Escrevi minhas considerações sobre a ótima segunda edição do Primavera Sound em São Paulo para o site da CNN Brasil. O sol inclemente e o longo e apaixonado show do Cure foram as principais atrações do evento, que pecou ao não ter um artístico tão contemporâneo quanto o da edição passada, mas que funcionou perfeitamente como evento, com poucas filas, boa divisão do Autódromo de Interlagos, distribuição de água, bom som e shows memoráveis: além do Cure, Beck, Slowdive, Killers e Pet Shop Boys fizeram apresentações intensas e memoráveis, além de Marisa Monte ter celebrado Rita Lee com a presença de seu companheiro, Roberto de Carvalho.
Repetindo a deliciosa dobradinha que fizeram em 2015 (na faixa “Wide Open”), dois titãs dos anos 90 voltam a se reencontrar em um single lançado nesta segunda-feira. “Skipping Like A Stone” é mais uma faixa do próximo disco dos Chemical Brothers, For That Beautiful Feeling, que será lançado no mês que vem, e traz mais uma vez Beck nos vocais de uma música da dupla de dance music. O nerd norte-americano solta todo seu lado de crooner e leva o transe eletrônico de Tom Rowlands e Ed Simons para a seara da soul music e o resultado é deliciosamente irresistível.
No mesmo dia em que o festival Primavera de São Paulo anunciou sua primeira atração para a edição deste ano (Cure, já sabíamos), as edições hermanas do evento divulgaram suas respectivas programações completas. São três festivais além do de São Paulo – 25 e 26 de novembro em Buenos Aires, 7 de dezembro em Assunção e 9 e 10 deste mesmo mês em Bogotá. Em comum, todos terão show do Cure (como aqui em São Paulo), mas nomes como Blur, Beck, Pet Shop Boys, Bad Religion, Slowdive, Grimes, Hives, Black Midi, El Mató a Un Policía Motorizado, Meridian Brothers, Marina Sena, Soccer Mommy, Twilight Sad, Róisín Murtphy e Carly Rae Jepsen já dão um gostinho do que pode vir pra edição brasileira do festival. E não custa lembrar que a mesma empresa que faz o Primavera no Brasil também faz o Popload e artistas como Blur, Beck e Pulp (que não está no elenco destas edições que acabei de citar, mas toca no Chile nos dias 24 e 25 de novembro, na edição do Primavera Fauna, que também leva o Blur pra Santiago) poderiam tranquilamente tocar no festival do Lucio Ribeiro. E será que Domi & JD Beck e a Weyes Blood voltam para o Brasil mesmo já tendo tocado por aqui esse ano C6? Tomara que sim, perdi o show dos dois primeiros, mas me acabei no show da Weyes… Tomara que ela volte.
Segundo dia do Primavera Sound fui mais de boa e com dois focos: Beck e Warpaint. Cheguei tarde e perdi o Low, a Weyes Blood e o Wet Leg (férias, né?), mas ser recepcionado pelo senhor Beck Hansen teve suas vantagens: o cara é um showman completo, tem uma cartela de hits invejável e não fica parado um segundo. Vestindo um blaser branco, ele só parava de dançar quando pegava o violão – e passeou por boa parte do Odelay e do Midnite Vultures (dois favoritos meus), além de ir de “Everybody’s Got Love Sometimes” a “Loser”, passando por “One Foot in the Grave” e “Debra”. Showzaço! As Warpaint, por sua vez, estão caminhando cada vez mais firmes para se tornar uma das melhores bandas de hoje em dia, misturando texturas pós-punk, grooves manhosos, lirismo country, melodias hipnóticas e guitarras de fazer qualquer um chorar. Que banda!
No dia 11 de setembro do ano passado perdemos o doce e alucinado Daniel Johnston, ícone do rock independente norte-americano e um dos compositores que, de uma forma improvável, bissexta e errática, fez a conexão entre o rock clássico dos anos 60 e o indie rock a partir dos anos 80. Sua família juntou fãs célebres para fazer uma homenagem ao seu legado no aniversário de um ano de morte no espetáculo online (claro) Honey I Sure Miss You – A Tribute To The Life, Art, And Music Of Daniel Johnston, que aconteceu nesta sexta. E entre popstars como Jeff Tweedy, Beck, Devendra Banhart, Phoebe Bridgers e Kevin Morby, quem brilhou mesmo foi o próprio Jonston, que roubou a festa póstuma quando, ao final da apresentação, foi revelado um vídeo do primeiro dia do ano de 1991, em que ele compõe “When I Met You”, que iria gravar três anos depois numa versão sem instrumentos, ao piano, fazendo anotações nos intervalos da composição, num momento único de criação de um gênio ímpar.
É de chorar, diz aí.