Terça passada aconteceu mais uma premiação da Associação Paulista dos Críticos de Arte (desta vez transmitida online, dá pra conferir aqui) e esta semana a comissão de música popular da APCA, da qual faço parte ao lado de Adriana de Barros (TV Cultura), Bruno Capelas (Programa de Indie), Camilo Rocha (Bate Estaca), Cleber Facchi (Música Instantânea), Felipe Machado (Istoé), Guilherme Werneck (Meio e Ladrilho Hidráulico), José Norberto Flesch (Canal do Flesch), Marcelo Costa (Scream & Yell), Pedro Antunes (Estadão e Tem um Gato na Minha Vitrola) e Pérola Mathias (Poro Aberto), escolheu os 25 melhores discos do primeiro semestre deste ano. Uma boa e ampla seleção que não contou com alguns dos meus discos favoritos do ano (afinal, é uma democracia, todos têm voto), mas acaba sendo uma boa amostra do que foi lançado neste início de 2024. E pra você, qual ficou faltando?
O silêncio quase eclesiástico feito pelo público que encheu o Centro da Terra neste primeiro de julho tornou a apresentação de Lucca Simões ainda mais fluida e reverente, mesmo que estes adjetivos pareçam se contradizer. O músico começou tocando sozinho para depois chamar aos poucos os outros convidados da noite, primeiro Gabriel Milliet, tocando flauta transversal, seguido de Eduarda Abreu, só ao piano, com quem fez números em dupla. Depois chamou Lucas Gonçalves (no baixo) e Chico Bernardes (na bateria) para um primeiro número como trio para finalmente chamar Eduarda de volta e terminar a noite como um quarteto, mostrando as músicas que deverão entrar em seu primeiro álbum, com todo esmero e delicadeza que as canções precisavam. Afinal seu autor é, ao mesmo tempo, um vocalista quase tímido e um guitarrista sutil e discreto, o que culminou no segundo momento solo da noite, quando tocou a única versão do repertório, uma lindíssima leitura instrumental de “Você é Linda”, de Caetano Veloso. Todos os convidados eram sensíveis o suficiente para entender a leveza do repertório e da performance do autor, deixando-o à vontade sem que precisassem rechear sua sonoridade, tornando os vazios presentes. O único momento mais cheio do show foi quando Lucca chamou o público para cantarolar o refrão de uma canção que acaba sendo a síntese de sua musicalidade: “Devagar e sempre, sempre a caminhar”. Foi bem bonito.
O segundo semestre começa com a primeira apresentação solo de Lucca Simões no Centro da Terra, que traz seu espetáculo Dizer Novo Adeus para mostrar as músicas que vem preparando para seu primeiro álbum solo. Acompanhado de uma banda formada por Eduarda Abreu (piano), Lucas Gonçalves (baixo) e Chico Bernardes (bateria), ele traz suas canções que equilibram-se entre o folk, o indie rock e a música brasileira, sempre tocadas de forma minimalista e introspectiva, mas que crescem com a participação de outros músicos. Nesta apresentação ele ainda conta com a presença do músico, cantor e compositor Gabriel Milliet. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.
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Sai nessa sexta-feira o segundo disco de Chico Bernardes, Outros Fios, cinco anos depois de seu homônimo disco de estreia, lançado antes da pandemia. Nesse meio-tempo, Chico vem burilando suas novas canções pacientemente em seu estúdio em casa, com a mesma meticulosidade do primeiro trabalho, mas se isso parecia puxar pela introspecção e fazê-lo afundar ainda mais em seu violão, o resultado não poderia ser mais diferente. Além de mostrar um claro amadurecimento criativo – tanto musical quanto conceitual -, o novo álbum traz suas canções, que antes eram quase sempre conduzidas por sua voz delicada e seu violão intrincado, agora com novos instrumentos e andamentos. Os três singles que mostrou até agora funcionam como um bom apertivo do novo trabalho: “Assim“, cheio de teclas e com bateria; “Motivo“, sem violão (com teclado, baixo e bateria) um gostinho Pet Sounds que me lembrou High Llamas e a sensível “Todacor“, que traz a única participação do disco, da cantora mexicana Reno Rojas, em que divide os vocais em espanhol com a convidada. Mas ainda há sopros, synths, piano, baixos distorcidos e percussões e a melancolia e a delicadeza, que antes eram introspectivas, quase tímidas, abrem-se com mais brilho e beleza, mostrando que a maturidade que canta não fica só na teoria, ampliando as referências de sua geração para além da MPB setentista, o indie rock e o folk. Pude ouvir o disco em primeira mão e é evidente o salto que Chico deu em relação ao seu primeiro disco solo, longe de fazer uma mera continuação do trabalho anterior, como poderíamos supor. Não vejo a hora de ver essas canções ao vivo – e como esse novo cenário pode ter impactado em suas outras músicas. Ele liberou o nome das faixas antes do lançamento aqui para o Trabalho Suio (veja abaixo, com a capa do disco) – e minhas favoritas, até agora são a eletrônica “Inerte”, a faixa-título, a já citada “Todacor”, o transe vocal da viagem nostálgica de “Sonho Meu” (que encerra o disco) e “Ode à Perfeição”, que parece fazer a ponte entre os dois discos. Muito bem, seu Chico.
E depois da aula corre pro Porta Maldita que estava lotado para ver dois talentos em ascensão da música local tocar suas músicas delicadas com acompanhamentos sutis. Primeiro foi a vez de Luiza Villa fazer sua primeira apresentação solo, quando mostrou suas primeiras composições além de versões para músicas alheias, indo de Gilberto Gil à sua familiar Joni Mitchell, passando por uma versão deslumbrante para “If a Tree Falls in Love with a River”, de Lau Noah e Jacob Collier, quando abriu vozes com sua irmã Marina, e “Tristeza do Jeca”, que dividiu com o dono do segundo show da noite, Lucca Simões.
Depois Lucca subiu ao palco para mostrar suas delicadas canções, conduzidas por sua voz suave e guitarra clara. Suas composições cresceram ainda mais com a bela banda que reuniu, com Eduarda Abreu nos teclados, Chico Bernardes na bateria e Lucas Gonçalves no baixo, partindo do folk e da MPB que impulsiona sua criação abraçando ao mesmo tempo tanto um rock setentista quanto uma pitada de jazz elétrico. Bem bonito.
Começando a semana na sintonia que Chico Bernardes preparou para o público do Centro da Terra, canalizando, no espetáculo Rádio Chico, frequências que fizeram sua cabeça de compositor, enquanto alternava estas influências com suas próprias canções. E entre versões para músicas de Beatles, Duncan Jones, Fleet Foxes, Fairpoirt Convention via Nina Simone, David Crosby e duas músicas de seu segundo disco (ainda com títulos provisórios, “Ode” e “Nesse Exato Instante”), que prometeu lançar ainda este ano, encerrou a apresentação canalizando um Gil clássico: “Eu Preciso Aprender a Só Ser”. Show lindão.
Maior satisfação começar a semana no Centro da Terra com uma apresentação do Chico Bernardes, que além de repassar músicas de seu disco de estreia e pinçar algumas músicas novas e versões, ainda trará músicas inéditas que poderão fazer parte de seu segundo disco. O espetáculo Rádio Chico começa pontualmente às 20h e os ingressos – que estão quase no fim – podem ser comprados neste link.
Vamos começar o ano no Centro da Terra? A curadoria de música do nosso querido teatro do Sumaré retoma os trabalhos já no primeiro dia de fevereiro e durante este mês teremos espetáculos de segunda a quarta. A primeira apresentação marca o retorno de Carla Boregas e M. Takara aos palcos do teatro, quando recebem a flautista Marina Cyrino para o espetáculo Grande Massa D’Água já na primeira quarta-feira do mês. Dia 6 é dia de receber o cantor e compositor Lucas Gonçalves, que se reúne a Lucca Simões, apresentando o espetáculo Se Chover. Na primeira terça-feira do mês, dia 7, quem retorna aos palcos do teatro é Izzy Gordon, revisitando o repertório de sua tia, Dolores Duran, numa apresentação que deve transformar-se em disco, ao lado de uma banda formada só por mulheres, incluindo a participação de sua mãe, irmã de Dolores, Denise Duran. Na quarta-feira, dia 8, Anna Vis convida Kauê e Caxtrinho para uma apresentação única, costurando seus repertórios num encontro inédito Mais Que Uma Canção, Menos Que Um Amor. Na segunda-feira dia 13 é a vez de Chico Bernardes repassar canções de seu primeiro disco solo e antecipar algumas de seu próximo álbum, além de fazer algumas versões, no espetáculo Rádio Chico. Na terça, dia 14, a curitibana Bruna Lucchesi traz seu espetáculo Quem Faz Amor Faz Barulho, dedicado à obra, especificamente às canções, do poeta conterrâneo Paulo Leminski. Dia 15 quem apresenta-se no teatro é Sophia Chablau, que vem em versão solo, mostrando canções conhecidas e inéditas no espetáculo Só. E depois do carnaval, no dia 27, primeiro recebemos Marcela Lucatelli, que traz seu Brazilian Songbook pela primeira vez ao Brasil, e, no dia seguinte, dia 28, é a vez do encontro inédito de duas das principais bandas pesadas do Brasil, os paulistanos Test e os paraibanos Papangu. E aproveite para conhecer o novo restaurante Shakshuka, no terréo do teatro, que agora abre desde a hora do almoço – e traz refeições e drinks. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.