André Abujamra e o John do Pato Fu juntos em um disco!
“Em 2005 a gente teve a idéia de fazer umas musicas com cada um mandando um canal, ou outro devolvia dois, daí o primeiro devolvia três. Quando já tinha som o suficiente, a gente mixava e passava pra outra. Isso usando a tecnologia disponível da época, que já era assombrosa na gravação e edição de áudio, mas com uma internet bem lenta”. John Ulhoa, o guitarrista do Pato Fu, puxa a memória para lembrar o início de seu projeto ao lado de André Abujamra, de impronunciável nome de ABCYÇWÖK, em um papo por email. O disco finalmente vê a luz do dia e a dupla mostra clipes para duas músicas de projeto aqui no Trabalho Sujo.
O resultado é um estranho disco de dance music com intervenções de ruído, que empilha timbres explicitamente retrô dos anos 80 e 90 com melodias hipnóticas, efeitos caseiros, sonoplastia eletrônica ou feita com a boca, cantos verborrágicos de André e gemidos distorcidos de John. Mas a esquisitice sempre soa familiar como se reconhecer num espelho distorcido. É um disco que brinca com a ideia de pop a partir da possibilidade de não soar pop – algo que os dois fingem que não conseguem.
“Fomos brincando disso, e nuns dois anos fizemos umas cinco músicas”, continua o guitarrista. “Aos poucos fomos parando, e só retomamos agora na quarentena. Daí em uma semana fizemos mais seis músicas! Por isso dizemos que o disco foi feito em 15 anos e uma semana.” A amizade dos dois começou em uma das premiações da MTV brasileira nos anos 90 – eles já se conheciam à distância, tanto pelas bandas de John (Sexo Explícito e Pato Fu) e pelas de André (Os Mulheres Negras e Karnak), mas o encontro nos bastidores fez seus caminhos se encontrarem. “Eu produzi o Tem Mas Acabou do Pato Fu e isso fez a amizade crescer e pensar sempre em fazer alguma coisa juntos”, lembra André. John compôs para o Karnak e as duas bandas até se apresentaram juntos. “Mas o mais importante mesmo foi termos formado um dos piores times de futebol da história do Rock Gol MTV. Tomamos goleadas de dois dígitos históricas”, lembra John sem remorso.
Não havia rumo definido para o novo trabalho. “Absolutamente nenhum”, reforça Abujamra, citando aleatoriamente o músico havaiano Israel Kamakawiwo’ole como referência, e assim seguiram após o início da quarentena. “A ideia começou fazendo com o John em BH e eu em São Paulo, já estávamos em quarentena há 15 anos”, brinca André, reforçando o tom caseiro do disco. “Nunca nos encontramos pra gravar nada”, lembra John. “Até a capa foi feita no mesmo esquema. Abrimos um projeto gráfico, cada um ia colocando um traço, um desenho, uma camada.”
https://www.youtube.com/watch?v=38-KhvsNF04&feature=youtu.be
O estranho nome tem duas versões, explica John: “Uma é que é um nome alienígena que uma mulher de quatro braços escreveu no banheiro químico de Chernobyl segundos antes do sétimo gol da Alemanha ou algo assim. E a outra versão é que criamos o nome igual ao disco: numa conversa no whatsapp, cada um foi mandando uma letra em sequência.” Eles não pretendem fazer shows do projeto, mesmo quando for possível. “Sinceramente, não sei se consigo tocar essa músicas ao vivo, elas são muito doidas”, continua o guitarrista mineiro. “Só se fizermos um show de dança, com playback. Acho que elas ficam legais com os videos que o Abu está fazendo, acho que é a melhor expressão delas.”
Além do recém-lançado projeto, os dois seguem tocando seus projetos pessoais. André nem começa a listar: “Preciso de 12 mil linhas, então não quero responder”, desconversa, lembrando que já está trabalhando na segunda parte de sua tetralogia elemental, que começou com o filme-show Omindá, sobre água, e que agora fala sobre fogo. Já John acabou de produzir o novo disco solo de sua parceira Fernanda Takai. “Fiz um gravação solo para uma homenagem ao Arnaldo Baptista pelos 72 anos, além de várias outras pequenas produções nessa demanda de lives e videos para conteúdo de canais. O Pato Fu tem feito umas versões de nossas músicas antigas, com cada um gravando de sua casa. Tô começando uma trilha de teatro também. Muita coisa, não posso reclamar de falta do que fazer…”, concorda John. Mas o ABCYÇWÖK não termina no disco. “Estamos pensando em clipes multimilionários, um Instagran e talvez um CD novo feito em uma semana.”
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