Cinco Perguntas Simples: Cassiano Fagundes

, por Alexandre Matias

1) O disco (como suporte físico) acabou?
Não, mas certamente a dependência que se tinha pelo disco na divulgação do artista é menor, e a Internet é a causa óbvia disso. Principalmente para o artista independente, o disco hoje acaba tendo um papel muito mais psicológico do que qualquer outra coisa, supre a necessidade de se ter algo palpável que traduza o esforço da produção musical. Alimenta o ego do artista. Certamente o disco não é dispensável, mas se tornou um dos elementos de um pacote que inclui página na Internet, shows, televisão e outros.

2) Como a música será consumida no futuro? Quem paga a conta?
Os bardos celtas não deviam ficar ricos com suas apresentações itinerantes nas cortes da alta idade média, a música era vista como algo sagrado, não um produto (posso estar enganado, mas imagino que era isso mesmo, e se não fosse, devia ser). Acho que a percepção da música como algo sagrado deveria ser resgatada, é uma postura mais ecologicamente correta e positiva. Sou a favor do MP3 gratuito, de uma orgia musical sem precedentes – que aliás já está acontecendo: você já baixa praticamente tudo disponível no mercado fonográfico de graça, se souber procurar. Quem paga a conta? bem, acho que os músicos, sobretudo os independentes, ganham muito pouco com apresentações ao vivo. O ideal seria o artista e a estrutura em volta dele viverem de shows, aparições promocionais e coisas do tipo. Tem muita gente que já disponibiliza 50% de um disco gratuitamente, a outra metade você tem que comprar o CD para ter, ou acabará achando alguém na Internet que disponibilizou essa outra parte gratuitamente – e ilegalmente. Acho que não dá pra parar isso, não dá e não se deve parar isso. Será que o Led Zeppelin fez fortuna com venda de discos? acho que grande parte do dinheiro que arrecadavam vinha dos contratos milionários que Peter Grant, seu empresário, conseguia firmar com casas de shows e produtores nos Estados Unidos.

3) Qual a principal vantagem desta época em que estamos vivendo?
Qualquer um que tenha um computador e um bom software de gravação faz seu disco em casa. Isso é uma maravilha. Já gravei muita coisa em casa que ficou melhor do que o que gravei em estúdios profissionais. Essa é uma grande vantagem para o músico, com certeza, porque significa liberdade. E um artista sem liberdade de criação tende para a mediocridade.

4) Que artista voce só conheceu devido às facilidades da época em que estamos vivendo?
O MySpace é onde descubro as coisas mais legais que tenho escutado. Goldfish é um cantor/violonista punk folk escocês de primeira, gravou seu disco na sala de estar de sua casa, em Glasgow, está completamente fora do mercadão, mas eu o considero um dos compositores mais brilhantes dos últimos anos. Republic of Loose é uma banda irlandesa que deu uma roupagem interessante ao soul, muito legal – também os descobri no Myspace. Outros nomes que estão no Myspace: Daydreamers (França), The Pocket Raindrops (Suécia), Sebastião Estiva (Acre) e até bandas já com gravadoras e mais conhecidas, como Midlake (EUA). O legal do MySpace é que ele te dá a possibilidade de conhecer artistas do mundo todo, muitos com idéias similares às suas.

5) O estado da indústria da música atual já realizou algum sonho seu que seria impossível em outra época?
Meu, não. Sempre fui muito azarado com a indústria. Eu considero meu som super bom, muito melhor do que muita porcaria por aí, mas talvez por eu ser de Curitiba e cantar em Inglês nunca tenham me levado a sério, ao menos no Brasil. O legal da Internet é você não precisar mais depender de industria musical – especialmente a brasileira – para dar seus passos. Estou me armando sozinho, por enquanto. É um caminho difícil, mas dá para se virar. Marcar shows em qualquer lugar do mundo hoje é fácil para qualquer artista brasileiro que queira fazer isso. O problema é quem paga as passagens e todo o resto. Mas é viável. Minha banda, Bad Folks, tocou na Espanha em 2004 sem a ajuda de nenhuma gravadora, tudo com os contatos que fizemos pela Internet.

Cassiano Fagundes é guitarrista e vocalista do Bad Folks