Em mais uma edição do meu programa sobre música brasileira Tudo Tanto, chamo a maravilhosa Ava Rocha para falar sobre seu disco mais recente, Nektar, que acaba de ser lançado depois de ter sido gestado desde antes dos anos pandêmicos. Álbum sensível e multifacetado, o quarto disco da cantora carioca (que será lançado ao vivo no próximo dia 30 de julho, no Sesc Pinheiros) é o motivo para conversar com Ava sobre criação, inspiração e racionalização de processos sensíveis, que conta como o disco foi concebido entre viagens, pandemia e profundas reflexões individuais sobre ser artista.
Às vésperas de lançar disco novo, Ava Rocha ainda encontrou tempo para revisitar mais um clássico da música brasileira que completa meio século neste 2023 neste fim de semana, no Sesc Ipiranga: o sexto disco de Gal Costa, Índia, que viu ela reunir uma constelação de nomes da música brasileira de seu tempo (Duprat, Verocai, Dominguinhos, Toninho Horta, Luizão, Wagner Tiso, Chico Batera, Wagner Tiso) para cantar um repertório repleto de canções modernas e tradicionais, de Lupicínio Rodrigues a Caetano Veloso, passando por uma música do folclore português arranjada por Gil, Tom Jobim, Luiz Melodia, Jards e Waly, Tuzé de Abreu e a guarânia que batiza o disco. Ava reuniu uma banda à altura do desafio e surfou na intensidade daquela onda e o show conduzido pelo violão de Negro Leo e o teclado de Chicão Montorfano, ainda contou com a bateria de Alana Ananias, o baixo de Pedro Dantas e a guitarra de Fernando Catatau. O resultado daquela egrégora de entidades fez o disco soar tão moderno e ousado quanto em seu lançamento e Ava, no centro daquele altar, invocou a presença de Gal com toda sua graça e força. Foi lindo – e tomara que ela possa voltar a esse repertório de vez em quando.
Uma hora doce e delicada – foi a isso que o trio formado pela dupla carioca Meiabanda e a cantora sergipana Tori proporcionaram na primeira apresentação deste maio no Centro da Terra. Os três optaram por uma apresentação minimalista, em que o guitarrista e produtor Eduardo Manso apenas disparava bases pré-gravadas levemente manipuladas ao fundo para que Tori e Bruno Di Lullo se revezassem ao violão, quase sempre cantando em uníssono, acentuando as distâncias entre seus timbres ao mesmo tempo em que alinhavam os próprios repertório como se sempre tivessem tocados juntos. No meio do show, Ava Rocha surgiu para cumprimentar os velhos parceiros e a cantora novata com suas canções – ela começou com “Doce é o Amor”, passou por “Mar ao Fundo”, “Joana Dark” e terminou num bis improvisado em que Ava puxou Bruno para cantar “Periférica”, de seu último disco, apenas os dois ao violão. Foi demais.
Às vésperas de lançar o sucessor de seu Trança, Ava Rocha apresentou-se pela segunda vez acompanhada apenas de piano nesta quarta-feira na Casa de Francisca. Ao seu lado, mais uma vez, o mestre Chicão Montorfano, que ia da sutil delicadeza quase impressionista ao improviso extremo fazendo um par perfeito para os devaneios em forma de canção interpretados pela cantora carioca. Ava subiu ao palco toda de couro preto e entre suas próprias canções (“Você Não Vai Passar”, “Dorival”, “Assumpção”, “Mar ao Fundo”, “Hermética”, “Boca do Céu”, “Doce é o Amor” e as ainda inéditas em disco “Um Sonho” e “Felicidade Ébria”) soltou seu lado intérprete visitando clássicos brasileiros e internacionais: passeou por “Besame Mucho”, Capinam e Jards Macalé (“Movimento dos Barcos”), Tim Maia (“Lamento”), Edu Lobo (“Pra Dizer Adeus”), Bola de Nieve (“Déjame Recordar”), Cat Power (“Where’s My Love”) e Caetano Veloso (“Força Estranha”), sempre conduzindo o público com sua voz e seu corpo, entregue à sua tradicional intensidade cênica. Entre o sublime, o mundano e o êxtase, Ava cuspia pétalas e erguia o próprio chapéu do chão com o pé, equilibrando-se entre cadeiras e brincava com água e vinho, sem deixar que tais gestos tirassem o fôlego e o sentimento das canções, numa apresentação de lavar a alma.
Tava devendo. Sei do Acesa de Alessandra Leão desde quando ele ainda era uma ideia, naquele longíquo tempo pré-pandemia. O projeto ganhou vida, virou show e eu ainda não tinha conseguido assisti-lo ao vivo – e finalmente saldei minha dívida nesta quinta-feira, quando pude ver esse híbrido de tradição com modernidade no palco da Casa de Francisca. Disparando samples de gravações que fez no sertão nordestino e manipulando timbres com pedais de distorção, Alessandra veio amparada por um trio digital de peso: Kastrup entre as percussões acústicas e MPC, Zé Nigro nos teclados e Marcelo Cabral no synth bass. E como se não bastasse a intensa roda eletrônica que armou no palco da Francisca, ainda chamou duas entidades para acompanhá-la – e tanto Dani Nega quanto Ava Rocha se esbaldaram ao lado da dona da festa. Que noite!
Femme Frame, temporada de um mês que Ava Rocha deu início nesta primeira segunda-feira de novembro no Centro da Terra, foi uma expedição rumo ao processo criativo da cantora e compositora carioca. Ela começou acompanhada apenas por Victoria dos Santos na percussão, seguida logo depois pela guitarra dissonante de Gabriel “Bubu” Mayall, até que recebe a aparição mágica dos irmãos Gustavo e Tulipa Ruiz . As duas cantoras se encontraram na bela “Lilith”, composta por ambas para o disco mais recente de Ava, Trança, e se engalfinharam num dueto que culminou essa peregrinação ao cérebro de Ava. As próximas noites terão novas surpresas, não dê mole!
Que satisfação receber a maga Ava Rocha na temporada de novembro no Centro da Terra, quando ela apresenta a obra em construção Femme Frame. Inspirada em poemas que estão sendo escritos durante este mês, ela enfileira três segundas-feiras e uma quarta-feira mostrando seu repertório e deixando que o improviso tome conta de apresentações que contam com formações inéditas e minimalistas e aparições surpresa a cada nova noite. São instantes poéticos, pontos e cantos inventados, canções e composições, projeções imagéticas, criações do instante, no campo do improviso e da construção, orgânica, cinematográfica e teatral em que o espirito da voz é o fio condutor. Os ingressos já estão à venda neste link.
Chegando nos finalmentes do ano, eis a programação de música de novembro do Centro da Terra, último mês do ano em que usamos todas as segundas e terças do mês para fazer espetáculos únicos no já clássico teatro do Sumaré. Quem domina as segundas-feiras do mês é Ava Rocha, com sua temporada Femme Frame, em que desconstrói seu cancioneiro ao lado de convidados especialíssimos como Victoria dos Santos, Chicão, Negro Leo, entre outros. São quatro segundas-feiras sob os encantos da maga, que ainda realizará um workshop durante esta programação – semana que vem ela dá mais detalhes desta jornada. Na primeira terça-feira do mês quem pousa pela primeira vez no Centro da Terra é o Violeta de Outorno, clássico grupo psicodélico brasileiro, que visita canções compostas nos anos 90 com sua formação clássica: Fabio Golfetti, Angelo Pastorello e Claudio Souza. Na segunda terça, dia 8, é a vez da cantora e compositora Helô Ribeiro dissecar os descaminhos de seu primeiro disco solo, A Paisagem Zero, em que visita a obra de João Cabral de Melo Neto, e vai além. A terceira terça do mês é feriado, por isso jogamos a noite de música para a quarta-feira, dia 16, quando o cantor e compositor capixaba Juliano Gauche começa a mostrar o que será seu próximo disco, Tenho Acordado Dentro dos Sonhos, assumindo de vez a guitarra como instrumento condutor, em vez do violão. Na terça dia 22 é a vez do duo Marques Rodrigues, formado pelo trumpetista Amílcar Rodrigues e pelo baterista Guilherme Marques, de explorar possibilidades sonoras desta formação a partir do disco que lançaram no início deste ano, (I)Miscível. E encerrando o mês, recebemos o vocalista e fundador da banda baiana Maglore, que lançou o ótimo V, Teago Oliveira, que faz seu primeiro show solo depois da pandemia no dia 29. Os ingressos já estão à venda neste link. Curtiu?
O Estado de Suspensão aconteceu num domingo maravilhoso, que abriu com o transe noise puxado pelo grande Marcelo Cabral. Ao lado de Guilherme Held e de Maria Beraldo, ele visitou seu Motor em formato elétrico, começando os trabalhos na Casa Natura Musical com uma parede de ruído em que equilibrava suas delicadas canções.