Baile de Carnaval Noites Trabalho Sujo 2016!

trackers9fevereiro2016

As experiências psíquico-sônico-físicas proporcionadas pelo centro de pesquisas Noites Trabalho Sujo mais uma vez entram no módulo anual de exercícios e testes realizados em condições extremas de satisfação e prazer. O estudo antropológico-medicinal conduzido no laboratório psicodélico Trackertower desta vez recebe seus participantes depois de uma exposição intensa à noventa e seis horas de energia orgônica extravasada na cara. Depois de quatro dias de descoordenação motora e alucinações etílicas, que testam os limites da extroversão em nossos convidados, atravessamos a última madrugada do carnaval paulistano deste ano movimentando sistemas circulatórios, neurônios, quadris e espasmos de enzimas de estímulo e animação. Os experimentos começam logo à entrada, quando os convidados são recepcionados pelo pós-doutorado em expansão cerebral química Ricardo Spencer, que acelerará partículas sonoras buscando referências em suas raízes soteropolitanas. No pavilhão azul, o grupo de pesquisadoras Awe Mariah, formado pela antropóloga social Heloísa Lupinacci, a controladora psíquica Mariana Gouveia, a coreógrafa mental Fernada Pappalardo e a exploradora rítmica Luise Federman, testa os limites da compreensão e do ritmo submetendo os presentes a doses maciças de registros musicais ativadores do inconsciente. A pós-graduanda em comportamento digital Ana Paula Freitas junta-se à apresentação do grupo de pesquisadoras num encontro inédito neste lado do Equador. No outro auditório, dois dos três fundadores do instituto de pesquisas culturais Veneno Soundsystem desmancham preconceitos e desconcertam estereótipos ligados às civilizações latino-americanas, africanas, caribenhas e do oriente médio. O pesquisador de continentes Peba Tropikal traz sua coleção de registros raros em acetato enquanto o escritor Ronaldo Evangelista demonstra improvisos musicais de décadas passadas. Os dois recebem o renomado correspondente Ramiro Zwetsch, do laboratório Radiola Urbana, que hoje atua na indústria artesanal fonográfica em seu enclave Patuá Discos, que substitui a ausência do doutor arranjador Maurício Fleury, atualmente em excursão pela Europa com o coletivo psíquico-rítmico Bixiga 70. E encerrando as atividades, o centro de pesquisa realizador do encontro, o trio de cientistas intergaláticos intraplanetário Noites Trabalho Sujo, extrai a energia restante dos participantes, convertendo o desgaste físico em combustível para outras tantas horas de excitação e êxtase. Alexandre Matias, Luiz Pattoli e Danilo Cabral também fazem questão de frisar a importância da fantasia nesta madrugada, para que o experimento possa atravessar camadas cerebrais ativadas também pelo questionamento visual. Como de praxe, a participação no evento requer obrigatoriamente o envio dos nomes de quem quiser se submeter a tais experiências pelo correio eletrônico noitestrabalhosujo@gmail.com.

Baile de Carnaval Noites Trabalho Sujo 2016!
Terça, 9 de fevereiro de 2016
No som: Alexandre Matias, Luiz Pattoli e Danilo Cabral (Noites Trabalho Sujo), Helo Lupinacci, Fe Pappalardo, Mari Gouveia e Lu Federman(Awe Mariah), Ana Freitas, Ricardo Spencer, Ramiro Zwetsch, Ronaldo Evangelista e Peba Tropikal (Veneno Soundsystem)
A partir das 23h45
Trackertower: R. Dom José de Barros, 337, Centro, São Paulo
Entrada: R$ 30 só com nome na lista pelo email noitestrabalhosujo@gmail.com (e chegue cedo – os 100 que chegarem primeiro na Trackers pagam R$ 20 pra entrar)

Um bloco chamado Rita

ritaleena

Estive no desfile do Ritaleena por Pinheiros no fim de semana passado e o alto astral era idêntico ao das músicas da musa inspiradora do bloco. A segunda apresentação do bloco acontece nessa sexta de noite, no Bailee Ritaleena, sem a magia de ser ao livre e de dia, mas igualmente folião (maiores informações aqui). Conversei com a Alessa Camarinha, uma das idealizadoras do bloco, sobre sua curta história, o carnaval de rua em São Paulo, a conexão direta do Ritaleena com a própria Rita Lee e o futuro da festa, a curto e longo prazo.

Conta a história do bloco.
Foi uma idéia minha e da Yumi Sakate de maneira bem espontânea. Fomos algumas vezes para o Rio pular carnaval com nossas amigas e adoramos as dinâmicas dos blocos de rua. Nos pegávamos perguntando porque esta prática não existia em São Paulo – existia sim, nós é que não sabíamos direito. Daí passamos a frequentar bastante o pré-carnaval de São Paulo, principalmente o bloco Nóis Trupica Mas Num Cai, que realiza concursos de marchinhas. Pensamos então em nos escrever com uma marchinha feminista, ficamos pensando em como homenagear as mulheres e também valorizar a cidade… E todos os pontos nos levaram a Rita Lee. A marchinha a gente nunca inscreveu, mas o bloco rolou.

Como foi o desfile do ano passado?
O ano passado foi uma loucura, nossa expectativa de público eram de 300 pessoas e apareceram 7 mil. Enfrentamos muitos desafios sobre como fazer a logística toda funcionar, foi um intenso aprendizado. Este ano já estavamos mais preparados para o crescimento, tivemos entre 10 e 12 mil pessoas no desfile de rua no dia 30 de janeiro.
Foram 40 músicas de todas as fases da Rita Lee adaptadas para ritmos carnavalescos como frevo, carimbó, marchinha, ciranda, e uns mais atuais como o funk carioca. Difícil foi pensar em como acomodar cada música para o arranjo não ficar forçado, foi um grande desafio. O percussionista Abuhl Jr. me ajudou bastante nestas transições. Este ano sentimos que conseguimos assentar e desenvolver com calma estas transições, porque o volume de material é muito grande. Ano passado terminamos o percurso e ainda tinha metade do show pra tocar. O show de rua do Ritaleena dura quatro horas, às vezes mais…
Os figurinos também são parte fundamental do bloco, todos os integrantes vão vestidos com temas das músicas dela, é um jeito de revisitar as personagens que ela criou, o Doce Vampiro, o Índio Pelado pintado de verde de “Baila Comigo”, a guerreira Bwana. É um pouco criar com a criatura e não com o criador. O bloco tenta dar vida a estas poéticas, mais sobre o que as músicas falam do que um relato biográfico documental da vida da Rita.

E como foi o crowdfunding do bloco para este ano?
Crowdfunding é uma tática de guerrilha. Dá um super trabalho, neste ano a gente fez uma campanha super engraçada inspirada em virais da internet, foi um sucesso de público, mas é dificil converter likes em doações mesmo. Ainda é a única maneira que o bloco se financia. Este ano conseguimos um patrocínio de uma cervejaria que ajudou a complementar o financiamento. Mas na hora inicial do “Vamos fazer” a gente só tem o crowdfunding como ponto de partida. Tivemos duas campanhas bem sucedidas, mas tem muita gente que não sabe como os blocos são custeados, as vezes acham que a gente ganha dinheiro da prefeitura, quando não é verdade. Ainda dependemos do crowdfunding.

Carnaval 2016 pra vocês vai ser só o desfile de pré-carnaval e a festa mesmo?
Temos o Bailee Ritaleena na sexta e estamos examinando a possibilidade de fazer outro show no pós-carnaval. Mas este ano fizemos um ensaio geral no Bar Brahma antes do desfile, coisa que no ano passado não aconteceu.

A Rita já sabe do bloco?
A Rita Lee sabe do bloco sim. Ano passado mantivemos contato com a empresária dela. Ela nos agradeceu a homenagem numa nota que saiu na Monica Bergamo da Folha. Este ano conseguimos que um amigo dela subisse no trio e filmasse toda a multidão cantando músicas dela e gritando “Rita Lee eu te amo” e mandasse para ela por whatsapp. Foi demais! Todos anos a família Lee recebe religiosamente camisetas do bloco. Queríamos muito um alô mais pessoal dela, mas respeitamos muito a privacidade dela. Não queremos incomodá-la.

O que vocês têm achado dessa retomada do carnaval de rua? O quanto isso é político?
Achamos maravilhoso. A idéia de reconquista do espaço público em São Paulo não é exclusiva do carnaval, isso já faz um tempo, iniciativas como o Festival Baixo Centro, as movimentações do Largo da Batata, as manifestações de junho, fomentaram um pensamento de ocupar a rua do qual o carnaval também pertence. Porém, não podemos deixar de lembrar que é carnaval, e o sentido do carnaval também é a zueira e nela suas transgressão. O carnaval precisa ser espontâneo, vemos alguns blocos tocar muito na tecla do “retomada do espaço publico” mas de maneira protocolar, quase encaretando a coisa.

E depois do carnaval, hibernam até o ano que vem ou têm outros projetos?
Essa é uma boa pergunta. O Bloco Ritaleena é essencialmente um projeto de carnaval, não existe pretensão de usar peruca vermelha o ano todo, muito acontece sob demanda. Mas temos vontade de acordar da hibernação ano que vem um pouco antes…

Olha o bonecão de Olinda do David Bowie aí!

“Turn and face the strange…”

bowie-olinda

É sério, vi aqui.

Carnaval 2016: Ivete Sangalo indie

ivete-oasis-cure

Ivete Sangalo com Cure, Ivete Sangalo com Oasis: estas são as duas novas heresias mominas que o produtor Raphael Bertazi lança antes do carnaval, dando continuidade ao infame Axé Bahindie, que já cruzou Strokes e http://trabalhosujo.com.br/axe-bahindie”>Smiths com É o Tchan. Desta vez ele começou pesado, misturando “Poeira” com “Just Like Heaven”.

Mas a melhor (!) mesmo foi a fusão de “Wonderwall” com gritos aleatórios da Ivete.

É carnaval, tá liberado!

O último carnaval de Thiago França

thiagofranca

O incansável Thiago França queimou a largada e deu a partida no carnaval 2016 ao lançar no primeiro dia do ano o primeiro disco de marchinhas de sua inacreditável Espetacular Charanga do França. O saxofonista assumiu o papel de puxador de bloco de rua e chamou uma turma da pesada para se juntar ao seu coro, incluindo nomes como Rodrigo Campos, Tulipa Ruiz, Clima, Luiz Chagas, Juçara Marçal, Kiko Dinucci, Rômulo Fróes, Juliana Perdigão, Douglas Germano, Tika, entre outros. As composições têm títulos como “Marchinha do Pitbull (homo pitbullicus)”, “Gourmetizada”, “Cara do Apetite” e “Ferro na Boneca” e trazem o astral das velhas marchinhas para o século vinte e um: “Eu sou compositor, preciso dar o meu parecer sobre a coisa, senão não faz sentido pra mim”, ele me explica. “O repertório clássico é maravilhoso, realmente é, mas também porque dialoga com a nossa memória. A gente cresceu cantando, mas muitos assuntos precisam ser revistos, atualizados. Não quero ficar o resto da vida cantando “se a cor não pega, mulata quero seu amor”, por mais que seja um sucesso, que cumpra a sua função de fazer o povo cantar, é ofensivo. Aqui em SP estamos inventando nosso carnaval, tá tudo no começo. Os blocos mais tradicionais têm 10 anos, é muito pouco! Por que não criar do nosso jeito, como a gente acredita?”

ultimocarnaval

A preocupação política com o carnaval vem estampada no título do disco, colocado para download no site do músico, que chama-se O Último Carnaval de Nossas Vidas: “Tem dois sentidos: um, no sentido de brincar o carnaval como se não houvesse amanhã, se entregar, se permitir sem julgar, experimentar, se jogar mesmo; todo carnaval tem potencial pra ser histórico. O outro, é que, em se tratando de São Paulo, com essa onda conservadora que vem por aí, o nosso direito de fazer a festa tá sempre ameaçado. se a gente não fizer direito e não cuidar do que é nosso pode ser que seja mesmo o último carnaval de nossas vidas.” A seguir o resto da entrevista que fiz com Thiago:

Conta a história da ideia da Charanga até a realização dela no carnaval do ano passado.
Em 2013, quando a banda surgiu, já fazia uns anos que havia me distanciado de tocar samba no dia a dia, e a vontade era retomar esse repertório, fazer um furdúncio no pré-carnaval. Mas a sonoridade do sopro com a percussão, sem instrumentos harmônicos, me impactou tanto que imediatamente eu comecei a compor pra essa formação, e entendi que seria mais um projeto constante. Mesmo tendo o Pimpa tocando bateria, eu falo “percussão”, porque ele é um grande percussionista, essa linguagem tá impregnada no jeito dele de tocar, é por isso.
Imediatamente, todo mundo começou a pedir um bloco da Charanga. A princípio fui reticente, não imaginava que pudesse rolar tão bem quanto rolou. Queria que fosse tudo acústico, no chão, sem carro, sem equipamento, e não imaginava que teria quorum. Daí numa brincadeira com um grandessíssimo fundo de verdade, no finalzinho de 2014, fiz uma convocação via Facebook pro bloco, e a resposta foi imediata e muito positiva, tanto de músicos afim de tocar quando de gente querendo ajudar a coisa a acontecer. Foi lindo, desfilamos com a rua lotada, quase 2.500 pessoas, com uns 20 sopros e mais uns 30 percussionistas. Cumprimos nosso trajeto debaixo de um dilúvio bíblico e ali, debaixo daquela água toda, o Espetacular Bloco da Charanga virou pra mim um compromisso definitivo.

O que dá pra esperar da saída da Charanga esse ano?
Cara, não sei. Ano passado eu imaginei umas 400 pessoas, deu 2.500. Esse ano, o pessoal tá dizendo que vai ter mais gente. Só vamos saber depois que passar… Mas a idéia é a mesma. não tem patrocínio de cerveja de milho transgênico, não tem carro de som, é a gente no chão, todo mundo junto e misturado. Mas esse ano vai ter corda pra proteger a banda, pra evitar contar demais com a sorte como foi o ano passado.

O carnaval em SP tá melhorando?
Sim. Em comparação com os outros carnavais que conheço, Rio, Salvador e Recife, aqui o pessoal ainda é mais contido, se fantasia pouco. A retomada, aqui, passa muito por um lance político, de ocupar espaços públicos, da demanda por cultura, por eventos gratuitos ao ar livre, pra gente poder sair de casa, tirar o limo do apartamento. Esse lado a gente já aprendeu, mas agora precisa desenvolver mais o lado musical, artístico: compor, se fantasiar, começar um movimento cultural. Ainda tem muito pouco músico/artista envolvido nessa parte de criação, e é um terreno vasto, frutífero, muita coisa boa pode surgir disso.

E a Space Charanga, toca no carnaval?
Pode ser que sim, pode ser que não. Pode ser que a gente faça o SpaceFreeBloco no sábado, tocando coisas absurdas, pode ser que não. A Space é um mistério…

E o que mais você tem feito com previsão de lançar esse ano?
Depois do carnaval a gente lança a continuação do disco da Charanga, outro compacto com 4 músicas, como foi o primeiro, com repertório não-carnavalesco. Tem o disco do meu duo de sax barítono e bateria com o Sergio Machado. Deve rolar também pro meio do ano o terceiro do Metá Metá. Pro primeiro semestre é isso, mas ainda tem 2015 rendendo assunto, foram 4, entre eles o Coisas Invisíveis, que assinei como Sambanzo, você viu? E um projeto de rap com o Síntese. Mas certamente a gente vai inventar mais coisa.