Um dos ases que Tulipa sacou de sua manga para fugir da possível armadilha de seu álbum de estreia (ficar presa numa temática romântica-brejeira) foi o dueto com Lulu Santos, melhor momento de seu segundo disco. O apoio grave que o timbre da voz de Lulu faz ao soprano natural da senhorita Ruiz também funciona como fiel da balança para “Dois Cafés” e a chancela do senhor pop brasileiro na canção (solando e tudo) tira a canção do quintal e a leva para a rua, para o meio de todo mundo, para longe da conveniente timidez de cidade do interior que pairava sobre a cantora, didaticamente apontando que o caminho do topo do pop “é pra cima!”.
Jóia mais brilhante de um disco um tanto opaco – em comparação com os mais recentes, “Lonesome” mostra que o Dr. Dog serve firme como um dos principais bastiões da música tradicional americana, velho cânone que foi adotado pelas bandas de indie rock americano que não entraram na onda de pista de dança puxada pela Nova York dos Strokes e do LCD Soundsystem no início do século. Será que alguém os traz pro Brasil no ano que vem?
A turbinada disco music básica – com aquele ar de maximalismo 2007 que é característico de sua escola – que são típicos dos remixes de SebastiAn caem como uma luva nesse quase-hit do Van She, que deixa o quase com a versão do remix, que ainda consegue manter o clima fúnebre do final da canção sem comprometer a própria reinvenção.
Quem achava que o Bonde do Rolê nem chegaria ao segundo disco (como eu), deve ter se espantado (como me espantei) quando ouviu a versão anglófona do trio curitibano para “Baby Doll de Nylon”, do Robertinho do Recife. Contando com o auxílio luxuoso dos Poolside (grande nome deste ano) e de Caetano Veloso, verteram o xaveco pernambucano em um carimbó indie praiano, “Baby Don’t Deny It” faz muito sentido em um planeta que fica mais quente a cada segundo e dentro do bem sucedido TropicalBacanal, um disco que dá uma sobrevida improvável à existência do Bonde.
Marcel Everett tem 17 anos e, bastou um clipe chapado, beats em câmera lenta, timbres de vozes femininas escorregando em rotações aleatórias e um pseudônimo cifrado para emplacar um dos hits que mais tem a cara do ano – que engana na velocidade, parece anunciar o fim do mundo, mas se sobressai pelas texturas, no detalhe.
Um feeling africano de verdade, não apenas superficial como o de muitos hipsters que seguem a trilha turista dos Paralamas do Sucesso em “Alagados”, Sinkane encorpa o freak folk com o mesmo groove que o Toro y Moi descobriu no EP Freaking Out. “Lovesick” chacoalha escorregadia e ensolarada, mesmo que tímida e preguiçosa – afinal, hispters são indies, em sua essência – e nem é o grande momento de sua estréia, Mars.
Eis o primeiro acontecimento registrado após a guinada que o Toro y Moi deu pra cima do funk dos anos 70 no EP Freaking Out. “Happy Home” é o futuro solitário – mas feliz – que o chillwave nunca imaginou ser possível.
Thiago Pethit aos poucos vai se acertando como novo talento da cena paulistana e seu segundo disco, Estrela Decadente, cumpre a promessa que estava incutida em Berlim Texas, seu primeiro disco. Mas se o álbum explora uma temática de palco – entre os bastidores do teatro (olha a Cida Moreira ali) e a ribalta do cabaré (vide o clipe de “Pas de Deux”, que nos apresentou ao disco), é na cândida parceria bilíngüe com Mallu Magalhães que abre uma possibilidade de crescer ainda mais, ao aproximar os restos da MPB à timidez do pop indie.
A fatia mais doce de seu zappeano Mature Themes, “Only in My Dreams” assiste ao passeio de Ariel Pink pela califórnia ensolarada dos Beach Boys, ao som da rádio AM da época, ecoando surf music, um certo sotaque country e o bucolismo do doo-wop mais branco possível. Tão delicada que nem parece hipster…
Era muito fácil Tulipa Ruiz cair numa armadilha feita por ela mesma em seu disco de estreia – o ótimo Efêmera – e repetir a inocência brejeira tribalista que a colocou no mapa da nova MPB. Felizmente, ela optou por um segundo passo mais maduro e o momento mais drástico desta mudança é o tour de force “Víbora”, em que explora suas qualidades dramáticas e teatrais em parceria com Criolo, à sombra, soturno e discreto, que sussurra no contraponto trágico de uma parceria quase ao final do disco.