Cornucopia vazia
Quando Björk anunciou que lançaria uma apresentação ao vivo nas salas de cinema do mundo, esperava-se que ela desse passos além dos filmes que partiram de shows de artistas gigantes como Beyoncé e Taylor Swift, ampliando o alcance de turnê imensas primeiro para telonas e depois para serviços de streaming. Lógico que, por não ser uma artista comercial de tal porte, não havia expectativa sobre ela suplantar os números e a escala de Renaissance: A Film by Beyoncé e Taylor Swift: The Eras Tour, ambos de 2023, fazendo justamente algo que os filmes das duas musas do pop deste século até tentaram, mas sem tanto sucesso: se tornar uma obra de arte. Cornucopia, que estreia essa semana em cinemas de todo o mundo, foi anunciado como a versão filmada de um show único que ela fez em Lisboa, em 2023, reunindo um grupo de artistas que aumentava ainda mais suas ambições artísticas, como a diretora argentina Lucrecia Martel (que dirigiu o show), a diretora islandesa Ísold Uggadóttir (que dirigiu o filme), o diretor musical islandês Bergur Þórisson, o percussionista austríaco Manu Delago, a harpista norte-americana Katie Buckley e o grupo de sopro irlandês Viibra, além de instrumentos improváveis como uma flauta circular e uma harpa magnética, uma câmara de reverberação instalada no palco, cortinas móveis e telas de LED e figurino e maquiagem excêntrica, como é de se esperar da cantora islandesa. Quase todo o show gira em torno de seu disco de 2017, Utopia, embora conte com músicas dos álbuns Vunicultura (2015) e Fossora (2022), além de um único hit solitário, “Isobel”, de seu clássico segundo disco Post (que completa 30 anos este ano). O show é deslumbrante e é tudo que os fãs da artista podem esperar, mas… como filme deixa a desejar. Esperava que ela pudesse explorar mais ainda os limites do cinema, fazendo uma ponte entre show e audiovisual de uma forma mais interessante do que o que se vê, mas o mais perto que ela chega disso é quando, a partir do primeiro terço do filme, começa a ocupar a tela com imagens que estão projetadas nos telões do show. Mas o que parecia ser um início de conversa entre o show do passado e o filme de 2025 termina aí e o filme é só mais um show filmado. Até o show em Pompeia que o Pink Floyd acabou de relançar nos cinemas (lançado originalmente em 1972) ousa mais como cinema do que este Cornucopia. Que é bonito e ousado, misturando reinos animal e vegetal em uma evolução possível da vida no futuro do planeta, trazendo uma bela mensagem de esperança em relação ao futuro (além de três clipes escondidos após os créditos), mas isso é mérito do show, não do filme. O filme só registra isso. Bem, mas é só – nada distante do que em outros tempos seria só um DVD ao vivo. Pô, Björk…
Assista ao trailer abaixo:
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