Não tem como uma camiseta que reúne a nata do desenho animado dos anos 90 não ser fuleiraça (afinal, eram os anos 90), mas olhando bem não tinha como não ser assim.
Diferente da maioria das festas anos 90 de São Paulo (que quase sempre escorregam pro lado trash daquela década), a festa curitibana Tied to the 90s prefere a rigidez do indiesmo tru com algumas concessões à dance music ou ao hip hop. Já fui convidado para tocar na capital paranaense por conta deles e já chamei a Sol, uma das donas da festa, pra tocar em umas Noites Trabalho Sujo por aqui. Como ela mudou-se pra São Paulo, foi meio que natural que ela fizesse uma versão paulistana da Tied e, na primeira edição, que acontece nessa quinta-feira, tive o prazer de ser o DJ convidado. A festa acontece no bom e velho Alberta #3 e eu começo a tocar logo depois da meia-noite… Aparece lá!
A foto ficou péssima, já tinha falado no Insta, mas é o único registro visual do papo que tive com o Miranda e com o Ricardo Alexandre sobre nosso período de formação – o meu e de Ricardo como jornalistas e o de Miranda, mais velho que nós dois, como produtor. Ricardo nos juntou ali no estúdio da YB na Vila Madalena pra falar sobre o período retratado em seu novo livro Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar – 50 Causos e Memórias do Rock Brasileiro (1993-2008), que será lançado em dois eventos nas próximas semanas. O que devia ser uma análise sobre como o mercado de discos desandou a partir do Plano Real para chegar à terra de ninguém que vivemos hoje virou uma bela conversa de boteco saudosista, com eu e Ricardo pilhando Miranda para contar suas histórias do início dos anos 90.
Cheguei Bem a Tempo… é o terceiro livro do Ricardo Alexandre e o título se refere não apenas à queda do palco no primeiro dia do segundo festival Juntatribo, em 1994, em Campinas, mas também à sua formação como jornalística no início da queda do sistema que havia se erguido décadas antes. Depois de usar o rock brasileiro dos anos 80 para falar da formação do mainstream pop no país em seu Dias de Luta e de contar a história de Wilson Simonal em Nem Vem que Não Tem, Ricardo abre mão de longas pesquisas e de temas delicados para lembrar de histórias de cabeça e escrever sem a pretensão de estar se referindo à história – embora esteja. Em tom de bate-papo, o livro foi publicado originalmente em posts em seu blog e exige uma leitura quase informal, de fácil grude, que o faz ser devorado rapidamente.
Estive ao lado de Ricardo em várias situações retratadas no livro – algumas nominalmente, quando o conheci na calçada do lado de fora do Hitchcock, em Santa Bárbara d’Oeste, quando saímos no meio de um show do Símbolo, quando o encontrava com o Emerson “Tomate” Gasperin na redação do Estadão, em que trabalharia dez anos depois, para irmos a shows ou coletivas de imprensa ou quando assistimos, às gargalhadas ao lado de Marcelo Ferla, ao Acústico MTV do Capital Inicial. Uma colaboração minha no Caderno Z que Ricardo havia criado no Estadão foi meu primeiro frila pago (uma matéria sobre o aniversário de Syd Barrett) e escrevi a primeira matéria de capa da volta da Bizz capitaneada por Ricardo, em 2005, sobre a volta dos Stones daquela época. Por isso passear pelas páginas do livro foi um reencontro com épocas da minha biografia que estavam encaixotados em prateleiras da memória. A melhor gargalhada do livro, a pergunta que outro bróder, Fabio Bianchini, faz ao baterista do Jota Quest, era dessas histórias que eu não me lembrava que lembrava.
Mas fora os bastidores da notícia, o livro fala da ascensão e queda de nomes que formaram o panorama pop brasileiro atual – dos Raimundos aos Los Hermanos, de Charlie Brown Jr. à Nação Zumbi, da Trama à Pitty, dos Racionais a Marcelo D2 -, explicando didaticamente como é que chegamos onde estamos. E, a meu ver, o principal trunfo do livro é contar essa história sem o pesar derrotista da maior parte dos contadores de história atuais. Seus ingredientes funcionariam como um prato cheio para quem quisesse detectar, nesses quinze anos retratados pelo livro (1993-2008), os motivos pelos quais o Brasil nunca vai dar certo. Mas a leitura de Ricardo redime o leitor e fechei o livro mais otimista do que quando o abri. Recomendo pacas.
Em São Paulo, o livro será lançado na Fnac de Pinheiros, dia 13, com show dos Charts. No Rio, o lançamento acontece na quinta seguinte, dia 20, na Livraria Cultura Cine Vitória, com show de Piu Piu e Sua Banda. Abaixo, uma hora e meia de papo furado entre eu, Ricardo e Miranda, que, diz, vai lançar seu próprio livro em breve. Aí eu quero ver!
E hoje é a primeira vez que a Noite Trabalho Sujo sai de São Paulo – rumo à Curitiba, ao já lendário James, participar de uma antecipada Tied to the 90s, festa dedicada à década da minha adolescência – por isso, espere esbaldar-se. A festa é o jogo de volta da noite que fiz com a Sol aqui em São Paulo e dessa vez dividido os CDJs com ela e seu compadre Marcell Boareto numa noite que promete! O caminho das pedras da noite está na página do evento no Facebook, vamo lá?
E já que falei em Sebadoh, que tal um show deles no meio dos anos 90?
Coisa finíssima.
Imagina…
Dica do Eugênio.