Impressão digital #0005: South Park e o Facebook

O episódio da semana do South Park foi o gancho da minha coluna de domingo no Caderno 2.

“Minha avó no Facebook”
A criação de um ambiente virtual

“Até a minha avó está no Facebook!”, comentou com espanto o repórter Filipe Serrano durante o fechamento do Link da semana passada. Na quarta-feira anterior, nos EUA, o desenho animado South Park dedicava um episódio inteiro (You Have 0 Friends) à maior rede social do mundo – e o personagem Stan também ficava impressionado com o fato de suas tias e parentes mais velhos também terem perfis no site.

Criado em 2004 pelo estudante de Harvard Mark Zuckerberg, o site é uma rede social nos moldes do Orkut, só que com layout elegante e uma série de funcionalidades que o transformam em mais do que uma mera rede de relacionamentos.

Ancorado nos aplicativos (pequenos programas criados para rodar dentro do site), o Facebook é uma espécie de ambiente virtual, semelhante ao Windows. Nesse sentido, a grande diferença é que, como o sistema operacional da Microsoft foi criado antes da popularização da internet, foi criado para ser utilizado por uma pessoa por vez, sem conectar-se às outras – é um recinto quase privado. O Facebook age como um grande Windows online, que conecta estes universos virtuais em uma grande área de comunicação e troca de informações e experiências. “Queremos que as pessoas não precisem sair do Facebook para fazer o que quiserem na internet”, me disse seu criador quando veio ao Brasil em agosto do ano passado.

E o site é todo organizadinho. Sua interface clean facilita entender todos os níveis de interação da rede social. É isso que tem tornado o Facebook tão forte e onipresente. Ao contrário do Orkut, do Twitter ou do MySpace, que exigem que o usuário gastasse algum tempo online para entender a lógica por trás dos sites, o Facebook é didático e facilita a vida de quem não queria estar online, mas teve de mudar de planos por motivos óbvios.

Para quem vê de fora, o site parece uma alegoria da vida real, ironizada no episódio de South Park – em certa passagem, o pai de um personagem questionava a amizade com o filho só pelo fato dos dois não serem amigos no Facebook. Mas, seja na rede de Mark Zuckerberg, seja no Google ou em contas de redes fechadas como as da Apple, Nintendo, Sony ou Microsoft, é através dessas redes que aprendemos como funcionará a cultura e a sociedade num futuro próximo.

Por isso, não se espante se a sua avó aparecer no Facebook. Ela não está querendo ser moderninha – ela só percebeu que é na internet que as pessoas se comunicam, se divertem e se informam hoje em dia.

No mural
O Estado de S. Paulo e o Link também estão lá

E por falar em Facebook, esta semana foram inauguradas as páginas do Estado de S. Paulo e do caderno Link na rede social. Ao se tornar fã da página, você passa a acompanhar as notícias publicadas pelo jornal e por seu suplemento de cultura digital direto em seu perfil no site, além de poder comentar e discutir os assuntos abordados nas reportagens. Para adicionar as páginas à sua conta no site é só clicar em http://www.facebook.com/estadao e http://www.facebook.com/linkestadao.

Tudo online
Southparkstudios.com
No ar desde 2008, o site South Park Studios é uma aula de como a televisão pode usar a internet a seu favor. Todos os episódios da série estão disponíveis em streaming – até mesmo “You Have 0 Friends”, que acabou de ser exibido nos Estados Unidos.

Impressão digital #0002: Lady Gaga e a cultura do sample

Eis minha segunda coluna no Caderno 2 de domingo.

Copy & Paste A Go-Go
Todos os links de Lady Gaga

Terminei a coluna passada falando do novo clipe de Lady Gaga, “Telephone”, como uma das provas da complexidade do pop em tempos digitais. Mas a citação literal de Quentin Tarantino (a caminhonete amarela de Kill Bill) era só uma das milhares de referências que entopem os quase dez minutos do vídeo.

Ambientado em um presídio feminino (eis a primeira referência: os filmes B de Russ Meyer), “Telephone” puxa hiperlinks de todos os lados. Em um segundo, ela faz uma referência à Madonna; mais à frente, se veste de Capitão América, usa as orelhas do Mickey e depois reencena o final brega de Thelma & Louise.

Mas estas são as fáceis. As referências que estão por todo o clipe são obscuras, underground, para iniciados. O bar de beira de estrada para onde ela foge após sair da cadeia é exatamente o mesmo do seriado NCIS e aparece no mesmo enquadramento no clipe de “High & Dry”, do Radiohead. Uma receita de veneno surge em pouco mais de um segundo na tela e seus ingredientes são fictícios, saídos de títulos de ficção científica. A emissora de rádio sintonizada no carro chama-se KUK, uma paródia que a banda Queens of the Stone Age fez à rádio KLON, emissora fictícia do game Grand Theft Auto. O consultor do reality show Queer Eye for a Straight Guy, Jai Rodriguez, aparece em uma cena como um repórter de TV que filma Lady Gaga como um dos personagens de Natural Born Killers, de Oliver Stone. Num microssegundo surge a atriz pornô Aletta Ocean. E uma imagem de circuito interno da cadeia exibe a data em que o corpo do estilista Alexander McQueen foi encontrado. Sem contar o excesso de grifes que patrocinam o clipe.

Estas referências destroem as fronteiras entre nichos e transformam Lady Gaga numa artista cada vez mais importante. Sua música é trivial, mas seu impacto é visual e o clipe de Telephone é um delírio de samples visuais, de hiperlinks para outros contextos, uma homenagem à era do copy+paste, em que citar é tão importante quanto criar. Não é à toa que Tarantino já sondou a cantora para atuar num próximo filme…

Nanotrekkie
Uma Entreprise milimétrica

A nave na foto acima é uma reprodução da Enterprise do seriado de ficção científica Jornada nas Estrelas construída numa escala um bilhão de vezes menor que a original. Ela foi projetada pelos cientistas Takayuki Hoshino e Shinji Matsui do Instituto de Tecnologia de Himeji, no Japão, e mede minúsculos 8,8 mícrons, ou oito milionésimos de um metro.