No dia 22 de setembro de 2004, há nove anos, Lost estreava nos Estados Unidos. Em pouco tempo mobilizava uma pequena mas fiel audiência em frente à TV que, em alguns meses, se tornaria uma comunidade global online graças à internet. A saga dos passageiros do vôo 815 da Oceanic se expandiu de formas inusitadas, tanto dentro quanto fora do seriado – se por um lado explorava os limites do what-the-fuck com personagens impagáveis e premissas surreais (urso polar nos trópicos? Monstro de fumaça? Os outros?), por outro antecipava a fusão da TV com a internet reunindo pessoas para assistir episódios ao vivo em todo planeta, levando para a ficção algo que só existia em eventos esportivos ou em notícias ao vivo.
A história de como o seriado foi aprovado e como foi desenvolvido nos bastidores é uma saga paralela e os fãs bem se lembram das histórias em que a emissora norte-americana ABC questionava os rumos que Lost tomava. Isso aconteceu desde o início, quando a série recebeu o sinal verde para ter seu piloto filmado. Enquanto o primeiro episódio era produzido, Damon Lindelof e J.J. Abrams acharam melhor responder às dúvidas que o episódio levantaria num guia da série que talvez reconfortasse o canal.
O Boing Boing disponibilizou na semana passada um PDF que mostrava que os rumos da série podiam ser bem diferentes caso a ABC fosse rígida em relação ao futuro do seriado. O documento (reproduzido abaixo) explica que tudo na série teria explicação científica, que o monstro que fazia barulho no primeiro episódio seria descartado logo a seguir, que não haveria grandes mistérios nem mitologia na série, que seria baseada principalmente em seus personagens, e que Lost seria uma espécie de “Melrose primitiva” não sendo necessário acompanhar todos os episódios para entender a história principal, apresentada em vários contos autocontidos em episódios específicos.
Como sabemos, um tremendo papo furado. O SlashFilm procurou o Lindelof para saber o que era tudo aquilo e ele explicou que o documento era uma tentativa de acalmar a ABC sobre a possibilidade de Lost repetir a fórmula de Alias, a série anterior de J.J. Abrams, que, seus executivos temiam, vinha perdendo audiência por ser considerada muito específica de um gênero só. Queriam uma série mais ampla. Por isso a ênfase que a série teria um tom específico dependendo do personagem abordado – podia ser um seriado de médicos ou de guerra ou policial de acordo com o protagonista de cada episódio (o que realmente aconteceu nos primeiros anos). O documento, no entanto, não seria seguido à risca e Abrams e Lindelof contrataram os roteiristas Javier Grillo-Marxuach, Paul Dini, Jennifer Johnson e Christian Taylor para criar pequenas histórias que nunca seriam usadas na série e que serviam apenas como iscas pra ABC morder – e morderam histórias como um bunker nazista, a orelha do labrador com uma mordida de gente, um plano de Locke, um eclipse, uma fruta proibida, felinos predadores e estranhos casulos.
Vale a leitura (logo abaixo, em inglês), especialmente se você era fã da série.
Nessa edição do Link também comentei sobre o anúncio da venda da Lucasfilm para a Disney na semana passada…
‘Tenho um mau pressentimento’
Disney compra a Lucasfilm e produzirá os novos Guerra nas Estrelas, mas não é uma boa notícia para os fãs da saga
“É hora de passar Guerra nas Estrelas para uma nova geração de cineastas”, comemorou na terça-feira George Lucas, o criador da saga que reinventou o cinema nos anos 70. Assim ele anunciava a venda de sua empresa Lucasfilm à Walt Disney Company por US$ 4,05 bilhões. O anúncio deixou fãs pilhados – afinal, além da transação bilionária, havia outra novidade: a Disney vai produzir mais uma trilogia de filmes com os personagens de Lucas.
Isso mesmo: mais três novos filmes de Guerra nas Estrelas vêm aí. O Episódio VII já foi agendado para 2015.
Não é uma notícia qualquer. Os fãs de Guerra nas Estrelas sabem que Lucas havia cogitado, ainda nos anos 70, a possibilidade de sua saga se estender para além dos três filmes que fez à época. As duas novas trilogias cercariam a original: uma contaria a história de como Anakin Skywalker virou Darth Vader, a outra contaria como Luke Skywalker tornaria-se mestre de um novo cavaleiro Jedi, como ele foi de Obi-Wan Kenobi e Yoda.
Os três primeiros filmes foram realizados na virada do milênio e foram motivo de frustração para a maioria dos fãs da saga. Se muitos já reclamavam do excesso de fofura do último filme da trilogia original (os ursinhos Ewoks foram criados apenas para virar brinquedos), nos Episódios I, II e III, George Lucas extrapolou as possibilidades e adoçou ainda mais a saga de capa e espada que se passava em uma galáxia muito distante – críticas que podem ser sintetizadas na criação do personagem infantilóide Jar Jar Binks. Elas foram tão pesadas que o próprio Lucas abandonou a ideia de fazer outros três filmes – até a Disney se dispor ela mesma a bancar tudo.
O anúncio da semana passada deu início a uma onda de preocupação online sobre os três filmes no futuro: se, sob a batuta do criador a série já tinha desandado, o que poderia acontecer sob o domínio da força de Mickey?
A própria Disney ironizou essas preocupações, reeditando um vídeo que havia feito no ano passado, quando inaugurou o brinquedo de Guerra nas Estrelas em seu parque californiano. No original, Darth Vader e dois stormtroopers se perdiam no parque de diversões, andando no carrossel, comendo pipoca. Na reedição, o vídeo era idêntico, à exceção do início (que perguntava “Darth Vader, agora que você é parte da família Disney, o que vai fazer?”) e o fim (que originalmente mostrava o vilão entrando no brinquedo de Guerra nas Estrelas, cena cortada na nova edição). A brincadeira faz sentido, pois um dos investimentos da Disney em relação à Lucasfilm será em parques temáticos.
Os fãs temem o pior, mas algumas especulações indicam que a nova trilogia possa ser melhor que a anterior. Lucas não conseguiu realizar seu sonho de dirigir um filme sem atores, que achava que conseguiria fazer nos anos 90. Continuou insistindo, principalmente na série Guerras Clônicas, totalmente feita em computação gráfica. Não custa lembrar que a Disney também é dona da Pixar – e já há rumores que um dos diretores do estúdio, Brad Bird, estaria envolvido no filme de 2015 (além de Damon Lindelof, roteirista da série Lost, da emissora ABC, que também é da Disney).
Outra boa nova é que Lucas já teria se encontrado com os atores Mark Hammill e Carrie Fischer (Luke e Leia na primeira trilogia) para convidá-los a participar dos novos filmes.
Copyright. A má notícia é que a Disney é uma das principais defensoras do modelo mais restritivo de direitos autorais.
Enquanto George Lucas incentiva os fãs a fazer filmes, animações e paródias com suas marcas (ele inclusive organiza a premiação anual Star Wars Fan Movie Challenge), a Disney é uma das principais responsáveis por estender o tempo de duração para uma obra cair em domínio público, a ponto da legislação norte-americana que aumentava o tempo de proteção a uma obra para 95 anos, em 1998, ter sido apelidado de Projeto de Lei para a Proteção de Mickey.
Se por um lado os fãs podem comemorar novos filmes, por outro, só podem lamentar que outros tantos novos filmes (feitos por fãs) não verão a luz do dia porque provavelmente receberão cartas da Disney com ameaças de processo. É complicado.
Bruno deu a dica desta longa, mas esclarecedora, entrevista que um dos donos de Lost deu ao The Verge. Se você se importa com um dos três temas citados no título, assista:
Lembra do Prometheus, filme que o Ridley Scott tá fazendo com o Damon Lindelof? Desde que as primeiras notícias sobre o filme surgiram, tem rolado uma especulação pesada que o filme seria um prequel da saga Alien, que Scott lançou em 1979. A boataria, na verdade, se baseava primeiro, claro, no fato de Scott ser o diretor dos dois filmes. E também pelo fato da forma como o título do filme era apresentado no trailer. Compara o trailer do filme desse ano…
…com o de 1979.
Eis que hoje o próprio Damon twitta o primeiro viral do filme, que é nada menos que um TED (no site do TED) apresentado por um certo Peter Weyland em 2023. Ei-lo:
O sobrenome do megalomaníaco vivido por Guy Pearce é conhecido dos fãs da série – afinal é a empresa Weyland-Yutani que é dona da Nostromo, a trágica nave-palco do primeiro filme. E há ainda a especulação sobre Prometheus explicar o tal do “space jockey” encontrado no filme de 79.
O filme promete! Dica do Ramon.
É o primeiro filme de ficção científica do Ridley Scott desde Blade Runner!
O diretor dos dois Homem de Ferro e o roteirista nerd de Lost trabalharam juntos em Cowboys vs. Aliens e este é um dos muitos vídeos que a produção desse filme colocou no YouTube.
E essa agora?
Calma, foi só uma gracinha que exibiram antes do painel do seriado na Comic Con… ou não?
Hehehehe.
Vi aqui.