Não bastasse Ridley Scott revisitar os próprios clássicos a ponto de forjar um prequel pra Alien e cogitar uma continuação para Blade Runner, agora ele começa a avançar sobre os clássicos alheios.
É o que diz o site SlashFilm, que confirmou a produção do diretor junto ao canal SyFy para transformar o livro 3001 – A Odisséia Final, de Arthur C. Clarke, em um seriado de TV. Sim, Ridley Scott invadirá a mitologia de Kubrick em busca de audiência para a televisão. O livro é o quarto volume que Arthur C. Clarke dedicou à odisséia que começou em 2001, continuou em 2010 e esticou-se até 2061. No quarto livro da série, vamos mil anos além do encontro da humanidade com o enigmático obelisco espacial e o reencontro com o astronauta Frank Poole, tido como morto desde então. A descrição do universo deste livro, via Wikipedia, dá margem para muita superprodução:
Algumas de suas características notáveis incluem o BrainCap, uma tecnologia de interface cérebro-computador; dinossauros-servos geneticamente construídos; um porto espacial e quatro gigantescos elevadores espaciais localizados uniformemente ao redor da linha do Equador. Os seres humanos também colonizaram as luas de Júpiter Ganímedes e Calisto. TMA-1, o monolito negro encontrado na Lua em 1999, foi trazido para a Terra em 2006 e instalado em frente ao prédio das Nações Unidas em Nova York.
Agora se isso é bom ou ruim…
E a minha coluna nessa edição do Link foi a continuação da coluna da semana passada…
Só melhora: o otimismo é a mola mestra de nossa evolução
A ficção científica não previu o celular
Engraçado ver como um assunto repercute. Na coluna da semana passada, me referi a um texto do comediante norte-americano Louis C.K. para comentar como passamos o tempo todo reclamando e não percebemos como a época em que vivemos é fantástica. Muitos aplaudiram, outros contestaram e a discussão ficou dividida entre os que consideraram o texto deslumbrado e os que se identificaram com meu otimismo. E, claro, muitos apenas reclamaram, uns com argumentos, outros só por prazer.
E, no meio da repercussão, um link me foi enviado quatro vezes. Ele remetia ao site do escritor inglês Warren Ellis, autor de quadrinhos que já são clássicos modernos, como Transmetropolitan, Authority e Frequência Global (todos lançados no Brasil). Ellis usa os quadrinhos como veículo para discutir temas que ainda são ficção científica, mas que ele trata como realidade iminente, justamente pela onipresença da tecnologia em nossos dias (como robótica, inteligência artificial, transferência de consciência, a fusão homem-máquina).
O texto, chamado Como ver o futuro, foi apresentado durante a conferência de ficção científica Improving Reality, que foi realizada no início do mês passado na Inglaterra. Ele começava o texto explicando que a obsessão tecnocêntrica de nossos dias tem nos deixado apáticos em relação aos avanços do presente e, desta forma, desiludidos em relação a qualquer tipo de futuro melhor.
E, em dado momento, cita uma das principais passagens do pensador maior da era digital, Marshall McLuhan: “Olhamos para o presente pelo espelho retrovisor. Marchamos de ré para o futuro. Devido à invisibilidade de qualquer tipo de ambiente durante este período de inovação, o homem só passa a perceber conscientemente o ambiente que veio anteriormente. Em outras palavras, um ambiente só se torna inteiramente visível quando é substituído por um novo ambiente. Assim, estamos sempre um passo atrás de nossa visão do mundo. O presente é sempre invisível porque ele é o próprio ambiente em que vivemos e assim acaba saturando todo nosso campo de atenção de forma implacável. É por isso que vivemos no dia de ontem.”
Isso foi escrito em 1969. E Warren Ellis destrincha o tema no texto: “Você não consegue ver o presente propriamente pelo retrovisor. Ele está à sua frente. Bem aqui.”
E descreve o nosso presente fantástico e invisível: “Exatamente agora, há seis pessoas morando no espaço. Há pessoas imprimindo protótipos de órgãos humanos e pessoas imprimindo tecidos compostos por nanofios que vão misturar a carne humana com o sistema elétrico humano. Já fotografamos a sombra de um único átomo. Temos pernas mecânicas controladas por ondas cerebrais.”
Ele continua: “Nos últimos dez anos, descobrimos duas espécies desconhecidas ao ser humano. Conseguimos fotografar erupções na superfície do Sol, aterrissagens em Marte e até mesmo na lua de Titã. Isso parece sem graça para você? É porque está acontecendo agora, neste exato momento. Olhe as horas no seu relógio, pois este é o presente e essas coisas estão acontecendo. O telefone celular mais simples é, na verdade, um dispositivo de comunicação que envergonharia toda a ficção científica, todos os rádios no pulso e comunicadores portáteis. O Capitão Kirk tinha de sintonizar seu comunicador, que não conseguia mandar mensagens de texto, nem tirar fotos em que ele poderia colocar um filtro Polaroid por cima. A ficção científica não antecipou a chegada do telefone celular.”
Mais uma citação para encerrar a coluna dessa semana (mas não o assunto). O escritor de ficção científica inglês Arthur C. Clarke repetia que “toda tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia”. Imagine nossos avós no começo do século passado, antecipando a nossa rotina do século 21. Mais do que comemorar feitos fantásticos, eles ficariam espantados a nos ver vivendo como… magos.
O otimismo é a mola mestra de nossa evolução, e não o pessimismo. Digo e repito meu mantra: só melhora.
E o já clássico blog Letters of Note, que reúne trocas de correspondências históricas, resgatou a carta em que Stanley Kubrick convida Arthur C. Clarke para fazer “o proverbial ‘bom’ filme de ficção científica”, que calhou de ser 2001 – Uma Odisséia no Espaço quatro anos depois. Veja só:
SOLARIS PRODUCTIONS, INC
March 31, 1964
Mr. Arthur C. Clarke
Dear Mr Clarke:
It’s a very interesting coincidence that our mutual friend Caras mentioned you in a conversation we were having about a Questar telescope. I had been a great admirer of your books for quite a time and had always wanted to discuss with you the possibility of doing the proverbial “really good” science-fiction movie.
My main interest lies along these broad areas, naturally assuming great plot and character:
The reasons for believing in the existence of intelligent extra-terrestrial life.
The impact (and perhaps even lack of impact in some quarters) such discovery would have on Earth in the near future.
A space probe with a landing and exploration of the Moon and Mars.
Roger tells me you are planning to come to New York this summer. Do you have an inflexible schedule? If not, would you consider coming sooner with a view to a meeting, the purpose of which would be to determine whether an idea might exist or arise which could sufficiently interest both of us enough to want to collaborate on a screenplay?Incidentally, “Sky & Telescope” advertise a number of scopes. If one has the room for a medium size scope on a pedestal, say the size of a camera tripod, is there any particular model in a class by itself, as the Questar is for small portable scopes?
Best regards,
Stanley Kubrick
Se alguém quiser traduzir, publico aqui. O Meks sugeriu a tradução abaixo. Valeu!
Programaço!