Jerry Lewis e o holocausto: O Dia em que o Palhaço Chorou

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Um dos filmes mais misteriosos do mundo chama-se O Dia em que o Palhaço Chorou, que Jerry Lewis fez em 1972 e nunca lançou. Seu autor era um peso pesado na Hollywood do início dos anos 70, mas seus filmes mais recentes pareciam fazer sucesso apenas por surfar na onda do humor que começou a fazer ainda em dupla com Dean Martin. The Day the Clown Cried foi sua tentativa de livrar-se do estereótipo de vez, fazendo um filme sério e denso, cuja história acompanhava os dias do palhaço Helmut Doork, que, ao ser aprisionado em um campo de concentração nazista, passa a usar seu talento para entreter e levar as crianças judias para morrer nas câmaras de gás – um conceito chocante por definição, imagine o impacto destas imagens.

O fato é que algo aconteceu e Jerry Lewis engavetou o filme para sempre. E no início do mês passado, um trecho do filme em boa definição apareceu na internet (revelando, inclusive, o casal Serge Gainsbourg e Jane Birkin maravilhados ao assistir as gravações pessoalmente):

O trecho do filme fez Chris Nashawaty, da Entertainment Weekly, resgatar uma conversa que teve com o próprio Lewis em 2009, na oportunidade em que ele mais falou sobre O Dia em que o Palhaço Chorou. Ao ser perguntado se o cancelamento teria sido por causa de alguma possível afronta aos judeus, Jerry respondeu:

Os judeus? Oh, eles amariam o filme. Viajei por dezoito meses de Stuttgart para Belsen e para Auschwitz. Eu estava organizando minha equipe e me trouxeram um cara chamado Rolf, que era o cara que puxava a porra da alavanca na câmara de gás. E eu disse que a única possibilidade de eu chegar perto dele, muito menos de entrevistá-lo, seria se ele entendesse que estou preocupado com a precisão do filme e que eu precisaria da informação. Mas eu disse ao meu gerente de produção que não sabia se conseguiria lidar com aquilo. Depois de seis semanas de boas meditações, eu falei com o cara. A pergunta que ninguém poderia responder, que as vítimas não poderiam responder, era: onde eles ficavam quando estavam esperando pelos que ficavam à sua frente, nas câmaras de gás? Quão longa era espera? Eles esperavam de pé? Havia um quarto adjacente? Eles estavam sentados? De quanto tempo estamos falando? A tortura aqui era a espera! E eles não poderiam suportar o som, os gritos. Eu conseguiria tirar a informação deste homem? Eu queria usar uma máscara para que ele não soubesse quem era eu. Quando ele chegou no escritório e sentou-se, pensei, “este pobre ser humano”. Estava sentado ali, ficamos até às nove da noite e quando terminamos de conversar, eu estava… desfeito. Ele me deu o fundo de sua alma! Ele queria penitência. Eu fiquei olhando para sua mão direita. Eu ia perguntar com qual mão ele fez aquilo, mas não consegui.

E segue o mistério.

“Eu sobrevivi ao nazismo”