O fim de Lost por Bruno Carvalho

Eu comecei incrédulo o último episódio de Lost, confesso. O turbilhão de informações, histórias, retornos e caminhos cruzados na jornada final para impedir que o Homem de Preto destruísse a ilha não me deixaram conectar de início com a essência da série. Mas isso foi de propósito. Afinal, não era essa a história que Carlton Cuse, Damon Lindelof e toda a equipe que escreveu uma das maiores sagas da televisão mundial quis contar. Claro, tivemos os momentos apoteóticos com Desmond, “Locke” e Jack no coração da ilha; os retornos de Boone, Shannon, Juliet, Rose, Bernard e Vincent; a libertação de Richard Alpert de seu encargo eterno; a auto condenação de Ben pelos seus erros e muito mais. A primeira parte foi vibrante e intensa a cada tiro e soco, mas à medida que o episódio avançava as iterações, aliterações, mistérios e mitologias foram tomando conta da tela. E assim, os borrifos de sangue foram se transformando em toques; os gritos em abraços e as palavras de desespero em momentos de conforto enquanto os eternos sobreviventes do voo 815 se reencontravam na outra realidade.

E como nós não percebemos pra onde tudo caminhava? Esperávamos o quê? Que um vídeo de orientação da Dharma Initiative aparecesse para nos guiar? Não. Precisávamos ser guiados pela emoção, pois no fim das contas estamos todos indo para um outro lugar, queiramos ou não. E foi esta a história que LOST contou nos últimos seis anos de nossas vidas: a jornada de pessoas que nasceram, viveram e morreram. Jack, Kate, Sawyer, Juliet, Jin, Sun, Hurley, Libby, Desmond, Penny e tantos outros foram levados à ilha para cumprir uma missão. E cumpriram. E uma a uma, sistematicamente, foram morrendo desde o início da série, como uma contagem regressiva que recusamos enxergar. E por quê? Por que todos morrem, inevitavelmente. E no fim não mais importaram os números, as teorias, os mistérios ou mitos. A realidade paralela foi apenas um ponto de encontro daqueles que a todo custo viveram juntos e não queriam morrer sozinhos, a “antessala” do paraíso para os que precisam dar um nome a tudo. Mas o maior feito deste final foi o de criar algo atemporal, completo e ainda assim aberto para (milhões de) interpretações. E falando em uma antessala, um dos poucos detalhes deste final que citarei é o local onde o caixão de Christian Shephard estava, com as diversas representações físicas de várias religiões.

Existem mais informações nos minutos, segundos e milésimos finais de LOST do que muitos conseguirão imaginar. A cena final, então, é ao mesmo tempo fantástica, enigmática e triste. Jack acordou naquele bambuzal confuso e pronto para uma grande aventura e no mesmo local seus olhos cheios de dor e conhecimento se fecharam. Com isso, a série e sua intenção permanecerão, invariavelmente, incompreendidas. O que foi real, irreal, imaginário ou não, no fim das contas, caberá a cada um. A ilha é um teste? O purgatório? Uns chamam de final aberto por não esgotar tudo como se fosse um drama investigativo. Eu chamo de final ideal, digno das melhores obras de ficção. Aqueles que não acabam quando realmente chegam ao fim, pois o que realmente importa é a jornada. Não foi um final fácil ou óbvio. Foi um final corajoso que fez jus aos seis anos da série. Afinal, estamos todos indo para algum lugar, não? Sim? Não? Vejo vocês em uma outra vida, brothas!

Que jornada. Que jornada.

* Bruno publicou este texto em seu blog.