Eram dois solos, mas eles fundiram-se em uma só apresentação. Assim foi a primeira apresentação de 2025 no Centro da Terra, quando Maurício Takara e Carla Boregas juntaram dois projetos em que tocam todos os instrumentos em um único espetáculo, causando uma transição estranha mas familiar entre seus dois trabalhos. Cada um montou seu set em um lado do palco e Takara começou desconstruindo a bateria a partir do free jazz, mas logo foi entrando em territórios ainda mais densos e delicados, primeiro ao acrescentar pitadas de eletrônica invertendo os beats acústicos para depois passar por instrumentos de sopro (como flautas e apitos) e instrumentos de percussão tocados à parte da bateria, devidamente sampleados com gritos e aos poucos transformando a ambiência jazzística em uma imersão à natureza, rasgando pelo coração selvagem de uma floresta impenetrável. Quando Carla começou a tocar seus sintetizadores ainda com a presença de Maurício em sua bateria, o som começa a ganhar uma aura de ruído branco que vai se destacando devagar até o baterista sair o palco, deixando Boregas em sua paisagem etérea que por vezes soa oceânica, polar ou boreal, dependendo das frequências que vai acionando, colorindo a noite com cores frias e timbres implacáveis, mas esparsos, como se estivéssemos sendo observados por entidades multidimensionais. O ritmo e os loops eletrônicos vão surgindo quase discretamente, enquanto ela hipnotizava os presentes como se cantasse um mantra astral sem precisar mexer as cordas vocais. A forma como as duas apresentações – que funcionam sozinhas – se misturaram e se complementaram é só uma prova da sinergia dos dois, que conseguem interferir no trabalho do outro sem necessariamente descaracterizá-los. Um começo de ano inacreditável.
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Maior satisfação em começar mais um ano da curadoria de música no Centro da Terra com a presença destes dois autores que, desta vez, optaram por tocarem separados em vez de fazer uma apresentação conjunta, como na última vez. Maurício Takara e Carla Boregas são nomes conhecidos da cena underground paulistana e estão morando há anos na Alemanha, voltando para o país esporadicamente para apresentações pontuais, como é o caso destes 2 Solos, que trazem para o palco do Centro da Terra nesta segunda. Takara mostra Reminiscências, em que combina manipulação eletrônica e percussão em uma profundidade rítmica baseado em temas e improvisos, enquanto Carla mostra uma versão individual de seu disco Pena ao Mar, com composições que integram sintetizadores, gravações de campo e elementos melódicos. Os dois não planejaram, mas vai que existe a possibilidade de tocarem juntos? O espetáculo, como de praxe, começa às 20h e os ingressos estão à venda pelo site do Centro da Terra.
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Vamos começar 2025? E começar logo, afinal essa é a primeira vez que o Centro da Terra começa suas atividades ainda no mês de janeiro, nem que seja na última semana. Pois a programação da curadoria de música começa na próxima semana com duas apresentações no primeiro mês do ano novo: na última segunda de janeiro (dia 27) o casal Carla Boregas e M. Takara encontram-se no palco no espetáculo 2 Solos, em que tocam diferentes trabalhos solo sozinhos no palco e talvez encontrem-se em algum momento da noite. Na terça seguinte (dia 28), o grupo Naimaculada mostra na íntegra seu álbum de estreia, A Cor Mais Próxima do Cinza, que será lançado ainda neste início do ano, numa noite que batizaram de Acromatopsia. Fevereiro traz a primeira temporada do ano quando a artista moçambicana Lenna Bahule apresenta uma série de apresentações em todas as segundas do mês (3, 10, 17 e 24). Em Àdupé: Gratidão, Bênçãos e Graças Que Nos Chegam do Divino, ela faz diferentes apresentações ao lado de artistas como Jota Erre, Juçara Marçal, Ari Colaris, Alessandra Leão, Maurício Badé, Camilo Zorilla, Guinho Nascimento, Kabé Pinheiro, Bruno Duarte e Jéssica Areias, entre outros, sempre acompanhada dos irmãos Kiko e Ed Woiski. Na primeira terça de fevereiro (dia 4), Mari Merenda começa a mostrar seu novo trabalho em formato solo, tocando todos os instrumentos no espetáculo Reverbero, quando mistura forró, o côco, o pop e R&B com elementos de trilhas sonoras. Na outra terça (dia 11) é a vez da superbanda Tietê mostrar seu primeiro disco solo, que ainda será lançado neste semestre, no espetáculo Tâmisa, trazendo as lembranças que trouxeram de Londres, quando gravaram seu álbum no lendário estúdio Abbey Road. Na semana seguinte (dia 18), é a vez de outra artista mostrar seu próximo disco, quando a brasiliense Gaivota Naves mostra as composições de seu Concretutopia-Neoconcreto ao lado do guitarrista Pedro Omarazul e do pianista pernambucano Matheus Mota, convidado para essa apresentação única. A programação de música termina na última terça antes do carnaval, quando o violonista Daniel Murray mostra o ciclo autoral composto por 24 miniaturas para violão no espetáculo Vista da Montanha. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados pela internet.