E começo a anunciar as novidades dos 20 anos do Trabalho Sujo…
Iron Maiden – “Cross-Eyed Mary”
Jean-Luc Ponty – “Computer Incantations for World Peace”
Marina Lima – “Corações a Mil”
Meghan Trainor – “All About That Bass”
Todd Terje – “Preben Goes To Acapulco (Prins Thomas Remix)”
Bryan Ferry – “Don’t Stop The Dance (Idjut Boys Dub)”
Baiana System – “Playsom”
Groove Armada – “Superstylin'”
João Brasil – “Cheia de Dar”
Human League – “Don’t You Want Me”
Diogo Strausz + Ledjane Motta + Maria Pia – ‘Não Deixe De Alimentar”
Taylor Swift – “Style”
Tame Impala – “‘Cause I’m a Man”
Esqueci de comentar a sonzeira que o BaianaSystem lançou antes do carnaval começar. “Playsom” (que pode ser baixada de graça no site da banda) não só é a primeira amostra do som da banda sob a tutela do produtor Daniel Ganjaman (que começa a esmerilhar todo seu know how jamaicano no que pode ser o seu grande disco de dub brasileiro) como foi trilha sonora pra folia no carnaval de Salvador deste ano.
O BaianaSystem é uma importante ponta do iceberg das mutações que estão acontecendo no cenário pop em Salvador e não por isso escolhi conversar com seu líder e guitarrista Beto Barreto na matéria que fiz pro UOL sobre a crise da axé music.
O Baiana – como é conhecido pelos fãs – está puxando uma lenta transformação no carnaval de Salvador que tem a ver com o desgaste artístico e econômico do modelo de negócios criado com a axé music e no carnaval deste ano arrastou multidões ao tocar em trios sem cordas, fazendo a muvuca misturar públicos e estilos musicais na melhor concepção da convulsão cultural que deveria ser o carnaval. Olha só essa foto do iBahia da banda sobre o trio Nave Pirata:
E a massa cantando o refrão de “Terapia“, música sampleada na própria “Playsom”?
O sucesso do BaianaSystem está ligado não só à crise da axé music mas também da crise do modelo de camarotização/área VIP que tem se tornado tradicional no Brasil nos últimos 20 anos e que, não por acaso, teve uma forte popularização a partir da Bahia (não apenas no carnaval de Salvador mas também na transmutação de Trancoso numa “Cannes tropical”, como nos lembra a Marina Rossi neste texto pro El País). Tomara que se espalhe pelo país essa noção de que, no fundo, todos somos pipoca.
E a última etapa do especial de 30 anos da axé music que fiz pro UOL foi uma reportagem sobre uma crise – financeira? artística? – que o gênero atravessa há um bom tempo: confirmada por observadores da cena e rejeitada por seus protagonistas:
Axé chega aos 30 anos em crise, mas protagonistas rebatem: “Que crise?”
O axé music chega aos 30 anos encarando uma crise artística e econômica. Ainda que negada por seus principais protagonistas, a situação se manifesta no esvaziamento dos trios -as multidões não vão mais a Salvador como iam durante os anos 90- e na percepção dos próprios produtores musicais de que a cidade não tem emplacado artistas com o mesmo impacto que antes.
A crise nem é assunto desta década e já era discutida há 15 anos, quando o jornal baiano “A Tarde” dedicou uma série de reportagens e artigos à crise do gênero entre abril e outubro do ano 2000. “Desde que inventaram o rótulo axé music para a nova música afro-baiana, a imprensa do Sul anuncia o ‘início do fim’ desse estilo de cantar e tocar”, escreveu o maestro Fred Dantas no primeiro texto dessa série.
“Eu escuto [falar em crise no axé] desde 93, porque achavam que eu era cantora de um verão só”, ironiza Daniela Mercury, em entrevista ao UOL em sua casa, em Salvador. “Crise? Que crise?”, perguntou-se Ivete Sangalo a um programa de TV local durante o Festival de Verão de Salvador, que aconteceu em janeiro. “Eu nunca acreditei em crise no axé music”, continua Bell Marques, ex-Chiclete com Banana. “Eu posso não ser o parâmetro, mas, desde 1986 para cá, a minha média de é de 130 shows por ano. Então eu não sei onde está essa crise.”
Com ou sem crise, o fato é que o Carnaval de Salvador de 2015 registra queda de 15% nas vendas dos abadás em relação ao mesmo período do ano anterior, o que um dos fundadores da Central do Carnaval da cidade afirmou no fim de 2014 ser reflexo da Copa e das eleições de 2014. Além disso, há uma invasão de trios elétricos liderados por não-baianos, especificamente de artistas do novo sertanejo, o gênero musical mais bem-sucedido hoje no Brasil.
Na tentativa de reanimar o gênero às vésperas de sua principal data, a própria Prefeitura de Salvador organizou um novo “We Are the World” de Carnaval para celebrar as três décadas do axé, por meio do clipe da música “Raiz de Todo Bem”, que reúne a nata do axé music, de Carlinhos Brown a Ivete Sangalo, passando por Cumpadi Washington, Daniela Mercury e Saulo Fernandes (mas sem Claudia Leitte e Bell Marques).
“A gente não sabe o que vai acontecer com essa manipulação comercial do Carnaval”, lamenta Armandinho, filho de Dodô, um dos criadores do primeiro trio elétrico. “O sucesso do Carnaval fica dependente do sucesso do momento, que hoje não é mais baiano. Os blocos afro ficam cada vez mais escondidos porque não são sucesso de mídia. Os verdadeiros artistas de Carnaval [ficam de] fora…”
Mercado predatório
Beto Barreto, guitarrista da banda BaianaSystem, uma das principais novidades da música baiana desta década, que resgata a guitarra baiana em novo contexto e que começou tocando na Timbalada, critica um comercial da Prefeitura de Salvador lançado nos últimos dias de 2014. “”Ele fala que ‘há 30 anos, a Bahia encontrou seu ritmo’, como se antes disso não tivesse nada, nem Caymmi, nem João Gilberto, nem Gil…”.
E continua: “Esse mercado criado ao redor da música baiana foi feito de forma muito predatória e não respeitava as nuances entre cada uma das diferentes tradições do Carnaval daqui. Ele tem méritos, claro: criou um mercado forte, que vende discos, mas, quando o mercado de discos quebra, isso cai em cascata, provando que não se sustenta artisticamente. Acho que tudo que tem essa conotação mais pop acaba entrando nessa máquina, que deixa tudo igual. Mas o próprio modelo do Carnaval contribuiu muito negativamente, e todo o mundo que produz música na Bahia que não é desse tipo sente esse preconceito que acabou se criando com qualquer música que é produzida aqui.”
A antropóloga Goli Guerreiro, autora do livro “A Trama dos Tambores – A Música Afro-Pop de Salvador” (Editora 34), acha que essa crise é sazonal, porque o axé music já se estabeleceu no mercado. “Quando eu lancei meu livro no ano 2000, eu já falava da crise violentíssima do axé music. É uma música, é uma marca da cidade e que passa por momentos bons e ruins, mas fico muito surpresa com o interesse que isso causa”, explica.
“Há tempos há uma crise no axé music”, crava o jornalista e radialista Luciano Mattos, produtor do programa Radioca, dedicado à música baiana. “Agora ela é sentida por uma questão econômica. Mas a crise artística e criativa existe faz muito tempo, pois não surge nada de relevante, e era inevitável ela bater com a crise econômica. Só que os artistas e produtores ou não percebiam ou não queriam perceber, achavam que daria pra continuar ganhando dinheiro como sempre se ganhou.”
Wesley Rangel, produtor que gravou todos os grandes nomes do axé music em seu estúdio WR em Salvador, concorda. “Os grandes produtores de shows da Bahia sempre frequentaram a noite para saber o que tinha de novidade. E apoiavam artistas que já tinham respaldo nos seus guetos. O verdadeiro artista, que não depende da mídia. Aconteceu que alguns produtores começaram a se arvorar de produtor musical, e os novos artistas que eles encontraram não tiveram a mesma força dos anteriores, porque artista é um diamante bruto e precisa ser lapidado. Isso está começando a ser repensado, não porque eles entenderam isso, mas porque sentiram isso economicamente”, conta Beto, do BaianaSystem.
“O problema é a repetição. Como você tem um repertório de 30 anos, é muito fácil pescar aquela música esquecida que foi um sucesso num determinado ano, mas isso é muito intuitivo. Essa profissionalização que o axé music conseguiu do ponto de vista do mercado não alcançou o processo da criação musical”, continua Goli. “E aí a gente fica nesse marasmo, nessa repetição, e é isso mesmo. O que mais me incomoda no axé music é essa repetição. O Carnaval da Barra virou um negócio chatíssimo: uma sequência de shows repetitivos com o mesmo repertório, as cantoras usando as mesmas roupas, às vezes dos mesmos estilistas…”
“O axé veio de uma coisa espontânea e popular e deixou de ser. Eles deixaram de tocar para o povão. Tinha show para 30 mil pessoas em Salvador há 15 anos. Há muito tempo não tem mais isso, tirando o Festival de Verão. E começaram a tocar, por exemplo, em Praia do Forte, cobrando ingresso a R$ 200 para 2.000 pessoas, numa coisa meio VIP. E abriu espaço para o pagode e o arrocha crescerem”, analisa Mattos.
O pagode, que deu a primeira sobrevida ao gênero no meio dos anos 90, com a geração surgida após o hit “Segura o Tchan”, seguiu sendo fonte dos hits do Carnaval baiano desde então (vide os sucessos “Vem Neném”, “Rebolation” e “Lepo Lepo”), mas, em paralelo, veio o arrocha, um gênero de música mais afetado e latinizado, de onde surge Pablo, agora contratado da gravadora Som Livre, que pode ser o grande sucesso do Carnaval baiano em 2015.
Encenação midiática
Mas enquanto se discute a crise no axé, Goli Guerreiro aponta para o Furdunço, uma iniciativa da prefeitura que, desde o Carnaval de 2014, reúne pequenos trios elétricos na região do Campo Grande e mistura gêneros musicais e diferentes tradições num mesmo espaço democrático, sem a corda que separa os foliões com abadás do público “pipoca”, que não paga para se divertir. “O Furdunço pode, sim, renovar o Carnaval. As pessoas se montam para acompanhar esse carnaval, com máscaras… Há um movimento paralelo à axé music que é muito mais potente e não está tendo a atenção necessária porque o axé music é uma encenação midiática.”
“Nenhum gênero musical vai mal. A crise pode ser de algum artista, de algum setor. O rock não está em crise porque Axl Rose vai mal. A música é sempre música”, pondera Luiz Caldas. E mesmo com essa crise, Armandinho é otimista: “A Bahia sempre dá um jeito.”
“Meu Mundo Numa Quadra” / “Ziriguidum”
“Corrente de Água Doce” / “Mais Tarde”
Esqueci de postar aqui os vídeos que fiz do show que ela fez em fevereiro deste ano, ali na choperia do Sesc Pompéia. É impressionante ver como Lurdez conseguiu crescer – e bem – ao assumir uma inesperada carreira solo. Seu disco do ano passado é um dos grandes lançamentos do Brasil e no show que filmei deu para perceber que ela está cada vez mais à vontade com a personalidade livre, explorando tanto seu lado marrento quanto uma bem-vinda doçura e delicadeza feminina que, mesmo quando agressiva, não tinha tanto espaço no Mamelo Soundsystem. Enquanto isso, Brandão brinca de jazz com o Maurício Takara, o que me deixa bastante curioso em relação a um próximo disco do Mamelo. Serious shit.
No mesmo show que o da Lulina, assisti à apresentação dos soteropolitanos do Baiana System, uma banda prontinha, cozida na medida, mas cuja sonoridade já foi assimilada há uns cinco anos – pertencem ao mesmo universo de groove que os Seletores de Freqüência, o Instituto e a Nação Zumbi, trazendo um elemento crucial para sua personalidade musica: a guitarra baiana. Mas é questão de tempo para que descubrram um diferencial que afete todo a sonoridade do grupo, que não seja personalizado em um instrumento só. Mas isso também é questão de tempo e o grau de maturidade do grupo no palco prova que, em pouco tempo, sua assinatura musical poderá independer de um determinado timbre.
“Oxe Como Era Doce”
“Systema Fobica (Ubaranamaralina)”
Finalmente! Deixamos a onda de janeiro pra trás e começamos 2011 com nova terapia áudio-físico-psíquica na moleira dos que se dispuserem a ouvir. E pra não ter blá-blá-blá maior do que o habitual, começamos o novo ano e o novo programa com coisas que estão rolando agora: falamos sobre os shows do Rodrigo Brandão com Mauricio Takara, Baiana System, Vampire Weekend, Lurdez da Luz e Yusef Lateef, a vinda dos documentários Timeless para o Brasil, o novo filme de JJ Abrams, overdose de super-heróis e invasões alienígenas. Na trilha, o Bullit de Lalo Schifrin e o primeiro do Big Star.
Em tempo: esse é o tal do poema beat de nove minutos que a gente cita certo trecho do programa.
Muitos shows, muitas novidades, muitas elocubrações sobre o sentido da vida e muita falta do que fazer! O programa não rolou na semana passada porque o lançamento do disco novo do Radiohead nos atropelou – por isso jogamos para esta semana o papo que devia ter rolado antes, com um detalhe: disco do Radiohead ouvido! E mais: Ronaldo não tinha ouvido, por isso faz sua resenha em tempo real falada! No som, um clássico do Yussef Lateef e, claro, The King of Limbs.
Ronaldo Evangelista & Alexandre Matias – “Vinteonze #0002“ (MP3) (link alternativo pro MP3)