Boogarins avassalador

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Depois de um show histórico no festival da Casa do Mancha (quem foi sabe), o grupo goiano Boogarins libera mais uma inédita de seu segundo disco – a hipnótica “6000 Dias”. Eles lançam seu Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos no fim deste mês, quando também começam uma turnê européia que passa pela Inglaterra, Bélgica, Dinamarca, Noruega, Holanda, Suíça, Itália, Espanha, Portugal e França. O show de lançamento do novo disco acontece em São Paulo, no próximo dia 25, no Mirante 9 de Julho – depois disso o grupo só volta para o Brasil em novembro.

Ave Mancha!

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Nós da trupe Sussa – eu, Danilo, Pattoli, Babee e Klaus – fomos chamados pra dar início aos trabalhos do Fora da Casinha, o festival de oito anos da Casa do Mancha, que consagra a atual cena independente brasileira com o primeiro festival de indie rock realizado em São Paulo neste século. Na real é uma desculpa pra aplaudirmos pessoalmente este sujeito incrível que, na raça, vem adubando cada vez mais uma cena local e autoral, além de criar uma das melhores bolhas de otimismo da cidade (a incrível foto acima, com Samurai e a Ana de papagaios de pirata, foi tirada pela Kátia e eu tunguei de uma ótima história oral do Mancha contada na Vice). São dez atrações – Twinpine(s), Gui Amabis, Carne Doce, Supercordas, Maurício Pereira, Holger, Soundscapes, Stela Campos, O Terno e Boogarins – que mostram a amplitude e especificidade deste gênero, que também reunirá um verdadeiro quem é quem do indie rock brasileiro nesta década – não apenas de São Paulo, pois tem gente vindo de tudo quanto é lugar. Pra comemorar, vamos tocar só música brasileira. O festival começa às 16h deste domingo no Centro Cultural Rio Verde e os ingressos estão quase no fim!

Boogarins 2015: “Nesse labirinto de tédio”

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“Avalanche”, a primeira faixa do novo disco dos Boogarins a aparecer, ganha um clipe bem retrô assinado pelo pessoal do selo de fitas cassete Terry Crew.

Boogarins à sua frente

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O Manual ou Guia Livre de Dissolução dos Sonhos, o segundo disco dos Boogarins, é mais um daqueles discos que nos fazem pensar que 2015 vai acabar e ainda vão continuar aparecendo discos foda gravados e lançados neste ano. Mas antes de sua chegada oficial, que acontece no final do mês que vem, com direito a show no Mirante 9 de Julho dia 25 de outubro, a banda goiana relança seu primeiro disco Plantas Que Curam, com direito a três músicas ao vivo, duas delas inéditas. Uma delas, “À Sua Frente”, foi descolada antecipadamente para o Trabalho Sujo e foi gravada em Los Angeles, no estúdio da Lolipop Records. “Essa música foi uma das primeiras que escrevi e tocamos ela só nos primeiros shows em Goiânia, antes do Plantas ter sido lançado”, me explica o guitarrista Benke Ferraz. A música e a outra inédita, “Refazendo”, quase entraram no novo disco, mas ficaram de fora na seleção final. Saca só a viagem:

Boogarins 2015: “Eles não deixam ver o sol”

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Rapaz, esse disco novo dos Boogarins promete…

Esse registro da incrível “Avalanche” ao vivo no Centro Cultural São Paulo foi feito no final do mês passado, pouco antes da banda goiana embarcar na turnê de divulgação de seu segundo disco, Manual, que será lançado até o final deste mês.

Vida Fodona #509: Rejuvenescimento espiritual

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Fui a Brasília, passei pelo Rio e voltei.

Tame Impala – “Nangs”
Miley Cyrus + Flaming Lips – “Karen Don’t Be Sad”
Boogarins – “Avalanche”
Letuce – “Aristoteles Laugh”
BNegão & Os Seletores de Frequência – “Dias da Serpente”
Toro y Moi + Washed Out – “Want”
Modjo – “Lady (Hear Me Tonight)”
Major Lazer + MØ – “Lost”
Boss in Drama + Karol Conká – “Lista VIP”
Weeknd – “Can’t Feel My Face”
Max Romeo – “Chase the Devil”
Sinkane – “Yacha (Peaking Lights Dub Mix)”
Massive Attack – “Group Four”
Guilherme Arantes – “O Melhor Vai Começar”

Vem aqui.

Fora da Casinha 2015

Fora da Casinha

Nem lembro há quanto tempo conheço o Mancha, mas lembro perfeitamente da minha felicidade quando ele aceitou dividir uma Noite Trabalho Sujo na Trackers na primeira vez que fizemos shows na festa (com Bonifrate e Soundscapes). A parceria seguiu logo depois quando o convidei para repetir a dose na festa de 18 anos do Trabalho Sujo (quando ele convocou o MZK e o Curumin) e saquei que havia uma preocupação: Mancha, que fez seu nome junto à cena independente brasileira ao transformar sua própria casa em um dos melhores (e menores) palcos da cidade, era refém de um local.

Havia uma preocupação de expandir os horizontes espaciais da Casa do Mancha para que seu trabalho não ficasse preso a uma coordenada geográfica e ele já tinha algumas ideias na manga. A primeira delas confirma-se hoje, quando ele chamou o Trabalho Sujo pra ser o veículo que anuncia o primeiro Fora da Casinha: um festival de música independente brasileira que acontece durante o primeiro domingo de outubro. São 10 bandas que já passaram pela Casinha se apresentando continuamente por honestos 60 reais (40 reais o primeiro lote, não dê mole) – talvez a melhor relação custo/benefício da noite paulistana. O festival acontece no Centro Cultural Rio Verde e reúne Holger, Gui Amabis, Mauricio Pereira, Twinpine(s), Stela Campos, O Terno, Carne Doce, Soundscapes, Supercordas e Boogarins. Eu, Danilo, Klaus, Luiz e Babee estaremos presentes recebendo o público com a tranquilésima volta das Tardes Trabalho Sujo – não, a Sussa não morreu.

“Faz uns anos que flerto com extrapolar o limite físico da casinha, não ficar refém de um modelo de trabalho singular”, me explica o Mancha. “Já temos essa preocupação de não estagnar numa situação confortável e nos últimos dois anos realizamos algumas produções fora com resultados muito bons. Conforme fomos amadurecendo ficou mais latente a relevância do que podemos apresentar, então fui moldando a idéia de um festival que mantivesse a narrativa que temos na Casa do Mancha só que numa proporção maior.”

Ele conta um pouco da história do lugar: “A Casa do Mancha surgiu de um estúdio caseiro na sala da casa onde eu morava. Basicamente minha intenção era gravar minhas idéias, músicas de amigos e eventualmente juntar todo mundo pra mostrar o que a gente tava fazendo. Aconteceu isso e muito mais. Aos poucos as gravações ganharam melhor qualidade, aprendemos a tirar um bom som da sala e as apresentações se tornaram mais frequentes, disputadas por um público que buscava conhecer novos artistas. Tive pessoas incríveis que passaram anos comigo ajudando a conduzir a casinha como o Tomaz Afs e o Rafael Crespo e isso me fez perceber que existia ali um potencial para ajudar a alicerçar uma fatia da produção musical independente.”

Ele reforça o acerto de opção: “Por estar numa posição privilegiada, em contato com muitos artistas constantemente, vejo coisas incríveis na produção atual. Não é a realidade do grande mercado pois esse ainda é pautado pela lógica do consumo fácil, sem muitas preocupações com referências ou evolução. Mas agora, passada a comoção do acesso à tecnologia que facilitou as gravações, voltamos ao ponto que o artista se destaca pelas apresentações. Isso necessariamente progride a música ao vivo, tanto pro lado dos artistas quanto dos locais de show.”

Pergunto se é uma só edição ou se teremos outros Fora da Casinha depois desse: “O festival nasce como comemoração dos 8 anos da casinha”, diz. “Minha maior preocupação foi costurar artistas que representam bem nosso trabalho durante esse tempo, todos tem um forte laço conosco, são parceiros de longa data e estão nesse festival muito mais pela relação que eles tem com a casa do que qualquer outro motivo. Então vai ser uma festa de aniversário com amigos. E aniversário a gente faz todo ano, se tivermos fôlego e amigos pra comemorar sempre… Por que não?”

Os ingressos começaram a ser vendidos hoje e o primeiro lote custa só R$ 40. Não dê mole.

Boogarins 2015: “Força pra derrubar todos os prédios”

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Eis o disco novo do Boogarins começando a se materializar – e o primeiro single de Manual ou Guia Livre de Dissolução de Sonhos chama-se “Avalanche”:

Tudo Tanto #011: Uma nova psicodelia brasileira

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Escrevi sobre o show que juntou O Terno e os Boogarins no mesmo palco na minha coluna Tudo Tanto da edição do mês passado da revista Caros Amigos e aproveitei para falar dessa nova psicodelia brasileira que vem surgindo. Também tem os vídeos que fiz do show, veja aí.

Uma nova psicodelia brasileira
O Terno e Boogarins fazem um show arrebatador mostrando que há uma nova cena de rock lisérgico que conhece bem seus antepassados no Brasil

Ecos da psicodelia dos anos 60 e 70 estão reverberando forte na segunda década do novo milênio em todo o mundo. A química do LSD coloriu corações e mentes quando a primeira geração pós-guerra alcançou a maturidade e a conexão Londres-São Francisco foi a primeira ponte a espalhar a lisergia no ar do planeta. Artistas como Tame Impala, Unknown Mortal Orchestra, Mac De Marco, Beach Fossils, Toro y Moi, Ty Segall, Dirty Projectors, Foxygen e Ariel Pink são alguns entre vários outros representantes de uma nova geração que resgata as paisagens multicoloridas e viagens místicas e misteriosas de meio século atrás através dos meios digitais ao mesmo tempo em que são causa e consequência do revival do vinil que já comentei aqui em outras colunas.

E como na primeira onda psicodélica, essa não é uma tendência isolada e sim global. Ainda nos anos 60 a força da transformadora dessa sonoridade alucinógena chegou ao Brasil, libertando o iniciante rock brasileiro dos bailinhos e paixonites da Jovem Guarda para os horizontes sem fim e os limites inexplorados da experimentação musical com instrumentos elétricos. Os Mutantes e Novos Baianos são apenas a ponta de um iceberg gigantesco que conta com autores de joias celebradas por estudiosos de todo o mundo (como os conjuntos Flaviola e o Bando do Sol, ,Módulo 1000, Os Baobás, Moto Perpétuo, A Barca do Sol, Ave Sangria, Veludo, O Bando, O Som Nosso de Cada Dia, Marconi Notaro, Som Imaginário, Spectrum) e grupos que abrigaram futuros gênios da nossa música (como o Brazilian Octopus que tinha Lanny Gordin e Hermeto Paschoal em sua formação, o Luz Som e Dimensão de Djavan, O Terço de Vinicius Cantuária ou o Vímana, de onde saíram Ritchie, Lobão e Lulu Santos).

E da mesma forma que essa nova onda psicodélica revisita os clássicos internacionais, a versão brasileira também não se esquece dos pioneiros, que também incluem as fases psicodélicas de artistas que não nasceram nesse meio, pinçando faixas e discos coloridos de Gilberto Gil, Milton Nascimento, Jorge Ben, Tim Maia e até Ronnie Von e Odair José. A geração que inclui nomes como Garotas Suecas, Boogarins, O Terno, Supercordas, Tono, Castello Branco, Luziluzia, Cérebro Eletrônico, Rafael Castro, Lulina, Do Amor e Trupe Chá de Boldo sabe muito bem que andam por trilhas abertas tanto pelos antepassados europeus e norte-americanos quanto pelos brasileiros.

Duas das principais bandas dessa nova geração uniram forças para uma noite memorável no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, no início do inverno deste ano. Foi uma sexta e um sábado que os paulistanos d’O Terno e os goianos Boogarins dividiram o palco e alternaram as aberturas: na sexta os Boogarins abriram para O Terno. No sábado, a noite em que fui, foi O Terno quem começou os trabalhos.

A banda liderada pelo Tim Bernardes é uma subcategoria dentro desta nova psicodelia. Tanto estética quanto tematicamente sua abordagem é autorreferencial, o que garante ao trio o rótulo de banda metapsicodélica, devido ao fato de que algumas de suas letras – quase todas de Tim – falarem sobre o fato de pertencer a uma banda iniciante num mundo explodindo de links, referências e citações. Musicalmente, frequentam eles frequentam o brechó musical dos Beatles em seus últimos dias e dos Mutantes no meio de sua fase de ouro, embora estas duas estejam longe de ser as únicas correntes visitadas pelo trio, que ainda conta com Guilherme D’Almeida (portando um baixo Hofner idêntico ao de Paul McCartney) e o recém chegado baterista Biel Basile. Beatles e Mutantes são os dois principais alicerces da banda – o terceiro é genético e mesmo que o vocalista, guitarrista e tecladista queira, não terá como fugir tão cedo: filho de Maurício Pereira, d’Os Mulheres Negras, ele tem o mesmo timbre e jeito de cantar do pai, além da postura e do rosto não fazer ninguém pensar que ele poderia ser filho de outra pessoa (tema, aliás, de uma das músicas do grupo, só que em formato ficção).

A força d’O Terno é brutal mas melódica e a psicodelia do grupo passeia por brincadeiras com versos, com a métrica, com os acordes e com as referências citadas na letra. Parecem tanto uma banda de rock quanto um esquete de humor sobre uma banda de rock – e eles sabem muito bem disso, embora estejam longe de serem rotulados preguiçosamente como uma banda “engraçadinha”. E aos poucos o grupo entrega-se a solos extensos, duelos instrumentais e climas lisérgicos sem referências externas, como se fosse uma banda dos anos 60.

Já os Boogarins têm uma improvável trajetória: formado a princípio pela dupla Fernando Filho (voz e guitarra) e Benke Ferraz (guitarra), eles vieram de Goiânia com um disco inacreditavelmente retrô, Plantas Que Curam. O disco chamou a atenção no exterior antes de aparecer no Brasil e foi lançado em vinil pelo selo da loja nova-iorquina Other Music, o que fez a banda engatar duas turnês pelo exterior, tocando mais fora do Brasil do que aqui dentro.

O som do grupo é mais fluido e escorregadio que o d’O Terno, a começar pela voz pastosa de Fernando, que quase sempre canta como se estivesse sorrindo, puro carisma. Benke quase não fala no palco, mas rege o quarteto com solos brilhantes. A formação da banda ainda inclui o baixista Raphael Vaz, herdeiro do peso do baixista do The Who John Entwhistle mas preciso como o baixista do Pink Floyd, Roger Waters, bem no início da banda, e o baterista Ynaiã Benthroldo, que surra seu kit de percussão sem necessariamente parecer agressivo. Uma combinação contagiante.

No show, o público era majoritariamente jovem, na casa de seus 20 e poucos anos, e logo que as bandas começaram a tocar, pelo menos um quarto da audiência correu para a beira do palco para ver o show bem de perto. O Terno começou a noite, mostrando mais músicas de seu disco do ano passado (batizado apenas com o nome da banda) do que de seu disco de estreia – e chamou Benke dos Boogarins para dividir uma música do trio paulista, a doce “Eu Vou Ter Saudades”. Depois Tim chamou Fernando para acompanha-los na acelerada “Tic Tac” e logo em seguida os outros três Boogarins subiram ao palco para uma jam session que culminou em uma música inédita, a primeira da noite: “Falsa Folha de Rosto”, mostrando que os Boogarins já estão chegando nos finalmentes de seu segundo disco, que deve ser lançado este ano. Entre as novas ainda teve “6000 Dias” e uma faixa sem título.

Depois o grupo goiano convidou O Terno novamente para o palco, quando diviram “Infinu”, do quarteto, que transformou-se num longo improviso com três guitarras, dois baixos e duas baterias (além do eventual teclado tocado por Tim). A noite chegou ao ápice quando o grupo fechou o show com um momento que só veio reforçar o que disse no começo do texto, quando apresentaram uma versão magistral para o clássico “Saídas e Bandeiras no. 2”, que Lô Borges compôs para o mítico disco Clube da Esquina. O próprio Tim brincou: “A juventude conhece Clube da Esquina”, a receber gritos de aprovação a apresentar a nova música. E aposto que ela – as bandas e o público – os conhecem por causa da internet, não por causa de seus pais.

Aí vêm os Boogarins!

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Os órfãos das guitarras do Tame Impala podem encontrar refúgio sob as asas dos Boogarins, que anunciam seu segundo disco – Manual ou Guia Livre de Dissolução de Sonhos – que será lançado no dia 30 de agosto (e já está em pré-venda). A capa é essa acima, assinada por Nei Caetano da Silva e o nome das músicas vem abaixo deste vídeo:

“Truques”
“Avalanche”
“Tempo”
“6000 Dias”
“Mario de Andrade – Selvagem”
“Falsa Folha de Rosto”
“Benzin”
“Cuerdo”
“Sei Lá”
“Auchma”

Segura que vem pauleira…