Um documentário sobre Carlos Imperial: “Pilantragem é a apoteose da irresponsabilidade consciente”

carlosimperial

O trailer do documentário Eu Sou Carlos Imperial, de Renato Terra e Ricardo Calil, já dá uma medida da inacreditável importância desse sujeito pra cultura brasileira.

Mais inacreditável ainda que haja tão pouca referência à sua importância. Felizmente esta lacuna está sendo preenchida.

O dia em que os Beatles tocaram “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga

Tudo mentira, mas essa história que o Edmundo publicou no Estadão é genial.

Não era mais possível falar das flores no país tropical, mas ainda havia algum alento. Se quatro rapazes ingleses mostraram que era possível existir sargentos preocupados com corações solitários, o sonho ainda não havia acabado. Esperar o próximo disco dos Beatles era uma válvula de escape prazerosa. O que poderia vir depois de Sgt. Pepper’s? Conseguiria o grupo superar a obra em todo revolucionária?

Com as notícias da tensão entre os integrantes, as especulações sobre o que viria a ser o Álbum Branco causava ansiedade geral. Foi quando veio a bomba: os Beatles gravariam Asa Branca, lançada pelo velho Luiz Gonzaga.

“Ninguém sabia ao certo de onde veio a informação, mas sei que me disseram por aí e foi gente séria que falou”, garantiam todos que contavam a história num telefone sem fio que não demorou para ganhar destaque no rádio e na TV e páginas de quase toda a imprensa brasileira.

O próprio Gonzagão e seu parceiro Humberto Teixeira na autoria do lamento contra a desgraça da seca na vida dos caboclos do norte se surpreenderam. O velho Lua, que não se cansava de destilar ressentimento contra o iê-iê-iê que coroou outro rei em um trono que fora seu, mostrava um autêntico orgulho de tamanha honraria. “Os meninos ingleses têm muito sentimento e não avacalham a música. A toada deles parece bastante com as coisas do Nordeste. Até as gaitas de fole lembram a nossa sanfona”, publicou a revista Veja numa reportagem sobre a volta ao sucesso do sanfoneiro por causa da gravação de sua canção pelos artistas mais famosos do planeta. “Agora que eu quero ver se os Beatles vencem mesmo”, provocou, evocando os mais de 2 milhões de discos em quase 30 anos.

O clima era de festa e o orgulho brazuca foi às alturas. Mas cadê a Asa Branca tocada pelos Beatles? Após a euforia inicial, a imprensa começou a fazer o seu dever e foi perguntar à gravadora. Ninguém sabia de nada e um desmentido publicado alguns dias depois no Estado dava mais um toque surreal: “O empresário dos Beatles, Don Kass, desmentiu ontem que o conjunto inglês tivesse gravado Asa Branca, de Luiz Gonzaga, ou mesmo convidado Baden Powell para ensinar-lhes a tocar berimbau, como foi diversas vezes noticiado. Explicou que Paul McCartney compôs um samba, ainda sem nome, que será incluído no próximo long-play do conjunto”.

A essa altura, Gonzagão já sabia que tudo não passava de uma cascata inventada pelo agitador cultural, compositor e pai da pilantragem, Carlos Imperial, como conta Denilson Monteiro na biografia do homem que era mestre em espalhar lendas, nem sempre com a melhor das intenções.

Mas dessa vez, a causa de Imperial era nobre: resgatar o prestígio de Gonzaga ante um público que o desprezava. Imperial tinha uma tese de que havia semelhanças musicais entre o rock e o baião e depois de convencer um desconhecido grupo de rock que acompanha Ronnie Von a gravar Asa Branca, usou o tape para espalhar a notícia sobre os Beatles. Vendo que a mentira ficara fora de controle até para um pilantra de primeira grandeza como ele, procurou Gonzaga para contar a verdade e esclarecer a coisa publicamente. O sanfoneiro, que também gostava de contar das suas, não quis nem ouvir. Agradeceu ao Gordo, mandou às favas os pudores e aproveitou a maré. “Aquilo foi mentira, foi cascata bem favorável para mim”, declarou à edição brasileira da revista Rolling Stone: “Ganhei dinheiro, ganhei programa, dei entrevistas”.

Muito bom. A foto da página saiu do Instagram dele.

A presença de Carlos Imperial

Personagem mítico na história do Brasil no século passado, Carlos Imperial é tema de uma mostra que acontece no Centro Cultural da Justiça Federal, no Rio de Janeiro. Em Memória de um Cafajeste: O Cinema de Carlos Imperial vai do dia 28 ao dia 31 e reúne títulos como Sexo das Bonecas, Delicias do Sexo, Sexomaníaco, Loucuras Cariocas (Bumbum de Ouro), Rei da Pilantragem e o clássico Banana Mecânica, dos dois trechos abaixo:

Sua filmografia faz valer ainda mais a teoria do Inácio Araújo de que “a pornochanchada é o divã do pobre”. E não custa lembrar que, além de personagem no cinema, ele também tinha um programa de TV, clássico:

Será que essa mostra vem pra São Paulo?

Disco music à brasileira

Acreditem: esse país já teve um artista chamado “Dudu França”.

Quem não tem Village People…

…caça com super-heróis fuleiros. Não é, Carlos Imperial?

Carlos Imperial responde


Dos Tarnished Angels. Tem mais dicas .

“That’s Rock”

Sacado do blog 10nota10, sobre Carlos Imperial (eis uma biografia que eu ainda tou devendo a leitura).