Ao propor um jogo musical, literário e cênico cujas regras não estavam definidas, Juliana Perdigão conduziu com seu clarinete e palavras um grupo formado pelos teclados de Chicão, pelo contrabaixo acústico de Ivan “Boi” Gomes e os eletrônicos do produtor Barulhista a um universo em que som e palavra fundiam-se numa mesma coisa. O espetáculo-experimento Fraga?, que aconteceu nesta terça-feiro no Centro da Terra, abriu com Perdigão lendo o início do poema-livro Odisséia Vácuo de Renato Negrão, cheio de pausas e lacunas, como se fosse música, para depois passear por seu próprio texto Dúvidas (base de seu disco de 2020) e depois por versões deste mesmo texto feitas pela autora através do Chatgpt. E enquanto ela lia os textos, os instrumentos musicais trabalhavam como se estivessem construindo uma base que ficava entre o ambient e o jazz de improviso ao mesmo tempo em que soavam como se estivessem falando – fossem sozinhos ou conversando entre si -, criando uma atmosfera de sonho surrealista que seduzia, hipnotizava e ninava o público para algum lugar entre o consciente e o inconsciente, algo que era reforçado pelas projeções sutis e sombrias de Filipe Franco. Foi mágico.
Enorme prazer em receber a querida Juliana Perdigão no palco do Centro da Terra. Mineira atualmente radicada na Alemanha, aproveitamos sua passagem pelo país para que ela nos propusesse uma apresentação e ela veio com um jogo – ou melhor, um jogo de perguntas sem respostas. Acompanhada por Ivan “Boi” Gomes no baixo acústico, Barulhista nos eletrônicos, Chicão no teclado e Filipe Franco nas projeções e luz, ela apresenta Fraga? nesta terça-feira e continua um trabalho com voz falada e clarinete que iniciou no disco Dúvidas, lançado no ano da pandemia. O espetáculo começa pontualmente às 20h e os ingressos podem ser comprados neste link.
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Bem bonito o encerramento da temporada Prémistura que Chicão Montorfano fez nesta primeira segunda de dezembro no Centro da Terra. Ao convidar artistas sonoros de diferentes fronteiras musicais, conseguiu atirá-los todo no vazio do improviso livre sem que tivessem amarras já estabelecidas. Já havia um vínculo entre três dos convidados – Chicão já havia feito outros improvisos ao lado de Bernardo Pacheco e Barulhista, cada um deles trazendo sua bagagem cultural para a mistura: o dono da noite com sua formação erudita e apreço pela eletrônica, Berna distorcendo tudo ao vivo com sua mesa de som e pedais enfileirados, pegando no baixo elétrico por alguns momentos, e o Barulhista usando seu computador como uma MPC de ruídos digitais que disparava ao vivo. Ao acrescentar a essa mistura o violino abrasivo de Wanessa Dourado, Chicão soltou um pavio de pólvora que misturava drones e loops com ecos de música caribenha, tango e choro, conduzidos pelas cordas e arcos da musicista, levando o resultado à pradaria ambient com toques asiáticos. Os quatro se encontraram em meio ao transe, numa apresentação abstrata que soava lírica e contemplativa, mesmo nos momentos mais agressivos. Agora resta Chicão lançar o disco!
O maestro Chicão Montorfano começa sua temporada no Centro da Terra nesta segunda-feira (6), quando começa a mostrar as canções de seu primeiro disco solo, gravado há anos e que finalmente verá, em breve, a luz do dia. O disco chama-se Mistura e justamente por isso a temporada foi batizada de Prémistura, quando o músico, compositor e arranjador mostra diferentes versões de seu trabalho, apontando tanto para o passado recente quanto para o futuro próxima. Na primeira apresentação, ele começa a noite com sua companheira Marcela Sgavioli nos vocais e percussão apresentando-se como a dupla Mar & Chicão. A segunda parte da noite vem com a cantora e cavaquinhista Letícia Coura que acompanha o tecladista pelas canções da peça Bacantes, do Teatro Oficina, do qual Chicão também foi diretor musical. Na segunda que vem (13), ele acompanha dois amigos e ídolos – Alzira E. e Yantó – somente ao piano. Na segunda dia 20 não terá temporada, pois é feriado, e ela continua no dia 27, quando Chicão abre a Prógui Náiti ao lado dos músicos Gabriel Falcão (guitarra) e voz, André Bordinhon (guitarra), Fernando Junqueira (bateria), Filipe Wesley (baixo) e mais uma vez Marcela Sgavioli (voz e percussão), visitando tanto músicas de seu primeiro disco solo quanto clássicos do rock progressivo. A última segunda-feira da temporada é a primeira de dezembro (4), quando recebe os músicos Barulhista, Bernardo Pacheco e Wanessa Dourado para um concerto de improvisação livre. Os espetáculos começam sempre às 20h e os ingressos podem ser comprados através deste link.