Caetano Veloso sobre o Ecad: “Se não pode mexer, não anda”
Caetano escreveu sobre as batalhas sobre o Ecad em sua coluna do Globo deste domingo. Eis o trecho:
A carta assinada por muitíssimos compositores, músicos e cantores, em tom de defesa do Ecad contra uma suposta manobra sinistra para destruí-lo, não contou com minha assinatura, e eu ia escrever e-mails para, pelo menos, Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Abel Silva, mas a estreia do “Abraçaço” em Sampa, logo em seguida à estreia carioca no Circo Voador e a uma apresentação em Fortaleza, não me deixaram cabeça nem energia para nada. Quando eu ia escrever, a carta ainda não tinha as assinaturas que exibe hoje. Eu ia explicar minha pausa para ponderação. Como o assunto é notório, faço-o aqui.
Há um projeto de lei no Senado esperando para ser votado em urgência. O Ministério da Cultura tem uma proposta que é bastante próxima da que é feita no PLS129. Falei brevemente com a ministra em São Paulo; ouvi demoradamente, já no Rio, um assessor seu que me pareceu muito claro. Conversei com Leoni, Tim Rescala, Gil, Emicida, li os artigos de Ivan Lins e Sérgio Ricardo. Os manifestos dos defensores da manutenção do modus operandi atual do Ecad são pouco ou nada técnicos — e são alarmistas: querem acabar com o Ecad e deixar tudo voltar ao caos que era antes, tal como Ipojuca Pontes fez com a Embrafilme. “O Ecad e o Direito do Autor: mexeu nisso, tudo desaba”, diz Abel. Tendo a pensar que é hora de arrefecer os ânimos e tentar pôr Leoni e Bastos pensando juntos, para ver se aproveitamos a oportunidade de andar com o tema. Nem o Ministério nem o PL propõem a extinção do Ecad. Ambos enfatizam a necessidade de supervisão (o PLS129 propunha que feita pelo Ministério da Justiça; o Minc tomaria a tarefa para si).
Não creio que Abel ou Fernando estejam protegendo vantagens indevidas; tampouco creio que Tim Rescala e Ivan Lins estejam lutando pelo poder das emissoras de TV. Suponho que seja hora de amadurecer a conversa. Nunca fui bom nisso de contas, administração, leis. Mas tenho vocação para o centro e, eu que já pedi que Silas Malafaia intermediasse um diálogo entre quem não admite que o assassino de Lennon seja louvado como o enviado da Santíssima Trindade e o pastor que propôs isso, acho que posso pedir que Sérgio Ricardo e Fernando Brant se entendam. Não é “se mexer, desaba”; é “se não pode mexer, não anda”.
No resto da coluna ele ainda fala sobre a escritora Agustina Bessa-Luís. A íntegra está aqui. Não tenho dúvidas de que a melhor coisa desse Caetano indie pós-Cê é o seu reencontro com o texto. O colunista Caetano Veloso está em ponto de bala, talvez em sua melhor fase. Acho louvável que sua estética atual se dedique ao risco e à descoberta, mas o resultado final ainda me parece filhote daquela vanguarda de plástico que gerou discos estranhos nos anos 80 como Velô e Caetano (de 1987) – mas ainda assim é melhor do que ficar na mesma ou, pior, virar mero intérprete, como havia sido em sua década anterior, dedicada a songbooks. Seu retorno ao texto, por outro lado, é exemplar, como no texto acima.
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