O ano está chegando ao fim e eu aproveitei pra recapitular 2016 a partir de post que fiz no meu blog no UOL durante estes 365 dias.
Não vou tentar resumir tudo que aconteceu em 2016 num único post: vou me ater ao que foi assunto nos últimos doze meses aqui neste blog, que está prestes a completar dois anos aqui no UOL. Em vez de fazer uma relação de melhores discos, filmes ou séries, vou me ater a separar o que achei de melhor e de pior no ano que está chegando ao fim. Entre os piores momentos estão inevitavelmente algumas das mortes que ajudaram a temperar este ano tão complicado, mas que também trouxe grandes momentos para uma cultura em plena transformação. Separei um parágrafo do texto original de cada item escolhido e o título do item linka para o post específico, caso você não o tenha lido quando eu escrevi. De brinde, reuni os textos de 10 discos clássicos que comemoraram aniversário este ano. As três listas seguem o mesmo padrão de contagem regressiva.
Os 10 melhores de 2016
“Rua Cloverfield, 10 é da escola de filmes de terror que flertam com o pop e experimentalismo cinematográfico ao mesmo tempo, como Psicose, O Despertar dos Mortos, O Massacre da Serra Elétrica, Bruxa de Blair, O Homem de Palha, o espanhol [REC] e A Morte do Demônio – embora não seja propriamente um filme de terror. Não é uma obra-prima com algum dos filmes que citei e chafurda na vulgaridade B da literatura pulp e dos seriados dos anos 60 que tanto encantam J.J. Abrams (sua conclusão é o melhor exemplo disso). Mas suas atuações convencem o espectador e a direção transcende o trivial teatro filmado, com closes fortes e ritmo crescente.”
9) Capitão América – Guerra Civil
“A Marvel vai mostrando a cara de sua nova fase. Não é necessariamente um universo mais sombrio e opressor como os sinais dados pelas séries em parceria com o Netflix davam a entender. O novo filme aproxima o universo Marvel da realidade, deixando-o menos infantilizado e mais adulto. Mas isso não quer dizer que o tom seja sério e que não há espaço para o humor – muito pelo contrário. O humor agora não é feito mais para rir e sim para aliviar as cenas de tensão e de ação, dividindo a audiência do filme entre a apreensão calada e a comemoração sorridente. Cenas como a do Visão falando sobre comida, a do Homem Formiga conhecendo os outros heróis ou as piadinhas do Gavião Arqueiro ajudam a quebrar o gelo ao mesmo tempo em que mostram uma outra forma de encarar os super-heróis. Mas nada pode nos preparar para o Homem-Aranha.”
“Em seus dois últimos episódios, a quarta temporada de House of Cards abandona qualquer resquício de fraqueza que havia mostrado nos episódios anteriores e ressurge grandiosa, operática, bélica. O drama shakespereano dá lugar a um mosaico político que faz Maquiavel e Sun Tzu sentarem-se em um xadrez brutalmente tenso, impassível entre bombas, metafóricas ou literais. E o gesto final de Underwood trava a temporada num impasse moral que desnuda completamente o jogo político e pode fazer a próxima temporada ser a última da série (embora ninguém tenha confirmado isso). O fato da temporada começar com uma cena de masturbação em uma cela na cadeia e terminar com um assassinato e uma cena de tortura psicológica coletiva diz muito sobre o tom da temporada.”
7) Novos Baianos e Wilco (empatados)
“Era claro que a noite era voltada para 1972 e os grandes momentos foram os daquele disco. E se Paulinho brilhou nas delicadas “Mistério do Planeta” e “Swing de Campo Grande”, Baby e Pepeu se reencontravam como um casal musical nos solos rasgados de “A Menina Dança” e “Tinindo Trincando”, como fizeram em seu emocionante reencontro no Rock in Rio do ano passado. O único senão era a voz de Moraes Moreira, que não possui aquele antigo doce timbre e em alguns momentos soa sofrível, chegando quase a estragar “Preta Pretinha”. Felizmente, num dos principais momentos da noite, ele canta num tom abaixo e sua volta por um instante a sintonizar com seu timbre do passado – e a faixa que batiza o álbum clássico foi um dos momentos mais tocantes de toda a noite.”
“Ao lado de Jeff (Tweedy), o guitarrista Nels Cline é o franco-atirador da banda, que eleva o título de guitar hero a um nível de pós-doutorado. Cline sozinho é um show à parte e seus solos traçam uma conexão clara entre Tom Verlaine e Neil Young, ampliando horizontes a cada nota sangrada no palco. O guitarrista Pat Sansone – outro guitar hero – é uma espécie de arma secreta do grupo, revezando-se entre teclados, guitarra, banjo e vocais de apoio. O pulso firme do baterista Glenn Kotche certifica-se que está tudo sob controle enquanto o tecladista Mikael Jorgensen prepara a atmosfera necessária para cada canção. Isso sem contar o desfile de guitarras (são 70 instrumentos de cordas, entre guitarras, baixos e violões), um deleite para os fãs do instrumento, e o apreço pelo detalhe – se eles quisessem que ouvíssemos o som de uma agulha caindo no palco ouviríamos. O som, outro ponto alto desta pequena turnê, estava tão cristalino quanto no Rio.”
6) Dr. Estranho
“É o filme mais maduro da Marvel até agora e, coincidentemente, sua produção mais psicodélica. Toda aura mística e espiritual do médico que sofre um acidente que o impossibilita de continuar seu trabalho era traduzida em imagens grandiosas e espetaculares nos quadrinhos, publicados principalmente na virada dos anos 60 para os anos 70, auge da experimentação lisérgica da cultura pop. Os autores da Marvel do período – especificamente Steve Dikto, que recebe o crédito de autoria do personagem do novo filme – aproveitavam cores e formas para expandir os limites dos quadrinhos em páginas duplas épicas, cheias de detalhes.”
5) Stranger Things e Coquetel Molotov 2016 (empatados)
“E esse é o grande segredo da série – não é apenas uma coletânea de referências, é uma história bem contada. Não é uma história nova (qual história é propriamente nova?), mas Stranger Things não cai no erro de Vinyl de achar que basta ambientar bem um período e transformar arquétipos em personagens para que as coisas funcionem sozinhas. A motivação de todos os personagens é bem definida e seus atores estão muito à vontade nestes papéis, mesmos aqueles com menor envolvimento com a trama principal (o núcleo adolescente, por exemplo, mereceria uma série própria). Só o Brenner de Mathew Modine que é mal explorado e um personagem que pode ser tão profundo quanto o Walter Bishop de Fringe vira só um vilão do Scooby-Doo. Talvez tenham guardado seus segredos para uma segunda temporada, que parece inevitável.”
“Um quarto de século depois dos primeiros rascunhos do mangue beat, a décima terceira edição do festival pernambucano Coquetel Molotov foi a materialização daquela utopia imaginada no início dos anos 90, quando os primeiros agitadores culturais que criaram aquele movimento hoje histórico começaram a se conhecer. Eles imaginavam uma Recife conectada ao resto do estado, do país e do mundo sem fazer escalas pela ponte Rio-São Paulo, refletindo a atmosfera naturalmente moderna da capital pernambucana em uma conversa internacional e moderna, colocando artistas e público numa sintonia alheia às demandas ou exigências do mercado.”
4) Bowie – ★
“Todo o simbolismo e o hermetismo que Bowie havia colocado em seu vigésimo quinto álbum foi revelado com a notícia de sua morte na manhã da segunda-feira passada. Soubemos que Bowie já vinha se tratando em relação a um câncer por dezoito meses e que gravou o disco como um testamento para os fãs. Daí a ausência da capa. Eis a estrela negra – a própria morte. Encenada e transformada em arte.”
3) Rogue One
“É um filme de guerra, com cenas de batalhas espetaculares, mas também um filme sobre um universo em expansão: na primeira meia hora somos apresentados a paisagens e planetas novíssimos, que em breve serão habitados em filmes futuros. Mas também há doses pesadas de emoção – dá pra segurar o choro em pelo menos duas cenas – e a palavra de ordem é esperança. Esperança não apenas para o futuro da história nos filmes (afinal, ele antecede a primeira trilogia, iniciada em 1977), mas também para o rumo que a Lucasfilm está levando sua série. E prepare-se para a terceira parte do filme, que ela é de tirar o fôlego – em vários momentos.”
2) Westworld
“E a HBO conseguiu mais uma vez. Westworld vem superando todas as expectativas, episódio a episódio, e caminha para se tornar o grande evento da TV em 2016, fazendo a emissora recuperar-se do fiasco que foi a primeira temporada de Vinyl e a promissora mas fria The Night Of. Um enorme quebra-cabeças magistralmente montado em frente aos nossos olhos, intercalando a frieza de máquinas com o calor do velho oeste norte-americano, reinventando completamente uma premissa simples de um filme dos anos 70 para o século 21 e enfileirando monólogos magistrais, atuações impecáveis, cenas intensas, diálogos esclarecedores, teorias complexas e revelações sensacionais.”
1) Radiohead – A Moon Shaped Pool
“Mesmo que não seja seu último disco (torço que não seja), A Moon Shape Pool entra para a discografia da banda como seu disco mais maduro e mais apaixonado, mesmo que estas paixões venham corroídas. É um disco suave e tenso ao mesmo tempo, de sonoridade grandiosa recolhida em pequenos frascos de som. Por vezes soa folk, por outras árcade e o tempo todo nos conduz com o coração. Mais um disco perfeito produzido por uma banda que segue no auge há vinte anos.”
Os 10 piores de 2016
“No fim, Esquadrão Suicida parece ser uma versão dos Guardiões da Galáxia vivida pelo Slipknot (nome, aliás, de um dos supervilões secundários). É intenso, é barulhento, faz rir e passar raiva como uma criança birrenta – porque no fundo, ele é só isso: um filme bobo. Tem bons momentos (nenhum deles com o Ben Affleck), mas não vale o preço do ingresso no cinema – nem no pay per view. Espera passar na TV, que é o lugar certo pra um filme desses – faz o tempo passar, dá pra ir no banheiro ou para a geladeira sem precisar apertar o pause ou dormir no meio sem culpa. Ou seja, é melhor que Batman vs. Superman.”
9) Vinyl
“Usar uma gravadora como ponto de observação daquela década parecia tão apetitoso quanto assistir às transformações da década anterior a partir de uma agência de publicidade (a premissa da excelente Mad Men). O problema é que, pra começar, Vinyl usava isso apenas como pano de fundo. Misturava biografias e mitologias diferentes em uma narrativa que parecia sofrer dos principais problemas da década. Só quem se beneficiava era a trilha sonora e a direção de arte (que também sofria do exagero da década). Todo o resto era humilhantemente constrangedor.”
8) O fim da tira Chiclete com Banana
“Desligar Chiclete com Banana é uma forma de manter-se vivo. Se continuasse, Angeli poderia ficar ainda mais existencialista e a acidez do passado iria dissolver-se num eterno amargor que começaria a lhe fazer mal. A nos fazer mal. Mal, com letra maiúscula. Felizmente, ele percebeu a tempo de fechar o ciclo. E, com o fim de um ciclo, começa outro – será que agora vamos ver graphic novels ou telas imensas feitas por um sujeito que começou desenhando nas páginas de jornal? Grandes artistas passam por grandes mudanças, algumas vezes sem ter a consciência disso, e conseguem se superar mudando completamente o ritmo do próprio trabalho – Picasso, Rothko, Chuck Close, Lichtenstein, Crumb. Talvez o fim de Chiclete com Banana dê início a uma nova fase para Angeli. Estou na torcida.”
“Não perca seu tempo nem seu dinheiro vendo este filme. Não recomendo nem que você espere passar na TV aberta para assisti-lo dublado. Porque é um dos piores filmes deste século, tranquilamente. Mas eu sei, você é fã de quadrinhos e fã de filmes de super-herói e vai pagar pra assistir a esse filme no cinema, mesmo com todos os pés atrás possíveis. A gente precisa ver pra ter certeza que não estragaram essa mitologia que crescemos vendo, afinal gastaram tanto dinheiro com isso, né? Não pode ser tão ruim. Pois pode. Pode e é. É o cúmulo do lixo filmado, tudo que está errado em Hollywood atualmente, mais um filme de ação hiperbólico rodando em falso. Mas não mata o gênero super-herói nos cinemas, especialmente se a Warner tirar Zack Snyder da jogada.”
“Mais uma vítima deste trágico 2016, George Michael, que morreu no dia de Natal, aparentemente parece não pertencer ao mesmo panteão dourado que reuniu David Bowie, Prince e Leonard Cohen com o passar do ano. Mas, sim, o jovem de parcos 53 anos é um ícone de semelhante estatura. O que talvez tenha a ver com a natureza de sua musicalidade – compositor refinado e popular ao mesmo tempo (características quase excludentes hoje em dia), ele exaltou as culturas dance e gay e ele elevou a música pop a outro patamar.”
“Não há, no entanto, tristeza, nem lamento, nem arrependimento, nem dor. Velho desde jovem, Cohen morre tão enfático, decidido e sutil quanto em seus primeiros discos, uma alma quase fantasmagórica que agora vive para sempre em uma curta (14 discos em quase meio século) mas profunda obra. Por isso não chore. Não ceda às emoções. Não entregue-se ao pessimismo. A morte de Leonard Cohen era tão certa quanto foi seu nascimento. Não sofra por um futuro sem ele, iríamos viver isso. Aproveite este último capítulo para celebrar sua existência e comemorar a sua própria maturidade.”
“O barateamento das tecnologias de gravação, o surgimento do hip hop e da música eletrônica e a excelência dos atuais programas digitais de edição de som permitiu que as gerações de produtores seguintes se inspirassem no legado de Martin com os Beatles e fossem além. Hoje há pelo menos três gerações de músicos que não tocam instrumentos musicais e sim outros músicos – um espectro gigantesco que abrange Brian Eno, Dr. Dre, Teo Macero e Lee Perry, que ainda inclui multiinstrumentistas como Prince e Brian Wilson – que deve sua existência ao casamento pioneiro entre os Beatles e George Martin. São dois legados diferentes que se misturam, mas igualmente importante para a cultura atual: o do grupo e o do produtor.”
“Não era mais uma donzela em pânico esperando ser salva por seu herói, mas ela mesma era uma heroína e fazia parte da gangue. E em Carrie Fisher a personagem cresceu significamente – ao ser interpretada por uma atriz nascida no showbusiness (filha do cantor Eddie Fisher e da atriz Debbie Reynolds), a personagem ganhava uma dose de cinismo, arrogância e despeito que nunca estiveram em uma personagem mulher num filme que atingira um público tão grande. Ela era herdeira direta das protagonistas dos filmes da nouvelle vague francesa: Luke, Leia e Han Solo pareciam ser uma versão norte-americana do trio protagonista do Jules e Jim de Truffaut e uma frase do próprio Godard (“Tudo que você precisa em um filme é de uma garota com uma arma”) é a base para sua presença na tela durante os três primeiros filmes da saga Skywalker. E, claro, assistir as transformações sociais do mundo nos anos 60 ainda criança fez que ela levasse aqueles valores para um personagem que iria mudar a forma como as mulheres se viam fora do cinema.”
“Era uma versão masculina da Madonna que tocava todos os instrumentos que queria aprender, um George Clinton que pilotava uma espaçonave sexual, inventor de um funk sintético recheado de soul music e coberto pela estética do rock. Ele ajudou a soul music e a discoteca a se transformarem no R&B moderno ao acompanhar a evolução apontada pelo hip hop tocando instrumentos em vez de discos. Um explorador sônico que usava timbres eletrônicos como desculpa para desbravar ambientes musicais improváveis – e grudentos.”
“Bowie transformou a sensação de estranhamento que todos nós sentimos – em maior ou menos escala – em grande arte. Estranhamento em relação ao mundo, à sociedade, à vida, a si mesmo. Contemporâneo da geração de ouro da história do rock (era cinco anos mais novo que Paul McCartney, dois anos mais novo que Pete Townshend e Eric Clapton), ele chegou tarde nos anos 60 para garantir presença no panteão que mudou a história da cultura ocidental. Mas não sem motivo. Ao lançar a própria carreira no final da década do rock clássico, ele a sincronizou com um momento único na história da humanidade e fez-se notar pela primeira vez lançando uma música sobre a solidão no espaço sideral e o olhar frio e distante sobre o planeta, a Terra, o mundo, nós mesmos.”
Dez discos clássicos que fizeram aniversário em 2016
“Sem pretensões mercadológicas, planos de negócios, shows em estádios ou discos de diamante, o Teenage Fanclub conseguiu sintetizar a essência da canção pop em um disco ousado por sua despretensão e marcante por sua simplicidade. Doce e direto, Bandwagonesque sobrevive não apenas como um registro do início do fim da era da canção ou como souvenir nostálgico daquele período, mas como um disco de música pop deveria soar, por definição. Essencialmente humano.”
9) 40 anos do primeiro disco dos Ramones
“A essência dos Ramones era sua unidade: tudo soava como uma coisa só. Não importavam os instrumentos, baixo, guitarra e bateria seguiam o mesmo ritmo. Os temas das músicas menos ainda – podiam estar cantando sobre nazismo ou sobre dançar, o tom era sempre o mesmo. As músicas pareciam as mesmas e duravam dois minutos cada. Os músicos pareciam o mesmo e seguiam mal encarados independentemente da reação da plateia. O baixista gritava “1-2-3-4″ e as músicas começavam com a mesma grosseria que terminavam. Os Ramones eram repetitivos, monótonos, barulhentos, ameaçadores – essa era sua magia. Aos ouvidos do século 21 os Ramones soam quase inofensivos, mas no meio dos anos 70 era o patinho feio, uma mancha grosseira na bela paisagem do rock de então. Foram eles que plantaram a semente que mudou tudo.”
“Foi aí que a ficha caiu: a brecha havia rompido o muro. A partir dali a indústria fonográfica e as rádios começaram a perder o controle (mesmo transformando a geração do Nirvana em uma cena comercial, tal como o proverbial bebê engolindo a isca da capa do disco) e as pessoas começaram a conhecer mais músicas. A partir de Nevermind, a brecha, que era um segredo, tornou-se pública e o mundo descobriu o submundo do pop quando ele já era adulto. O Nirvana era só o caçula daquele novo mercado que começaria a transformar completamente a cara do pop a partir dos anos 90. Quando o computador chegou pra facilitar a gravação de discos em casa e a internet chegou para facilitar distribuí-los, toda aquela safra de novos artistas que alimentaria aquele novo sistema já estava pronta. E a música nunca mais seria a mesma.”
“Por toda sua extensão Loveless é um sonho tocado no último volume. O estranho assobio produzido pela forma de tocar guitarra de seu líder Kevin Shields é apenas um dos elementos únicos que definem a banda, como a onipresente parede elétrica de microfonia anestesiada, os doces vocais que sussurram no abismo, o acúmulo de instrumentos, a presença quase sutil de uma bateria montada na pós-produção, em loop eletrônico, o efeito entortado que o uso da alavanca de tremolo dá aos acordes secos e multiplicados, as eventuais ondas de ruído que parecem funcionar como abóbodas de catedrais.”
6) 25 anos de BloodSugarSexMagik
“Todas as faixas daquele novo disco duplo de quase 75 minutos repensavam o delírio adolescente e fazia a banda confrontar os dilemas da vida adulta – principalmente de natureza espiritual e sentimental. Faixas como “Breaking the Girl” e “I Could Have Lied” mostravam um Red Hot Chili Peppers gravando baladas pela primeira vez e um poema de Kiedis encontrado amassado no chão por Rick Rubin foi transformado em um dos grandes carros-chefe da banda, a balada anti-heroína “Under the Bridge”.”
“”Este é um dia lindo… Um novo dia…”, bradava o reverendo sobre uma base borbulhante, “Nós estamos juntos… Nós estamos unidos… E todos de acordo… Porque quando estamos juntos temos força… E podemos tomar decisões… No programa de hoje ouviremos gospel e rhythm & blues e jazz. São apenas rótulos. Sabemos que música é música”, formalizando Screamadelica como um novo artefato pop: um disco de protesto para dançar e viajar, sintetizado neste discurso sampleado. Uma lição que não tem idade – seja em 1956, 1967, 1972, 1978, 1991, 2016 ou em qualquer outra época – afinal, se Jesse Jackson nos lembra que tudo é música, a própria psicodelia e o Primal Scream, também nos lembram que o tempo não existe.”
4) 30 anos de The Queen is Dead
“Foi assim que os Smiths abriram um caminho alternativo para o rock, quase trinta anos após sua criação nos anos 50. No momento em que o aspecto guerreiro e trovador do formato se transformava em caricatura ou em algo pior – um mero produto -, o grupo inglês reanimou aquela formação musical para que ela pudesse persistir por mais algumas décadas, apontando para valores considerados secundários no gênero, como a sensibilidade, a timidez, a revolta interior. Um legado imensurável.”
“Mesmo que o disco tenha azedado sua relação com seu primo Mike Love, causando o principal cisma na história do grupo, ele é o ápice da carreira de Brian Wilson e dos Beach Boys. A provocação foi entendida pelos Beatles do outro lado do Atlântico, quando Paul McCartney – nascido apenas dois dias antees que Brian – ouviu o disco com a mesma sensação que Brian ouvira Rubber Soul, provocando-o a ser ainda mais ousado com os Beatles, o que lhe fez criar o conceito do disco Sgt. Pepper’s Lonely Heart Club Band, lançado em 1967. Foi apenas um entre os vários artistas influenciados por um disco que foi crucial na transformação que aconteceu nos anos 60 e até hoje faz novos fãs – e que, sem exagero, mudou a cara do pop, que teve no álbum a certeza de que era possível ser mais artístico, autoral e comercial ao mesmo tempo.”
2) 50 anos de Blonde on Blonde
“São músicas que estão entre as grandes músicas daquele período, independentemente do gênero musical, e, em sua maioria, clássicos do século passado. Da jocosa “Rainy Day Women #12 & 35″ – que abre o disco como uma banda marcial chapada, com Dylan repetindo o trocadilho raso “everybody must get stoned” às gargalhadas, em que brincava com o duplo sentido da palavra “stoned” (apedrejado ou chapado) – à pesarosa “Sad Eyed Lady of the Lowlands”, que ocupa todo o último lado do segundo disco, somos apresentados a um desfile tão impressionante de músicas boas que parece inacreditável que pertençam a um mesmo disco: “Pledging My Time”, “Visions of Johanna”, “One of Us Must Know (Sooner or Later)”, “I Want You”, “Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again”, “Leopard-Skin Pill-Box Hat”, “Just Like a Woman”, “Most Likely You Go Your Way and I’ll Go Mine”, “Temporary Like Achilles”, “Absolutely Sweet Marie”, “4th Time Around” e “Obviously 5 Believers” estão todas entre as melhores canções de Dylan e em todas ele consegue equilibrar a autoridade e altivez da arte com a força e crueza do rock.”
“A experimentações iam para todos os lados. Solos de guitarra invertidos, canções gravadas em uma velocidade e tornadas mais lentas no estúdio, instrumentos eruditos e estrangeiros, colagens e efeitos sonoros, metais, percussão, microfones colocados em lugares inusitados, cordas inspiradas nos filmes de Truffaut e Hitchcock, letras sobre drogas, morte, sonhos, impostos e um submarino amarelo. Sonatas perfeitas, saudações à vida, composições inspiradas pelos Beach Boys, por Bob Dylan e LSD, romances críveis, palavras de ordem, sentimentos expostos e uma viagem à Índia. Três músicas de George Harrison e uma cantada por Ringo, um conjunto de músicas que não estão entre os grandes hits da banda mas que moram no coração de qualquer fã do grupo.”
E assim despeço-me deste ano que, apesar de tudo, teve seus momentos. O blog volta à ativa no dia 9 de janeiro (ou se acontecer algo urgente, a qualquer momento). Obrigado pela companhia e feliz 2017!
O capítulo 3 da franquia sobrenatural de JJ Abrams foi agendado para outubro do ano que vem – comento isso no meu blog no UOL.
Foi feito física: o filme God Particle, que estava sendo anunciado pela produtora Bad Robot para o início do ano que vem, simplesmente desapareceu do cronograma de 2017. Ao mesmo tempo surgiu um filme da mesma produtora simplesmente batizado de Cloverfield Movie, com estreia marcada para cinemas Imax no dia 27 de outubro do ano que vem. Nem a Bad Robot, produtora de J.J. Abrams, nem o estúdio Paramount confirmaram, mas nem é preciso – afinal a especulação que God Particle seria o terceiro filme da série Cloverfield já vinha desde antes do lançamento do segundo filme, Rua Cloverfield 10, no início deste ano.
God Particle conta a história de um grupo de astronautas que passa uma temporada em uma estação espacial até que participam de algo que desafia o conceito de realidade que eles conhecem, como rezava sua sinopse de forma completamente vaga. Fontes próximas à produção dão maiores detalhes e narram que a surpresa dos astronautas é o simples fato que a Terra desaparece em frente aos seus olhos, deixando-os completamente à deriva no espaço.
O filme é dirigido pelo diretor norte-americano de ascendência nigeriana Julius Onah e conta com Daniel Brühl, David Oyelowo, Chris O’Dowd, Gugu Mbatha-Raw, Ziyi Zhang e Elizabeth Debicki no elenco e vem sendo filmado desde junho deste ano. Mas a principal especulação nem diz respeito ao fato do filme ter ligação com os outros dois Cloverfields – o filme de monstro de 2008 e o filme de cativeiro do início de 2016 -, mas que ele poderia explicar a ligação entre os dois filmes a partir de um evento de natureza cósmica.
Os dois primeiros filmes pegaram o público pela surpresa: sem nenhuma expectativa em relação às duas produções, ambos filmes foram anunciados poucos meses antes de seus lançamentos e a euforia em relação às duas obras fez que ambos fossem bem sucedidos nas bilheterias – um investiu em efeitos especiais e num elenco desconhecido, o outro num elenco de primeira e numa produção de baixo custo.
Mas fora a forma como foram apresentados, o fato de lidarem com o sobrenatural e de terem o nome Cloverfield no título, nada entre os dois filmes parece indicar que os dois sequer pertençam ao mesmo universo. O jogo de realidade alternativa que antecipou a estreia dos filmes sim, cria conexões entre personagens dos dois filmes mas isso nunca é traduzido na tela.
Uma das possibilidades – que eu apostava – era de que Cloverfield seria uma grife através da qual J.J. Abrams contaria contos de terror, ficção científica e sobre o desconhecido, à maneira de séries de TV clássicas como Contos da Cripta, Além da Imaginação, Outer Spaces e Amazing Stories. Mas pode ser que haja um contexto maior que explique a origem do monstro do primeiro Cloverfield e aquele final inusitado de Rua Cloverfield 10.
A confirmação ainda não é oficial, mas fontes indicam que o filme A Partícula de Deus faz parte do mesmo universo do monstro que invade Nova York e do bunker paranoico de Rua Cloverfield 10 – falei mais disso no meu blog no UOL.
Vocês lembram que no começo do ano J.J. Abrams tirou o segundo volume de sua série Cloverfield do nada, em menos de um mês do lançamento de seu Guerra nas Estrelas, revelando ao mundo que um pequeno filme de sua produtora Bad Robot chamado de The Cellar era, na verdade, a continuação de seu filme de monstro de 2008? A estreia do diretor Dan Trachtenberg contava com um pequeno e ótimo elenco formado por John Goodman, Mary Elizabeth Winstead e John Gallagher e a expectativa entre os dois meses do lançamento do trailer até o do filme gerou todo tipo de especulação que pudesse conectar um filme que mostra Nova York sendo destruída por um monstro que veio do fundo do mar e outro em que um lunático mantinha dois reféns em um abrigo subterrâneo dizendo ter salvo os dois do pior, que estaria na superfície.
O jogo de realidade alternativa que havia dado início às especulações sobre a origem do monstro no primeiro filme foi reativado, mostrando que o personagem de Goodman havia sido funcionário da mesma empresa que estaria envolvida no aparecimento do monstro. Mas quando Rua Cloverfield 10 foi lançado, nenhuma conexão direta entre os filmes foi estabelecida, com fãs discutindo a presença de um modelo moderno de iPhone, que indicaria que os acontecimentos do segundo filme teriam acontecido depois – e não em paralelo, como muitos desconfiavam – do primeiro filme. Muitos passaram a crer que Cloverfield fosse apenas uma marca que Abrams usaria para contar casos fantásticos, como outros autores fizeram em antologias como Histórias Maravilhosas, Além da Imaginação, The Outer Limits e Black Mirror (depois eu falo disso, não esqueci não!).
Mas é claro que os fãs foram investigar outras produções da Bad Robot e encontraram o filme de ficção científica God’s Particle (A Partícula de Deus), que será lançado no ano que vem e que conta a história de um grupo de astronautas em órbita que faz uma descoberta que altera os rumos da realidade, como diz a sinopse do filme. E agora uma fonte ligada à produção confirmou para o site The Wrap que God’s Particle é o terceiro volume da antologia Cloverfield – e que, talvez, explicaria a conexão entre os três filmes.
Sem o elemento-surpresa que foi seu principal aliado nos dois primeiros Cloverfields, resta saber qual será a próxima cartada de Abrams neste seu Partícula de Deus.
Nem bem sabemos como Rua Cloverfield, 10 se relaciona com o primeiro Cloverfield e as pistas começam a apontar que um terceiro filme já está sendo feito – dissequei o filme até aqui lá no meu blog no UOL.
Depois de esmerilhar o mundo pop com o Episódio VII, o nerd-mor J.J. Abrams surpreende a todos com um “parente cossaguíneo” de Cloverfield. Esmiucei o trailer no meu blog no UOL.
Bem quando Lost entra em sua reta final, J.J. aproveita para soltar mais uma de suas e o diretor aproveita a estréia do novo Homem de Ferro 2 (que só chega aos cinemas americanos neste fim de semana) para lançar um trailer de um filme que ninguém nunca tinha ouvido falar, chamado Super 8. Ninguém viu nada ainda, mas o blog Hit Fix antecipou que o trailer se passa nos anos 70 quando, depois de filmar usando uma câmera Super 8 (o VHS daquela década), um bando de moleques descobre, durante a revelação do filme, que registraram um alienígena. Embora muitos tenham se animado com a possibilidade de uma seqüência de Cloverfield, volta a acender aquela lâmpada sobre as conexões entre Lost, Cloverfield e todas os desdobramentos do universo de J.J. Abrams… Lembra disso?
Ah, como eu já escrevi sobre esse assunto. Se estiver de bobeira, encare o apanhado de referências que compilei antes do lançamento de Cloverfield e logo após seu DVD sair nos EUA, depois dê um pulo no texto que eu escrevi sobre o final da quarta temporada de Lost e sobre a conexão entre o filme de monstro e a ilha maluca. E veja se eu não tenho razão quando digo que o J.J. linka tudo.
Será que o bichão vem aí de novo?
Repare que algo cai do céu aos 27 segundos do vídeo…
Cloverfield 2? Parece toscamente fake, mas bem que o monstrengo podia voltar…