Animal completa

, por Alexandre Matias

Houve um tempo em que história em quadrinhos se resumia ao que a Abril publicava: Marvel, Disney, Maurício de Souza e DC. Quem quisesse ir além desse formato, tinha de penar pois eram pouquíssimos títulos que apareciam no Brasil – por editoras como Ebal e Martins Fontes – e ocupavam parcas prateleiras (quando mais de uma) nas maiores livrarias do país. Para ler quadrinho moderno (como para ouvir música diferente da que tocava no rádio) era preciso um exercício que incluía pagamentos em dólar (que na época era como doar um órgão do seu corpo ou fazer um contrato com algum agiota mafioso), pouquíssimos amigos que viajavam ao exterior, domínio de mais de um idioma além do português (de preferência, inglês, italiano e francês) e recomendações conseguidas de formas dúbias (“um amigo de um conhecido leu em uma revista estrangeira…”). Não havia internet, o governo dificultava importações, o Brasil vivia numa pindaíba braba (vocês que compram Bassi no supermercado não sabem o que é ter que pegar fila de madrugada pra ter de comprar um pacote determinado com algumas peças de carne…) e quadrinho era uma mídia literalmente underground, se saíssemos do quarteto publicado pela Abril. Foi nesse cenário que Fábio Zimbres, Newton Foot e Rogério de Campos lançaram a Animal, publicando um monte de autores brasileiros pela primeira vez ao mesmo tempo em que traziam para o Brasil autores que mal tínhamos ouvido falar. A revista circulou nos anos 80 e teve 23 edições, todas digitalizadas e postas para download pelo blog Onomatopéia Digital. Coisa fina.

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