Rodolfo Krieger, baixista da banda gaúcha Cachorro Grande, está começando a trabalhar em sua carreira solo ao anunciar o lançamento de um EP no segundo semestre com a faixa “Louvado Seja Deus”. De inspiração psicodélica – bebendo tanto na fonte inglesa clássica dos anos 60 quanto em sua versão dance que aconteceu duas décadas depois -, o single, cujo clipe é apresentado em primeira mão no Trabalho Sujo, é a semente de uma conexão com um dos maiores nomes de nossa psicodelia – e do rock brasileiro -, o mutante Arnaldo Baptista, que é sampleado na frase que batiza a canção, extraída do disco Let it Bed, de 2004.
“Eu ainda estava morando em São Paulo, desfrutando das noites frenéticas da Rua Augusta, e entrei em uma fase Arnaldo Baptista, daquelas que vem de tempos em tempos”, me explica Rodolfo por email. “As audições eram diárias e constantes, em uma dessas viagens em meu apartamento, decidi escrever uma carta à mão para ele. Na carta escrevi sobre discos voadores, equipamentos valvulados e também contei um pouco sobre as canções que eu estava compondo, inclusive algumas muito influenciadas por ele, devido às exaustivas sessões do ex-mutante no meu toca-discos. O tempo passou e um dia, quando estava voltando de um show da Cachorro Grande, o porteiro do meu prédio me entregou um pacote com o nome da Lucinha – esposa do Arnaldo – como remetente. Quando eu abri me deparei com uma camiseta pintada a mão por ele, uma carta e um pequeno quadro que ele pintou com a seguinte frase ‘creia em seus sonhos’ aí foi o start para dar inicio às minhas gravações e começarmos a trocar alguns manuscritos e presentes!”
Sarau o Benedito?
A conexão já gerou frutos para além do single, quando o cachorro grande participa de uma homenagem feita ao mutante no dia 20 de maio, quando ele dirige um show-tributo a Arnaldo com a presença do próprio e de outros convidados como China, Karina Buhr, Hélio Flanders e Lulina na Caixa Cultural, em São Paulo. A homenagem encerra o ciclo Sarau o Benedito? que também terá apresentações solo do mutante nos três dias anteriores. “Quando surgiu o convite para fazer a homenagem, pensei logo de cara que tinha que fazer algo diferente. Como um bom fã do Arnaldo, sempre vou em homenagens que vez ou outra acontecem e a maioria dos repertórios dão ênfase ao Loki?! e aos discos dos Mutantes. Então, montei o repertório baseado apenas nos álbuns Elo Perdido, Singin’ Alone e Let it Bed. E confesso que esse é um show que eu sempre quis fazer, aquelas musicas do Elo Perdido são uma paulada!”
Ele antecipa algumas pérolas desta noite ao instigar um pouco sobre quem toca o quê: “Posso te adiantar que o Helio Flanders vai aparecer com um trompete em ‘I Fell in Love One Day’ e a Karina Buhr, aniversariante do dia, vai cantar a musica ‘Oh Trem’ numa versão explosiva tipo ‘Yer Blues’, do White Album, do Beatles.”
“Venho da geração da fita K7, quando na zona sul de Porto Alegre tinha um grupo de amigos que sempre pirateavam algumas fitas e em uma das milhares dessas fitas, encontrei algumas dos Mutantes”, Krieger lembra de como conheceu o grupo. “Mas foi no final dos anos noventa que adquiri a discografia em CD. Nessa época já fazia alguns covers com os conjuntos locais e sempre acabava rolando músicas deles nas rodas de violão. Hoje tenho tudo em vinil e que não sai da minha vitrola, assim como os Beatles, David Bowie e todos aqueles clássicos que a gente é fã desde moleque. Já o trabalho solo do Arnaldo só tive acesso quando pisei em São Paulo pela primeira vez, em 2005. Meu sonho era conhecer a galeria do rock e no dia que entrei lá enlouqueci, o primeiro álbum que eu comprei foi o Lóki. Foi amor à primeira vista e agora estamos aqui, nós dois juntos reunidos em uma música só!”
Ele não esconde a vontade de colaborar com o mestre: “Estou deixando o universo conspirar. Eu não vou negar que adoraria fazer alguma coisa com ele, tanto no palco, quanto no estúdio. Foi dada a largada e existe muita energia na nossa relação, algo que eu acredito que possa jogar a favor. Mas só de ele ter liberado o sample e topado participar do clipe já é um sonho realizado.”
“Os Mutantes são o nosso maior patrimônio musical, sem dúvida nenhuma”, empolga-se. “Aquela frase que o Rogério Duprat fala no documentário Lóki é muito certeira: ‘o Arnaldo Baptista é o responsável por quase tudo que aconteceu no Brasil de 67 para frente’.
A Roberta Martinelli me chamou pra escolher cinco discos para o quadro Cinco Sons, de seu programa Cultura Livre, e eu escolhi seis, misturando Nação Zumbi, Lô Borges, Arnaldo Baptista, Curumin, Elis Regina e Otto numa seleta de álbuns clássicos da música brasileira.
Mesmo com sol…
Paul Simon – “Wristband”
Glue Trip – “Le Edad del Futuro”
Whitney – “Follow”
Beach Boys – “‘Till I Die”
Sebadoh – “Everybody’s Been Burned”
Yo La Tengo – “Our Way to Fall”
Belle & Sebastian – “A Summer Wasting”
Neil Young + Sadies + Garth Hudson – “This Wheel’s on Fire”
The Band – “The Weight”
Bob Dylan – “Tangled Up in Blue”
Arnaldo Baptista – “Será Que Eu Vou Virar Bolor?”
Sonic Youth – “Incinerate”
Cramps – “Human Fly”
Autoramas – “Carinha Triste”
The Fall – ” Victoria”
Ira! – “Farto do Rock’n’Roll”
Doors – “Soul Kitchen”
Blood Orange – “E.V.P.”
Jamie Xx + Romy Madley Croft – “Loud Places (John Talabot’s Loud Synths Reconstruction”
Lana Del Rey – “Blue Jeans (Penguin Prison Remix)”
Tame Impala – “Let it Happen (Soulwax Remix)”
BaianaSystem – “Azul”
Beck – “Jack-Ass”
O La Cumbuca registrou a versão ao vivo que o Cidadão Instigado fez para “Sunshine”, clássico de muitas versões diferentes da carreira solo de Arnaldo Baptista, em um show neste sábado no Rio de Janeiro. Catatau segue com o cabelo descolorido como fez desde que o grupo se apresentou no já mítico festival Psicodália e essa conexão com o Arnaldo parece apontar para uma futura colaboração entre o grupo cearense e o eterno mutante.
Imagina…
Falei do projeto do site Radiola Urbana de recriar ao vivo discos clássicos com bandas novas – que ano passado rendeu noites incríveis como o Emicida celebrando Cartola e O Terno reverenciando Arnaldo Baptista – na minha coluna Tudo Tanto na revista Caros Amigos do mês passado.
Clássicos revisitados
A iniciativa do site Radiola Urbana de reunir novos artistas para tocar discos históricos chega ao terceiro ano rendendo ótimos frutos
Há três anos um site paulistano vem desenhando um panorama de discos clássicos reinterpretados por nomes da nova música brasileira que já pode ser considerado histórico. Um programa sem nome definido, pois o mesmo vai mudando de acordo com o ano celebrado. Desde 2012 o site Radiola Urbana, tocado pelos amigos Ramiro Zwetsch e Filipe Luna, volta 40 anos no tempo para homenagear álbuns históricos de artistas célebres, negociando repertório e arranjos com alguns dos maiores nomes da música brasileira deste século.
A ideia do Radiola Urbana começou em 2012 como uma consagração de uma tendência recente que vinha valorizando o ano de 1972 como um dos grandes anos da história do disco, pareando com outros anos clássicos como 1967, 1969, 1977 e 1991. Assim, o site propôs celebrar discos daquele ano no projeto 72 Rotações, que aconteceu no segundo semestre daquele ano, em shows gratuitos no no Centro Cultural da Juventude, na Vila Nova Cachoerinha. Entre os primeiros artistas estavam Bruno Morais (para cantar o mágico Sonhos e Memórias, do Erasmo Carlos), Romulo Fróes (que revisitou Transa de Caetano Veloso), Rodrigo Campos (que se arriscou no clássico funk Superfly, de Curtis Mayfield) e Curumin ao lado da banda Rockers Control (para recriar a trilha sonora de The Harder They Come, de Jimmy Cliff).
No ano seguinte o show foi transposto para o Sesc Santana e subiu um degrau no escalão dos artistas. Era a vez de Karina Buhr, Céu, Cidadão Instigado e Fred Zeroquatro (vocalista do grupo Mundo Livre S/A) homenagearem discos de 1973. Karina aventurou-se pelo primeiro disco do Secos & Molhados, o Cidadão Instigado se desafiou a tocar o Dark Side of the Moon do Pink Floyd, Céu foi convocada para homenagear o primeiro disco de sucesso de Bob Marley, Catch a Fire, e Fred celebrou o homônimo disco de estreia de Nelson Cavaquinho. A edição de 2013 teve um efeito colateral interessante na carreira de três dos artistas escolhidos: tanto Céu, quanto Cidadão Instigado e Karina Buhr passaram a oferecer os shows do evento como alternativa para tocar em lugares que nunca haviam tocado. Ao sair de uma semana na zona norte de São Paulo para várias apresentações espalhadas pelo Brasil, o projeto garantia seu principal intuito: fazer que o público dos novos artistas conhecessem os discos clássicos e os fãs dos álbuns homenageados descobrisse os novos nomes da cena brasileira deste século.
A edição do ano passado aconteceu no calar de dezembro, novamente no Sesc Santana, e mais uma vez surpreendeu. Os homenageados desta vez eram apenas discos brasileiros, todos clássicos absolutos de 1974: o primeiro disco solo do mutante Arnaldo Baptista (Lóki?), a estreia em disco de Cartola, o encontro de Elis Regina com Tom Jobim e o disco psicodélico de Jorge Ben, Tábua de Esmeralda. Para tomar conta de cada um desses discos, artistas de diferentes abordagens. Elis & Tom ficou a cargo do Marco Pereira Trio – um dos grandes conjuntos da nova cena de jazz de São Paulo – ao lado da cantora Luciana Alves e a Tábua de Jorge Ben ficou com o projeto paralelo da Nação Zumbi chamado Sebosos Postizos, que já há anos revisita diferentes músicas do repertório de Babulina nos anos 70.
Os dois shows que vi – dos melhores shows de 2014 – celebravam Cartola e Arnaldo Baptista. Foram shows que intimidaram seus intérpretes. O trio O Terno, liderado pelo filho de Maurício Pereira, Tim Bernardes, ficou responsável pelo mergulho emotivo na obra confessional do ex-Mutante e o rapper Emicida deixou de rimar pela primeira vez para cantar os versos imortais do sambista parnasiano.
O show de Emicida foi um atordoo. Não apenas por colocar o rapper num universo familiar ao seu (o samba) desafiando-o a cantar músicas que fazem parte do DNA do samba. Mas também pelo grupo musical que havia reunido. O desafio, na verdade, foi proposto pelo saxofonista Thiago França, uma das forças da natureza da nova cena musical paulistana. Ele tocou com Criolo e é um terço do Metá Metá, a melhor banda de São Paulo atualmente, além de ter inúmeros projetos paralelos, muitos deles com o compadre Kiko Dinucci, outra usina musical da nova São Paulo. França convocou pesos pesados pra compor o time: da banda de Emicida surrupiou o percussionista Carlos Café, o violonista Doni Jr. e o DJ Nyack. Depois convocou o ás baixista Fábio Sá, o grande Rodrigo Campos para o cavaquinho e guitarra e o próprio Thiago entre o sax, a flauta transversal e outras engenhocas e pedais de efeito.
O resultado foi um show que por vezes soava reverente, mas na maior parte do tempo era abertamente desafiador, levando a obra de Cartola para territórios completamente diferentes – o free jazz, o hip hop mais pesado, a gafieira, um samba mais quadrado e até para releitura quase literais. A curta duração do disco homenageado (pouco mais de meia hora) fez o conjunto estender a homenagem para Adoniran Barbosa (contrapondo “Saudosa Maloca” e “Despejo na Favela” com as desocupações feitas recentemente em São Paulo) e para Candeia (numa versão brutal para “Preciso Me Encontrar”), além do delicioso sambão “Hino Vira Lata”, do próprio Emicida. Um show daqueles de tirar o fôlego.
Dois dias depois era a vez do Terno, no mesmo palco do Sesc Santana, defender sua homenagem ao disco Lóki?, o tocante espasmo emocional traduzido através do piano rock de Arnaldo Baptista, logo que ele saiu dos Mutantes. Um disco de fossa devido ao fim de relacionamento com Rita Lee, mas também um disco de uma psicodelia introvertida, que às vezes sonha alto ou cogita possibilidades impensadas no meio de canções que cortam o coração ao mesmo tempo que provocam sorrisos.
A responsabilidade do Terno não era apenas etária – o guitarrista e vocalista Tim Bernardes deixou seu instrumento em segundo plano para assumir o teclado, mas manteve-se preciso e sem firulas, no mesmo nível de emoção que percorre pelos sulcos do vinil original. O desafio duplo foi vencido com alguma facilidade – mesmo nas músicas tocadas com guitarra, canções feitas originalmente para o piano ganhavam uma desenvoltura de parentesco psicodélico.
Agora é esperar 2015 para ver se (e quais) os artistas do ano passado levarão os shows de 2014 para novos palcos e o que o Radiola Urbana armará para a versão deste ano. “Pensamos em Fruto Proibido (Rita Lee & Tutti Frutti), Horses (Patti Smith), Expensive Shit (Fela Kuti & Afrika 70), Estudando o Samba (Tom Zé)…”, me disse Ramiro, que planeja uma novidade para este ano – voltar 50 anos no tempo em vez de 40. “Aí se virar 65, temos planos malignos e infalíveis para A Love Supreme (John Coltrane), Coisas (Moacir Santos), Highway 61 Revisted (Bob Dylan)…”. De qualquer forma, não tem erro.
Diferente do show de Emicida em homenagem a Cartola, a noite do projeto 74 Rotações que teve O Terno recriando o clássico Lóki? de Arnaldo Baptista foi mais reverente do que inventiva, mas tanto a banda quanto o disco requeriam aquele tipo de apreciação.
Para começar, Lóki? não é só um apanhado de canções românticas, é um disco-sentimento em que Arnaldo Baptista jorrava toda seu coração em música. É fácil imaginar que as canções que hoje consideramos clássicas são partes de um fluxo de consciência emocional contínuo, como pode ser observado a partir das jam sessions registradas no primeiro disco dos Mutantes sem Rita Lee, O A e o Z, que só foi lançado nos anos 90. O que Arnaldo Baptista cantasse enquanto tocava seus teclados – piano ou elétrico – naquela época fazia parte de uma enorme canção em sua cabeça – canção esta que se desracionalizou completamente quando sentiu o baque de perder Rita Lee e compôs/gravou Lóki? O disco é um misto de Astral Weeks com Madcap Laughs e uma pitada do mítico Smile, um disco confessional, extremamente pessoal e gravado nos limites da emoção. Por isso qualquer tentativa de recriá-lo corre o risco de soar falso ou sem sentimentos.
Daí a importância d’O Terno optar pela reverência, tocando as músicas quase literalmente como no disco, incluindo aí a ordem das faixas. A outra barreira frente ao show do sábado passado é que Lóki? é um disco composto e tocado ao piano, enquanto o trio paulistano não conta com o teclado em sua formação. Por isso quando as cortinas se abriram e o guitarrista Tim Bernardes estava sentado frente a dois teclados a responsabilidade do grupo pareceu ter aumentado a dificuldade: será que Tim era tão desenvolto no piano quanto na guitarra? E apesar da resposta negativa isso não foi propriamente um problema. Primeiro porque ele manteve-se firme na base das canções, sem tentar nenhum malabarismo instrumental que talvez não pudesse alcançar – este era espertamente dividido com o baixista Guilherme d’Almeida, que percorria linhas melódicas de tirar o fôlego (tocadas originalmente por Liminha, talvez o melhor discípulo de Arnaldo no baixo). No meio, o baterista Victor Chaves ajudava a acertar o clima das canções, por vezes como um Keith Moon (ou Dinho Leme, como seria mais apropriado) endiabrado, por outras clássico e discreto como Charlie Watts ou Ringo Starr.
Mas Tim não ficou só nos teclados nem a banda ficou só no fac-símile. Um dos momentos mais interessantes do show foi quando “Honk Tonk” (escrita e tocada originalmente apenas no piano) virou um rock pesado instrumental tocado pelo power trio ensandecido que é O Terno – emendando abruptamente na quase faixa-título (reforçando o fato de que a banda é da era do CD e atropelou a clássica virada do lado A pro lado B). Quando ia para a guitarra, Tim emulava a guitarra tropicalista Sérgio Dias e Lanny Gordin com a alavanca do instrumento e notas estridentes, numa evidente saudação aos mestres. Até na letra ele arriscou uma brincadeira, quando, em “Será Que Eu Vou Virar Bolor?”, trocou Alice Cooper por Arctic Monkeys, adaptando perfeitamente o sentimento de não-pertencimento de Arnaldo nos anos 70 para essa década de 10 (aliás, cabe um parêntese pra falar como Lóki?, como registro sentimental, ainda segue atual mesmo quando não se fala apenas em sentimento – explicitado especificamente em “Navegar de Novo” – que pensei que Tim fosse trocar “o modelo do meu carro que eu comprei só há seis meses já está fora de moda” por “o modelo do iPhone… etc.”).
O show, curtíssimo, mostrou que O Terno está pronto para viagens ainda mais loucas e encerrou com duas músicas de outros discos: “Beijo Exagerado” do último disco dos Mutantes com Rita Lee e “O Cinza” do disco que lançou esse ano. O desafio de recriar a atmosfera dentro da cabeça e do coração de um dos mestres do rock brasileiro foi cumprido à risca, com alguma (natural) tensão, mas sem deixar a bola cair. Foi quase como se o trio tivesse feito a prova do vestibular da psicodelia brasileira na frente das poucas centenas de pagantes do Sesc Santana – e visto a aprovação sair em seguida. E por mais que acertassem em diversos pontos, tiraram nota 10 no conjunto do disco, do correr da obra, na redação do show. Afinal, Psicodelia é Ciências Humanas.
Abaixo, os vídeos que fiz de todo o show, assista e deleite-se:
Emicida tocando o primeiro disco do Cartola, O Terno tocando o Lóki? de Arnaldo Baptista na íntegra, os Sebosos Postizos mandando ver todo o Tábua de Esmeralda do Jorge Ben e Luciana Alves e o Marco Pereira Trio visitando todo o Elis & Tom. Eis o cardápio do programa 74 Rotações, terceira edição do projeto do site Radiola Urbana que começou homenageando 1972 em 2012 (com Romulo Fróes fazendo o Transa de Caetano Veloso, Felipe Cordeiro tocando o Expresso 2222 do Gil, entre outros) e no ano passado deu origem a shows que percorreram o país como Karina Buhr tocando o primeiro dos Secos & Molhados, o Cidadão Instigado tocando o Dark Side of the Moon do Pink Floyd e a Céu interpretando o Catch a Fire do Bob Marley. A terceira edição acontece entre os dias 18 e 21 de dezembro no Sesc Santana e os ingressos custam R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia) e R$ 8 (comerciário). Bati um papo com o bróder Ramiro Zweitsch, do Radiola, sobre a edição 2014 do festejado projeto.
Como foi que vocês começaram a fazer os projetos para 1974?
Bom, começamos pensando nos discos e percebemos logo que era um ano muito forte de música brasileira: Elis & Tom, Tábua de Esmeralda, Cantar, o primeirão do Cartola, Canta, Canta Minha Gente, Gitã, Lóki? etc. Pensamos em alguns gringos, tipo Authoban e Diamond Dogs mas acabamos decidindo por focar nos brasileiros já que o projeto vem se transformando de um ano para o outro: em 2012 eram 8; em 2013 reduzimos para 4, entre gringos e brasucas; neste ano, 100% Brasil; e no ano que vem queremos muito fazer 65 e 75, vontade essa que a gente já tinha de ter aplicado em 2014 – com shows de discos de 64 -, mas simplesmente não rolou. Tivemos de descartar o Martinho da Vila por conta do show que o Otto vem fazendo desde janeiro e o do Raul Seixas também acabou gerando um outro projeto recentemente. O Cantar a gente queria fazer com a Tulipa, mas ela sabiamente declinou do convite por achar que é o tipo de show que a própria Gal poderia e pode vir a fazer. Fechamos nestes 4 que desenham um panorama interessante da diversidade da música brasileira de 40 anos atrás: a estreia fonográfica de um dos nossos maiores sambistas, o encontro entre aqueles que podem ser considerados nossa maior cantora e nosso maior compositor, um inspiradíssimo disco de rock pós-tropicália e o auge criativo de Jorge Ben — talvez o artista mais cultuado pelas últimas gerações da nossa música (90’s, 00’s, 10’s).
Como foram os convites? Alguém já tinha procurado vocês ou foram vocês que convocaram os músicos?
Fomos procurados por alguns artistas a fim de participar do projeto, mas nenhum deles propôs um disco. Eles escreviam pra gente com mensagens tipo: “pô, o projeto é demais, me convida”. São duas cartas que estão na manga para os próximos anos. Esses nomes que fechamos para 2014 foram todos convidados por nós e aceitação foi imediata da parte deles. O Emicida é um cara que a gente admira muito, que já vem experimentando uns formatos diferentes de apresentação e apostamos que ele vai arrebentar nesse esquema de cantar as melodias lindas do Cartola. A Luciana é uma cantora muito talentosa, que circula mais pelo universo da MPB e não tem nada de pop. Ela vai fazer o show com o Marco Pereira Trio, formado por grandes músicos. O Terno a gente já queria ter envolvido no ano passado, mas eles recusaram nosso convite em fazer Eu Quero Botar o Meu Bloco na Rua, do Sérgio Sampaio, por conta do foco deles em trabalhar nas próprias músicas naquele momento. Os Sebosos já fazem boa parte do repertório de A Tábua de Esmeralda e a escolha era até meio previsível. Vai ser massa porque é um disco amado por todos e foi, inclusive, eleito o melhor de todos os tempos em uma “eleição” que fizemos em 2008 na Radiola. Fora que o próprio Jorge Ben chegou a dar sinais de que poderia fazer esse show e por enquanto necas.
Como vocês se veêm como responsáveis por inspirar projetos paralelos de artistas que admiram, como a Céu, a Karina e o Cidadão – todos incorporando os shows do projeto em turnês específicas?
Ah, sentimos muito orgulho, né? É uma sensação boa de que fizemos as escolhas certas. No caso do Cidadão, a experiência foi quase transcendental, reacendeu meu amor pelo Pink Floyd inclusive. O show da Céu rendeu pacas e ficou também muito clara a afinidade dela com aquele repertório. Os shows da Karina e do Fred 04 também tiveram seus desdobramentos e a gente nunca poderia imaginar que interferiria de alguma forma nas carreiras desses dois artistas que a gente admira desde os primeiros suspiros do mangue beat.
E pra 1975, quais são os grandes discos na mira?
E aí, sugere algum pra gente? Pensamos em Fruto Proibido, Horses, Expensive Shit, Estudando o Samba… Se virar 65, temos planos malignos e infalíveis para A Love Supreme, Coisas, Highway 61 Revisted…
Vamo seguir o ritmo!
Max Frost – “Sunday Driving”
Haim – “My Song 5 (Movement Version)”
Led Zeppelin – “Dancing Days”
Chet Faker – “1998”
Arnaldo Baptista – “Não Estou Nem Aí”
Raul Seixas – “Fear of the Rain”
Giancarlo Ruffato – “Cancioneiro”
Fine Young Cannibals – “Love For Sale”
Escort – “If You Say So”
Marcelo Jeneci – “SMS”
Racionais MCs – “Mulher Elétrica”
Dani Siciliano – “Walk the Line”
Drake – “Worst Behavior (Saint Pepsi Edit)”
The Feitos – “Disco do Roberto”
R.E.M. – “Supernatural Superserious”
Jorge Ben – “O Filósofo”
Outono assim sim.
Lily Allen – “Everybody’s Changing”
Chromeo + Solange – “Lost on the Way Home”
Arnaldo Baptista “Hoje De Manhã Eu Acordei”
Rafael Castro – “Apagada a Luz”
Spoon – “I Turned My Camera On”
Tears for Fears – “Mad World”
Pipo Pegoraro – “Radinho”
Giancarlo Ruffato – “O Homem da Casa”
Radiohead – “Unravel”
Work Drugs – “Rolling in the Deep”
David Bowie – “Life on Mars”
Neil Young – “My Hometown”
Sebadoh – “New Worship”
Pink Floyd – “Dogs”
Incrível essa matéria da revista Pop que o próprio Mutante postou em sua página do Facebook…
Bom pra lembrar de não fazer nada esses dias…