
E começamos a programação de cinema do Centro da Terra em 2023 com o documentário Lira Paulistana e a Vanguarda Paulista (2012) sobre a clássica casa de shows que mudou a cara da paisagem cultural da cidade de São Paulo – e, a longo prazo, do Brasil – na virada dos anos 70 para os anos 80. Palco de nomes como Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé, Grupo Rumo, Premeditando o Breque, entre outros, o Lira é o objeto deste primeiro filme exibido no teatro do Sumaré em parceria com o festival In Edit Brasil. Sua exibição acontece nesta quarta-feira, às 20h, e será seguida de um bate-papo com o realizador do filme – e um dos agitadores da casa original – Riba de Castro. Os ingressos já estão à venda e quem comprar um ingresso também ganha o livro Lira Paulistana – Um Delírio de Porão. Nos vemos lá?

Duas realidades sonoras se chocaram nesta terça-feira no Centro da Terra sob o signo do ruído. O duo paulistano Test (transformado em trio com a presença de Bernardo Pacheco, assumindo o baixo como convidado desta noite) convidou o quinteto paraibano Papangu para um encontro no palco que, a princípio, imaginei vir na linha dos outros encontros que já haviam realizado anteriormente, tocando coletivamente com o trio Rakta e o quarteto Deaf Kids, ambos daqui de São Paulo. Mas ao contrapor um universo musicalmente tão distinto quanto o do Papangu, o time paulistano preferiu alternar composições com o grupo da Paraíba. E enquanto o Test passeava pelo grindcore e speed metal com sua desenvoltura já tradicional – criando um volume grave de barulho que às vezes arrastava-se e outras disparava, o Papangu expandiu os tentáculos de seu metal pela música nordestina, sacando flauta, gaita e triângulo como contrapontos acústicos da massa sonora do grupo, e pelo rock progressivo, chegando ao extremo de reduzir o show a um piano acústico acompanhado do sax do convidado da banda, o francês Benoit Crauste. Com duas bandas no palco simultaneamente, era inevitável que o encontro vez por outra descambasse para o improviso, fazendo os sete músicos entrarem em combustão espontânea musical. Um soco sonoro, daqueles de tirar o fôlego.

Duas forças do som pesado brasileiro contemporâneo encontram-se nesta terça, no Centro da Terra, quando o duo paulistano Test (acompanhado de Bernardo Pacheco no baixo) e o quarteto paraibano Papangu apresentam-se juntos – e ao mesmo tempo – pela primeira vez, tocando músicas de seus álbuns mais recentes no encontro inédito Esquema Tático de Destruição em Massa em Nome do Holoceno. A apresentação começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente aqui.

Quando dedicou-se a visitar o repertório clássico – no limite do clichê – da música brasileira reconhecida no exterior em seu Brazliian Songbook, Marcela Lucatelli despedaçou símbolos da MPB como uma forma de confronto estético, iconoclastia que inevitavelmente tem natureza política. Isso muito pelo fato de que o projeto foi gravado com músicos do país em que Marcela reside há anos, a Dinamarca, cuja visão de nossa sonoridade é muito específica (e também no limite do clichê). Mas quando ela arregimentou um timaço de músicos brasileiros para reviver esta premissa no palco do Centro da Terra, nesta segunda-feira, a abordagem foi para um outro patamar. Livre dos clichês que permeiam o álbum – o pianinho bucólico, o violão percussivo com acordes dissonantes, a bateria segurando o beat no aro da caixa -, ela partiu do improviso livre ao lado de quatro jovens mestres nesta arte, todos eles mais do que escolados na música brasileira, mas parte desta. Marcelo Cabral, Rodrigo Campos, Alana Ananias e Lello Bezerra criaram um conjunto abstrato de ruído que em poucos momentos resvalava no que se reconhecia como clássico da música brasileira, deixando a hiperbólica apresentação vocal e cênica de Marcela como fio condutor desta sonoridade. Ela disseca versos e frases musicais com um ataque musical entre a violência e o escárnio, enquanto sua performance cênica, solta naquela teia de ruído tão bem tramada (ainda que ao acaso), relê estas canções entre o encanto e a ironia. À frente daqueles quatro cientistas do som, transmutou seu Songbook em ouro puro.

Quase chegando no final do mês, recebemos mais uma vez, no Centro da Terra, a cantora mineira Marcela Lucatelli para fazer a primeira apresentação de seu Brazilian Songbook em solo brasileiro. Residente há quase duas décadas na Dinamarca, ela estabeleceu-se como uma referência no canto de improviso livre na Europa e neste trabalho, ela viaja por clássicos da música brasileira, desconstruindo-os à medida em que embaralha as fronteiras entre samba, free jazz, musica pop, ópera, heavy metal e música experimental. Para montar este quebra-cabeças psíquico, ela conta com uma banda formada especialmente para esta ocasião, com Rodrigo Campos no cavaquinho, Lello Bezerra na guitarra, Marcelo Cabral no baixo e Alana Ananias na bateria, o que abre outras tantas dimensões nesta improvável equação. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos estão à venda neste link.

Mesmo antes da apresentação que Sophia Chablau fez nesta quarta-feira no Centro da Terra eu já tinha a sensação de que ela estava dando um passo importante em sua ainda breve biografia. Tocando sozinha com seu violão e apresentando músicas novas pela primeira vez, ela mostrou um lado mais lírico e menos irônico do que o que conhecemos em seus trabalhos com suas outras bandas, usando o humor para quebrar o gelo entre as músicas, mas criando um clima mais intimista mesmo quando tocava os rocks tortos que conhecemos quando ela lidera, a Uma Enorme Perda de Tempo, ainda que este clima se expandisse com os vídeos que Dora Vinci projetava sobre a jovem compositora paulistana. E quando uma das músicas novas crava sobre “o início de uma nova era”, confirma-se a sensação de que ela começa a virar uma página de sua carreira para alçar outros voos.
Assista aqui.

Mais uma vez tenho o prazer de receber Sophia Chablau no palco do Centro da Terra, desta vez sozinha, acompanhada apenas de seu violão, e mostrando várias músicas inéditas nesta quarta-feira. O espetáculo Só foi concebido ao lado da artista visual Dora Vinci, que dividiu a apresentação em cinco partes, que conversam com o roteiro criado pela jovem compositora paulistana. A apresentação começa pontualmente às 20h e os ingressos – que estão quase no fim! – podem ser comprados neste link.

Linda a apresentação que Bruna Lucchesi fez nesta terça-feira no Centro da Terra celebrando uma das facetas menos conhecidas de Paulo Leminski – a de compositor de canções. Ela passeou pelo cancioneiro do lendário poeta curitibano como parte de uma pesquisa que ela faz há anos sobre sua obra e deu uma nova roupagem a canções quase desconhecidas que encantaram o público desde o início do espetáculo, que ainda contou com a participação remota de Angélica Freitas e presencial do grande Rubi.

É a primeira vez que a curitibana Bruna Lucchesi sobe no palco do Centro da Terra nesta terça-feira, num espetáculo dedicado à obra do conterrâneo Paulo Leminski, que além de poeta, tradutor e ensaísta, também compunha suas canções. Quem Faz Amor Faz Barulho é um mergulho nesta faceta deste artista, em busca da utopia que ele almejada em suas obras. A apresentação, que Bruna faz ao lado dos músicos Cecília Collaço, Ivan Gomes, Paulo Ohana e Vitor Wutzki, também terá a participação da poeta Angélica Freitas O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente aqui.

Começando a semana na sintonia que Chico Bernardes preparou para o público do Centro da Terra, canalizando, no espetáculo Rádio Chico, frequências que fizeram sua cabeça de compositor, enquanto alternava estas influências com suas próprias canções. E entre versões para músicas de Beatles, Duncan Jones, Fleet Foxes, Fairpoirt Convention via Nina Simone, David Crosby e duas músicas de seu segundo disco (ainda com títulos provisórios, “Ode” e “Nesse Exato Instante”), que prometeu lançar ainda este ano, encerrou a apresentação canalizando um Gil clássico: “Eu Preciso Aprender a Só Ser”. Show lindão.