Jason Barnes perdeu parte de seu braço direito num acidente de trabalho e achou que nunca mais pudesse voltar a tocar bateria. Mas a força de vontade lhe fez grudar uma baqueta ao que havia sobrado do membro e aos poucos ele retornou à prática, com um novo professor, Eric Sanders. Ele já havia visto experiências do professor Gil Weinberg do Georgia Institute of Technology com percussão e robótica, que havia criado robôs-bateristas, e resolveu entrar em contato com ele para ver se havia a possibilidade de se trabalhar com uma prótese robótica que pudesse devolver as habilidades musicais de Barnes. Weinberg gostou da idéia e foi além – construindo um braço movido por impulsos elétricos enviados pelo bíceps do baterista que permitem que ele toque mais rápido e mais precisamente do que um baterista humano. Saca só:
A íntegra do vídeo acima – que conta com falas de Barnes e Weinberg, além de toda a primeira apresentação ao vivo do baterista-ciborgue segue abaixo:
Na edição de segunda do Link, falei da relação entre os óculos do Google e a nova série de Bryan Singer, H+…
O dia em que iremos usar chips implantados no cérebro
Do Google Glasses à nova série de Bryan Singer
Há três semanas, o Google mostrou que tem anos de vida pela frente ao desvendar, entre suas novidades, sua linha de hardware. O tablet Nexus 7 já era especulado. E a central de mídia Nexus Q, por mais diferente que fosse seu design esférico, é um hub digital como muitos que já existem no mercado.
O Google Glass apareceu na cara de Sergey Brin e o cofundador do Google explicou que abriria a geringonça para os desenvolvedores que quisessem criar ferramentas para aprimorar seu uso. De fora, os óculos parecem diferentões – fazem as vezes de câmera, computador e monitor. Dá para filmar sem usar as mãos, além de obter informações, na própria “lente”, sobre o que se vê através dos óculos. No futuro, usando o Google Glass, você olharia para uma rua qualquer e, pela parte de dentro das “lentes”, seria possível identificar os estabelecimentos sem sequer ler as suas fachadas.
Imagine este futuro próximo cheio de pessoas usando óculos que permitem que elas se comuniquem sem falar ou usar as mãos; que façam buscas online só com o olhar; que filmem e tirem fotos sem que se mexam. Quem reclama da onipresença e do vício de duas ou mais gerações de telefones celulares tem motivos de sobra para se preocupar com esse futuro. Que, inevitavelmente, nos leva à assustadora profecia em que chips serão instalados nas pessoas.
Profecia literalmente apocalíptica: “E fez que a todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na sua mão direita, ou nas suas testas / Para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome”, é o que diz o Apocalipse de São João, no capítulo 13, versículos 16 e 17.
O detalhe que não foi lembrado na apresentação do Google Glass é que tanto Brin quanto o outro fundador da empresa, Larry Page, já haviam cogitado uma versão ainda mais sinistra destes óculos ao jornalista Steven Levy, que escreveu um dos livros-chave sobre a ascensão do Google, In the Plex, que ainda não foi lançado no Brasil.
“Isto será colocado dentro do cérebro das pessoas”, disse Page. “Quando você pensar em algo e não souber muito sobre aquilo, você receberá mais informações automaticamente.” “É verdade”, continuou Brin, “no final, vejo o Google como uma forma de acrescentar o conhecimento do mundo ao seu cérebro. Hoje você liga o computador e digita uma frase, mas dá para imaginar como isso será mais fácil de fazer no futuro quando tivermos dispositivos acionados pela voz ou computadores que prestam atenção no que acontece ao redor deles.” Page completa. “No fim, teremos um implante em que basta você pensar em algo para que ele lhe traga a resposta.”
Assustador é pouco. (Mas pode ser que haja um certo medo reacionário em relação ao novo, ativado por nosso cérebro reptiliano, que só pensa em atacar ou fugir.) Ao mesmo tempo, parece encantadora a ideia de não precisar de um smartphone para consultar os horários do cinema mais próximo ou ligar o computador para checar a grafia de um sobrenome estrangeiro. O problema não está na nossa aparentemente inevitável evolução ciborgue, mas no fato de que esta tecnologia, maravilhosa na teoria, pode dar errado na prática.
É a premissa do seriado H+, do diretor Bryan Singer (o mesmo de Os Suspeitos e dos primeiros X-Men). Um futuro próximo em que as pessoas implantam um chip na nuca que as permitem viajar por mundos virtuais sem que isso seja percebido como uma não-realidade. Na série, que estreia em agosto e apenas na web, um vírus infecta a rede e as pessoas que possuem o chip implantado simplesmente morrem.
Mas há outra opção: a de nos atermos tanto aos mundos virtuais que nem sequer fazemos mais distinção entre o que é realidade e o que não é.
Parece radical? Sim. Mas não é preciso esperar os chips chegarem. Afinal, muitos já usam a internet como uma forma de se descolar da realidade. O problema, como sempre, não é a tecnologia, mas o que fazemos com ela.