Impressão digital #0087: 2012 digital

Minha primeira coluna do ano saiu hoje no Link.

Google, Amazon, Facebook e Apple juntos em 2012?
Tudo para manter a influência dos EUA

2011 foi um ano de arrumação da casa para os gigantes do mundo digital. O Google começou o ano trocando de CEO – Eric Schmidt deixou o cargo para a entrada de Larry Page, um dos criadores do site – e passou todo o ano passado reestruturando seus produtos e serviços para que eles pudessem conversar entre si. E aproveitou o clima de reforma para lançar seu Google Plus, que não seria uma rede social mas uma “camada social” que interligaria seus produtos – e uma clara tentativa de não perder, futuramente, a importância para o Facebook.

A rede social de Mark Zuckerberg aproveitou 2011 para crescer ainda mais (particularmente no Brasil, que foi o país que mais cresceu no Facebook no ano passado) e adiar a abertura de seu capital na Bolsa de Valores norte-americana. Foi também o ano em que o site reorganizou-se estruturalmente (lançando uma nova interface, a Timeline) e para lançar seu criador como principal personalidade do mundo digital – ao menos para o grande público, quando Zuck apresentou, em setembro passado, o evento F8. E também aproveitou para criar as bases de sua sustentação econômica no futuro, começando a trazer empresas para desenvolver aplicativos em seu ambiente – e, finalmente deslanchar um conceito que vêm trabalhando há tempos, que é o f-commerce – o e-commerce realizado apenas dentro do Facebook.

A economia dos aplicativos – criada pela Apple, no lançamento do iPhone, em 2007 – também mexeu com a Amazon, que abriu sua própria loja de aplicativos e lançou o primeiro concorrente de peso para o iPad, o Kindle Fire, que foi um dos produtos que mais vendeu nos EUA no final do ano passado.

E a Apple, surfando alto graças ao sucesso do iPad, teve o melhor ano de sua história – e é irônico que isso tenha acontecido no mesmo ano em que Steve Jobs tenha morrido. O luto pelo fundador não abalou os números da empresa, que se tornou a maior fabricante de celulares do mundo além de ter atingido, durante o período mais crítico da crise financeira que abalou os EUA no ano passado, o posto de empresa mais valiosa do mundo.

Além de ter criado e feito vingar um tipo novo de aparelho – o tablet –, fez todos correrem atrás. Tudo isso ofuscou o fato de que a empresa adiou o upgrade que faria para seu celular, apresentando um iPhone 4S em vez do esperado iPhone 5. Mas o 4S trouxe uma novidade específica – o aplicativo Siri permite que qualquer um faça buscas online sem encostar um dedo no aparelho, usando apenas a voz. Não é pouco, tanto que o próprio Eric Schmidt, ainda com assento no conselho do Google, declarou que a empresa deve se preocupar com isso, para não perder o posto de líder nas buscas online.

Google social, Facebook como ambiente de compras, Amazon fazendo tablets, Apple entrando na área de buscas. Já deu para entender mais ou menos qual vai ser a tônica de 2012, não?

Afinal, todas estas empresas têm como meta utópica reter seus usuários o máximo de tempo possível em seu ambiente virtual – de preferência sem ter tempo para olhar para o site do lado ou para trocar de aparelho.
Mas, na prática, já está claro que ninguém fica em um só desses ambientes. Dá para preferir um ao outro, claro. Houve quem abraçasse o Facebook e repudiasse o Google Plus, mas é pouco provável que o fã mais entusiasmado da maior rede social do mundo deixe de usar o Google para fazer buscas.

E por mais que essas empresas tentem correr atrás das áreas de atuação das outras, elas não vão conseguir fazer que seu público fique apenas no ambiente criado por elas.

A menos que elas se juntem.

E não estou falando em fusão ou em aquisições. Lembro apenas do discurso do presidente norte-americano Barack Obama no início do ano passado, quando sublinhou que era o líder eleito do país que deu ao mundo o Google e o Facebook. Não custa lembrar que ainda sentimos os ecos da crise financeira de 2008, que abala até hoje os EUA (e também a Europa), ao mesmo tempo em que assistimos a países antes periféricos – como o Brasil – ganhando o palco central do mundo. E não apenas politicamente.

A indústria cultural dos EUA, que por muito tempo ajudou aquele país a se impor inclusive culturalmente, já não é mais a mesma. Ainda que fature cifras consideráveis, seu impacto não é mais unânime justamente devido ao fato de que a produção cultural destes países emergentes também está ebulindo, como suas economias. O impacto ainda é pequeno e é percebido melhor nos próprios países – e não globalmente. Mas, como hoje não para dá separar cultura de internet, é questão de tempo para que estes mesmos países comecem a usar a rede para atingir mercados exteriores e, possivelmente em breve, criar seus próprios ambientes digitais.

E se não dá para dissociar cultura de internet, a dominação cultural norte-americana hoje não acontece através de filmes, discos ou programas de TV. E é justamente nos quatro gigantes citados no início do texto que os EUA estão apostando para transformar o século 21 no que eles chamam de “o novo século americano”.

Por isso que é bem provável que, em 2012, comecemos a ver Google, Apple, Amazon e Facebook mais próximos uns dos outros, aos poucos derrubando as barreiras que os separam para trabalhar conjuntamente, mesmo que de forma tímida. A Stop Online Piracy Act (Sopa) – a dura proposta de lei antipirataria que pode ser aprovada em breve pelo governo norte-americano (e que é o assunto da capa desta primeira edição de 2012 do Link) – é um bom exemplo disso. Estas empresas estão percebendo o quanto o negócio delas é parecido não apenas no sentido administrativo e empresarial, mas também político.

E sob a ameaça de restringir ainda mais o uso da internet com este novo pacote de leis, os quatro – entre vários outros, como a fundação Mozilla do navegador Firefox, o serviço de pagamentos online PayPal e a Microsoft – finalmente começaram a se ver como uma força política e apelar para seu maior trunfo: a enorme audiência global.

O 2012 de seus quatro principais executivos (Steve Bezos da Amazon, Tim Cook da Apple, Larry Page do Google e Mark Zuckerberg do Facebook) deverá ser marcado por uma lenta aproximação mútua, para evitar que o próximo gigante saia da Rússia ou da China. Não há nada no horizonte que indique o surgimento de algo do tipo ainda este ano, mas você sabe como são as coisas na internet… Basta alguém começar algo novo que caia no gosto popular para ver sua audiência subir. Por isso, eles – e o governo de seu país – sabem bem que é melhor se preparar do que remediar.

Porque de nada vai adiantar ter um ambiente social que permita fazer compras e acessar a conteúdo digital em um determinado aparelho se aparecer uma ou mais empresas de fora dos EUA para dar continuidade àquele ciclo típico da era digital, como quando as pessoas param de usar o Friendster para começar a usar o MySpace. Nada impede que o próximo Google, a próxima Amazon, a próxima Apple ou o próximo Facebook venha de um país que não fala inglês. É esperar para ver o que acontece…

iTunes no Brasil

Escrevi sobre a chegada do iTunes no Brasil para o caderno de Economia & Negócios do Estadão, na quinta-feira:

iTunes brasileiro não deve mudar hábitos de consumo

A entrada da Apple no mercado de música digital não foi uma ideia original – ela surgiu, na verdade, de uma lacuna deixada pelas empresas que geriam o mercado fonográfico na virada do milênio e não souberam lidar com a chegada da internet. O iTunes surgiu como loja a partir do tiro que as gravadoras deram no pé ao tratar seus consumidores como vilões. E até hoje o revés sofrido é usado como prova de que é impossível deter o digital.

Recapitulando: em 1999, um universitário americano criou um software gratuito que permitia troca de músicas via internet, sem que elas estivessem em um servidor central. Assim, qualquer um poderia ver as músicas que outra pessoa tinha e baixá-las para seu computador. O programa chamava-se Napster e os executivos das grandes gravadoras entenderam como roubo. Se tivessem um pingo de visão empresarial, talvez pudessem comprar o software – como fizeram depois – para estreitar o contato com um público que, aos poucos, começava a abandonar os CDs.

A Apple fez o que as gravadoras não fizeram: legalizou esse comércio e na metade da década já era vista como uma das marcas mais associadas à música no século 21, sendo que a empresa lucrou muito mais com a venda de tocadores de MP3 – o icônico iPod – do que com a venda de músicas. Assim, pegou os americanos em um momento em que eles começavam a baixar música de graça e os educou para as compras online.

Não é um formato ideal. As músicas são vendidas individualmente, o que faz o preço das músicas de um único disco às vezes ser mais alto que o de um CD, um artefato que teve custos vinculados à fabricação, transporte, estoque e varejo. E, nos últimos dez anos, viu-se a ascensão de serviços que cobram assinatura. Nesse formato, o ouvinte não precisa sequer fazer o download – ouve o que quiser, no aparelho que quiser.

Quase dez anos após ter sido lançado nos EUA, o iTunes chega ao Brasil cobrando, em dólar, preços que conseguem ser maiores que os concorrentes em mídia física. E isso num mercado que não tem tradição de venda de mídia digital, acostumado a baixar música sem pagar. Um cenário mais favorável à entrada dos tais serviços por assinatura.

O iTunes brasileiro terá consumidores, mas serão pessoas que ainda tateiam no meio digital, gente que não se familiarizou com o download de música e que ainda apanha do computador. Não existe a possibilidade de a Apple conseguir educar o brasileiro para comprar música. Esse tempo já passou. Resta torcer para que os modelos por assinatura não levem tanto tempo para chegar por aqui…

Tumblr do dia: 501 coisas pra fazer com a grana de um iPhone 4S

Pelo preço de um iPhone 4S de 64GB dá para comprar dois iPads, dois iPhones 4, 15 iPods Shuffle ou um MacBook Air. Mas esse tumblr dá outras sugestões…

Falando a real

O designer sueco Viktor Hertz recriou alguns logotipos a partir do impacto real de certas marcas em nossa rotina. Tem outros lá no Flickr dele.

Todos os discos dos Beatles

Ficou bem boa essa animação da Apple pra vender os discos dos Beatles pelo iTunes.

Impressão digital #0081: Internet e televisão

E a minha coluna no 2 de domingo foi sobre a última sacada de Jobs e a nova novidade do YouTube.

A televisão do futuro
A última fronteira digital?

O casamento da televisão com a internet já vem acontecendo mesmo que o aparelho ideal para isso ainda não exista. O fato dos trending topics do Twitter quase sempre regularem com programas de maior audiência – seja no Brasil ou no exterior – é um indício disto. Outro indício é a frequência com que tablets e smartphones são usados em frente à TV – se você não reparou, comece a perceber. DVD players e TVs que vêm com entrada USB de fábrica também ajudam a comprovam que essa teoria: basta espetar um pendrive para assistir a conteúdo digital baixado no computador.

Não é que não existam aparelhos que já se proponham a fazer tal fusão. Já há vários modelos de aparelhos de TV no mercado brasileiro que, por exemplo, permitem assistir a vídeos do YouTube – e não só. As chamadas smartTVs pegam a lógica dos aplicativos, consagrada nos smartphones, e a transferem para a telona. Ainda são protótipos da TV do futuro, que não é nem uma televisão nem um computador, mas um híbrido de ambos.
Na recém lançada biografia oficial de Steve Jobs, o escritor Walter Isaacson conta que uma das últimas sacadas do pai da Apple foi perceber que o Siri poderia ser a chave final para a Apple TV deixar de ser uma promessa e a empresa mudar o mercado de televisão como fez com o de telefonia celular.

Siri, para quem não conhece, é um programa de reconhecimento de voz que entende o que foi dito e responde em forma de texto. É uma das principais novidades do novo iPhone, o 4S, lançado há pouco nos EUA (e, possivelmente, em breve no Brasil). Vários celulares já contam com um sistema parecido, mas a maioria limita-se a acionar funções do próprio telefone. Você fala “rediscar” e o telefone liga sozinho para o último número que foi acionado, por exemplo. A diferença do Siri para os outros é que ele não está restrito aos recursos do próprio celular – ele responde questões do dia a dia. Ele entende se você pergunta se vai fazer frio mais tarde e consulta um site para mostrar a temperatura prevista para o período. Pergunte qual é cinema mais perto de você que está passando um filme que você quer ver e ele faz isso.

A sacada de Jobs unindo o Siri e a Apple TV foi perceber que este sistema de reconhecimento de voz pode matar de vez o controle remoto – como o iPad almeja acabar com o teclado e com o mouse. Mas ainda estamos na mera futurologia.

Enquanto isso, o YouTube fechou, esta semana, um acordo com produtores de conteúdo para criar cem canais de conteúdo original, reunindo parceiros como celebridades (Madonna, Jay Z, Rainn Wilson, Tony Hawk), sites (The Onion e Slate) e estúdios de cinema e TV.

E enquanto a Apple (e outras empresas) se esforçam para imaginar o aparelho de televisão do futuro, o YouTube já está colocando em prática como funcionará esta programação.

Link – 7 de novembro de 2011

Em nome do PlusReader 2005-2011Não perca o contatoObjeto de desejo e muito caroMais baratoMuito além do game: um ano de KinectQuem está de que ladoServidorChris Kaskie, do Pitchfork

Link – 24 de outubro de 2011

• Tecnologia, consumo e dor • ‘Deixei uma câmera na mão dos meninos’, diz diretor de ‘Blood In The Mobile’ • Mudança em andamento • Fabricantes dizem pressionar fornecedores • Por dentro de Jobs• ServidorVida Digital: Bia Granja (YouPix)Ecad nas nuves – Personal Nerd: Copyright captado pelo arNo meio de uma CPIE-commerce em alta • Reader para o G+10 anos de iPod

Evil Jobs

Tive de escrever sobre o lado feio, ruim e malvado de Steve Jobs no especial que fizemos sobre ele na edição de hoje do Link, convenientemente esquecido nos últimos dias. Sabe como é, é um trabalho sujo, mas…


Imagem: Lenin’s Tomb

Ser um bom homem de negócios não o torna um homem bom
Aspectos questionáveis do fundador da Apple foram esquecidos nos últimos dias

Muitos ficaram revoltados com a forma como Richard Stallman, pai do movimento software livre, se referiu à morte de Jobs. “Como o prefeito de Chicago Harold Washington disse uma vez sobre o ex-prefeito corrupto Daley, ‘eu não estou feliz que ele está morto, mas estou feliz que tenha ido embora’”, escreveu em seu site, “Ninguém merece morrer – nem Jobs, nem o senhor Bill, nem pessoas culpadas de coisas piores que eles. Mas todos nós merecemos o fim da influência maligna de Jobs na computação das pessoas.”

“Visionário”, “revolucionário”, “gênio”, “imortal”, “Deus”. O show de adjetivos que já havia começado depois que Jobs deixou o cargo de CEO da empresa que fundou, há dois meses, intensificou-se após o site da Apple ter confirmado a morte dele, no início da noite da última quarta. A cobertura – tanto na imprensa tradicional quanto na 2.0, chorada por milhares de fãs do ícone e da empresa pelas redes sociais – assumiu o tom hiperbólico dos anúncios de produtos feitos por Jobs. Quem se dispusesse a ir contra a corrente de benevolências e celebração, como Stallman fez, estaria pedindo para ser apedrejado.

Mas, mesmo sendo radical e desagradável (características típicas de seu próprio personagem), Stallman não falou nenhuma bobagem. Afinal, é bom separar o homem do personagem, uma fusão que o próprio Jobs gostava de alimentar. Pois ele senta-se no extremo oposto de Stallman no espectro da cultura open source. Enquanto o pai da Free Software Foundation advoga por uma internet livre e por uma cultura aberta tanto na parte de hardware quanto de software, Jobs conseguia ser mais radical do que Bill Gates, historicamente o grande antagonista da cultura open source, quando o assunto era a lógica proprietária. Os aparelhos de sua empresa nem funcionavam com peças que fossem fabricadas para outros aparelhos e o condicionamento fechado da App Store, a loja de aplicativos da Apple, foi o que permitiu a ascensão do Google e de seu sistema operacional Android – favorável à mentalidade aberta – no setor de telefonia celular.

Enquanto a natureza aberta da web foi o que permitiu sua popularização, a Apple funcionava como um condado medieval, erguendo muros altos e fortes para controlar seu próprio reino.

E isso é só um aspecto do “mau Jobs” convenientemente esquecido nesses dias de luto.

Pessoalmente, ele era tido como um chefe cruel, intolerante, desumano. Em uma reportagem do jornal inglês Guardian, um ex-funcionário da Apple comparava a convivência com Steve Jobs a trabalhar sob a mira de um lança-chamas. Orgulhava-se de não fazer caridade e estacionava na vaga de deficientes, só porque podia.

Isso sem contar a censura no ambiente digital que criava. Nudez, nem em quadrinhos. Só para ficar num caso mais clássico, quando, em 2010, a empresa censurou uma versão em quadrinhos do Ulysses, de James Joyce – ironicamente o maior romance do século 20 já havia ido a julgamento, em 1933.

E nem é preciso entrar em detalhes sobre a taxa de suicídios na Foxconn, empresa que fabrica os aparelhos da Apple na China, e nas condições sub-humanas em que os produtos de sua empresa eram fabricados.

Isso não tira a genialidade do morto. Mas é bom separar uma coisa da outra. Um bom homem de negócios não é, necessariamente, um homem bom.

Link – 10 de outubro de 2011

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