Entre luz e sombras

Apresentando-se pela primeira vez no Centro da Terra, o quinteto paulistano Naimaculada mostrou que está mais do que pronto para começar sua nova fase, que começa oficialmente no dia 28 de março deste ano, quando oficializaram o lançamento de seu disco de estreia A Cor Mais Próxima do Cinza. O jazz rock com toques de rock progressivo e heavy metal do grupo subiu o próprio patamar ao fazer um show com som surround, projeções, iluminação e participações especiais tocando pela primeira vez todos de branco – ao contrário do que vinham fazendo até então, quando tocavam todos de preto. A apresentação começou com gravações do som ambiente de São Paulo (especialmente do trânsito, ônibus e metrô) e depoimentos de pessoas aleatórias falando sobre a influência da cidade grande em suas vidas, temática subliminar da banda e central neste primeiro disco. Aquele registro, aliado à cenografia toda em preto e branco do palco, criou o clima perfeito para conduzir o público ao seu inferno urbano, cantando com dor e paixão no encontro musical do vocal soul de Ricardo Paes, a guitarra de rock clássico de Samuel Xavier, o baixo funky e pós-punk de Luiz Viegas, o sax de Gabriel Gadelha, entre o jazz e o pop, e a bateria de Pietro Benedan, que equilibra o peso do metal e do hardcore com as dinâmicas do funk e do jazz. O encontro desta noite foi enriquecido com participações, especificamente a presença de Lukas Pessoa, tecladista prog do grupo Monstro Amigo, que deu um novo molho ao ser incluído integralmente à formação, do MC CGA e da vocalista Sol Dias, que ajudaram a criar novas camadas na apresentação ao vivo da banda, bem como as projeções de Olívia Albergaria e a luz monocromática de Dara Duarte. Provocaram o público tocando o disco na íntegra e terminando com uma inédita, conduzindo noite entre luz e sombras, entre o silêncio e o ruído, entre a paz e a paranoia e impetuosamente abrindo terreno para um novo momento vivido pela jovem nova música de São Paulo, que começa a se consolidar neste meio de década.

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Naimaculada: Acromatopsia

O quinteto Naimaculada é a segunda atração de 2025 no Centro da Terra e antecipa seu disco de estreia, que será lançado ainda este semestre, no espetáculo Acromatopsia, em que amplia no palco o conceito do álbum Cor Mais Próxima do Cinza. O título a apresentação refere-se a uma condição ocular em que o indivíduo não consegue perceber cores vê tudo em tons de cinza, o que conversa com a perspectiva da banda de jazz rock sobre a vida urbana e a complexidade e monotonia que coexistem nas grandes cidades. O show contará com intervenções sonoras entre as canções e outras visuais e sonoras para deixar o espetáculo ainda mais intenso. A apresentação, como sempre, começa às 20h e os ingressos estão à venda pelo site do Centro da Terra.

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Da selva ao oceano

Eram dois solos, mas eles fundiram-se em uma só apresentação. Assim foi a primeira apresentação de 2025 no Centro da Terra, quando Maurício Takara e Carla Boregas juntaram dois projetos em que tocam todos os instrumentos em um único espetáculo, causando uma transição estranha mas familiar entre seus dois trabalhos. Cada um montou seu set em um lado do palco e Takara começou desconstruindo a bateria a partir do free jazz, mas logo foi entrando em territórios ainda mais densos e delicados, primeiro ao acrescentar pitadas de eletrônica invertendo os beats acústicos para depois passar por instrumentos de sopro (como flautas e apitos) e instrumentos de percussão tocados à parte da bateria, devidamente sampleados com gritos e aos poucos transformando a ambiência jazzística em uma imersão à natureza, rasgando pelo coração selvagem de uma floresta impenetrável. Quando Carla começou a tocar seus sintetizadores ainda com a presença de Maurício em sua bateria, o som começa a ganhar uma aura de ruído branco que vai se destacando devagar até o baterista sair o palco, deixando Boregas em sua paisagem etérea que por vezes soa oceânica, polar ou boreal, dependendo das frequências que vai acionando, colorindo a noite com cores frias e timbres implacáveis, mas esparsos, como se estivéssemos sendo observados por entidades multidimensionais. O ritmo e os loops eletrônicos vão surgindo quase discretamente, enquanto ela hipnotizava os presentes como se cantasse um mantra astral sem precisar mexer as cordas vocais. A forma como as duas apresentações – que funcionam sozinhas – se misturaram e se complementaram é só uma prova da sinergia dos dois, que conseguem interferir no trabalho do outro sem necessariamente descaracterizá-los. Um começo de ano inacreditável.

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M. Takara + Carla Boregas: 2 Solos

Maior satisfação em começar mais um ano da curadoria de música no Centro da Terra com a presença destes dois autores que, desta vez, optaram por tocarem separados em vez de fazer uma apresentação conjunta, como na última vez. Maurício Takara e Carla Boregas são nomes conhecidos da cena underground paulistana e estão morando há anos na Alemanha, voltando para o país esporadicamente para apresentações pontuais, como é o caso destes 2 Solos, que trazem para o palco do Centro da Terra nesta segunda. Takara mostra Reminiscências, em que combina manipulação eletrônica e percussão em uma profundidade rítmica baseado em temas e improvisos, enquanto Carla mostra uma versão individual de seu disco Pena ao Mar, com composições que integram sintetizadores, gravações de campo e elementos melódicos. Os dois não planejaram, mas vai que existe a possibilidade de tocarem juntos? O espetáculo, como de praxe, começa às 20h e os ingressos estão à venda pelo site do Centro da Terra.

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Centro da Terra: Janeiro e fevereiro de 2025

Vamos começar 2025? E começar logo, afinal essa é a primeira vez que o Centro da Terra começa suas atividades ainda no mês de janeiro, nem que seja na última semana. Pois a programação da curadoria de música começa na próxima semana com duas apresentações no primeiro mês do ano novo: na última segunda de janeiro (dia 27) o casal Carla Boregas e M. Takara encontram-se no palco no espetáculo 2 Solos, em que tocam diferentes trabalhos solo sozinhos no palco e talvez encontrem-se em algum momento da noite. Na terça seguinte (dia 28), o grupo Naimaculada mostra na íntegra seu álbum de estreia, A Cor Mais Próxima do Cinza, que será lançado ainda neste início do ano, numa noite que batizaram de Acromatopsia. Fevereiro traz a primeira temporada do ano quando a artista moçambicana Lenna Bahule apresenta uma série de apresentações em todas as segundas do mês (3, 10, 17 e 24). Em Àdupé: Gratidão, Bênçãos e Graças Que Nos Chegam do Divino, ela faz diferentes apresentações ao lado de artistas como Jota Erre, Juçara Marçal, Ari Colaris, Alessandra Leão, Maurício Badé, Camilo Zorilla, Guinho Nascimento, Kabé Pinheiro, Bruno Duarte e Jéssica Areias, entre outros, sempre acompanhada dos irmãos Kiko e Ed Woiski. Na primeira terça de fevereiro (dia 4), Mari Merenda começa a mostrar seu novo trabalho em formato solo, tocando todos os instrumentos no espetáculo Reverbero, quando mistura forró, o côco, o pop e R&B com elementos de trilhas sonoras. Na outra terça (dia 11) é a vez da superbanda Tietê mostrar seu primeiro disco solo, que ainda será lançado neste semestre, no espetáculo Tâmisa, trazendo as lembranças que trouxeram de Londres, quando gravaram seu álbum no lendário estúdio Abbey Road. Na semana seguinte (dia 18), é a vez de outra artista mostrar seu próximo disco, quando a brasiliense Gaivota Naves mostra as composições de seu Concretutopia-Neoconcreto ao lado do guitarrista Pedro Omarazul e do pianista pernambucano Matheus Mota, convidado para essa apresentação única. A programação de música termina na última terça antes do carnaval, quando o violonista Daniel Murray mostra o ciclo autoral composto por 24 miniaturas para violão no espetáculo Vista da Montanha. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados pela internet.

Choque de realidade

No cartaz estava escrito que era um encontro de três artistas: Crizin da ZO, Deaf Kids e MNTH. Mas o que o público que foi ao Centro da Terra nesta última terça-feira da programação de música do ano do teatro assistiu não foi um encontro, foi o nascimento de um grupo. A química entre o vocal e a percussão de Cris Onofre e do baixo e dos efeitos de Marcelo Fiedler (que puxou um samba na guitarra uma hora), ambos do Crizin da ZO; de Douglas Leal (guitarra e percussão) e Marian Sarine (bateria, percussão e efeitos), do Death Kids; e das programações, beats e efeitos de MNTH caminhou para longe de um improviso coletivo e parecia a formação de um novo conjunto, que pode ser batizado com o título que os cinco deram para a noite: Colapso Programado. Usando as músicas do Crizin da ZO como eixo lírico e forjando células de ruído a partir do ritmo, os cinco cruzaram punk, funk e jazz numa fritação contínua, que só teve uma única pausa para fôlego e agradecimentos em quase uma hora incessante de texturas elétricas agressivas e camadas de groove compactadas entre timbres sintéticos e o couro da percussão. O encontro ainda estava sendo processado na mesa por Pedro Silva e pelo chiaschuro intenso da luz de Georgia Tolaini, o que deu um outro andar de pesadelo ao acontecimento. Encerramos o ano em grande estilo e antevendo que 2025 vai ser ainda melhor. Vamos!

Assista abaixo:  

Crizin da ZO + Deafkids + MNTH: Colapso Programado

E encerramos 2024 com o abismo no fim do túnel, ao apresentar o Colapso Programado surgido com a junção do funk apocalíptico carioca do Crizin da ZO ao noise extremo paulista dos Deafkids e o experimentalismo climático do projeto de Guarulhos MNTH, quando punk, rap, samba e drum ‘n’ bass se encontram num ponto de tensão eletrônico. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Bela estreia

Bem bonita a estreia autoral de Lara Castagnolli nesta segunda-feira no Centro da Terra, quando apresentou pela primeira vez o show inteiro com repertório próprio com o título que batiza seu disco de estreia, Araribá, acompanhada por uma banda formada por Tommy Coelho (violão e bateria), Pedro Abujamra (teclado e piano), Bento Sarto (guitarra e violão), Theo Ribeiro (contrabaixo) e Maria Violeta (vocais de apoio), além de contar com as participações de Mestrinho (vocais e acordeão), Morgana Moreno (flauta), Laura Santos (clarinete) e Tayná Ibanêz (vocais). Além das músicas próprias (grande parte fazendo alusões ao reino vegetal, área de formação da cantora, que estuda engenharia florestal), Lara ainda passeou por standards da música brasileira, como “Travessia” e “Força Estranha”, e fez o público cantar suas músicas ainda inéditas.

Assista abaixo:  

Lara Castagnolli: Araribá

2024 está quase no fim no Centro da Terra e a penúltima apresentação musical do ano é a estreia do trabalho solo da promissora cantora Lara Castagnolli, que, depois de apresentações intimistas ao lado do músico Mestrinho e de um espetáculo dedicado à Gal Costa, prepara-se para lançar seu primeiro trabalho solo, que batiza essa apresentação de fim de ano. No espetáculo imersivo Araribá, ela reúne aos músicos Tommy Coelho, Pedro Abujamra, Bento Sarto e Theo Ribeiro para mostrar suas primeiras composições, numa noite que também terá a participação do próprio Mestrinho e de Morgana Moreno. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda na bilheteria e no site do Centro da Terra.

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Puro esplendor

Uma noite esplendorosa nesta terça-feira no Centro da Terra quando o público lotou o teatro para ver o reencontro dos amigos Léa Freire, Filó Machado e Alaíde Costa. Os dois primeiros começaram a noite entre números instrumentais e composições de Filó Machado (como “Carmens e Consuelos” e “Terras de Minas”), com Léa na flauta transversal, atuando como anfitriã da noite, enquanto seu compadre dividia-se entre o violão e os vocais, que por vezes acompanhava as canções que tocavam juntos, por outros fantasiava-se de bateria ou contrabaixo em vocalizes cheios de groove. A noite ficou ainda mais grandiosa com a entrada da diva Alaíde Costa, que começou cantando “Segundo Andar”, eternizada por Dalva de Oliveira, que comentou que acabara de gravar com os próprios Léa e Filó. Depois o trio passeou por canções guiadas pelo canto magnífico da deusa da voz, como “Diariamente” (de Paulo César Girão), duas de Fátima Guedes pinçadas de seu Muito Prazer (“Absinto” e “Eu Te Odeio”) e um clássico do argentino Piero De Benedictis (“Pedro Nadie”) para encerrar com a maravilhosa “Céu e Mar”, de Johnny Alf, numa noite histórica para o teatro. Quem foi sabe.

Assista abaixo: