O Bruno desceu o cacete na música e no clipe de mais uma faixa nova dos Chemical Brothers que apareceu online. Mas “Swoom” conversa tanto a linguagem viajandona e lo-profile de alguns dos artistas que eu mais gosto hoje em dia (Washed Out, Delorean, JJ e Memory Tapes) que eu não consegui desgostar. Muito pelo contrário.
5) Emicida – Pra Quem Já Mordeu Um Cachorro Por Comida, Até Que Eu Cheguei Longe
6) Washed Out – Life Of Leisure
O Lúcio (que estreou esta semana no Estadão) viu o XX e o Miike Snow, enquanto a Tramontina (que tá cobrindo o evento pro UOL) viu o JJ em uma igreja. Olha só:
Além desses, outros shows que eu queria ter visto foram os do Washed Out e do Memory Tapes, que tocaram juntos no fim de semana, mas não encontrei vídeo em canto nenhum. Alguém tem notícia?
Quem diria que a banda autora de um dos melhores discos do ano passado nunca tinha feito um show – que só aconteceu há pouco menos de um mês, no dia 16 do corrente, em Manchester, na Inglaterra, iniciando uma turnê que termina no South by Southwest (quando toca pela primeira vez nos EUA). O Memory Tapes é aquele projeto paralelo do Dayve Hawk, ex-Hail Social, que logo depois do fim da banda original virou grife oficial. E, maior surpresa, em vez das texturas e timbres eletrônicos e retrô do disco, guitarra! Muito foda.
A Babee me indicou esse texto do Sean T. Collins, do Savage Critic, sobre o Cavaleiro das Trevas 2, de Frank Miller, e como ele se relaciona com a época em que vivemos. Repasso a dica:
But golly, it sure seems prescient now, huh? Here we are, in the post-electroclash, post-Neptunes, post-DFA era. The hot indie-rock microgenre is glo-fi, which sounds like playing a cassette of your favorite shiny happy pop song when you were three years old after it’s sat in the sun-cooked tape deck of your mom’s Buick for about 20 years. And my single favorite musical moment of last year, as harrowing as those songs are soothing, was the part of the universally acclaimed Portishead comeback album that sounded exactly like something from a John Carpenter film score.
É quando ele aponta para ouvirmos o seguinte trecho de “Machine Gun”, do Portishead, aos 4 minutos do vídeo abaixo:
É um ponto, realmente. Perceba como as trilhas de Carpenter (compostas pelo próprio diretor, diga-se de passagem), têm a ver com artistas atuais tão diferentes quanto Daft Punk, Chromeo, Midnight Juggernauts, Kanye West, Cut Copy, Mystery Tapes, Washed Out, Justice ou o revival da space disco.
É como se os anos 80, no finzinho de seu revival, finalmente pudesse ser visto como uma época de estética específica, sem juízo de valor, que pode ser definida como uma espécie de vintage 80s, sem canções infantis, tecnopop, hits românticos. Houve um momento, entre o cyberpunk e Doom, que havia uma espécie de psicodelia robô, uma mistura de design futurista com cores neon, como se o Hans Donner ou o design de um Gol GTi pudessem ser apreciados artisticamente. Bem bom.
Falando no Memory Tapes, eles acabaram de assinar um remix para a música nova do Midnight Juggernauts. Mas em vez de soar suave e onírico com as faixas autorais do MT, o remix joga a faixa para a pista, começando com uma batida quase latina (o tambozão de “Move Ya Body” me veio à cabeça na hora) para, só no final, descambar no delírio de microfonias psicodélicas característico. Bem bom, mas não é bem para dançar. E daí?
Midnight Juggernauts – “This New Technology (Memory Tapes Mix)“
Projetos paralelos do vocalista do Hail Social, Dayve Hawk, o Memory Cassette e o Weird Tapes eram tratados como artistas novos desconhecidos e não como hobbies de alguém de uma banda indie. A princípio ambos projetos incluíam toda a banda, que alimentava lendas urbanas sobre produtores que desapareceram e só deixaram aquele material, sobre a possibilidade dos discos terem sido gravados no início dos anos 80 e só encontrados agora, sobre as músicas serem um projeto paralelo de um artista de porte global, como o Daft Punk ou o Air. Brincavam com o timbre da voz de Hawk, acelerando-o levemente de forma a tornar seu tom agudo em quase feminino, mexendo até com a possibilidade do projeto ser de uma vocalista – e não de uma banda semidesconhecida.
(Vale à pena ir atrás das versões anteriores do Memory Tapes, que lançou EPs como More Tapes e The Talking Dead como Weird Tapes, e The Hiss We Missed e Rewind While Sleeping, como Memory Cassettes. O som é espaçoso, etéreo e pop demais, camadas e camadas de som se sobrepondo como se o Cocteau Twins convencesse a Madonna dos anos 80 a ser cool em vez de sexy – talvez só sobrasse ao My Bloody Valentine fazer barulho)
A brincadeira foi crescendo, o Hail Social acabou e Hawk juntou os dois projetos num só, assumindo o nome Memory Tapes, que lançou seu primeiro disco (Seek Magic, bem bom, depois falo mais dele aqui) em agosto desse ano. E eis que pinço no Bruno uma mixtape que eles fizeram para o blog Arawa usando apenas trilhas sonoras de filmes de terror (dá pra perceber a obsessão do cara com mortos? Seu primeiro EP tinha a Caroline do Poltergeist na capa). Walk Me Home é uma boa introdução para essas fitas.