que Bowie completaria 71 anos, dia 8 de janeiro nos Estados Unidos e possivelmente em outras emissoras afiliadas do canal espalhadas pelo mundo.

O documentário traça o período em que Bowie voltou a produzir novos discos depois de diminuir suas aparições públicas consideravelmente. Durante estes cinco anos, ele lançou dois álbuns aclamados pela crítica, o sóbrio The Next Day (lançado em 2013) e o críptico e ousado ★, seu vigésimo quinto disco, que veio a público dois dias antes de sua morte e impressionou a todos como um de seus discos mais sérios e um epitáfio sobre sua carreira.

O dia em que David Bowie tocou com o Devo

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Mark Mothersbaugh, líder do Devo, narra histórias de bastidores do primeiro disco de sua banda, que incluem causos com David Bowie, Brian Eno e gente do rock alemão dos anos 70 – falei sobre o relato no meu blog no UOL.

O registro de uma conexão improvável entre dois gigantes da música moderna foi encontrado recentemente por um de seus autores, quando o líder da banda new wave Devo revelou que teria gravações de seu grupo ao lado de ninguém menos que David Bowie. A revelação aconteceu na noite desta segunda-feira, quando, num encontro na loja de discos Sonos, em Nova York. Mark Mothersbaugh, fundador e principal mentor do grupo Devo, era uma das atrações em um painel de discussão sobre a importância de David Bowie, cuja morte completa dois anos no próximo mês, e reuniu nomes como o músico Nikki Sixx do Mötley Crüe, a líder do grupo Perfect Pussy (e ex-VJ da MTV norte-americana) Meredith Graves e o fotógrafo Mick Rock, todos contando histórias do tempo em que conheceram o ícone inglês. O papo teve a mediação feita pelo jornalista Rob Sheffield.

“David Bowie chegou e disse: ‘Quero produzir vocês”‘, lembrou Mothersbaugh quando se referia a um dos primeiros shows de sua banda, no meio de 1977, na casa Max’s Kansas City. “E nós falamos que não tínhamos contrato com gravadoras. E ele disse: ‘Não importa, eu pago”‘. Essa foi apenas uma das histórias contadas pelo líder do Devo, de acordo com o blog Bedford and Bowery.

Mothersbaugh continuou lembrando que Bowie não falou da boca pra fora e que o músico inglês subiu no palco para acompanhar a banda no segundo show que eles fizeram naquele lugar, no mesmo dia. “Ele subiu no palco e disse: ‘Essa é a banda do futuro e eu vou produzi-los este natal em Tóquio!’ E nós todos ficamos: ‘Parece ótimo. Estamos dormindo em uma van em frente ao Bowery essa noite, em cima do nosso equipamento”. Aquela noite terminou com Bowie levando a banda para seu hotel, levando-os para comer sushi, coisa que eles nunca tinham visto na vida.

Meses depois, Brian Eno, que produziria o primeiro disco do Devo (Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!, de 1978) levou a banda para o estúdio Conny Plank, em Colônia, na Alemanha, e no primeiro dia de gravação tocou em uma sessão com o grupo, David Bowie e outros músicos alemães. “O Devo tocou com David Bowie, Brian Eno, Holger Czukay (do grupo alemão Can) e alguns outros músicos eletrônicos alemães que estavam por ali”, revelou Mark, que também contou que acabou de reencontrar a gravação histórica deste dia. “Eu ainda não a escutei, mas acabei de encontrar esta fita”, contou.

Como se não bastasse, ele ainda contou as fitas originais das gravações do primeiro disco, gravadas em 24 canais e cheias de anotações feitas por Eno. “Tem umas faixas com coisas escritas como ‘vocais de David’ e ‘sintetizadores extra de Brian’ e eu de repente eu lembro que tirei essas participações quando estávamos fazendo a mixagem final do disco”, explicou, acrescentando que não usou essas gravações no disco final porque haviam se envolvido com empresários picaretas, levando-o a se tornar “completamente paranoico em relação a pessoas se metendo nas nossas coisas”.

No final, Mothersbaugh deixou a dúvida no ar. “Acho que deveríamos ver o que tem nessas fitas. Estou realmente curioso pra saber o que diabos fizemos.”

“Heroes”, 40 anos

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Outro clássico de David Bowie lançado em 1977 faz aniversário hoje – escrevi sobre “Heroes” no meu blog no UOL.

A fase Berlim de David Bowie não foi apenas seu ápice criativo, foi também seu período de amadurecimento e de desintoxicação. Ao sair da Los Angeles em que era tratado como realeza e mudar-se para uma cidade que ninguém parecia dar muita bola para sua fama, o músico inglês tomou vários choques de realidade. Depois de conquistar seu país e os Estados Unidos, ele se reencontrava com o Velho Continente apenas para perceber que nunca o havia conhecido. A frieza de viver em uma cidade dividida ao meio após a Segunda Guerra Mundial no auge da Guerra Fria também lhe causava uma sensação de estranhamento desagradável e a ausência de cocaína na Alemanha daquele período o obrigou a repensar sua própria biografia de diversos pontos de vista.

O principal alicerce nessa fase foi sem dúvida o produtor inglês Brian Eno. Velho amigo de David Bowie, o ex-Roxy Music abandonara de vez os palcos após dois anos com a banda liderada por Bryan Ferry, para dedicar-se ao estúdio, que encarava como um instrumento musical. Diplomado em arte, Eno começava a aplicar a lição que os Beatles e o Pink Floyd exercitaram na virada dos anos 60 para os 70 para um novo patamar e abria mão das canções, de formatos pré-estabelecidos, de instrumentos identificáveis e do ritmo, embarcando em uma viagem quase visual da música, cultivando timbres e texturas sonoras mais do que letras ou melodias. A utilização de sintetizadores e outros instrumentos eletrônicos o tornaram o pai da ambient music, que tinha como uma de suas inspirações as vertentes mais zen do rock psicodélico alemão, vulgarmente conhecido como krautrock.

Eno estava na Alemanha, produzindo o grupo Harmonia, quando Bowie mudou-se para Berlim. O contato entre os dois foi rápido e logo estavam trabalhando juntos, produzindo uma das maiores obras da carreira de Bowie, o monumental disco Low. Contudo, o disco inaugural da fase Berlim de David Bowie, lançado em janeiro de 1977 (cujo aniversário de 40 anos celebrei neste texto), não foi fruto daquela cidade. A maior parte de Low já chegou pronta no estúdio e foi registrada em sua maioria na França, no Castelo de Hérouville. Apenas algumas partes foram gravadas em Berlim, mesmo que a influência da cidade alemã já pudesse ser sentida nas letras e nos títulos das canções.

E por mais que Low tenha iniciado a relação de Bowie com Eno de forma avassaladora, a colaboração entre os dois foi selada de fato no disco seguinte, lançado no dia 14 de outubro de 1977, há exatos 40 anos. “Heroes” – entre aspas mesmo – não é tão importante quanto o disco anterior, mas é o álbum que consagra não apenas a nova fase da carreira do compositor como o eterniza como um dos principais nomes da música pop do século passado, forjando parâmetros que ajudaram a moldar o pop deste século. É o ponto de amadurecimento de um compositor seguro de si mas disposto a correr riscos e o disco que traga aquela que é considerada sua canção mais emblemática.

Brian Eno, Robert Fripp e David Bowie nos estúdios Hansa, em Berlim.

Brian Eno, Robert Fripp e David Bowie nos estúdios Hansa, em Berlim.

Foi um disco praticamente composto em estúdio. Apenas uma música – “Sons of the Silent Age” – chegou pronta ao hoje mítico Hansa, um estabelecimento que nos anos 30 e 40 era um salão de bailes nazista e nas décadas seguintes uma sala de gravação de concertos, até começar, em 1974, a gravar discos comerciais, sempre a poucos metros do infame Muro de Berlim. Low e “Heroes” (bem como os dois discos de Iggy Pop que Bowie produziu nesta mesma fase, The Idiot e Lust for Life) foram os primeiros grandes álbuns a sair de suas dependências, abrindo caminho para obras clássicas de artistas de peso como Depeche Mode, Killing Joke, Nick Cave & the Bad Seeds, Marillion, Siouxsie & the Banshees, Wire, Pixies, U2, Snow Patrol, Supergrass, Psychedelic Furs, R.E.M. e Manic Street Preachers, entre outros.

Para ajudá-lo neste novo álbum, Bowie mais uma vez chamou Brian Eno para ser seu parceiro e o produtor Tony Visconti, que também havia trabalhado em Low bem como em discos anteriores de Bowie (como seu disco de estreia, The Man Who Sold the World, David Live e Young Americans). Os dois passaram a explorar a acústica do espaço com os timbres eletrônicos e alienígenas propostos pelos sintetizadores trazidos por Eno, sempre preparando terreno para Bowie sentir-se à vontade para compor.

Como Low, “Heroes” também vinha dividido conceitualmente em dois lados. O primeiro deles, dedicado às canções, abre sorrateiro com um hino à vida sem drogas. “Eu queria acreditar em mim, eu queria ser bom, não queria distrações, como todo bom garoto deveria”, cantava imponente em “Beauty and the Beast” sobre uma paisagem sonora conduzida por um piano e um groove elétrico-eletrônico que repetem o mesmo motivo por toda a música, “nada nos corromperá, nada competirá, felizmente os céus nos deixaram de pé.”

Logo no início do disco é possível ouvir um novo som, metálico e elétrico, completamente distinto das paisagens etéreas de Low. Foi a arma secreta que Eno sacou para o disco, ao convidar o guitarrista Robert Fripp, que havia se aposentado do grupo King Crimson – e da música – três anos antes para estudar as obras do mago armênio George Ivanovich Gurdjieff (voltando para o disco apenas no primeiro disco de Peter Gabriel, gravando sob pseudônimo). Depois de muito conversar com Fripp pelo telefone, Brian o convenceu a vir para o estúdio por uma semana, quando o disco já tinha sido composto e estava sendo finalizado. Sem ouvir nenhuma música nem conhecer David Bowie pessoalmente, Fripp chegou no Hansa, ligou seu instrumento e começou a tocar sobre as canções já existentes. Como quase todo o disco, as participações de Fripp foram registradas no primeiro take, mostrando sua capacidade extraordinária de adaptação, além de sua assinatura musical indefectível. Ao lado de Eno, ficava à vontade para exibir sua criação coletiva, uma técnica chamada de Frippertronics, criada no disco que os dois compuseram juntos em 1973, (No Pussyfooting), e utilizada nos dois primeiros discos solos de Brian, Here Comes the Warm Jets e Taking Tiger Mountain (By Strategy), ambos de 1974. A técnica consistia em repetir os sons elétricos da guitarra de Fripp através de loops eletrônicos e mudou completamente a forma como o guitarrista tocava seu instrumento.

O fato do estúdio ficar do lado do Muro de Berlim – e de sua mesa de controle ser possível avistar os soldados armados em eterna vigília – causava a sensação de estarem não apenas entre dois sistemas políticos, mas entre duas metades. A gravação de “Heroes” foi marcada por essa dualidade, que se refletia entre a música pop e a arte clássica, atrito capturado por Eno e Bowie durante toda a estada em Berlim. Em “Heroes” ela vinha também traduzida pelo aspecto globalista da cidade, em que cidadãos de todas as partes do mundo conviviam numa cidade marcada pela tensão pré-apocalipse. Isso se refletia principalmente no lado instrumental do disco, quando Bowie passou a tocar o instrumento japonês koto na faixa “Moss Garden” ou ao tom árabe da melodia de seu sax na faixa “Neuköln”. “V-2 Schneider”, batizada em homenagem a um dos integrantes do Kraftwerk, Florian Schneider, retribuía a citação que o grupo alemão pai da música eletrônica fez ao próprio Bowie na faixa-título em seu álbum Trans Europe Express, lançado em março daquele ano (citando o disco Station to Station e um encontro com Bowie e Iggy Pop).

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Mas o grande momento do disco é sem dúvida sua faixa-título. Logo que definiram o tom da canção, Fripp achou onde encaixaria sua guitarra e aquele ruído sintético que ia e voltava o atingiu com força, a ponto de tornar seu registro da canção decididamente emotivo. Com microfones espalhados pela sala de gravação do Hansa, Eno conseguia capturar tanto os sussurros do início da interpretação como seu momento mais arrebatador, justamente quando fala dos amantes que se encontram à beira do fatídico muro. A inspiração havia surgido quando o produtor Tony Visconti fugiu do estúdio para encontrar-se com a vocalista Antonia Maass, com quem teve um caso à época da gravação. Bowie viu a cena do próprio estúdio sem que os dois percebessem e capturou aquele momento para dentro da canção, a cena mais intensa e apaixonada dessa que é considerada uma de suas maiores canções.

A capa do disco, em preto e branco, saiu de uma sessão de fotos feita pelo japonês Masayoshi Sukita e a imagem escolhida, como a imagem escolhida para a capa de The Idiot, do Iggy Pop, foi inspirada pela pose do personagem da tela Roquairol, pintada pelo alemão Erich Heckel em 1917. Empacotado com aquela imagem reflexiva e robótica, “Heroes” foi lançado pela gravadora RCA com dois slogans publicitários. O primeiro indicava que Bowie ultrapassa gerações (“Há a velha onda. Há a nova onda. E há David Bowie”) e o outro dizia que “o amanhã pertence àqueles que conseguem o ver chegando”, este cunhado pelo próprio Bowie. Ele sabia exatamente o que estava fazendo.

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Vida Fodona #559: Um upgrade, né?

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Retomando a periodicidade…

Holy Fuck – “Red Lights”
Angel Olsen – “Specials”
Electrelane – “The Valleys”
Maglore – “Quando Chove no Varal”
Metá Metá – “Angoulême”
Hüsker Dü – “Pink Turns to Blue”
Hüsker Dü – “She Floated Away”
Hüsker Dü – “Never Talking to You Again”
Hüsker Dü – “Green Eyes”
Hüsker Dü – “She’s A Woman (And Now He Is A Man)”
Hüsker Dü – “Turn on the News”
Deee-Lite – “Deee-Lite Theme”
BaianaSystem + Titica – “Capim Guiné”
Glue Trip – “La Edad Del Futuro”
Tatá Aeroplano + Bárbara Eugenia – “Luz no Fim do Mundo”
Tim Bernardes – “Ela Não Vai Mais Voltar”
Rimas & Melodias – “Origens”
Baco Exu do Blues – “Te Amo, Disgraça”
Flora Matos – “Perdendo o Juízo”
Bonifrate – “Lei de Remédios”
Depeche Mode – “Heroes”
Courtney Barnett + Kurt Vile – “Continental Breakfast”
Gus Gus – “Polyesterday”
Neil Young – “Ride My Llama”
The National – “Nobody Else Will Be There”

Depeche Mode ♥ David Bowie

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O Depeche Mode vem homenageando David Bowie em sua atual turnê pelos Estados Unidos ao revisitar o clássico hino “Heroes”, que completa 40 anos em 2017, e aproveitou a proximidade do aniversário da canção para registrar sua versão em estúdio.

Ficou demais. E não custa lembrar que ano que vem tem Depeche Mode no Brasil.

David Bowie em 100 livros

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A personalidade do mítico popstar reflete-se na escolha de seus 100 livros favoritos de sua biblioteca, lista que republiquei em meu blog no UOL.

Uma biblioteca talvez seja uma das melhores formas de entrar dentro da cabeça de qualquer pessoa – e quando essa pessoa é David Bowie, conhecer suas leituras é a porta de entrada para uma viagem e tanto. Geoffrey Marsh e Victoria Broackes, curadores da exposição David Bowie Is, que agora chega à Art Gallery of Ontario, no Canadá, acabam de revelar uma lista contendo uma centena de livros que figuram entre os favoritos do ícone pop que morreu em janeiro do ano passado. É uma lista de fôlego considerável, tanto em termos de variedade de temas quanto sobre profundidade dos assuntos, reunindo livros sobre política, psicologia, história, arte, sociedade, religião, música, comportamento e clássicos da literatura, como a Ilíada de Homero, o Inferno da Divina Comédia de Dante, 1984 de George Orwell, O Grande Gatsby de F. Scott Fitzgerald e Pé na Estrada, de Jack Kerouac. Mas saltam à vista livros sobre crítica cultural (de Charlie Gillete, Otto Friedrich, George Steiner e Colin Wilson), cultura pop (como os de Jon Savage, Greil Marcus e Nik Cohn), sobre magia (os de Edward Bulwer-Lytton, Elaine Pagels e Eliphas Lévi), revistas de humor e de quadrinhos, ousados romances contemporâneos de autores como Richard Cork, Don DeLillo, Julian Barnes, Martin Amis, Ian McEwan, Michael Chabon e Anthony Burgess, além do curioso Nova Técnica de Convencer: Persuasão oculta, domínio do público pelo subconsciente, sugestão subliminar, um item interessante dentro da biblioteca de um mestre do convencimento global. Consegui encontrar algumas versões em português para alguns livros citados, mas parte deles não foi lançada em nosso idioma. Se alguém encontrar alguma versão em português para algum livro mencionado em inglês, por favor acrescente nos comentários. E se quiser ver a lista original basta acessar o site da revista canadense Open Book:

The Age of American Unreason – Susan Jacoby (2008)
A Fantástica Vida Breve de Oscar Wao – Junot Diaz (2007)
The Coast of Utopia (trilogia) – Tom Stoppard (2007)
A Criação da Juventude – Jon Savage (2007)
Na Ponta dos Dedos – Sarah Waters (2002)
O Julgamento de Kissinger – Christopher Hitchens (2001)
Mr. Wilson’s Cabinet of Wonder – Lawrence Weschler (1997)
Tragédia de um Povo: A Revolução Russa 1891-1924 – Orlando Figes (1997)
O Ataque – Rupert Thomson (1996)
Garotos Incríveis – Michael Chabon (1995)
O Pintor de Pássaros – Howard Norman (1994)
Kafka Was The Rage: A Greenwich Village Memoir – Anatole Broyard (1993)
Beyond the Brillo Box: The Visual Arts in Post-Historical Perspective – Arthur C. Danto (1992)
Personas Sexuais: Arte e Decadência de Nefertite a Emily Dickinson – Camille Paglia (1990)
David Bomberg – Richard Cork (1988)
Sweet Soul Music: Rhythm and Blues and the Southern Dream of Freedom – Peter Guralnick (1986)
O Rastro dos Cantos – Bruce Chatwin (1986)
Duplo Diabólico – Peter Ackroyd (1985)
Nowhere To Run: The Story of Soul Music – Gerri Hirshey (1984)
Noites no circo – Angela Carter (1984)
Grana – Martin Amis (1984)
Ruído Branco – Don DeLillo (1984)
O Papagaio de Flaubert – Julian Barnes (1984)
A Vida e a Época de Little Richard – Charles White (1984)
A People’s History of the United States – Howard Zinn (1980)
Uma confraria de Tolos – John Kennedy Toole (1980)
Entrevistas com Francis Bacon – David Sylvester (1980)
Darkness at Noon – Arthur Koestler (1980)
Poderes Terrenos – Anthony Burgess (1980)
Raw (revista em quadrinhos) (1980-91)
Viz (revista) (1979 –)
Os evangelhos gnósticos – Elaine Pagels (1979)
Metropolitan Life – Fran Lebowitz (1978)
In Between the Sheets – Ian McEwan (1978)
Escritores em Ação – As famosas entrevistas à Paris Review – editado por Malcolm Cowley (1977)
The Origin of Consciousness in the Breakdown of the Bicameral Mind – Julian Jaynes (1976)
Tales of Beatnik Glory – Ed Saunders (1975)
Mystery Train – Greil Marcus (1975)
Selected Poems – Frank O’Hara (1974)
Antes do Dilúvio: Um retrato da Berlim nos anos 20 – Otto Friedrich (1972)
No Castelo do Barba Azul: Algumas notas para a redefinição da cultura – George Steiner (1971)
Octobriana and the Russian Underground – Peter Sadecky (1971)
The Sound of the City: The Rise of Rock and Roll – Charlie Gillete (1970)
Em Busca de Christa T. – Christa Wolf (1968)
Awopbopaloobop Alopbamboom: The Golden Age of Rock – Nik Cohn (1968)
O Mestre e Margarida – Mikhail Bulgakov (1967)
Journey into the Whirlwind – Eugenia Ginzburg (1967)
Última Saída Para o Brooklyn – Hubert Selby Jr. (1966)
A Sangue Frio – Truman Capote (1965)
As Cidades da Noite – John Rechy (1965)
Herzog – Saul Bellow (1964)
Puckoon – Spike Milligan (1963)
The American Way of Death – Jessica Mitford (1963)
O Marinheiro que Perdeu as Graças do Mar – Yukio Mishima (1963)
Da Próxima Vez, o Fogo: Racismo nos EUA – James Baldwin (1963)
Laranja Mecânica – Anthony Burgess (1962)
Dentro da Baleia e outros ensaios – George Orwell (1962)
A Primavera da Srta. Jean Brodie – Muriel Spark (1961)
Private Eye (revista) (1961 –)
On Having No Head: Zen and the Rediscovery of the Obvious – Douglas Harding (1961)
Silence: Lectures and Writing – John Cage (1961)
Strange People – Frank Edwards (1961)
O Eu Dividido: Estudo Existencial da Sanidade e da Loucura – R. D. Laing (1960)
All The Emperor’s Horses – David Kidd (1960)
Billy Liar – Keith Waterhouse (1959)
O Leopardo – Giuseppe Di Lampedusa (1958)
Pé na Estrada – Jack Kerouac (1957)
Nova Técnica de Convencer: Persuasão oculta, domínio do público pelo subconsciente, sugestão subliminar – Vance Packard (1957)
Almas em Leilão – John Braine (1957)
A Grave for a Dolphin – Alberto Denti di Pirajno (1956)
O Outsider: O Drama Moderno da Alienação e da Criação – Colin Wilson (1956)
Lolita – Vladimir Nabokov (1955)
1984 – George Orwell (1948)
The Street – Ann Petry (1946)
Black Boy – Richard Wright (1945)
The Portable Dorothy Parker – Dorothy Parker (1944)
O Estrangeiro – Albert Camus (1942)
O Dia do Gafanhoto – Nathanael West (1939)
The Beano (quadrinhos) (1938 –)
O Caminho para Wigan Pier – George Orwell (1937)
Os destinos do Sr. Norris – Christopher Isherwood (1935)
English Journey – J.B. Priestley (1934)
Infants of the Spring – Wallace Thurman (1932)
The Bridge – Hart Crane (1930)
Vile Bodies – Evelyn Waugh (1930)
Enquanto Agonizo – William Faulkner (1930)
Paralelo 42 – John Dos Passos (1930)
Berlim Alexanderplatz – Alfred Döblin (1929)
Passing – Nella Larsen (1929)
O Amante De Lady Chatterley – D.H. Lawrence (1928)
O Grande Gatsby – F. Scott Fitzgerald (1925)
A Terra Devastada – T.S. Eliot (1922)
BLAST – editado por Wyndham Lewis (1914-15)
McTeague: Uma história de S. Francisco – Frank Norris (1899)
Dogma e Ritual da Alta Magia – Eliphas Lévi (1896)
Os Cantos de Maldoror – Lautréamont (1869)
Madame Bovary – Gustave Flaubert (1856)
Zanoni – Edward Bulwer-Lytton (1842)
Inferno, da Divina Comédia – Dante Alighieri (1308-1321)
A Ilíada – Homero (800 a.C.)

A fase Berlim de David Bowie em uma caixa

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Seguindo a série de edições especiais da vida de David Bowie, é a vez de mergulhar entre os anos 1977 e 1982 do mestre morto no ano passado – escrevi sobre a caixa A New Career in a New Town no meu blog no UOL.

Mais uma caixa de discos vem dissecar outra fase de David Bowie. Depois de destrinchar a primeira fase de sua carreira na memorável caixa David Bowie Five Years (1969-1973), lançada em 2015, e de se aprofundar na fase de transição do artista no meio dos anos 70 na ótima David Bowie Who Can I Be Now? (1974-1976), de 2016, o mergulho no arquivo do artista que morreu no início do ano passado traz a tona a caixa A New Career in a New Town (1977-1982), que reúne as gravações da época em que Bowie mudou-se para Berlim, na Alemanha, até o disco que é considerado sua última obra-prima da fase clássica, Scary Monsters (And Super Creeps), de 1980.

São onze CDs (ou treze vinis) que reúnem reedições dos principais discos que ele lançou na época, como Low, “Heroes” (e o EP de mesmo nome, lançado em seguida com versões da música em alemão e francês), Lodger (em duas edições, sendo a mais recente com nova mixagem feita pelo produtor Tony Visconti), o duplo ao vivo Stage (também em duas edições), Scary Monsters e a coletânea Re:Call 3, reunindo músicas que só saíram em compacto neste período (incluindo a íntegra do EP Baal, com a trilha sonora que Bowie fez para a peça de Bertolt Brecht de mesmo nome. O título da caixa é o nome da última faixa do lado A de Low, que completou 40 anos no início de 2017.

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Entre as novidades da caixa (que ainda traz um livro de capa dura com 128 páginas) está uma versão mais longa, com quase dois minutos a mais para “Beauty And The Beast”, do disco “Heroes”, de 1977, que foi lançada originalmente num disco promocional lançado nos EUA.

King Crimson ♥ David Bowie

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“King Crimson tocou ‘Heroes’ de David Bowie no Admiralspalast de Berlim como uma celebração, uma memória e uma homenagem. O show aconteceu trinta e nove anos e um mês após as sessões de gravação originais no Hansa Tonstudio próximo ao Muro de Berlim”, escreveu Robert Fripp, autor da guitarra que conduz a música original de David Bowie, ao anunciar o EP Heroes (já à venda), às vésperas da turnê que seu renascido King Crimson fará pela América do Norte no meio deste ano (datas aqui). A nova versão mantém a sensibilidade do clássico single.

David Bowie imita Lou Reed, Bruce, Neil Young e Iggy Pop

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O engenheiro de som Mark Saunders, que esteve presente na gravação da trilha sonora de Absolute Beginners, em 1985, no estúdio londrino de Westside, teve a brilhante ideia de gravar uma série de imitações que David Bowie fez de artistas conhecidos e respeitados por ele, como Lou Reed, Bruce Springsteen, Tom Waits, Neil Young e Iggy Pop. Ele escreveu sobre as gravações em seu blog logo após o anúncio da morte de Bowie, no ano passado:

No final daquela sessão, ele começou a fazer imitações e eu percebi que elas poderiam ser apagadas em algum momento, então logo coloquei uma fita cassete e apertei o botão ‘record’. Queria que pudéssemos ouvir o outro lado do diálogo de Bowie com Clive (Langer) e Alan (Winstanley, que juntos produziram o Madness, Dexy’s Midnight Runners, Elvis Costello, entre outros), mas infelizmente não foi gravado.”

Tente adivinhar quem é quem:

E tem discos inéditos de Bowie vindo aí no Record Store Day: uma edição tripla em vinil do disco Cracked Actor (Live In Los Angeles 1974), gravado ao vivo no dia 5 setembro de 1974, como parte da turnê Philly Dogs e uma edição fac-símile do raríssimo Bowpromo, lançado com tiragem limitada em 1971 com as músicas que tornariam-se parte do repertório do disco Hunky Dory. Os dois lançamentos têm edição limitada – mais informações no site oficial do mestre.