Juntos pela Palestina – Brian Eno reúne dezenas de artistas e ativistas para mudar a opinião pública sobre o genocídio palestino

O evento Together for Palestine, que aconteceu na quarta passada no estádio de Wembley, na capital inglesa, e foi idealizado por Brian Eno, é mais um passo importante em relação à popularização a uma das pautas mais importantes do mundo hoje: o genocídio palestino promovido pelo governo de Israel. Ciente de seu papel como agitador cultural, Eno reuniu artistas que não tiveram pudor em colocar seu nome para apoiar a causa palestina, reunindo-os com outros tantos ativistas em um evento que durou quatro horas e arrecadou dois milhões de libras inglesas (quase 15 milhões de reais) para o povo que sofre diariamente com os ataques do governo de Israel. O evento reuniu atrações musicais e discursos de atores, ativistas, poetas, escritores e pesquisadores de diferentes lugares do mundo para protestar juntos contra a tragédia que está destruindo todo um povo. Desde os Gorillaz de Damon Albarn, que trouxe Yasiin Bey (o Mos Def) e o sírio Omar Souleyman ao vídeo enviado pelo Portishead, nomes como Pink Pantheress, King Krule, Paul Weller, Hot Chip, Jamie Xx, Celeste e Neneh Cherry, que cantou com Greentea Peng, além dos atores Benedict Cumberbatch, Florence Pugh, Guy Pearce, Riz Ahmed, Ramy Youssef e nomes conhecidos por seus posicionamentos políticos como o jogador de futebol Eric Cantona e os ativistas Francesca Albanese e Ben Jamal, além do próprio Eno e vários outros, ajudaram a ampliar uma discussão, que ainda este ano, era considerada tabu e fez artistas inclusive serem expulsos ou terem apresentações canceladas por assumirem essa postura – o trio irlandês Kneecap é o caso mais emblemático, mas há vários outros. Aos poucos a arte muda a paisagem política do mundo, mas é preciso que alguém comece…

Um documentário sobre Brian Eno gerado por inteligência artificial

Ainda passando nos festivais e sem data de estreia comercial, eis o trailer do documentário generativo Eno, dirigido por Gary Hustwit. O cineasta norte-americano é autor de uma trilogia de documentários sobre design que começou por investigar tipografia (Helvetica, 2007), seguiu pelo design industrial (Objectified, de 2009) e terminou com o desenho das cidades (Urbanized, 2011) e resolveu contar a história do não-músico mais importante da história da música do século 20 ao desenhar um programa que ajudasse-o a editá-lo continuamente, gerando inúmeras versões aleatórias geradas por inteligência artificial a cada nova exibição. Uma leitura futurista e ímpar, bem como é característico a esse personagem, que começou mixando a banda glam Roxy Music ao vivo (tocando sintetizador e a própria mesa de som no palco, como um integrante do grupo) para abraçar a carreira de produtor e provocador criativo, inventando a música ambient enquanto ajudava diferentes ícones da música pop a se reinventar – de David Bowie aos Talking Heads, passando pelo U2, Devo, Coldplay, Peter Gabriel, Laurie Anderson, Grace Jones, Damon Albarn, entre muitos outros. O documentário de Hustwit mistura cenas dessa história a diferentes trechos de entrevistas com seu objeto de estudo, fazendo com que Brian Eno seja a única voz e, portanto, o narrador do filme. O salto criativo do filme, no entanto, veio quando o diretor associou-se ao programador e artista digital Brendan Dawes, que criou o software Brain One (Cérebro Um – e também anagrama óbvio do nome do protagonista) para recortar diferentes partes da entrevistas ilustradas com cenas de arquivo do próprio Brian editadas em tempo real. Há marcos pré-estabelecidos no filme e segundo seu diretor 75% dele é visto por todos os espectadores. Os 25% restantes é que são publicados aleatoriamente e em ordens que, como no filme, não seguem cronologia, cogitando diferentes surpresas a cada vez que você assiste ao filme. Embora ainda não tenha previsão de estreia nos cinemas para além dos festivais, o teaser criado para Eno dá uma boa ideia do que poderemos ver…

Assista abaixo:  

Brian Eno vai ao cinema

eno

Produtor visionário e compositor sem fronteiras, Brian Eno traçou uma carreira paralela compondo músicas para filmes, passeando entre os limites da canção e da trilha sonora original, enquanto compunha para filmes tão diferentes quanto o Duna de David Lynch, Trainspotting, Fogo contra Fogo de Michael Mann, Além das Nuvens do Antonioni e De Caso com a Máfia, do Jonathan Demme. Agora este flanco de sua carreira é reunida na coletânea Film Music 1976-2020, que será lançada em novembro e já está em pré-venda. Para anunciar o disco, Eno pinçou “Ship In A Bottle”, do filme de Peter Jackson Um Olhar do Paraíso.

Abaixo, a capa da coletânea e a ordem das músicas:

“Top Boy (Theme)”
“Ship in A Bottle”
“Blood Red”
“Under”
“Decline and Fall”
“Prophecy Theme”
“Reasonable Question”
“Late Evening in Jersey”
“Beach Sequence”
“You Don’t Miss Your Water”
“Deep Blue Day”
“The Sombre”
“Dover Beach”
“Design as Reduction”
“Undersea Steps”
“Final Sunset”
“An Ending (Ascent)”

Vida Fodona #637: Uma forma pouco convencional

vf637

Outro programa gravado ao vivo.

Massive Attack – “Be Thankful for What You Got”
Curtis Mayfield – “Gimme Your Love”
Ana Frango Elétrico – “Chocolate”
Tame Impala – “It Might Be Time”
Brian Eno – “St. Elmo’s Fire”
Carole King – “I Feel the Earth Move”
Pink Floyd – “Free Four”
Josyara + Giovani Cidreira – “Molha”
Rocket Juice & The Moon – “Poison”
Gilberto Gil – “Feliz por um Triz”
Arnaldo Baptista – “Hoje de Manhã Eu Acordei”
Silver Jews – “Random Rules”
Daft Punk + Julian Casablanca – “Instant Crush”
Teenage Fanclub – “Verisimilitude”
Tim Maia – “Manhã de Sol Florida, Cheia de Coisas Maravilhosas”
Lulina – “N”
Washed Out – “Eyes Be Closed”
Happy Mondays – “Loose Fit”
Itamar Assumpção – “Beijo na Boca”
João Gilberto – “Estate”
Nill – “Minha Mulher Acha Que Eu Sou o Brad Pitt”
Kanye West – “Love Lockdown”

Lee “Scratch” Perry e Brian Eno juntos!

leescratchperry-heavyrain

Dois dos maiores produtores de todos os tempos, o papa do dub Lee “Scratch” Perry e o pai do ambient Brian Eno se encontram na faixa “Here Come The Warm Dreads”, um trocadilho com o título do primeiro disco solo de Eno, Here Come the Warm Jets, que é uma reconstrução de “Makumba Rock”, que o jamaicano apresentou no disco que lançou este ano, Rainford. A versão vem em Heavy Rain, o disco de dub que saiu deste primeiro trabalho, supervisionado pelo mítico Adrian Sherwood, da gravadora On-U-Sound.

Vida Fodona #594: Quem sabe, sabe

vf594

O primeiro do inverno.

Brian Eno – “St. Elmo’s Fire”
Max Frost – “Sunday Driving”
Elis Regina – “Cobra Criada”
Douglas Germano – “Valhacouto”
Marcelo D2 + Mixmaster Mike – “A Maldicao Do Samba”
Juliana Perdigão – “Anhagabaú”
Ladyhawke + Pascal Gabriel – “Dusk Till Dawn”
Chromeo – “Fancy Footwork”
Mayer Hawthorne – “It’s Gonna Take A Long Time (Silly Pilly Edit)”
Frankie Valli + The Four Seasons – “Beggin’ (Pilooski Radio Edit)”
Jupiter Apple – “Exactly”
Police – “Canary in a Coalmine”
Specials – “Nite Klub”
Grassmass – “Coisa nº5”
Darryl Hall & John Oates – “I Can’t Go For That (No Can Do)”
Harmony Cats – “Ela Dança”

Brian Eno instalado

Brian-Eno

O papa da música ambient, Brian Eno, revisita sua obra musical de suas instalações áudio-visuais desde 1986 na caixa Music for Instalations, que abrange sua obra neste departamento desde 1986 até hoje. O trabalho é o minimalismo zen que compõe obras como esta “Kazakhstan”:

A caixa, com seis discos, é descrita desta forma por seus produtores.

“Music for Instalations é uma coleção de músicas novas, raras e previamente não lançadas, todas gravadas para Brian Eno utilizar em suas instalações a partir do período de 1986 até hoje (e além). Durante esta época, ele surgiu como o expoente mais importante da música ‘generativa’ em todo o mundo e é reconhecido como um dos principais artistas de instalações áudio-visuais de sua época. Os experimentos visuais de Brian Eno com luz e vídeo provaram ser um território fértil em que muito de seus outros trabalhos cresceram, cobrindo uma abrangência ainda maior de tempo que suas gravações e concorrendo com sua recente produção musical nas décadas mais recentes. Estas obras amplamente aclamadas foram mostradas em todo o planeta – da Biennale de Veneza ao Palácio de Mármore em São Petersburgo ao Parque Ritan em Pequim e nas velas da Casa de Ópera de Sidney. Produzida por Brian e seu velho colaborador Nick Robertson, esta caixa belamente apresentada com seis CDs, limitada e numerada edição de luxo, vem um livro de 64 páginas com capa de Plexiglass apresentando fotografias raras ou nunca vistas, além de um novo ensaio escrito por Eno.”

Mais informações sobre a caixa no site do próprio Brian Eno. Eis a capa e a ordem das faixas nos seis discos:

brianeno-musicforinstalations

Music From Installations (nunca lançado):
“Kazakhstan”
“The Ritan Bells”
“Five Light Paintings”
“Flower Bells”

77 Million Paintings (nunca lançado):
“77 Million Paintings”

Lightness – Music For The Marble Palace (lançado apenas como um CD limitado vendido pela loja online de Brian Eno):
“Atmospheric Lightness”
“Chamber Lightness”

I Dormienti / Kite Stories (lançado apenas como um CD limitado vendido pela loja online de Brian Eno):
“I Dormienti”
“Kites I”
“Kites II”
“Kites III”

Making Space (lançado apenas como um CD limitado vendido pelo site da Lumen):
“Needle Click”
“Light Legs”
“Flora and Fauna / Gleise 581d”
“New Moons”
“Vanadium”
“All The Stars Were Out”
“Hopeful Timean Intersect”
“World Without Wind”
“Delightful Universe”

Music For Future Installations’ (nunca lançado):
“Unnoticed Planet”
“Liquidambar”
“Sour Evening (Complex Heaven 3)”
“Surbahar Sleeping Music”

Vida Fodona #562: As 75 melhores músicas de 2017

VidaFodona562

Depois de um tempo offline, mais de cinco horas de músicas do ano passado.

Taylor Swift – “Look What You Made Me Do”
MC G15 – “Cara Bacana”
Simone & Simaria + Anitta – “Loka”
Missy Elliott + Lamb – “I’m Better”
Xx – “Say Something Loving”
Phoebe Bridgers – “Motion Sickness”
Katy Perry – “Chained To The Rhythm”
Frank Ocean – “Provider”
Anelis Assumpção – “Receita Rápida”
Nill – “Minha Mulher acha que eu sou o Brad Pitt”
MC Fioti – “Bum Bum Tam Tam”
Busy P + Mayer Hawthorne – “Genie”
Elo da Corrente + Geovana – “Mariana”
Arcade Fire – “Creature Comfort”
Criolo – “Menino Mimado”
Gorillaz + Popcaan – “Saturnz Barz”
MC Kevinho + Wesley Safadão – “Olha a Explosão”
Lana Del Rey + The Weeknd – “Lust for Life”
Four Tet – “Planet”
Washed Out – “Get Lost”
N*E*R*D + Rihanna – “Lemon”
Dua Lipa – “New Rules”
Major Lazer + Anitta + Pabllo Vittar – “Sua Cara”
Beck – “I’m So Free”
Paramore – “Hard Times”
Nego do Borel + Anitta + Wesley Safadão – “Você Partiu Meu Coração”
Lana Del Rey – “Love”
Criolo – “Lá Vem Você”
Cardi B – “Bodak Yellow”
Lorde – “Green Light”
Pabllo Vittar – “K.O.”
Audac – “Hollanda”
Luiza Lian – “Oyá”
Giovani Cidreira – “Vai Chover”
Don L + Diomedes Chinaski – “Eu Não Te Amo”
Frank Ocean – “Chanel”
Tyler the Creator + Frank Ocean – “911” / “Mr. Lonely”
Otto – “Soprei”
Rincon Sapiência – “Ponta de Lança (Verso Livre)”
Anitta – “Paradinha”
Floating Points – “Ratio”
Haim – “Want You Back”
Elza Soares + Pitty – “Na Pele”
Rodrigo Ogi + Marcela Maita – “Nuvens”
Kendrick Lamar – “DNA”
Letrux – “Além de Cavalos”
Ed Sheeran – “Shape of You”
Giovani Cidreira – “Movimento da Espada”
Charlotte Gainsbourg – “Deadly Valentine (Soulwax Remix)”
Rakta – “Rodeados pela Beleza”
Courtney Barnett + Kurt Vile – “Let it Go”
Lorde – “Perfect Places”
Fleet Foxes – “Third of May / Odaigahara”
Maglore – “Clonazepam 2 Mg”
The War on Drugs – “Thinking of a Place”
Letrux – “Coisa Banho de Mar”
LCD Soundsystem – “How Do You Sleep?”
Brian Eno + Kevin Shields – “Only Once Away My Son”
Metá Metá – “Odara Elegbara”
Rincon Sapiência – “Crime Bárbaro”
Far From Alaska – “Cobra”
Flora Matos – “Perdendo o Juízo”
Thundercat – “Friend Zone”
Spoon – “Hot Thoughts”
Boogarins – “Foimal”
Kamasi Washington – “Truth”
Kelela – “LMK”
Kendrick Lamar – “Humble”
Rincon Sapiência – “Meu Bloco”
Baco Exu do Blues – “Te Amo Disgraça”
Tim Bernardes – “Ela”
Letrux – “Que Estrago”
Kiko Dinucci + Juçara Marçal – “Chorei”
Angel Olsen – “Special”
Chico Buarque – “As Caravanas”

Tem também no Spotify com as músicas que têm no Spotify:

Aliás, siga-me no Spotify por aqui.

As 75 melhores músicas de 2017: 18) Brian Eno + Kevin Shields – “Only Once Away My Son”

18-eno-shields

“Only Once Away My Son”

O dia em que David Bowie tocou com o Devo

devo

Mark Mothersbaugh, líder do Devo, narra histórias de bastidores do primeiro disco de sua banda, que incluem causos com David Bowie, Brian Eno e gente do rock alemão dos anos 70 – falei sobre o relato no meu blog no UOL.

O registro de uma conexão improvável entre dois gigantes da música moderna foi encontrado recentemente por um de seus autores, quando o líder da banda new wave Devo revelou que teria gravações de seu grupo ao lado de ninguém menos que David Bowie. A revelação aconteceu na noite desta segunda-feira, quando, num encontro na loja de discos Sonos, em Nova York. Mark Mothersbaugh, fundador e principal mentor do grupo Devo, era uma das atrações em um painel de discussão sobre a importância de David Bowie, cuja morte completa dois anos no próximo mês, e reuniu nomes como o músico Nikki Sixx do Mötley Crüe, a líder do grupo Perfect Pussy (e ex-VJ da MTV norte-americana) Meredith Graves e o fotógrafo Mick Rock, todos contando histórias do tempo em que conheceram o ícone inglês. O papo teve a mediação feita pelo jornalista Rob Sheffield.

“David Bowie chegou e disse: ‘Quero produzir vocês”‘, lembrou Mothersbaugh quando se referia a um dos primeiros shows de sua banda, no meio de 1977, na casa Max’s Kansas City. “E nós falamos que não tínhamos contrato com gravadoras. E ele disse: ‘Não importa, eu pago”‘. Essa foi apenas uma das histórias contadas pelo líder do Devo, de acordo com o blog Bedford and Bowery.

Mothersbaugh continuou lembrando que Bowie não falou da boca pra fora e que o músico inglês subiu no palco para acompanhar a banda no segundo show que eles fizeram naquele lugar, no mesmo dia. “Ele subiu no palco e disse: ‘Essa é a banda do futuro e eu vou produzi-los este natal em Tóquio!’ E nós todos ficamos: ‘Parece ótimo. Estamos dormindo em uma van em frente ao Bowery essa noite, em cima do nosso equipamento”. Aquela noite terminou com Bowie levando a banda para seu hotel, levando-os para comer sushi, coisa que eles nunca tinham visto na vida.

Meses depois, Brian Eno, que produziria o primeiro disco do Devo (Q: Are We Not Men? A: We Are Devo!, de 1978) levou a banda para o estúdio Conny Plank, em Colônia, na Alemanha, e no primeiro dia de gravação tocou em uma sessão com o grupo, David Bowie e outros músicos alemães. “O Devo tocou com David Bowie, Brian Eno, Holger Czukay (do grupo alemão Can) e alguns outros músicos eletrônicos alemães que estavam por ali”, revelou Mark, que também contou que acabou de reencontrar a gravação histórica deste dia. “Eu ainda não a escutei, mas acabei de encontrar esta fita”, contou.

Como se não bastasse, ele ainda contou as fitas originais das gravações do primeiro disco, gravadas em 24 canais e cheias de anotações feitas por Eno. “Tem umas faixas com coisas escritas como ‘vocais de David’ e ‘sintetizadores extra de Brian’ e eu de repente eu lembro que tirei essas participações quando estávamos fazendo a mixagem final do disco”, explicou, acrescentando que não usou essas gravações no disco final porque haviam se envolvido com empresários picaretas, levando-o a se tornar “completamente paranoico em relação a pessoas se metendo nas nossas coisas”.

No final, Mothersbaugh deixou a dúvida no ar. “Acho que deveríamos ver o que tem nessas fitas. Estou realmente curioso pra saber o que diabos fizemos.”