Bruma cósmica

Na segunda noite de sua temporada Ficções Compartilhadas no Centro da Terra, Paula Rebellato optou por trabalhar num território conhecido, o do improviso livre, ao lado de três músicos com quem já esteve nestas incursões em várias outras ocasiões. Mas em vez de trabalhar numa certa zona de conforto, ela embrenhou-se por caminhos menos espasmódicos que funcionam como caminhos já traçados neste cenário e optou pela sutileza, abrindo trilhas menos óbvias para que o trumpete de Rômulo Alexis, o baixo e os eletrônicos de Berna e a bateria de Cacá Amaral buscassem refúgios inusitados, transformando o que poderia ser uma massa de som extática em uma bruma cósmica que parecia fazer os quatro flutuar, hipnotizando o público presente até o silêncio final.

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Paula Rebellato: Ficções Compartilhadas

Imenso prazer em receber mais uma vez Paula Rebellato no palco do Centro da Terra, desta vez para encarar uma temporada para chamar de sua. Em Ficções Compartilhadas ela convida comparsas e cúmplices para visitar diferentes partes de sua personalidade artística, à medida em que vai talhando sua carreira solo. A jornada começa nesta segunda-feira, dia 9, quando ela convida dois saxofonistas – ninguém menos que Mari Crestani e Thiago França- para apresentar novas composições. Na próxima segunda, dia 16, ela parte para o improviso com velhos camaradas como Bernardo Pacheco, Cacá Amaral e Romulo Alexis. No dia 23 é a vez de vararmos o Madrugada, projeto de krautrock que ela montou com Otto Dardenne, Raphael Carapia e Yann Dardenne, para encerrar essa viagem com um verdade tour-de-force: a recriação, no palco, da obra-prima Desertshore, talvez o disco mais belo da alemã Nico, que visita ao lado de João Lucas Ribeiro, Mari Crestani e Paulo Beto. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados antecipadamente neste link.

Onda lenta

Lê Almeida antecipou seu próximo disco, I Feel in the Sky, em uma apresentação hipnótica abrindo os trabalhos de outubro no Centro da Terra. Em sua versão solo, ele manteve os compadres de Oruã na formação – como Bigú Medine (agora disparando efeitos), João Casaes (nos teclados) e Phill Fernandes (na bateria) – mas convidou a baixista Melanie Radford e o baterista Cacá Amaral para fazer o público decolar em câmera lenta a partir de células musicais repetidas circularmente pela banda, enquanto ele cantarolava suas canções sobre uma base que conversava tanto com o krautrock quanto com o afrobeat – e tudo num ritmo vagaroso e hipnótico, barulhento e doce na mesma medida. Em dado momento do show, ele ainda chamou mais gente pra sua gira, convocando Ana Zumpano para a percussão e Otto Dardenne e Alejandra Luciani como vocais de apoio e fez um bis com uma música que havia sido composta no dia anterior. Só delírio.

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