Battlestar Galactica: The Plan

É isso mesmo: quatro anos e meio de seriado revistos do ponto de vista do inimigo. E o Caprica, você já viram? A solução que eles encontram pra inteligência artificial é genial… Semana que vem eu falo disso.

Sexta-feira é dia de Battlestar Galactica?

Era, não mais. Mas Caprica aos poucos toma forma…

E, sim, eu sei que tou devendo o comentário sobre o final da série, que aconteceu exatamente no mesmo dia do show do Radiohead no Rio – aí, já viu… Mas além do final de BSG, devo retomar a retrospectiva de vez na semana que vem, que é minha última semana antes das minhas férias, quando fico três semanas fora (será que vocês agüentam?). Se eu vou conseguir zerar a contagem regressiva de 2008 eu não sei, mas vou dedicar a semana a isso – além de comentar alguns discos que eu deixei de falar desde o início do ano, e, claro, comentar o próximo episódio de Lost.

Mas antes de sair de férias, tou preparando uma coisinnha pra deixar de presente pra vocês.

Watchmen: Cargueiro Negro e Sob o Capuz

E por falar em Watchmen, Assisti aos tais extras do filme que acabaram de sair em DVD lá fora. Um é uma bomba gigantesca, já o outro…

Primeiro, a bomba. Contos do Cargueiro Negro, como eu já disse, é uma história em quadrinhos dentro da história em quadrinhos. No Watchmen original, ela é lida por um personagem mais do que secundário, mas sua narrativa aos poucos vai sendo superposta à história original, contrapondo aspectos do gibi de piratas com a saga de Watchmen. Toda a discussão sobre como ela poderia ser encaixada na versão para o cinema (será que, em vez de ler uma HQ, o tal personagem teria um DVD player portátil) ficou para trás depois que Zack Snyder anunciou que a transformaria em uma história à parte, num desenho animado. Aí a dúvida mudou: em vez de perguntarmos como ela coexistiria no filme, agora é a vez de saber se ela se sustenta sozinha.

Eu achava que não, mas a animação consegue ser ainda pior do que eu supunha. Pra começar, não existe relação nenhuma da história com Watchmen (a única sugerida, quando o sobrevivente do naufrágio ergue a vela de sua jangada mórbida, é de uma tosquice descomunal). Depois, principalmente, pelo fato da história ter sido completamente modificada. Se no quadrinho ela era um monólogo tétrico e sem esperança, no desenho surge personagens que dialogam com o protagonista. Qual o sentido dessas alterações? Não bastasse a falta de lógica, a mudança não melhora a narrativa – pelo contrário, piora e muito. E mesmo com trechos inteiros citados diretamente da obra de Alan Moore, ela agora é piegas e chinfrim, sem o peso depressivo que tinha originalmente. Para finalizar, a animação é um anime bem meia-boca e a voz do protagonista, cortesia do ator Gerard Butler, não passa sentimento algum.

Já Sob o Capuz é outra história. A princípio, o média metragem parecia ser mais um dos trocentos vídeos virais feitos para divulgar o filme, só que com a extensão prolongada. E é isso – mas não apenas isso. Os três capítulos da autobiografia do primeiro Coruja, Under the Hood, originalmente vinha no final das três primeiras edições de Watchmen, como se fosse um livro. Servia para contextualizar a história do time de super-heróis que precedeu Watchmen, os Minutemen.

Quando torna-se um filme, no entanto, a mudança de linguagem valoriza o novo formato. Assim, assistimos a um programa de TV nos anos 70 que, devido à recente lei que proibira heróis mascarados, resolve reprisar trechos de uma reportagem feita pelo próprio programa dez anos antes, quando Hollis Mason – o Coruja original – foi entrevistado devido ao lançamento de sua autobiografia – que, por sua vez, tem boa parte dos acontecimentos ocorridos nos anos 50.

Então temos um filme que superpõe três décadas – tanto em termos de comportamento quanto estética – com maestria televisiva (afinal, não é um filme, e sim um programa de TV), ao mesmo tempo em que se aprofunda na história dos Minutemen, que foi apenas aludida no primeiro filme. De fato, é um um vídeo da mesma natureza das dezenas de virais que apareceram antes do filme vir à tona. Mas também é parte crucial da história de Watchmen – se conseguimos entender a idéia geral de realidade levemente paralela cogitada no universo criado por Alan Moore no filme, em Sob o Capuz conseguimos ir além sem necessariamente tornar a história (ainda) mais densa. O extra é um filme leve e divertido, com algumas cenas e passagens que aludem à violência e depressão do filme de Snyder, mas que olha para os lados para tentar explicar o que aconteceria se super-heróis – com superpoderes ou não – realmente existissem em nossa realidade.

Sob o Capuz poderia ser, muito mais do que o Cargueiro Negro, tranqüilamente diluído na edição do filme original, tornando-o ainda maior do que as três horas e dez minutos proposta pela versão definitiva de Zack (que, se tudo der certo, chega aos cinemas no meio do ano ou, se tudo der errado, vai direto pro DVD). Intercalando cenas de um programa de TV com as diferentes histórias paralelas poderia dar um certo ar Frank Miller para o filme (vocês lembram do papel da mídia como narrador em O Cavaleiro das Trevas, que foi surrupiada por Paul Verhoeven no primeiro Robocop, né?), mas certamente funcionaria – incluindo seus comerciais setentões (meu favorito é o da Seiko, lançando o relógio digital).

Mas talvez seja melhor deixá-lo à parte. Assim o filme não torna-se ainda mais demorado e podemos entrar num hiperlink da história. E eis um salto narrativo considerável, primo do própria forma artesanal com que a história original foi concebida – escrita por uma pessoa, desenhada por outra, colorizada por mais uma para, só então, ir para o processo industrial. Sem querer, Watchmen abre uma possibilidade de ampliar ainda mais um único produto. Se a produção se esmerasse nisso, talvez teríamos ainda mais desdobramentos num leque de produtos e formatos ainda mais amplo do que o que está sendo usado.

Falando só em Watchmen: se o filme fosse um sucesso, poderia ver outros subprodutos ainda mais complexos da franquia, com a publicação da própria autobiografia de Hollis Manson, uma série de programas de TV sobre super-heróis nos anos 60 e 70 (e não apenas um extra), a transformação do New Frontiersman num blog com notícias de verdade, gibis pornô estrelando Sally Jupiter (referido no filme e sublinhado em Sob o Capuz) até a materialização de uma franquia do restaurante Gunga Din (ou, se sua megalomania não pode conceber isso, a transformação mensal de uma franquia de fast food em um Gunga Din).

O mesmo poderia ser feito em relação a Lost – todos os personagens poderiam ter subprodutos com suas vidas anteriores ao acidente com o vôo 815. Na verdade, a própria ABC já ganha um bom dinheiro vendendo vários produtos com a marca Dharma (uma grife fictícia). Battlestar Galactica vai além – após o uso de determinadas roupas, cenários e apetrechos, eles vão simplesmente à leilão através do site Sci-Fi Channel.

O pop do futuro será consumido em camadas cada vez mais profundas e interconectadas, seja ficção ou não-ficção. Fora do material ficcional é fácil desdobrá-las: afinal os personagens de reality shows todos têm suas próprias vidas e as receitas e hotéis em programas de gastronomia e turismo existem de verdade. Mas é na ficção que reside o maior desafio: se antes Tolkien ou Roddenberry eram considerados excêntricos e nerds por inventarem as linguagens élfica e klingon, no Senhor dos Anéis e em Jornada nas Estrelas, respectivamente, hoje essa é a regra para quem quiser começar a conceber ficção. O começo, meio e fim têm de estar arquitetados de tal forma que explorar o universo fictício não seja apenas possível, mas inspire o leitor/espectador/ouvinte a mergulhar cada vez mais e, claro, participar. Lost, Watchmen e Battlestar Galactica (entre muitos outros) são apenas alguns degraus no rumo disso – a década seguinte, aposto, será dedicada a este tipo de descobrimento.

Sexta é dia de Battlestar Galactica

E hoje é a última vez que isso será dito, pois a saga chega ao fim. O episódio passado foi ótimo, tenso e enigmático, mas apenas preparou para um final que promete responder às muitas perguntas deixadas pra última hora. Ou horaS – afinal de contas, o episódio é duplo.

Noite histórica, essa de hoje.

Eles têm um plano

Como o final de Battlestar Galactica pode antecipar o final de Lost

E por falar nisso, será veiculado hoje nos EUA o último capítulo de Battlestar Galactica. Na verdade, Daybreak começou na sexta passada, quando a primeira parte do final da série foi exibida, embora seu criador, Ron D. Moore, insista que estas três horas (a parte final do episódio tem duas) sejam vistas como um filme.

O que isso tem a ver com Lost? A princípio, nada. Afinal, Battlestar Galactica é uma série de ficção científica clássica, com robôs, sistemas solares e naves espaciais usados como metáforas para questões que fazem sentido fora daquele universo fictício. Renascida após o 11 de setembro, a série aproveitou as nuvens negras que pairavam sobre o imaginário mundial para ir além do trivial, politizando os roteiros sem separar mocinhos de bandidos.

Mas Lost também é uma série de ficção científica, embora não discorra sobre temas clássicos ao gênero e use (por enquanto) o artifício das viagens no tempo como recurso narrativo, além de moer os miolos dos espectadores menos afeitos aos mistérios e enigmas da ilha.

Battlestar Galactica, por sua vez, tem seus mistérios e sua mitologia. Além das referências militares, filosóficas e religiosas, seus criadores bolaram uma trama que tem início muito antes dos acontecimentos exibidos na série (como Lost), que conta com alguns pontos-chaves nublados em sua genealogia (como Lost), como a origem de toda a história (como Lost) e a natureza de alguns personagens (como Lost). E também como Lost, a série não faz muita questão de ser didática nas explicações, empilhando roteiros paralelos e novos personagens sem sequer dar uma luz sobre as principais questões feitas pelos fãs.

E eis que chegamos ao capítulo final com uma série de dúvidas. No começo do ano, o blogueiro Alan Sepinwall conversou com Ron D. Moore a possibilidade destas questões serem respondidas ou não até o final da série. E, em certo ponto da entrevista, Alan traça um paralelo entre Lost e BSG:

One of the things I find interesting is, on “Lost,” Cuse and Lindelof have always claimed they have a master plan and know where it’s all going, and fandom has been skeptical at times and said, “Yeah, right.” Whereas you’ve been pretty candid about the fact that you’ll throw stuff out there and figure it out later, and yet people assume there’s some cohesive plan to “Galactica.” How do you pull that off to make it seem like there’s a plan?
To me, that’s the job. The job is to figure a way along in a story but make it all feel like it’s seamless, to make it all make sense. Hopefully, if I’ve done my job right, when all is said and done and the story’s been put to bed and you’ve got the entire set of DVDs before you and you watch them, that it feels like a cohesive narrative — that stuff we just threw up and decided to take a flier on without ultimately knowing where it would pay off, when you look at in hindsight, that it all tracks. You’re painting this large painting on this big canvas, and you may not know what it’s going to look like at the end, but when you’re done, you want it to feel like it’s a cohesive vision and makes perfect sense.

E continua:

One of the things I’ve always liked about your storytelling style is that you let a lot of things just be assumed: “Oh, the fans are going to understand this, we don’t need the technobabble or whatever. I just want to hit the parts of the story that are interesting to me, even if we don’t explain everything.”
I like doing it that way. On some level, I write the show for me and what I like, and I flavor everything in that light. “This is how I would like to tell a story.” And I just assume that the audience is as smart as me, easily and they’ve seen a lot of TV and seen a lot of stories, and they can fill in the blanks and make the leaps with me on certain things.

Voltando para Lost, é como se a questão sobre os ursos polares em uma ilha tropical já tivesse sido respondida. Afinal, sabemos que para “mover” a ilha, é preciso ter muita força (Ben e Locke penaram) e girar uma roda que fica em uma câmara gelada. Como sabemos que a Iniciativa Dharma fazia testes com animais (vide as jaulas da terceira temporada), podemos dizer que eles trouxeram os ursos para a ilha apenas para girar a roda secreta. E aí, Alan volta a perguntar:

A lot of times in the podcast, you’ll say things like, “I know people are interested in this, but that’s really not where the story’s going.” You didn’t really deal with the toasters becoming sentient again, that sort of thing. After I watched “Revelations,” I thought it was a great ending, but I jotted down a list of things that still had to be dealt with. I’m wondering, without you giving it away, whether these things are going to be addressed or whether these are things that we’re thinking a lot more about than you were.
Do you have a list?

Sim, Alan tinha uma lista com as principais questões relacionadas ao seriado. Como a entrevista foi feita no início do ano, algumas questões ainda estavam em aberto – e já foram respondidas nesta temporada. Outras, no entanto, seguem sem resposta até o último episódio. Vamos recapitular com Alan e Moore (uops), que eu comento o que já foi respondido até aqui nos parênteses.

Obviously, the identity of the final Cylon, we will find this out?
Yeah. (Soubemos logo no início do ano)

The origin and nature of the Final Four and how they’re different from the rest of them?
Yes. (Também já respondido)

The origin of the rest of the skinjobs?
Yes. (Outra resposta que já foi dada)

What happened to Earth and what happened to the 13th Colony?
Yes. (Só sabemos da metade)

Who, if anyone, is orchestrating all of this?
Basically, yeah. I don’t know if it’s going to be wrapped up in a neat bow. The show has an answer for it, whether it’s a satisfying answer, I don’t know. (ainda não sabemos isso)

Will “All this has happened before and it will happen again” be explained in some way?
Yes. (Parcialmente respondido)

The opera house?
Yes. (Nada ainda)

What happened to Kara when she went through the Malestrom?
Pretty much. (Ainda em aberto)

Identity and nature of the “head” characters?
Yes. (Sem resposta)

Tigh and Six’s baby, and whether that means Cylons can breed?
Yes. That’s not a “yes” to whether they can breed — the question will be answered. (Já foi respondida)

The fate of Boomer and whether there are other 1’s, 4’s and 5’s floating out there?
Yes. (Também respondida)

Roslin’s health?
Yes. (em aberto)

Okay, that’s a “yes” on all of them.
See? We knew what all the questions were! I’m kind of proud of myself. “Yes”es to all of them. I thought you were going to throw a curve at me, like, “Oh, (bleep).”

Ou seja, a última temporada de Battlestar Galactica começou com 12 questões em aberto e chega a seu último epísódio com cinco perguntas sem resposta – e são grandes questões, como “o que é a ilha?” ou “o que é o monstro de fumaça”? Vamos ver como o seriado responde aos pontos obscuros e, principalmente, se suas respostas são convincentes. É claro que são duas produções distintas, de emissoras diferentes, mas pode ter certeza que J.J. Abrams, Damon Lindelof, Carlton Cuse e toda a equipe de roteiristas de Lost estão acompanhando o final da série hoje. E, dependendo do paradigma estabelecido, ele pode influenciar diretamente o final de Lost.

Vamos torcer para que o episódio de hoje ser fenomenal – assim, Lost vai ter que se esforçar para superá-lo.

The Last Frakkin’ Special

E no aquecimento pro final do seriado hoje, que tal assistir ao Battlestar Galactica: The Last Frakkin’ Special, que o Sci-Fi Channel fez em homenagem ao final do seriado e foi exibido segunda passada? O torrent tá aqui.

Sexta é dia de Battlestar Galactica

Hoje é o dia do penúltimo episódio – é a primeira parte de Daybreak, que encerra a grande saga. E você sabe que quando eles anunciam “You Will Know the Truth” no teaser é porque lá vem porrada (e não duvide se esse “Who will survive?” já estiver anunciando mortes no horizonte).

10 motivos para assistir a última parte de Battlestar Galactica

Esse top ten é do ano passado, mas ainda tá valendo.

A linha do tempo de Battlestar Galactica

Clica na imagem pra sentir o drama:

E tu achava que Lost era complicado…

Battlestar Galactica: The Second Coming

Falando nisso, vocês sabiam que em 98, quase ressuscitaram a série? Antes do Ron D. Moore? Sente o drama…