Breaking Bad: “I was good at it”
O post abaixo contém spoilers:
Estou batendo meu texto sobre Breaking Bad mas preciso atualizar outras coisas no Trabalho Sujo antes disso (vocês verão). Não vou discutir especificamente o último episódio, mas falar da importância da série como um todo. O último episódio, especificamente, não bateu. Para uma série que provocava tanto as fronteiras da televisão, achei que Felina – anagrama para “Finale” – foi previsível e condescendente. Os bons escaparam, feridos, mas livres; os maus morreram, de diferentes formas; Walter encontrou seu inevitável fim. O oposto do que a série – com todas suas forçadas de barra – sempre representou. Fiquei particularmente frustrado porque havia lido a entrevista que Dave Bunting fez com o diretor de fotografia do seriado, Michael Slovis no site RogerEbert.com no início do semestre e em dado momento, ele comenta o que pode comentar sobre o final da temporada:
Só posso dizer duas coisas: a) Você não ficará desapontado, prometo, prometo, prometo, prometo, prometo. b) Toda história será amarrada e não haverá pontas soltas. Irá redefinir as últimas temporadas na televisão. Irá redefinir o que é um último episódio, que são quase inevitavelmente frustrantes. Este não desapontará.
O cara lança uma dessas e cria uma expectativa gigantesca. Vince Gilligan realmente transpôs os limites da TV ao forçar uma história triste e depressiva envolvendo dinheiro, morte, drogas e família. Reuniu personagens psicóticos que já eram familiares ao cinema, mas colocou-os na sala de estar, empurrando uma realidade por vezes caricata mas sempre violenta goela abaixo do espectador. Esse é o grande trunfo de Breaking Bad e quando alguém tão próximo do núcleo-duro da produção (a fotografia, afinal, é uma das preciosidades do seriado) solta uma dessas, o que se espera é um final daqueles de tirar o fôlego.
Não foi o que aconteceu. Deu tudo certo, no final. “Redefinir o que é um último episódio” é amarrar as pontas soltas às vontades do público? Acho que esse final tirou o clima de tensão imposto no antepenúltimo episódio (Ozymandias foi na jugular do telespectador) e esticado no penúltimo. O clima de vingança cedeu ao de redenção e toda maldade foi redimida, como num filme de sessão da tarde.
Um final previsível que teve dois momentos bonitos: o último encontro de Jesse e Walt e a última conversa de Walt e Skyler. De resto, a cena da metralhadora é uma mistura de Papaléguas com McGyver que transformou a expectativa do “final Scarface” numa cena de desenho animado. A própria gangue nazista era ridícula se comparada aos grandes vilões da série, parecia uma caricatura de um grupo de arquivilões, que não tinham nada de inusitado ou pessoal. Personagens rasos, sem humanidade, bidimensionais como as aparições de Hitler nas histórias da Marvel e sua chacina pareceu uma canetada no roteiro: “Morrem todos”, resumido numa frase.
Nada de antológico, épico, histórico (a não ser quando dito por aquelas pessoas que não conhecem o significado dessas palavras e as cospem feito onomatopéias de deslumbramento). Esse final sem sal pode custar o trono de Breaking Bad entre as grandes séries. Não tirou o chão como o fim de Sopranos nem nos consolou com um sorriso como o final de The Wire. Até o final de Lost, por mais brega que possa ter sido, foi mais digno da série do que o final de Breaking Bad.
Espero estar errado, mas temo que em cinco anos não vamos nos referir a Breaking Bad com a reverência que a saudamos hoje. E acho que isso acontecerá só pelo fato do final ter sido… comum.
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