Hora de fechar mais um capítulo.
Hoje desligamos o site por diferentes motivos, mas principalmente por estarmos sintonizados em frequências diferentes em relação à produção de cada um de nós. E por termos chegado a uma fria conclusão no fim do ano passado.
OEsquema nasceu da necessidade. Eu, Bruno e Arnaldo nos conhecemos online, no início do século, quando o URBe e o Mau Humor ficavam no Blogger e eu pendurava o Trabalho Sujo no já moribundo Geocities. Até que o Pablo e dois amigos vieram com uma história de criar um portal de blogs pra hospedar todo mundo que estava pendurado em servidores gratuitos e tentar criar uma fricção criativa entre diferentes produtores de conteúdo. O Pablo queria o Trabalho Sujo, que nem tinha completado uma década de vida e tinha mais história impressa do que digital, e eu vi uma oportunidade boa de chamar o URBe e o Mau Humor para aquela confusão alto astral.
Mas o Gardenal, o primeiro coletivo de blogs do Brasil, começou a crescer junto com a vida profissional de seus sócios, que não conseguiram gerir o servidor nem como plataforma digital, muito menos como negócio. Entre os problemas técnicos houve um hoje clássico servidor frito que nos fez perder pelo menos dois anos de produção online, uma pequena tragédia que, se por um lado me escaldou a me tornar menos acumulador digital, nos motivou a tentar buscar uma casa própria.
E no dia 8 do 8 do 8, eu, Bruno e Arnaldo convidamos o Mini para inagurar OEsquema. Não tinha plano de negócios nem linha editorial – era simplesmente um lugar para podermos escrever o que quiséssemos de acordo com a nossa vontade. Por assim seguimos os primeiros anos até que começamos a pensar em ampliar a festa, convidando um monte de amigos e amigas pra começar a se publicar sob a nossa marquise. Em comum tínhamos a vontade de distribuir conhecimento e opinião sobre assuntos diferentes, que não eram facilmente classificáveis nas prateleiras ainda utilizadas do século passado, e sermos personalidades individuais em vez de nomes que se escondem atrás de um todo. OEsquema era mais um processo do que um produto. Reunimos jornalistas, escritores, músicos, quadrinistas, fotógrafos, DJs, designers, palpiteiros, deslumbrados e céticos que tivessem uma mentalidade parecida com a nossa, urbanos de vinte e tantos ou trinta e poucos anos entendendo a relação da cultura e do comportamento modernos com as novas cidades e as novas mídias e tecnologias.
Nesses últimos sete anos vieram as redes sociais, a tecnologia móvel, a cultura em streaming e o início de maturidade política brasileira, processos que quase sempre se assemelhavam ao que havíamos pensado quando começamos a por OEsquema em prática. Não pioneiros – fomos os últimos representantes de uma cultura de clusters que foi atomizada e acelerada pelo impacto do mundo online e digital desta segunda década do século 20. Uma cultura que fez artistas se unirem em prol de causas estéticas, comunicadores criar os primeiros jornais, escritores se reconhecer coletivamente através das ideias. Um link que aproximou os primeiros modernistas, os primeiros anarquistas, os primeiros hippies, os primeiros punks, os primeiros hackers e os primeiros indies. E também os primeiros blogueiros, os primeiros videomakers, as primeiras bandas de rock, os primeiros fanzineiros.
OEsquema pertence a essa tradição de querer ficar junto dos outros. Somos a última espécie de uma época em que essa aproximação ocorria de maneira analógica e bem mais lenta. Mesmo que tenhamos nos conhecido primeiro virtualmente para depois nos conhecermos pessoalmente, nós dOEsquema temos os pés no século 20 e, como grupo, nos movíamos mais lentamente que a velocidade exigida pela internet no início desta década.
Com o mundo cada vez mais conectado, cada vez mais pessoas se conhecem simultaneamente, formando grupos que incluem anônimos e celebridades entre listas de amigos, seguidos e seguidores em diferentes plataformas sociais. O volume coletivo está cada vez mais intenso e são raros os maestros que se fazem entender no meio dessa cacofonia geral.
O fim de 2014 trouxe uma sensação de esgotamento para as pessoas no mundo todo relacionado a uma série de fatores diferentes. E, para nós, essa sensação não veio com um gosto feliz de missão cumprida mas também sem o amargor de um relacionamento mal resolvido. Seguimos amigos e próximos e vai ser inevitável que nos encontremos em novas parcerias – talvez agora mais intensas – num futuro próximo. Mas há um sentimento inevitável de falta de propósito, ao menos coletivamente, como cogitamos há quase uma década.
Seguimos cada um em nossos cantos, uns em seus próprios sites, outros firmes em redes sociais, mais alguns aproveitando o período para repensar sua relação com o digital. O Trabalho Sujo a partir dessa sexta assume seu próprio domínio como casa, quando começo uma enorme faxina editorial rumo ao aniversário de vinte anos, em novembro.
OEsquema pode ter terminado, mas a ligação que estabelecemos nestes anos é pro resto de nossas vidas.
Agradeço a todos que estiveram nessa enorme festa – nos encontramos por aí!
Beijos
Matias
PS – A carta de despedida do Bruno tá aqui . Linko as outras quando outras vierem.
Nesta terça-feira o Multishow exibe seu Prêmio de Música Brasileira, em que eu, o Bruno, o Pedro e o Dudu fazemos consultoria. Falei das novidades dessa edição há pouco mas acho que, além do Nova Canção, a grande atração vai ser assistir à discussão do Super Júri no canal Bis. Há quanto tempo você não vê música brasileira sendo discutida na televisão?
Pra quem não acompanha meu trabalho, há dois anos eu, o Bruno, o Pedro e o Dudu fazemos consultoria para o Prêmio Multishow de Música Brasileira. Desde o primeiro ano sabíamos que nosso trabalho precisava ser lento para ser duradouro e não podia ser brusco para manter a audiência. Então aos poucos fomos sugerindo atrações e abordagens diferentes de forma que a cada ano conseguíssemos dar pequenos passos reconhecíveis para o público do canal.
A primeira mudança deste ano é o fato do Super Júri, aquele que vota nas três principais categorias do prêmio enquanto o programa está acontecendo, ser exibido no Canal Bis e não só apenas na internet. Foi a primeira grande mudança no Prêmio, uma discussão paralela ao programa. O grupo é o mesmo dos anos anteriores, sempre criteriosos com suas abordagens e avaliações.
Outra mudança deste ano é que o prêmio Nova Canção, lançado no ano passado, em que artistas inscrevem músicas inéditas para concorrer ao prêmio na categoria, está aberto para votação popular. E os inscritos são nomes que a gente aqui já conhece: Mahmundi, Lucas Santtana, Castelo Branco, Marcelo Jeneci, Tim Bernardes (d’O Terno) e Sexy Fi. Saca só as músicas de cada um, abaixo.
Para votar, é só ir neste link. O resultado será revelado no dia do prêmio, dia 28 deste mês.
Nesta quinta-feira, eu, Mini e Bruno estaremos representando OEsquema em três atividades no YouPix 2014. Na primeira delas, na própria quinta, vamos explicar um pouco o que é OEsquema e o que estamos pensando em fazer nos próximos estágios deste condomínio de blogs. Na sexta, eu converso com o Alex Antunes, o Neto Rodrigues e o Marcelo Costa sobre jornalismo cultural pós internet e no sábado o Mini media uma conversa com o Guilherme Valadares, o Marcelo Hessel e a Maria Joana de Avellar sobre como é tocar um site por conta própria. O YouPix não cobra ingresso de entrada, basta fazer sua inscrição aqui, e acontece no Pavilhão da Bienal, no Parque do Ibirapuera, aqui em São Paulo. Mais informações abaixo:
17 de julho | 15h00 – 15h45
Conteúdo: curadoria x memes
Curadoria: OEsquema
OEsquema surgiu como um coletivo de 4 blogs e ao longo dos anos cresceu para se tornar um importante portal de cultura que privilegia curadoria e análise em detrimento de memes descartáveis. Essa proposta acabou angariando uma audiência mais qualificada cujos interesses transcendem as propostas mais instantâneas da internet atual. Que ensinamentos as marcas podem tirar deste case ao se conectar com os jovens digitais através de conteúdo?
Palestra com Alexandre Matias (jornalista, co-criador dOEsquema e dono do Trabalho Sujo, ex-editor do Link Estadão e da revista Galileu), Gustavo Mini (co-criador dOEsquema e editor do Conector) e Bruno Natal (co-criador dOEsquema, editor do URBe e co-criador do Queremos!).
18 de julho | 17h00 – 18h00
O jornalismo cultural na era das tags
Curadoria: OEsquema
Durante décadas o jornalismo cultural operou com uma lógica vertical e repleta de silos. Esse cenário era comandado por criticos especialistas em segmentos estanques como música, literatura e cinema. Além disso, o jornalismo de lançamento hoje está mais ligado ao marketing do que ao interesse da audiência, que está mais atemporal e independente da lógica de lançamentos. Como a internet e as redes sociais estão redefinindo o jornalismo cultural?
Com Marcelo Costa (criador do blog de música Scream & Yell), Alex Antunes (foi editor da revista Bizz e Set, é colunista do Yahoo) e Neto Rodrigues (editor-chefe do site Move that Jukebox) e mediação de Alexandre Matias (criador dOEsquema e do Trabalho Sujo, ex-editor do Link Estadão e da revista Galileu)
19 de julho | 14h00 – 15h00
Como sobreviver online em 2014?
Curadoria: OEsquema
Alguns empreendimentos que começaram como blogs nichados hoje estão se estruturando como veículos comerciais e relevantes culturalmente. Essa mudança gera desafios internos e cria uma nova geração de empreendedores da comunicação digital. Nesse debate, vamos ouvir alguns exemplos de como essa transição está acontecendo.
Com Marcelo Hessel (colaborador do Omelete), Guilherme Valadares (fundador do Papo de Homem), Maria Joana de Avellar (editora da revista NOIZE) e mediação de Gustavo Mini (criador dOEsquema e do Conector).
E essa joinha sussa da dupla holandesa Tears & Marble?
Vi lá no Bruno.
Mais um projeto do compadre João Brasil, o Rio Shock acaba de lançar seu novo clipe, “Moleque Transante”.
Puro hit.
Nicolas Jaar e Dave Harrington fazem sua “Paper Trails”, parte de um dos melhores discos de 2013, ao vivo.
Vi no Bruno.
Redes sociais, conexões virtuais e o medo de ficar só – como isso tudo tem mudado como nos sentimos… humanos.
Um filme do Shimi Cohen que eu vi no Bruno.
Conheço os caras do Criolina por causa da festa em Brasília: nunca fui, mas tenho amigos em comum que sempre falam com tem a ver com as festas que faço – fora que um dos organizadores, o Barata, é broderzaço do meu irmão e sempre que o encontro a gente se fala de tentar alguma coisa junto. A parceria aconteceu, mas em outra esfera – o Bruno conheceu o trabalho do Cícero Fraga, da produtora ClipClipUha, que se uniu ao coletivo candango para lançar uma websérie de entrevistas com nomes da música brasileira do século 21. Bruno armou a ponte e a partir de amanhã vocês acompanham, pelOEsquema, o Sala Criolina, que terá novos episódios quinzenalmente, sempre apresentados aqui nOEsquema. Abaixo, segue o teaser do projeto.
E o Bruno entrevistou o Cícero sobre a parceria e o projeto, checa lá no URBe. Esta é a primeira de muitas, vamos avisando!
No ano passado, eu, o Bruno, o Pedro Garcia e o Dudu Fraga fomos chamados para começar uma lenta mudança no Prêmio Multishow de Música Brasileira. Além de transformar o prêmio em um programa de música (com menos espaço pra discursos de agradecimentos e apresentação de cada um dos indicados, por exemplo) e inventamos o Super Júri, que escolhe em um debate online, durante a premiação, as três principais categorias da noite. O resultado saiu melhor que a encomenda e em 2013 continuamos mudando: mantivemos o que deu certo – repetimos o Super Júri, com André “Cardoso” Czarnobai, André Forastieri, Katia Lessa, Marcelo Castello Branco, Miranda, Pablo Miyazawa, Pedro Seiller, Ricardo Alexandre, Roberta Martinelli e Sarah Oliveira – e acrescentamos uma novidade nas três categorias, o prêmio Nova Canção, que premia uma música lançada em 2013 que foi inscrita, pelo autor, no site do Multishow. A premiação começa agora, às 22h, e o Super Júri pode ser acompanhado tanto no site do Multishow quanto no aplicativo do prêmio (que tem tanto pra Android quanto pra iOS). Pode assistir que vai ser legal!