Os 50 melhores discos de 2021, segundo a APCA

É sempre assim: dezembro chega e com ele as listas de melhores do ano, mas a lista com os melhores de 2021, feita pelo júri de música popular da Associação Paulista de Críticas de Arte (APCA, da qual faço parte ao lado da Adriana de Barros, José Norberto Flesch Marcelo Costa, Pedro Antunes e Roberta Martinelli) só será revelada no início de 2022. Por enquanto, antecipamos os 50 indicados à categoria Melhor Disco, mostrando como, mesmo com todas adversidades do caminho, foi intensa a produção de música neste ano que chega ao fim. Confira os indicados a seguir.  

Na alma de In Utero

inutero

“Há tempos não estava vendo muito sentido em prosseguir no rolê da música”, desabafa Rodrigo Lemos, um dos fundadores da Banda Mais Bonita da Cidade que passou a lançar seus trabalhos com o nome solo Lemonskine e o grupo Naked Girls and Aeroplanes. “Rolou depressão mesmo após o meu último lançamento. Ainda sem saber como proceder, fui cavoucar o que tinha acontecido comigo ao longo dos anos, tipo terapia mesmo! Passei por um monte de coisa desde o meio da década passada e as coisas vão mudando. O panorama atual não é meu lugar de fala.”

Foi pensando nisso que optou por o que ele chama de “regressão” ao seu primeiro contato com o rock, o trio Nirvana. “Eu devia ter em torno de 12 anos; já havia mudado do Rio de Janeiro para Curitiba e lembro de ter comprado meu primeiro disco com dinheiro economizado de “mesadas” nessa época, o acústico da MTV americana, que aqui no Brasil chegou quase junto com a notícia da morte do Kurt”, lembra. “Foi um período em que eu vivi isso muito intensamente. Como adolescente, não conseguia exatamente compreender o sentido daquilo tudo, mas encontrava ecos internos já apontando pro interesse em música, em formar uma banda… Aí, me aprofundando no Nirvana, naturalmente cheguei ao In Utero e não larguei mais. Foi, com absoluta certeza, o disco que mais ouvi durante a juventude.”

rodrigolemos

Ao se deparar com o início de sua educação musical e o momento de sair de cena para dar voz a outras vozes (“por hora, prefiro participar do momento como produtor musical, e me coloco numa posição de empatia e apoio às novas vozes que realmente importarem, ainda mais no contexto do Brasil”, completa), Lemos capitaneou uma versão cheia de soul justamente para o disco-epitáfio de Kurt Cobain – lançado meses antes do suicídio de seu autor, Kurt Cobain. “A princípio, não houve um grande planejamento em torno do In Utero especificamente, mas sempre tive curiosidade com essas versões que buscam outro sentido na obra original”, continua Lemos. “Aí fui arranjando as versões em casa e em estúdio, dando os pontos de partida e convocando pessoas que eu admiro e que, já sabia, teriam alguma identificação com essa obra.”

“Inevitavelmente, tenho como referência projetos como Easy-Star All Stars, por exemplo – que já lançou releituras dub e reggae para Michael Jackson, Radiohead, Pink Floyd… Recentemente, tocando em casa, achei que estivesse compondo uma progressão de acordes bem funkeada, quando comecei a cantar uma melodia que, minutos depois percebi, era igual à de ‘Heart-Shaped Box’. Foi quando veio o clique”, lembra da origem soul do projeto.

O resultado é um disco bonito, com momentos inspirados e contrapontos interessantes, que às vezes desliza para o clichê, mas sempre mantém uma linha de raciocínio que nunca desanda, no máximo se repete. Heart-Shaped Tracks – A soulful tribute to Nirvana’s In Utero, primeiro lançamento do selo de Lemos Mezcla Viva Records reúne nomes como Blubell, Francisco El Hombre, Tuyo, Michele Mara, Letrux e os projetos autorais do idealizador num tributo essencialmente coeso e bem executado.

“A vida colocou um monte de fãs de Nirvana em volta de mim”, brinca. “Eu não pedi, mas quando vi já sabia quem poderia me ajudar a tornar isso realidade. Acho que o fato de ser um remake cantado majoritariamente por vozes femininas foi a maior surpresa. E ir encontrando a universalidade das letras do álbum, sobretudo. Pisei em ovos, por exemplo, pra convidar a Michele Mara para interpretar a versão de ‘Rape Me’. Por outro lado, fiquei muito à vontade com ela enquanto gravávamos!”

“Cada encontro foi muito especial à sua maneira, até os encontros à distância, como foi o caso da Leticia Novaes, do Letrux, que tem toda uma relação pessoal com Nirvana também, e encontrou tempo em meio à sua correria para transbordar em ‘All Apologies'”, continua.Um destaque que observo com carinho, foi o debut da Isabela Cafefortesemaçúcar. Ela participa em ‘Tourette’s’, que é uma música bem menos popular no álbum original mas, aqui, foi uma surpresa entre a equipe que a conhecia pessoalmente sem nunca ter ouvido sua voz cantante.”

É o primeiro projeto do selo, que Rodrigo imagina como ponto de partida para o envolvimento de seu trabalho com algumas das pessoas que participaram do projeto, mas por enquanto seu foco é mostrar o disco fora do Brasil. “Esse foi um projeto piloto pra sacar qual a substância disso em vendas digitais – que é só o que estou licenciado para fazer. Sacar se as pessoas estão interessadas nesse tipo de lançamento. Mas a idéia é que o selo possa lançar um remake por semestre, então o próximo já vai entrar no forno”, diz, sem contar quais nomes tem especulado.

HeartShapedTracks

Raissa Fayet + Bananeira Brass Band – “Serve the Servants”
Yuri Lemos + Igor Amatuzzi – “Scentless Apprentice”
Lemoskine – “Heart-Shaped Box”
Michele Mara – “Rape Me”
Francisco El Hombre + Bananeira Brass Band – “Frances Farmer Will Have Her Revenge On Seattle”
Jan & Machete Bomb – “Dumb”
The Shorts – “Very Ape”
Blubell + Dopler Beatz – “Milk It”
Tuyo + Bananeira Brass Band – “Pennyroyal Tea”
Naked Girls and Aeroplanes + Bananeira Brass Band – “Radio Friendly Unit Shifter”
Isa Caféfortesemaçúcar – “Tourette’s”
Letrux + Bananeira Brass Band – “All Apologies”

Andando com Blubell

cosmos-blubell

Blubell escolheu a música “Cosmos”, de seu Confissões de Camarim, lançado no ano passado, para pedir para seus fãs caminhar ao lado dela. Ela pediu para que os fãs postassem imagens com a hashtag #andandocomblubell e a partir da coleção de fotos que obteve, montou um novo clipe, que ela mostra em primeira mão aqui no Trabalho Sujo. “Eu gosto dessa proximidade com as pessoas que curtem o meu trabalho, então essa foi mais uma maneira de manter essa relação, de incluí-los no meu processo criativo”, ela me explica por email, contando que foi essa proximidade que a fez assumir a própria edição do clipe. “Amei receber tantas imagens lindas de lugares tão distintos. Eles emprestaram as imagens e eu fiz questão de emprestar o meu olhar. Também foi um prazer editar porque aprendi a editar com ritmo, eu já sabia, mas agora estou craque no Final Cut”, brinca.

Para 2017, ela segue com fazendo shows do disco do ano passado, além do espetáculo Blubell canta a Madonna, que também apresenta há um tempo. “Também comecei um projeto filantrópico com Webster Santos, guitarrista que já tem um projeto chamado Música que Cura e Jesus Sanchez, do Los Piratas, e a produtora Amanda Souza, vamos começar quinta-feira que vem a cantar nos asilos, com um repertório de hits das antigas e tá todo mundo amarradão”, conta.

Blubell 2013: “Não vou me apaixonar nunca mais”

Diva é a Mãe

BluBell está prestes a lançar seu terceiro disco, Diva é a Mãe, e explica de onde veio o nome do novo trabalho:

“Essa frase me ocorreu em 2010, e aparece num cartaz do clipe da minha música ‘Chalala’ lançado em 2011. Desde que trabalho como artista e transito pelo jazz, não paro de ouvir essa palavra ‘diva’. Por um momento, pensei que tinha que vestir essa carapuça e parecer ‘rica e fresca’. Quando finalmente saquei que podia relaxar, ser eu mesma fazer minhas piadas infames pra quebrar o gelo com qualquer um, foi um puta alívio. Por isso esse nome agora. Esse disco tem esse senso de humor e essa chegada ao mundo adulto sem se levar muito à sério, pelo amorde…”

“Protesto”, a faixa que abre o novo disco e que ela antecipa com exclusividade pra cá, tem o tom de descarrego jazzy que o título carrega – além de latidos de cachorros dos fãs da cantora, que ela pediu via internet. O disco vai ficar disponível para streaming no Rdio daqui a uma semana e ela fará o show de lançamento no Sesc Pompéia, no dia 17 de novembro.

Vida Fodona #310: As 75 melhores músicas de 2011

Cinco horas de Vida Fodona pra terminar 2011 – em contagem regressiva até a melhor música do ano.

Banda Uó – “O Gosto Amargo do Perfume”
Britney Spears – “Till The World Ends”
Leandro Correa – “One More Avassalador”
Peter Bjorn & John – “Second Chance”
Mitzi – “All I Heard”
Streets – “Trust Me”
Lykke Li – “Youth Knows No Pain”
Blubell + Bruno Morais – “Triz”
Thurston Moore – “Benediction”
Computer Magic – “The End of Time”
Bo$$ in Drama – “Disco Karma”
Kassin – “Quando Você Está Sambando”
Young Galaxy – “We Have Everything”
Work Drugs – “Rolling in the Deep”
Criolo – “Samba Sambei”
Justice – “Audio Video Disco”
AM + Shawn Lee – “Somebody Like You”
Gang Gang Dance – “MindKilla”
Wilco – “Speak Into the Rose”
Domenico Lancelotti – “Cine Privê”
Vetiver – “Can’t You Tell”
Céu + Tulipa + Gui Amabis + Curumin – “Sal e Amor”
Beth Ditto + Simian Mobile Disco – “Open Heart Surgery”
Girls – “Love Like a River”
Cícero – “Pelo Interfone”
Marcelo Camelo + Hurtmold – “Acostumar”
Washed Out – “Eyes Be Closed”
Twin Sister – “Bad Street”
Bonifrate – “Antena a Mirar o Coração de Júpiter”
Weeknd – “What You Need”
SebastiAn + Mayer Hawthorne – “Love in Motion”
Starfucker – “Born”
SBTRKT – “Wildfire”
Foster the People – “Don’t Stop (Color on the Walls)”
Radiohead – “Separator”
Tom Vek – “World of Doubt”
Silva – “Imergir”
Foster the People – “Call It What You Want”
Letuce – “Insoniazinha”
Lana Del Rey – “Kinda Outta Luck”
Shawn Lee’s Ping Pong Orchestra + Curumin – “Não Vacila”
Pickwick – “Blackout”
Karina Buhr – “Cara Palavra”
M83 – “Midnight City”
Chet Faker – “No Diggity”
Junior Boys – “Banana Ripple”
Fabio Góes – “Amor na Lanterna”
Circo Motel – “Sunshine”
Holy Ghost – “Do It Again”
VHS or Beta – “I Found a Reason”
Washed Out – “Echoes”
Breakbot + Ruckazoid – “Fantasy”
Architecture in Helsinki – “Contact High”
Rapture – “How Deep is Your Love?”
Memory Tapes – “Wait in the Dark”
Bonifrate – “A Farsa do Futuro Enquanto Agora”
Foster the People – “Pumped Up Kicks”
Modeselektor + Thom Yorke – “Shipwreck”
Is Tropical – “The Greeks”
Cut Copy – “Take Me Over”
Rapture – “Never Die Again”
Neon Indian – “Polish Girl”
Gorillaz – “Empire Ants (Miami Horror Remix)”
Dorgas – “Loxhanxha”
Destroyer – “Kaputt”
Girls – “Vomit”
Lana Del Rey – “Video Games”
Holy Ghost – “Wait & See”
Washed Out – “Amor Fati”
Metronomy – “The Look”
Toro Y Moi – “I Can Get Love”
Mayer Hawthorne – “A Long Time”
Metronomy – “The Bay”
Maroon 5 + Christina Aguillera – “Moves Like Jagger”
Rocket Juice & the Moon – “Poison”

E até 2012.

As 75 melhores músicas de 2011: 68) Blubell – “Triz”

T-girls na Globo

Enquanto nossa querida tag anda meio desaparecida da frequencia, seu conceito continua movendo-se pelo zeitgeist, como podemos perceber nesse vídeo feito para a revista Criativa, da editora Globo, em que cantoras da nova geração (Nana Rizzini, Bruna Caram, Blubell, Tiê, Bárbara Eugênia, Silvia Machete, Karina Buhr e Tulipa) sacam camisetas de banda para montar seus looks. Dica da June. Será que as fotos dessa matéria já apareceram online? Só achei essas aí de cima…

O próprio Vinicius lembrou que eu andei postando umas t-girls por aí (a filha do Cobain e a Lara Del Rey), não foi sem querer. Mas aí, vamo retomar o jogo?

Gainsbourgaço: Um réquiem para um escroto

Les Provocateurs no Centro da Cultura Judaica
18 de junho de 2011


Les Provocateurs – “New York U.S.A.” / Les Provocateurs + Bárbara Eugênia – “Roller Girl”


Les Provocateurs + Andrea Merkel – “L’Helicoptère”

Que beleza essa banda que o Scandurra reuniu para celebrar Serge Gainsbourg. Um dos artistas de seu país mais importantes do século 20, Serge vem sendo reavaliado constantemente desde sua morte, há vinte anos, quando deixou de ser o hitmaker provocador de plantão, uma mistura de Sullivan & Massadas com Carlos Imperial com uma queda pesada por gatas e meninas novinhas, que usava a escrotice de sua obra como medida para sua reputação. Em vida, passou por altos e baixos, porres e pés-na-bunda, hits nacionais, discos conceituais e vexames autoconscientes em programas de TV, sempre saindo-se como um fanfarrão, um canalha, um vilão, um palhaço. Pop por todos os poros, abandonou o jazz quando viu que conversava apenas com uma panelinha de intelectuais esnobes e abraçou a música pop com a devoção de um pai, buscando maneiras de traduzir a tensão entre o amor e o sexo da forma mais escancarada possível para toda uma geração de novos ouvintes.

Como autor, Serge foi muito além da música. Músico, cantor e compositor, extrapolou tais funções para assumir-se um artista da própria personalidade – profissão: bon vivant -, e criou uma casca dura para encarar o resto do mundo. Foi assim que aproximou a música francesa da música africana, que diluiu a melodia da chanson para o pop mais trivial possível (o yé-yé, como era conhecido no país), assumiu a dance music pós-discoteca como campo autoral e flertou com o reggae e o hip hop – inventando, basicamente, a música pop francesa atual, em diferentes momentos de sua carreira. Foi assim também que ladeou-se de algumas das deusas mais extraordinárias de seu tempo, extraindo-lhes valor musical como se isso fosse apenas um detalhe – um Andy Warhol parisiense, afinal. Foi assim que sussurrou um orgasmo feminino nas rádios do mundo todo e conseguiu ser autor da música francesa mais conhecida do século 20. Foi assim que dirigiu filmes, comerciais de TV, atuou, deu entrevistas, queimou dinheiro e disse, na cara dela, que queria comer Whitney Houston, e escreveu um livro sobre um sujeito que descobre-se um compositor de sinfonias de peido. E isso fumando sem parar.

“Sujeitinho desagradável”, escarneceria-lhe o século 21. Seculozinho de merda esse que estamos vivendo, não? Isso há de mudar. ZOL.


Les Provocateurs + Crioulo Chris- “Le Poinçonneur des Lilas”


Les Provocateurs + Juliana R.- “Les Sucettes” / Les Provocateurs + Alex Antunes – “Requiem pour un Con”

Mas felizmente há quem carregue sua chama para estes tempos obscuros de totalitarismo politicamente correto e de reaças disfarçados de politicamente incorretos – e um de seus fiéis súditos é o guitarrista Edgard Scandurra, que, seduzido pela cultura francesa, montou uma banda para tocar em seu bistrô (ou teria sido o contrário?) e chamou alguns bambas e chapas pra incrementar o tributo. Batizada de Les Provocateurs, a banda se reuniria mais uma vez para um grande espetáculo, uma espécie de versão Mr. Hyde para o comportado e solene tributo que a Orquestra Imperial fez ao compositor em setembro de 2009, no Sesc Pinheiros.


Les Provocateurs + Blubell – “Le canari sur le Balcon” / “Contact”


Les Provocateurs + Crioulo Chris – “Aux Armes et Cætera”

Pra começar, o fato de ser orquestrado por um guitarrista de banda de rock transforma o Provocateurs em um ensemble mais agressivo e intenso que a exibição de gala regida pelo maestro Jean-Claude Vannier, que dirigiu a Orquestra no show de dois anos atrás. Era inevitável que, sempre que a música permitia, Scandurra deslizasse em direção ao rock psicodélico, a seus clássicos solos que fundem Hendrix, Townshend, Jeff Beck e acordes de soul music, pesado e contido, músico único na paisagem nacional. Isso tornava a entrada dos crooners mais natural, era mais show do que apresentação, mesmo que o público estivesse confortavelmente sentado no belo e amplo teatro do Centro de Cultura Judaica, ali do lado do metrô Sumaré.


Les Provocateurs + Andrea Merkel + Crioulo Chris + Juliana R. -“Ballade de Melody Nelson” / “Valse de Melody” / “Ah! Melody” / “L’Hôtel Particulier”


Les Provocateurs + Fausto Fawcett- “Love on the Beat” / “No Comment”

(A descoberta desse lugar merece um parêntese. No lado menos badalado da Oscar Freire, o Centro fica escondido do lado da estação do metrô e é um pequeno oásis encravado bem na pontinha do morro que começa na Doutor Arnaldo, o mesmo da Paulista. Com um teatro confortável e aconchegante, ele é uma opção elegante e aprazível a ser desbravada pela vida cultural da cidade – e é do lado do metrô!)


Les Provocateurs + Fausto Fawcett- – “Sea, Sex & Sun”

A noite começou com um pequeno curta sobre Gainsbourg, em que ele falava sobre a diferença entre a musica que fazia na época e que a fazia antes de assumir o pop (“dinheiro”, respondia). Depois veio Xico Sá e, como mestre de cerimônias, apresentou-nos à banda depois de ler um longo poema escrito na noite anterior, inspirado em Gainsbourg. Mais longo do que precisava, mas eis o homem, Xico Sá, quem sou eu para censurá-lo (embora haters gonna hate). O trio Suite, que assumiu a apresentação logo em seguida, passeou por um repertório francês pré-Gainsbourg, mas não houve contextualização para sua presença, descrita apenas no programa que era distribuído à entrada. Um bom show, seguido, aí sim, dos Provocateurs de Scandurra.


Les Provocateurs + Rodrigo Carneiro – “Les Amours Perdues”


Les Provocateurs + Crioulo Chris + Bárbara Eugênia – “Bonnie and Clyde”

Além de Scandurra, que ainda canta algumas músicas, a banda é formada por Claudio Fontes na bateria, Henrique Alves no baixo e Astronauta Pinguim nos teclados, além de diversos vocalistas: entre as meninas, as queridas Bárbara Eugênia e Juliana R. formam o trio ao lado de Andrea Merkel, mulher de Scandurra, se não me engano, e revezam-se no papel de musa de Serge: Juliana faz as vezes de France Galle (e de Charlotte Gainsbourg, em “Lemon Incest”), quando Scandurra explora bem sua voz pueril; Bárbara assume vocais que foram de Bardot ou Birkin, de sensualidade conversada, enquanto Andrea faz par, literalmente, com Scandurra por quase todo o show – valsa com o guitarrista no trecho do show dedicado a Melody Nelson e o beija ao final de “Je T’Aime…”.


Les Provocateurs + Crioulo Chris + Andrea Merkel – “69 Année Érotique”

Na ala masculina, Alex Antunes e Rodrigo Carneiro não convenceram ao cantar suas versões abrasileiradas para os hits que, até então, vinham apenas em francês. Conheço o trabalho de ambos para saber que eles se sairiam melhor do que se saíram no sábado. Talvez seja o ambiente teatral que os tenha deixado acanhados, distantes do contato quase íntimo que as vocalistas conseguiam com o público. Em contrapartida, outro vocalista, menos ilustre, roubou a cena. Crioulo Chris (creditado na programação como “francês legítimo”) não apenas segurou com toda a compostura necessária a obra de Gainsbourg como revelou-se um crooner de primeira, seu timbre grave e didático contrapondo-se à sua presença quase discreta, não fossem os dreadlocks (bom) e os solos de air guitar quando Scandurra começava a solar (péssimo). Uma senhora surpresa.


Les Provocateurs + Juliana R.- “Lemon Incest”

O show de sábado foi o primeiro de duas noites (“um Gainsbourgaço”, como definiria mais tarde Fausto Fawcett), com convidados diferentes. No domingo, viriam Thiago Pethit e Wanderléa (alguém filmou?). No sábado, os dois convidados foram Blubell e Fausto Fawcett. Blubell roubou a cena: começou cândida e doce para depois tirar o curto vestido branco de boneca e sair com um collant prateado para cantar a sci-fi “Contact”, hit de Brigitte. Fausto também não fez feio e suas versões em português para os versos de Gainsbourg saíam mais naturalmente do que os cantado por Alex e Carneiro. Mas Fawcett é escolado em Serge, talvez seja o artista brasileiro que mais deve ao mestre francês, por isso sua presença não era apenas uma boa pedida como funcionou perfeitamente, quando Fausto assumiu três músicas menos festejadas de seu ídolo.


Les Provocateurs + Andrea Merkel- “Je T’Aime… Moi Non Plus”

Eis outra característica desse show: a busca por um Serge menos trivial, menos histórico. É inevitável recorrer a alguns hits, mas o repertório foi atrás de músicas menos aclamadas em busca de pérolas escondidas da carreira do sujeito – o que não é pouco. Ao final, a apresentação não apenas fez jus à memória de Gainsbourg como funcionou como mais um tijolo na construção de sua reputação póstuma, uma obra em constante crescimento. Genial.

Vida Fodona #265: Só com música brasileira

“Fun, fun. fun…”

Blubell – “Good Hearted Woman”
Lulina + Banda dos Contentes – “O Riso e a Faca”
Curumin – “Solidão Gasolina”
Caetano Veloso – “Rapte-me Camaleoa”
Nina Becker – “Samba-Jambo”
Tulipa Ruiz – “Efemera”
Bárbara Eugênia – “Hauru”
Bonifrate e os Demônios do Brejo – “Céu e Chão”
Mopho – “A Geladeira”
Júpiter Maçã – “Essência Interior”
Mombojó – “O Mais Vendido”
Juliana R. – “Desde Que Cheguei”
Emicida – “Um Final de Semana”
São Paulo Underground – “Pombaral”
Guizado – “Girando”
Burro Morto – “Menarca”

Chega mais.

Os vídeos de ontem

Falei que ia fazer uns vídeos ontem, olha eles aí. Consegui filmar todas as músicas, menos minha participação (por motivos óbvios, ainda não aprendi a mediar um debate e me autofilmar ao mesmo tempo), mas já já elas aparecem por aí. Os vídeos vão aparecendo exatamente na ordem da noite…


…que começou com o Emicida rimando sem acompanhamento, só na moral…


…continuou com o Takara, o nosso Baden Powell, quebrando tudo sozinho…


…depois PB e Maurício Fleury caíram prum delírio kraut…


…e foram acompanhados pelo Guizado e foram pruma base instrumental que começou electro e caiu pro jazz…


…para depois tocarem “Maya”, do primeiro disco do Gui…


…depois Blubell subiu no palco e cantou sua “Good Hearted Woman”…


…e no final Bruno Morais desenterrou “Morte da Sandália de Couro”, do Bebeto, para encerrar a noite. Não filmei a participação do Zegon, porque seu equipamento só chegou ao final, quando rolou uma jam session com todo mundo e a bateria da minha câmera foi para o saco junto com a minha vontade de fazer uma social. Foi demais, quem foi sabe.